“Melhor é a mágoa que o riso, porque com a tristeza do rosto se faz melhor o coração.” Ecl 7;3
Óbvio que, “melhor” refere-se ao resultado; “faz melhor o coração”; embora, sentir mágoas, tristeza, seja pior, do que sentir alegria.
Os efeitos colaterais das tristezas, não são necessários; não basta que alguém as sofra, para que, por isso, torne-se uma pessoa melhor. O concurso da índole, das escolhas em face às dores, é muito importante também.
Eventualmente, deparo com uma frase que me faz pensar: “Antes de falar de mim, calce minhas botas, passe pelo que passei, sofra o que sofri.” Não sei o que a dita pessoa passou; mas, subentende-se que sofreu bastante.
Se não me engano foi Cícero que disse: “Os homens são como o vinho; uns, o tempo apura; outros, viram vinagre.”
Óbvio que o tempo não labora sozinho; nas suas teias, os males da vida, incompreensões, privações, dores físicas, emocionais concorrem para um dos dois resultados previstos.
O “vinho que o tempo apura” requer a boa índole; quem aprende com as dores, tendo vivido “in loco” o mal que elas fazem, evita de ser causador delas, contra outrem.
Os que viram vinagre são pessoas amargas, ácidas, que invés de terem aprendido, melhorado durando o concurso das privações, são ressentidas, arrogantes, pretenciosas; quando falam deixam patente a impressão que continuam vítimas; que a vida lhes deve algo. Inclusive a frase em apreço é vertida do ácido acético de almas carentes de cura. Assim, a amostra, deixa evidente que, elas não aproveitaram os aprendizados possíveis, ao terem passado por estreitamentos na vida.
Além de que, uma frase feita, de alheia autoria, tende a refletir as experiências do autor; não, necessariamente, de quem se identificou em parte com dito e resolveu partilhar o todo. O que as pessoas mais se identificam é com qualquer malcriação feita, que mande os outros para bem longe, exceto, os que as bajulam.
Ora, quando alguém fala mal de nós, (ninguém se importa se falar bem) duas coisas são possíveis: Uma; ele está certo. Em algum momento agimos mal, e ele viu e nos denuncia por aquilo que viu; nesse caso, a culpa é nossa. Outra; ele está errado. Seu apreço não bate com a realidade, antes, verte de inveja, calúnia, despeito da dita pessoa; nesse caso, quem está doente é ele. Acaso devo sofrer as doenças alheias?
Claro que sermos alvo da maldade dos outros incomoda; mas não ao ponto de perdermos nossa paz; de descermos ao nível deles; caso, já galgamos um patamar mais alto no aperfeiçoamento de nossas almas. Se um cão te morder, não vais revidar mordendo-o também. Assim, não é sábio darmos às coisas subterrâneas, o mesmo espaço que damos às plantas do jardim.
Se alguém que sofreu bastante presume que, por isso se fez um intocável, está acima das críticas, que a vida lhe deve alturas especiais, perdeu a chance de haurir as porções medicinais das tristezas, que purgariam sua alma de muitos males; escolheu as sobras do ressentimento, que costumam se fazer fertilizantes para os ditos males. Optou pelo vinagre tendo meios para se tornar vinho.
As melhores pessoas, as que deveras aprenderam com as dores sofridas, em geral estão ocupadas com um íntimo anseio por aperfeiçoamento, buscando melhorar ainda mais. Têm alvos mais nobres que, afastar a pedradas, eventuais críticos.
As que, como o porco-espinho, não dão um passo sem a ostensiva exibição de suas “defesas” precisam urgente, descalçarem as botas do amor-próprio desmedido, e considerar a hipótese de existir outras formas de vida, após seus umbigos.
Muito do que os sem noção colocam na prateleira das dores da vida, ficaria melhor se guardado na gaveta das consequências. Fizeram escolhas errôneas, se perderam nos largos caminhos dos vícios; nada tendo aprendido, agora, melindrosos nos desafiam a “colocarmos suas botas.”
Qual o sentido de fugirmos da polícia, o carrearmos drogas para induzirmos as pessoas incautas aos vícios? Nosso aprendizado pode prescindir de “lições” assim.
Certo que as más ações precisam colher aflições, não, gozo; não combinaria com a Sabedoria e Prudência do Criador, que nos criou para a virtude, que encontrássemos nossa realização nas poluídas águas dos vícios. Assim, diz: “Eis que te purifiquei, mas não como a prata; escolhi-te na fornalha da aflição.” Is 48:10
Ele perdoa todos, os que se arrependem e decidem mudar de vida; mas, demanda santificação, câmbio de rumos, aprendizado.
Quem, dizendo-se do Senhor, inda usa armas da carne para combater contra os que, pelo espírito visam ensinar, deixa patente que as dores ainda têm trabalho a fazer em sua alma. “Melhor é a sabedoria que as armas de guerra, porém um só pecador destrói muitos bens.” Ecl 9:18