quinta-feira, 18 de janeiro de 2024

Agridoce


“O sábio de coração será chamado prudente; a doçura dos lábios aumentará o ensino.” Prov 16:21

“O sábio de coração...”
Embora, para humano apreço, fazer algo de todo coração seja o mais alto patamar, de entrega, fidelidade a um anseio, ao Divino olhar, o coração humano não é algo tão relevante, tão confiável assim. “Enganoso é o coração, mais que todas as coisas, e perverso; quem o conhecerá?” Jr 17:9

Se, “O temor do Senhor é o princípio da sabedoria”, forçosa é a conclusão que, um sábio de coração, é alguém que O teme; “Bendito o homem que confia no Senhor; cuja confiança é o Senhor.” Jr 17:7

O fato de o coração humano ansiar determinada coisa, não significa, necessariamente, que essa conte com a aprovação Divina. “Do homem são as preparações do coração, mas do Senhor a resposta da língua.” Prov 16:1 Desejarmos é lícito; porém, aprovação celeste é indispensável.

“... será chamado prudente...” um sábio não é alguém que sabe tudo; o que fazer, quando fazer. Às vezes, admitir que não sabe essas coisas, é mais importante que se atrever no que não lhe foi ordenado. “O temor do Senhor é o princípio da sabedoria; o conhecimento do Santo a prudência.” Prov 9:10

Quando não sabe os próximos passos, pelo menos sabe que não deve se meter em temeridades, agir “no escuro”, apenas para acalmar à instintiva impressão que “algo precisa ser feito.” Deus não trabalha com “algo”, tampouco, “alguém.”

Suas diretrizes são precisas. Quando as não tiver, o sábio de coração esperará. “Os que esperam no Senhor renovarão forças, subirão com asas como águias; correrão e não se cansarão; caminharão e não se fatigarão.” Is 40:31

Se, “Os passos de um homem bom, são confirmados pelo Senhor...”, Sal 37;23 As pausas e esperas também. O ativismo combina mais com impiedade que com sabedoria.

Da mulher adúltera, diz: “Estava alvoroçada e irrequieta; não paravam em sua casa seus pés.” Prov 7:11 Dos ímpios, diz mais: “Os ímpios são como mar bravo, porque não se pode aquietar, suas águas lançam de si lama e lodo.” Is 57:20
A inércia pode ser mais meritória que o movimento sem a direção Divina.

Por isso, do povo de Deus, em muitos casos se espera quietude, não, ativismo: “... no sossego e na confiança estaria vossa força, mas não quisestes.” Is 30:15 Adiante o profeta lamentou em nome de Deus: “Ah! se tivesses dado ouvidos aos Meus mandamentos, então seria tua paz como o rio; tua justiça como as ondas do mar!” Is 48:18

“... a doçura dos lábios...”
o risco é que provemos às coisas com paladares doentios, onde se deve permitir que o palato celeste, aquilate o seu sabor. A doçura dos lábios humanos sempre aponta para um vistoso bolo de anseios, com a suave cobertura das lisonjas, granulada com bajulações.

Permissões ímpias, segundo desejos carnais desorientados. Não deixará de ser doce, tal coquetel de guloseimas, embora, seu efeito seja deletério; o sabor agradável trará venenos mortais disfarçados, maquiando mortos, invés de regenerar vidas.

João, quando lhes foi ordenado que comesse um livro, disse que era doce aos lábios e amargo ao ventre; “Tomei o livrinho da mão do anjo, e comi-o; na minha boca era doce como mel; havendo-o comido o meu ventre ficou amargo.” 10:10

Assim é A Palavra de Deus; nos lábios, no mero aprendizado teórico ela é doce; porém, para “digeri-la”, praticá-la demanda renúncias que vertem em amargo, o que, inicialmente pareceu doce. Os que “honravam” a Deus apenas com os lábios, sem praticar o que afirmavam, eram viciados em doces apenas.

“... a doçura dos lábios aumentará o ensino.” A destreza docente daqueles que O Senhor capacita, é a “doçura” que torna compreensíveis as coisas que, não seriam de outra forma; como disse um etíope a Filipe, certa vez: “... Como poderei entender, se alguém não me ensinar?” Atos 8:31

Tal sabor, tem a ver com o bem espiritual que o ensino do Senhor propicia; o gosto de aprender algo valioso; não significa que, eventualmente, o “doce” não apresente nuances salgadas. Paulo preceituou que nossas lições fossem “agridoces”: “A vossa palavra seja sempre agradável, temperada com sal, para que saibais como vos convém responder a cada um.” Col 4:6

No sul, poeticamente, alguns chamam o chimarrão de “doce-amargo”; a primeira parte figurando o prazer; a segunda, descrevendo o sabor que apraz.

Assim é o aprendizado da Palavra de Deus, para quem nasce de novo; é prazeroso, porém, isso traz consigo o “amargo” de praticá-la.

No organismo o excesso de açúcar pode causar diabetes; na vida espiritual o excesso de “doçuras” é já um sintoma de diabices, do canhoto fingindo alargar ao caminho estreito.

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