quinta-feira, 4 de janeiro de 2024

O fogo necessário


“Só sei que nada sei.” Sócrates

Como ele sabia disso, então? O “nada sei” não era uma medida precisa do seu saber. Antes, uma valoração humilde, uma vacina contra a arrogância, aplicada em si mesmo.

Quando, informado que, o Oráculo de Delfos o considerava o homem mais sábio de Atenas, disse: “Significa, segundo penso, que a sabedoria humana é muito pequena, insignificante. Se, serviu-se do meu nome para isso, talvez intentasse dizer: O mais sábio entre vós, é aquele que reconhece, como Sócrates, que sua sabedoria não é nada.”

O método dialético visava estimular os discípulos a encontrarem as respostas em si mesmos, levando-os a fazer perguntas que sozinhos não fariam; ajudava-os a encontrar bens escondidos, soluções não pensadas, a partir dos valores que já esposavam, sem conseguir extrair as consequências necessárias deles, em todos os aspectos. Mais que ter a resposta certa, pois, eventualmente é necessário fazer as perguntas certas.

Além de uma apreciação humilde do próprio saber, o “nada sei” também era uma premissa metodológica; nada pretendia impor aos seus discentes, senão, estimulá-los a descobrirem, as sapiências adormecidas.

Confúcio defendia a existência de três métodos de aprendizado; imitação, experiência e reflexão, esse, é o mais nobre; a imitação o mais fácil; a experiência, o mais doloroso.

Plutarco desenvolveu mais: “A mente não é um vaso para ser cheio, - disse - antes, um fogo a ser aceso.” Então, as platitudes e as respostas prontas que se pega na prateleira das frases feitas, servem apenas como tampões fúteis; entorpecentes, invés de estimulantes do saber. Assim, quanto mais “cheios” os vasos, a rigor estão mais vazios. Quanto mais me apoio nas alheias descobertas, menos me ocupo em fazer as minhas.

Na dialética de Sócrates, as perguntas que o aprendiz não faria por si, uma vez feitas, despertavam respostas que tinha em seu íntimo, mas ignorava a posse. Desse modo, o “nada sei” poderia ser lido como, nada imponho; ajudo a descobrir, apenas.

Na parábola do Bom Samaritano, Jesus contou-a porque alguém questionara: “Quem é o meu próximo?” O Mestre contou a história e devolveu a pergunta; o aluno sabia a resposta, sem O Mestre dizê-la. Assim, a dialética oferece um “casulo” para que sejam gestadas as asas do saber.

Infelizmente, vivemos um tempo em que a reflexão não tem muito espaço. As pessoas apreciam às coisas pela identificação, não por algum valor maior. Aquilo com o que me identifico tem livre curso, o que não, basta o cancelamento e não me incomodará mais. Assim, o porco abre portas à lavagem; o cão, aos ossos e restos de comida; o rato ao queijo e cereais vários; a ovelha aos verdes pastos, etc.

A implicação disso, é que cada um é já uma “obra acabada”; pode seguir sendo o que é, sem nenhum desafio a mudar. O pior é que, não raro, envolvem Deus nisso, como se, fosse Ele responsável por abençoar à escolha de cada homem, mesmo que, discrepante da Vontade dele.

Malgrado a pecha, dos que leem a Bíblia em Braille e dizem que a fé é cega, nunca foi o propósito Divino, que a gente cresse sem buscar entendimento; se fechasse em copas num fanatismo reiterado, malgrado, eventuais nuances da fé não pareçam inteligíveis.

Certa dose de ceticismo, questionamento, é necessária. O Criador colocou cérebros dentro dos nossos crânios, desejando que os usássemos.

Para esse mundo, os alvos são aquisição de bens, fama, prazeres... Deus desafia-nos às renúncias, para a regeneração da vida; “Porque a sabedoria serve de defesa, como de defesa serve o dinheiro; mas a excelência do conhecimento é que a sabedoria dá vida ao seu possuidor.” Ecl 7:12 Então, somos desafiados à aquisição de sabedoria, não, andar no escuro apalpando o que ignoramos.

Paulo ensinou que a ruptura com o mundo e seus valores invertidos, é necessária, para quem desejar conhecer a Deus e Sua Vontade. “... apresenteis os vossos corpos em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional. E não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos pela renovação do vosso entendimento, para que experimenteis a boa, agradável, e perfeita vontade de Deus.” Rom 12:1,2

Se fosse mesmo assim, que cada um fizesse suas escolhas e Deus pudesse apenas vir abençoá-las, Ele seria o servo, e nós os senhores. Não haveria necessidade de Reino dos Céus; cada um reinaria airoso no império dos próprios desejos, e O Todo Poderoso soaria como acessório, dispensável até.

Ele pensou nisso antes; “Eu Sou O Senhor; este é Meu Nome; Minha Glória, pois, a outrem não darei...” Is 42:8

É tão fácil cancelar, excluir, bloquear... mas, a gente pode mais; “Melhor é a sabedoria que as armas de guerra...” 9:18

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