quinta-feira, 18 de abril de 2024

Os donos da verdade


“Portanto, tudo que vós quereis que os homens vos façam, fazei-lhes também, porque esta é a lei e os profetas.” Mat 7;12

Isso, reduzido a uma palavra seria, isonomia. De modo mais amplo, todos devem ser iguais perante a lei. Qual pessoa, psicologicamente sadia, diria que esse princípio não é bom?

Embora haja diversidade étnica, cultural, funcional, etária, religiosa, artística, política, filosófica, em termos de dignidade, acesso aos direitos fundamentais, todos somos rigorosamente iguais; é necessário, a bem da justiça, que essa igualdade seja defendida, preservada.

O que é a censura, senão, negação a alguém do direito de dizer o que pensa? Ah, mas é preciso preservar às instituições, como dizem seus defensores. Que bosta de instituição seria essa, que a simples fala de um crítico destruiria? Algo pueril, frágil assim, não poderia ser chamado de instituição.

Ou, seria o argumento citado, uma falácia, para emprestar um viés aceitável ao nefasto e intolerável exercício da tirania; que, pela sua essência prefere calar a diversidade de opiniões, que lidar com as consequências dela?

O que outrem pode dizer contra mim deve me oferecer em contrapartida, o direito de dizer que penso sobre ele. Se alguém exagerar, de lá para cá, ou daqui para lá, as leis existentes preveem meios de se pleitear reparos, sem nenhuma necessidade de que alguém seja amordaçado.

A democracia pela sua própria essência é tão livre, que, onde supostamente vige, não precisa nem pode ser tutelada por ninguém em particular. Dado que, é a plena liberdade, ao alcance de todos, que a legitima; quando determinado grupo se sentir “defensor” dela, já a estará desfigurando, por pretender conter num reduto, algo, cuja veraz existência, requer todos os espaços.

Claro que, nos regimes de exceção, onde as liberdades são tolhidas, as vítimas desses regimes podem e devem lutar, não pela defesa, mas pela conquista de algo, ainda inexistente no existenciário deles. Os que pretendem controlar o que pode ser dito, invés de defensores de direitos, são castradores dos mesmos.

O diabo é tão feio que, filosoficamente nega a própria existência; atuando, nunca diz ser ou estar, no interesse canhoto; sempre se veste de algum eufemismo de carona nalguma virtude; pelo menos, certa autocrítica o feioso tem. Assim os ditadores, sempre estão “em defesa dos direitos, do povo, das liberdades”, que, seriam reais, apenas, se não fossem tão “defendidas” assim.

Todos sabem o nome oficial da China, a maior ditadura da terra; apenas o partido comunista; nada de eleições; o povo controlado, qual gado. Todavia, se chama “República Popular da China.” Se fosse uma república o público poderia pleitear contra erros, desmandos do governo, não pode. Logo, também não é popular. O povo é propriedade do PCC que manda e desmanda. Lula os admira e disse que sonha com algo assim, por aqui.

Se alguém publicar algo não verdadeiro, “desinformação ou fake News” como dizem os nefastos censores de nossa terra, basta contrapor às mentiras publicadas, o “antídoto” da verdade, para que, eventuais mentirosos fiquem expostos. Que melhor vitória teria um homem livre, que, envergonhar publicamente aos mentirosos?

Algo desprovido de fundamento, deve ser combatido a partir de premissas bem fundamentadas; senão, providências mentirosas sairiam à luz, para “combater à mentira”?

Heráclito dizia mais ou menos o que segue: “Quando dois sistemas filosóficos disputarem, a nenhum assiste o direito de dizer: Minhas razões são verdadeiras, porque as pretensões do oponente são falsas; pois, a outra parte poderia dizer o mesmo, o que arrastaria a disputa ao infinito. O falso deve ser demonstrado como tal, em si mesmo, não por ser oposto ao presumido verdadeiro.”

Assim, quando algo publicado for comprovável como falso, melhor ao seu adversário demonstrar isso, avaliando ao conteúdo, que, impedir que esse assome, tornando seu autor, vítima, por castrar seu direito inalienável.

Se eu precisar calar as supostas coisas “más” que verteriam pelos lábios dos outros, provavelmente é porque não consigo tolher aos maus atos, que saem à luz pelas minhas próprias mãos. Quem tem por hábito a higiene da própria alma, ocupa-se mais disso, que de “lavar” a outrem; assim, a pretensão de censurar, é a inclinação de podar arestas alheias, sem se incomodar com os espinhos que nascem em si próprio.

“Se a liberdade significa alguma coisa, será sobretudo o direito de dizer às outras pessoas o que elas não querem ouvir.” - George Orwell e, acrescento, sofrermos dos alheios lábios, coisas que não gostaríamos de ouvir, tendo isso como tributo, em defesa de valores que esposamos.

“A censura é a inimiga feroz da verdade. É o horror à inteligência, à pesquisa, ao debate, ao diálogo. Decreta a revogação do dogma da falibilidade humana e proclama os proprietários da verdade.” Ulisses Guimarães

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