quarta-feira, 24 de janeiro de 2024

Sementes sobre pedras


“Os homens de Nínive creram em Deus; proclamaram um jejum e vestiram-se de saco, desde o maior até ao menor.” Jn 3:5

Na pregação de Jonas em Nínive, uma reação ímpar, jamais vista noutra parte. Um temor coletivo, onde todos, unânimes, decidiram jejuar; impuseram isso como lei sobre eles, e até mesmo, os animais. “... Nem homens, nem animais, nem bois, nem ovelhas provem coisa alguma, nem se lhes dê alimentos, nem bebam água; mas, homens e animais sejam cobertos de sacos, e clamem fortemente a Deus, converta-se, cada um do seu mau caminho...” Cap 3:7 e 8 Ordens do rei.

Qual a mensagem pregada pelo profeta que logrou tão profundo impacto? Que sinais operou, ou que métodos retóricos usou para que fosse tão convincente? Nada. Sua mensagem fora curta, grossa, soturna; sem acenar com nenhum rasgo de esperança, nenhum convite ao arrependimento.

“... Ainda quarenta dias, e Nínive será subvertida.” Cap 3:4 Além de modificar à ordem estabelecida, subverter, significa revolver de baixo para cima, destruir, arruinar.

Simplificando: Vocês só têm mais quarenta dias de vida; depois Deus colocará tudo abaixo. Por mensagens bem menos incisivas, profetas foram presos, esbofeteados.

Apesar da “falta de tato” do pregador, discurso duro, abordagem direta, privada de atenuantes, produziu milagrosamente o efeito que vimos em princípio; por quê?

Certamente Deus revestira Seu servo com uma autoridade ímpar, o que, obraria por protegê-lo de eventual revanchismo pelos assírios; mas, ainda assim ensejar arrependimento, conversão coletiva, não estava no pacote.

O homem, desgraçadamente, tende a lidar melhor com ameaças, que com convites. Imaginemos que alguém tenha dois vizinhos; um, marginal, violento, fora-da-lei, capaz de matar; outro, cordato, manso, acessível, leniente. Ao qual dos dois respeitará prioritariamente? Sim, você acertou.

Um convite amoroso, como o “vinde a Mim”, traz anexos, feixes de esperança, como ser aliviado dos fardos, encontrar descanso para a alma, apenas indo após Cristo. Diante disso, pode o ímpio descansar nas “fraquezas de Deus”, concluindo que tais nuances do Seu amor, são atenuantes que tolheriam o juízo; baseado nisso, poderia recusar o convite, eventualmente, sem consequências; ou, pelo menos, protelar.

Salomão versou sobre essa doença: “Porque não se executa logo o juízo sobre a má obra, o coração dos filhos dos homens está inteiramente disposto para fazer o mal.” Ecl 8:11

Assim, entre um, brando “vinde a mim”, e um sisudo e terminal, “acabou!” esse tente a ser ouvido, mais do que aquele.

A longanimidade Divina mal compreendida “patrocina” o “empurrar com a barriga”, onde o homem deveria tomar uma atitude imediata; em muitos casos, a má leitura das facilidades acaba se convertendo numa impossibilidade; “O Homem que muitas vezes repreendido endurece a cerviz, de repente será destruído sem que haja remédio.” Prov 29:1

Como diz o gaiato, corre-se o risco de “dormir e acordar morto”; O Salvador colocou a seriedade disso, de modo claro. “Deus lhe disse: Louco! esta noite pedirão tua alma; o que tens preparado, para quem será?” Luc 12:20

O fato de que o juízo acenado contra Nínive seria imediato, apenas quarenta dias, ensejou uma tomada de decisão, imediata, também. Tendo feito isso para a direção certa, do arrependimento, seu juízo acabou suspenso; a misericórdia Divina os perdoou.

Porém sua “conversão” baseada apenas no medo do juízo, passado esse, também ela arrefeceu e voltaram aos pecados de antes.

 O Salvador ilustrou as decisões vertidas apenas do calor emocional, como sementes sobre pedras; que até nascem, mas privadas de raízes, logo secam.

Algumas décadas mais tarde, outro profeta do Senhor, Naum, falou contra eles. “O Senhor é Deus zeloso e vingador; O Senhor é vingador e cheio de furor; O Senhor toma vingança contra Seus adversários, e guarda a ira contra Seus inimigos. O Senhor é tardio em irar-se, mas grande em poder, ao culpado não tem por inocente...” Naum 1:2 e 3 “É decretado: ela será levada cativa, conduzida para cima; suas servas a acompanharão, gemendo como pombas, batendo em seus peitos. Nínive desde que existiu tem sido como um tanque de águas, porém elas agora vazam...” Cap 2:7 e 8

Na primeira advertência mediante Jonas teve conserto. Então, estava decretado o juízo que seria cumprido, e foi.

Não há outro modo de anunciar a Divina Palavra, senão, numa mescla de amor com justiça. O primeiro traz a disposição do Eterno em perdoar quem se arrepende; a segunda, evidencia as consequências de se permanecer em inimizade com Deus.

Mais ou menos como fez Ezequiel certa vez: “... Vivo Eu, diz O Senhor Deus, que não tenho prazer na morte do ímpio, mas em que o ímpio se converta do seu caminho, e viva. Convertei-vos, convertei-vos dos vossos maus caminhos; pois, por que razão morrereis...” Ez 33:11

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