quarta-feira, 24 de abril de 2024

Dores de parto


“Porquanto, ainda que vos contristei com minha carta, não me arrependo, embora já me tivesse arrependido por ver que aquela carta vos contristou, por pouco tempo.” II Cor 7;8

Paulo estava patenteando dois estágios emocionais, nos quais andara, acerca do mesmo assunto. A tristeza que uma carta sua causara na igreja em Corinto. Sabedor do “estrago” que sua escrita fizera, num primeiro momento, culpou-se; caramba! acho que peguei pesado.

Porém, depois de inteirado das consequências benéficas, restauradoras, da sua severa exortação, tendo entendido a necessidade daquilo, pois, fora escrito segundo Deus, não, conforme predileções humanas, refez; pensando bem, foi melhor assim.

“Agora folgo, não porque fostes contristados, mas porque fostes contristados para arrependimento; pois fostes contristados segundo Deus; de maneira que por nós não padecestes dano em coisa alguma.” V;9

Todo pregador deveria ter isso em mente; que possíveis tristezas assomarão durante a ministração da Palavra, pelo que ela é, e o que os pecadores são; isso é normal. Porém, não deve mesclar à mensagem, coisas de cunho pessoal; aproveitar a ocasião para “embarcar” junto reprimendas de origem espúria, xingamentos rasteiros, indiretas carnais, como se isso fizesse parte do Divino propósito. “... por nós, não padecestes dano em coisa alguma.”

Quem está a serviço de Deus, não tem direito de colocar suas predileções como aferidoras alheias; tampouco, aproveitar o momento em que O Eterno está corrigindo, para anexar alguns açoites de sua autoria.

Não gostamos de ser veículos que carreiam tristezas e depositam sobre almas alheias. Falo dos que possuem almas sadias, não, dos sádicos, egoístas, psicopatas e insanos afins.

No entanto, as tristezas têm uma propriedade medicinal, pela qual, almas são desafiadas ao retorno para o querer do Eterno; como remédios amargos receitados aos enfermos, tornam-se um “mal” necessário. Nenhum médico competente deixará de os ministrar, se, entender a necessidade dos mesmos; tampouco, de prescrever uma cirurgia até, se, a vida do seu paciente depender disso.

Depois de patentear seus dois estados emocionais, um que se arrependera pela dor causada, outro, que folgara por saber que a mesma era um mal segundo Deus, portanto, um bem, o apóstolo fez sua síntese sobre as duas fontes de tristeza possíveis: “Porque a tristeza segundo Deus opera arrependimento para salvação, da qual ninguém se arrepende; mas a tristeza do mundo opera a morte.” V 10

A Palavra pregada como é, fatalmente ensejará compunção, arrependimento; é necessário que assim seja. Desde o início da Igreja foi assim; “Ouvindo eles isto, compungiram-se em seu coração, e perguntaram a Pedro e aos demais apóstolos: Que faremos, homens irmãos?” Atos 2;37

É por valorizar mais, uma emocionalidade eventual, um momento de bem estar enganoso, que a cura das almas, com sua mensagem confrontadora que entristece, que os falsos profetas, vicejam tanto por aí. Ser aceitos é mais importante, para os tais, que ver as almas salvas.

A tristeza causada por Paulo, invés de indispor aos cristãos coríntios contra ele, deu azo a uma série de discursos inflamados, em defesa da necessária santidade; “Porque, quanto cuidado não produziu isto mesmo em vós que, segundo Deus, fostes contristados! que apologia, que indignação, que temor, que saudades, que zelo, que vingança! Em tudo mostrastes estar puros neste negócio.” V 11

A tristeza possui uma qualidade “medicinal” que a alegria desconhece; como alguém versou: “Andei uma légua com a alegria, incansável, tagarela; mesmo que falasse tanto, nada aprendi com ela; caminhei uma légua com a tristeza, que nenhuma palavra falou; ah quanta coisa aprendi, quando a tristeza comigo andou.”

Davi entendia bem da “medicina;” “Foi-me bom ter sido afligido, para que aprendesse Teus Estatutos.” Sal 119;71

Salomão levou a ideia dos benefícios espirituais da tristeza a um ponto mais profundo; “Melhor é ir à casa onde há luto do que ir à casa onde há banquete, porque naquela está o fim de todos os homens; os vivos o aplicam ao seu coração. Melhor é a mágoa que o riso, porque com a tristeza do rosto se faz melhor o coração.” Ecl 7;2 e 3

Logo, compete aos que são portadores da mensagem de reconciliação, que sejam zelosos pela verdade, mais que, ciosos pelos sentimentos dos que a necessitam escutar.

Sua separação eventual dos discípulos, por uma causa necessária, O Salvador figurou assim: “A mulher, quando está para dar à luz, sente tristeza, porque é chegada sua hora; mas, depois de ter dado à luz a criança, já não se lembra da aflição, pelo prazer de haver nascido um homem no mundo.” Jo 16;21

Se, ante à Palavra da Vida, nos entristecermos por constatar que erramos o alvo, nos arrependermos, certo é, que, sucederá à tristeza, grande alegria, por ter vindo mais um filho de Deus, ao mundo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário