quinta-feira, 24 de abril de 2025

A sagração da morte


“Melhor é ir à casa onde há luto que à casa onde há banquete; porque naquela está o fim de todos os homens; os vivos o aplicam ao seu coração.” Ecl 7;2

A ideia é que a morte seja docente dos vivos; vendo-a cara a cara, os tais são levados a pensar, sobre o inevitável encontro. Advertidos, pessoas prudentes podem repensar rumos, rever escolhas... esse é o sentido que o ambiente fúnebre é melhor que o festivo.

Não para todos, entretanto. Se há um momento em que a hipocrisia robustece as asas, é na morte. Aqueles que nos invejavam, jamais dariam gosto de admitir alguma qualidade, direcionar-nos o mínimo elogio, finalmente afrouxam os arreios e desbocam-se em apreços, se morremos. “Podemos elogiar à vontade; está morto.” Machado de Assis.

Outros, desejando ser agradáveis mais que verdadeiros, “enxergam” qualidades jamais vistas, no finado; como quem baratina-se ao sair de chofre dum ambiente escuro para outro luminoso, se perdem confusos, quando a rude realidade os desafia a deixar os scripts, demandando alguns passos reais; pela falta de hábito, claudicam.

Os dum terceiro grupo, por achar que a dor se ameniza com adoçante, derramam um monte de mentiras açucaradas, sentindo-se empáticos por agir assim; os anjos que podem ver as almas, devem corar ante tanta pornografia.

Desses vícios todos, se cunhou na sapiência popular, que as pessoas ficam boas quando morrem. Não me importo de continuar mau, pois.

Acontece que o “bom” do momento é o “Papa Francisco”; mesmo muitos que discordavam veementes dele, agora adoçam o falar, amenizam culpas, ignoram diferenças, como se a morte mudasse outra coisa, além da dimensão onde estará aquele que morreu. Ah, mas o Papa foi um exemplo! De quê?

Os católicos conservadores o detestavam, pela sua simpatia aos “casais” LGBTs; pela defesa do ecumenismo onde “todas as religiões estariam certas”; pela heresia de dizer que Cristo foi um “fracasso na cruz”; pela simpatia aberta ao comunismo, malgrado, o império do ateísmo naquele sistema; os milhões de mortos no leste europeu, e na Ásia; Rússia e China sobretudo; etc. Muitos o achavam um usurpador, não, um Papa “legítimo”.

“Ah mas foi um exemplo de humildade; não recebia salário, morava numa capela, pediu caixão de madeira...” Salário para quê? Se tudo o que necessitava tinha, do bom e do melhor em mãos; até um avião particular, para ir onde quisesse, e seu cargo era vitalício; qual o sentido de ter dinheiro?

Morar em aposentos módicos, geralmente é melhor que nos sofisticados. Ficamos mais à vontade, sem carecer formalidades. O caixão do enterro não faz nenhuma diferença para o morto. Se serve de marketing ante os vivos, é outro aspecto.

Se era humilde ou não, perguntemos aos que discordavam do seu “progressismo”, como tratou às ordens religiosas dissidentes, e aos ministros que pensavam diverso sobre isso; os que desejavam seguir com o rito tradicional da missa. Mandou fechar muitas portas por causas ideológicas. Por não admitir um pensamento divergente.

Desde a idade média esse vício papal, grassa; “humildade” ostensiva, tirania objetiva; muitos lavavam os pés dos mendigos com ostentação, nas praças; depois punham os pés no pescoço dos reis que recusavam se submeter a eles, nos gabinetes.

Nem se trata do Bergóglio; mas da instituição “infalível” do Papado como uma mácula doentia. Em 1215 Inocêncio III, declarou: “Fora do Igreja católica não existe salvação.”
No Concílio Vaticano II, em 1965 sob o Papa Paulo VI mudaram: “Aqueles que creem em Cristo e receberam validamente o batismo, estão em certa comunhão, embora imperfeita, com a Igreja Católica.” 

Outro dia, como citado já, o Francisco disse que todas as religiões estão certas; são linguagens diferentes buscando o mesmo Deus. Para seres que, quando falam “Ex-cátedra” são “infalíveis”, bastante confusos e discrepantes esses pontos.

Então, nem se trata de Francisco especificamente; mas o papado é uma instituição errônea; e, com sua “interpretação” espúria que coloca sobre Pedro, o fundamento da Igreja, fazendo algo que A Palavra proíbe; “Porque ninguém pode por outro fundamento além do qual já está posto, o qual é Jesus Cristo.” I Cor 3;11

O próprio Pedro fez questão de anunciar quem É A Padra Angular: “Ele é a Pedra que foi rejeitada por vós, edificadores, a qual foi posta por cabeça de esquina.” Atos 4;11

Assim, vemos que não apenas os “infalíveis” são cheios de erros, como a própria instituição do Papado é uma grave afronta à Igreja do Senhor. Quem dirige a Igreja é O Espírito Santo; não, homem algum.

Trata-se de um ser humano, o Mário; e como tal, toda morte tem seu componente triste; pêsames à família! Porém, a “canonização” do que morreu, é apenas porque a hipocrisia insiste em continuar viva.

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