“A melhor maneira de ser feliz com alguém, é aprender a ser feliz sozinho; daí, a companhia será questão de escolha, não, de necessidade.” Jô Soares
Muito passei por essa frase sem dar muita importância, vendo-a por alto. Parecia inteligente, com um quê de lógica. Mas, pensando melhor, talvez a coisa não seja bem assim. Por baixo da maciez lógica, como na pata de um gatinho ronronando, estão as unhas retráteis do orgulho.
Que a solidão não é, em si, tão ruim, de acordo. Quantos livros, poemas, tratados espirituais, esculturas, músicas, upgrades intelectuais, são filhos da solidão! Ela, experienciada, por uma alma com índole artística, filosófica, espiritual, pode ser coautora de muitas coisas boas. Quiçá, o lapso da felicidade requeira a distração do labor! Pois, se o fim é ser feliz, aí já não sei se podemos contar com a parceria dessa sisuda senhora. Geralmente a felicidade é fruto que carece de dois baraços entrelaçados para viçar.
Inegável que alguém pode se sentir realizado, recompensado por conquistas hauridas em tempos de isolamento. Mas, a felicidade, a possível, imagino que esteja um pouco além da realização pontual, por alguma vitória.
Acredito que a carência mútua de dois que se ajuntam mercê de sentimentos, é benéfica, não, deletéria. Invés de lermos a necessidade com uma fraqueza, no prisma da complementaridade sentimental, acaba sendo um estímulo. Acaso alguém buscaria por algo que acreditasse não necessitar?
Os que tiveram decepções nessa área, e se colocam refratários, desfazendo, afirmando não querer nunca mais, chutando o pau da barraca, evidenciam uma ferida aberta; o vulcão da decepção ainda ativo, não, uma desnecessidade.
Talvez o “ser feliz sozinho” no fundo, seja uma máscara, usada por quem se recusa às concessões necessárias num relacionamento a dois. Parece, a ideia, um subproduto do feminismo, com seu “igualitarismo” doentio, tentando usurpar ao complementarismo, inevitável, dado o projeto original, que foi figurado poeticamente nas “metades da laranja”.
Assim, um “posso manter a marra, preservar a autonomia” precisa ser relido como “sou feliz assim”, mesmo que o refratário ao amor conjugal como necessário, esteja mentindo a si mesmo e ao mundo. Como um tecido colorido e chamativo, que, do avesso é tosco, sem cor, assim, almas que fazem marketing da suposta independência, como camuflagem da latente carência. Vistas pelo lado interno, não são o que parecem.
Afinal, Aquele que nos criou, sentenciou: “Não é bom que o homem esteja só; farei uma auxiliar idônea para ele.” Gen 2;18
Não poucas vezes, o relacionamento do Senhor com aqueles que Ele ama foi figurado como um casamento; a Igreja é chamada de “A esposa do Cordeiro” Apoc 19;7 e 21;9 Afinal, “O que se ajunta com O Senhor é um mesmo Espírito.” I Cor 6;17
Talvez, o que nos leva a ver certa “lógica” na frase aquela, é um rasgo egoísta, individualista, utilitarista de quem pretenderia uma fusão de corpos, sem permitir que o processo “contagie” às almas. Poderia alguém ser feliz com reservas assim? Ora esse tipo de “felicidade” muitas “profissionais” vendem. A ciência atual já consegue fabricar “esposas” tecnológicas para satisfação dos egoístas abastados, que preferem dar dinheiro, onde careceriam dar atenção, ouvidos, empatia, enfim, dar um pouco de alma. ‘Existem coisas que o dinheiro não compra’; onde será que ouvi isso?
No prisma do Criador, os dois devem ser fundidos; quando diz que serão os dois “uma só carne”, usa uma forma simplista de descrição; não pretende, com isso, separar coisas que estão amalgamadas, corpo e alma; carne e sentimentos.
Quanto à pureza que devemos preservar, nossas três partes são chamadas; “E o mesmo Deus de paz vos santifique em tudo; todo vosso espírito, alma e corpo, sejam conservados plenamente irrepreensíveis para a vinda do Nosso Senhor, Jesus Cristo.” I Tess 5;23
Enfim, o homem que não necessita de ninguém para ser feliz, já perdeu a si mesmo; na recusa em admitir as fraquezas inerentes à condição humana; sendo a felicidade uma via de mão dupla, que requer dar, para receber e tendo esse, apenas dinheiro, (esse luxo é de ricos, pobres precisam até de pão) não mais, alma, existe como mero reflexo, qual um holograma, cujos comandos programados se ocupam em disfarçar seu medo de viver.
Na verdade, embora todos gostemos, ser feliz nem é o objetivo sobre a terra; ganhamos um limite de tempo e espaço, “Pra que busquemos ao Senhor, se porventura, tateando o pudermos achar, ainda que, não está longe de cada um de nós.” Atos 17;27
Reconciliados com Ele, seremos levados, enfim, ao lugar onde a felicidade existe; “Deus limpará dos nossos olhos toda a lágrima; e não haverá mais morte, nem pranto nem clamor; porque as primeiras coisas são passadas.” Apoc 21;4
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