sexta-feira, 19 de abril de 2024

Os servos, livres


“Se o Filho vos libertar, verdadeiramente sereis livres.” Jo 8;36

O uso do advérbio “verdadeiramente”, subentende a existência de uma liberdade falsa; ou, mera ilusão de liberdade.

Eis uma coisa que, não pode ser contida numa sentença breve! Liberdade. Cada pensador que se atrever a meditar sobre ela terá seu conceito, nem sempre similar ao de outro. A vera liberdade certamente é mais profunda que o direito de escolher, se expressar, ir e vir... essas nuances, embora fazendo parte dela não bastam para defini-la.

Mesmo o livre-arbítrio, não é consensual nem na filosofia, nem na teologia. O Calvinismo nega-o, com sua interpretação peculiar da eleição Divina. Schopenhauer duvidava do livre arbítrio, e defendia que os seres humanos são reféns de coisas que o forçariam a certas escolhas. “Dado o motivo e a índole, a ação resulta necessária”.

Alguém de posse de um revólver carregado, - ilustrou - não poderia dizer: “Tenho poder para me matar!” Nesse caso, o que teria seria um meio. Para poder, careceria de um motivo que, fosse maior que o medo da morte, ou que o amor pela vida. Assim, seu conceito de “poder” seria falso, tanto quanto, pode ser, o de liberdade. Por trás da índole e do motivo inda pode haver algo.

A liberdade no prisma corpóreo restringe-se a dispor de si mesmo, para a ação ou a inércia, como bem lhe parecer. Assim, todo ser que não é escravo, é livre.

No prisma da alma, que se expressa mediante o corpo e faz escolhas, a coisa não é tão simples.

Tropecei numa frase de Henry David Thoureau: “Desobediência é o verdadeiro pilar da liberdade, os obedientes são escravos.” Isso engolido sem mastigar pode até saciar paladares incautos, e cobrir aos perversos de “razão.”

Se levássemos essa estultícia às últimas consequências, (todos os valores universais poder ser levados) teríamos uma “sociedade” com ruas sem limites de velocidade, sem semáforos, propriedades, filas, leis, presídios, normas de escrita, horários de funcionamento... isso seria a barbárie; o próprio conceito de sociedade se diluiria, na selvageria da sobrevivência dos mais fortes, no prisma físico apenas.

Seja o que for, a liberdade, certamente é algo que se move dentro de limites; pois, O Próprio Deus, Criador do Universo os estabeleceu e submete-se a eles. “Se formos infiéis, Ele permanece fiel; não pode negar a Si mesmo.” II Tim 2;13

Paulo apresentou os conflitos íntimos de um que, sabedor dos limites dentro dos quais deve se mover, é impotente, porque escravizado; "Se faço o que não quero, consinto com a Lei, que é boa. De maneira que agora já não sou eu que faço isto, mas o pecado que habita em mim. Porque sei que em mim, isto é, na minha carne, não habita bem algum; com efeito o querer está em mim, mas não consigo realizar o bem. Porque não faço o bem que quero, mas o mal que não quero.” Rom 7;16 a 19

Uma dualidade interior disputando. Uma parte sabe o que é o bem, que deveria fazer; outra, coagindo-o a fazer o que não quer. A índole de todo homem caído é atuar segundo a carne; “a inclinação o da carne é inimizade contra Deus, pois não é sujeita à lei de Deus, e nem pode ser.” Rom 8;7 e o motivo é que a carne sente prazer no pecado. Assim, concordando com Schopenhauer, “dado o motivo e a índole, a ação resulta necessária.” Isto é: Inevitável.

O Salvador ensinou: “... Em verdade, em verdade vos digo que todo aquele que comete pecado é servo do pecado.” Jo 8;34

Paulo ampliou: “Não sabeis que a quem vos apresentardes por servos para obedecer, sois servos daquele a quem obedeceis, ou do pecado para a morte, ou da obediência para a justiça?” Rom 6;16

Notemos que, as duas possibilidades antagônicas são servis; serviremos ao pecado, ou, à obediência. A liberdade que Cristo oferece, nos capacita a obedecermos a Deus, não a fazermos o que nos der na telha.

Se, como vimos, a liberdade necessita de limites dentro dos quais se exercita, os libertos do Senhor, deixaram a escravidão do pecado onde eram cooptados para fazer mal a si mesmos, e foram capacitados a se mover nesses limites, que ensejam paz de consciência, pela atuação em conformidade com o propósito original, em comunhão com O Criador.

“A todos quantos O receberam, deu-lhes poder de serem feitos filhos de Deus, aos que creem no Seu Nome;” Jo 1;12

Quem vê a desobediência e a anarquia como libertadoras, ainda luta contra “prisões” externas, sem discernir as algemas interiores, nas quais a tirania do pecado e da carne o têm cativo. “Se O Filho vos libertar, verdadeiramente sereis livres.”

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