segunda-feira, 22 de janeiro de 2024

O disfarce do bem


“Melhor é ouvir a repreensão do sábio, do que ouvir alguém a canção do tolo.” Ecl 7:5

Um puxão de orelhas, uma correção soar melhor que escutar uma canção, inicialmente afronta o nosso sentido lógico; suscita o desejo por mais explicações para que possamos entender.

Indo além da repreensão ou canção, identificando os agentes às quais elas estão anexas, sábio e tolo, novos elementos assomam para que nosso entendimento triunfe.

Se um sábio me repreender, será que ele não estará certo? No entanto, seria sábio aquele que preferisse o mais difícil em prejuízo do mais prazeroso? Não seria um masoquista?

O adjetivo “melhor”, pode qualificar a partir do valor de algo, ou, do sabor. O bom, e o bem, embora sejam semelhantes, não são estritamente a mesma coisa. Se perguntarmos a uma criança enferma, que carece urgente determinada dose de remédio para seguir vivendo, se ela acha melhor a injeção salvadora, ou comer chocolates, possivelmente, prefira a segunda opção. Sua noção de “melhor” terá a ver com prazer, malgrado, a carência de saúde; que seria o resultado final, de ter escolhido o mais doloroso.

Nessa sociedade narcisista, egoísta, cheia de si e vazia de Deus, eventual repreensão contra alguém que erra, presto se resolve com a “exclusão”, o “cancelamento”. Se não gosta de mim como sou, vaza!

A pretensão de cada um ser uma obra acabada, tornando-o um intocável, permeia o imaginário coletivo; cada qual faz o que quer, quando e onde deseja. Ai do “enxerido” que ousar discordar. Ou, manda “curtidas, corações” ou se manda. “Vai cuidar da tua vida! Tu não pagas minhas contas!” Pronto.

As vezes Jesus bate às nossas portas usando mãos bem improváveis. O que O move é Seu amor, não nosso senso “lógico”.

Deus anteviu essa geração; em Sua Palavra vaticinou a chegada dela: “Há uma geração que é pura aos seus próprios olhos, mas nunca foi lavada da sua imundícia. Há uma geração cujos olhos são altivos, suas pálpebras são sempre levantadas.” Prov 30:12 e 13

Toda imunda, mas cheia de si; carecendo miseravelmente de ajuda psicológica, e espiritual; contudo, de olhos altivos, plena de pompa e circunstância.

Avancemos da criança biológica do primeiro exemplo, para a criança psicológica. Essa, mesmo tendo idade de jovem, ou de adulto, ainda não cresceu consoante com seus dias. Coloquemos diante dela uma série de “memes”, essas futilidades jocosas, calculadas malignamente para manter em certo “conforto” a hibernação dos cérebros, a letargia das almas, e um breve texto com ensinos práticos, capazes de engendrar algum crescimento, fomentar reflexões, e melhor preparar para a vida. Qual das alternativas receberá atenção de nossa criança?

Fatalmente essa achará melhor a canção dos tolos, que eventual repreensão do sábio.

Para os que assim se portam, a leveza da caminhada é mais importante que o destino; que, para onde a mesma os vai levar.

A preguiça de construir mediante escolhas uma jornada meritória rumo a um destino venturoso, por causa das demandas em renúncias, necessárias, lança os traidores de si mesmos, na vala comum de um “fatalismo” hipócrita, como se, o devir independesse deles e de suas escolhas. “O futuro a Deus pertence”. Filosofam.

As facilidades prazerosas de certos caminhos não passam de engodos, até que, seduzidos por elas cheguemos a um ponto de onde não haja mais retorno possível. “Há um caminho que ao homem parece direito, mas no fim dele são os caminhos da morte.” Prov 14:12

Ora, Deus nos chama no presente, onde, mudanças em nosso futuro ainda são possíveis. Convida-nos, como arbitrários que somos, a fazer as melhores escolhas. Adverte das consequências das duas que são possíveis; desviar-se do conselho, da repreensão, ou lhe dar ouvidos; “... comerão do fruto do seu caminho, fartar-se-ão dos seus próprios conselhos. Porque o erro dos simples os matará, o desvario dos insensatos os destruirá. Mas o que Me der ouvidos habitará em segurança, estará livre do temor do mal.” Prov 1:31 a 33

Acontece que, dar ouvidos a Deus, em tempos em que os valores foram invertidos, requer uma índole raramente encontrável. O escárnio, a zombaria surgem pré-fabricados, prontos; basta compartilhá-los. A centelha na consciência, que se moveu no jazigo, tentando patrocinar alguma reflexão, volta a dormir; assim, presto é “resolvido” o problema da repreensão.

Inclusive o falso engajamento espiritual, de quem partilha verdades profundas sem digeri-las, se presta a esse papel. Nesse caso, a “canção do tolo” não está na letra, mas, na harmonia.

Salomão comparou isso, a usar diamantes em fundas.

Felizes os que, logram ir além da casca sisuda das repreensões! O vero amor se abriga no âmago delas. “Leais são as feridas feitas pelo amigo, mas os beijos do inimigo são enganosos.” Prov 27:6

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