“Sede vós, pois, perfeitos, como perfeito é vosso Pai, que está nos Céus.” Mat 5;48
Li e pensei na frase: “Hoje você é chefe; amanhã pode estar desempregado. Certifique-se de tratar os outros com respeito.”
Me ocorrem outras sentenças da mesma estirpe, com outras palavras: “Não pise em ninguém ao subir, pois, um dia poderás descer. A roda gira; que hoje está por cima, amanhã estará embaixo; cuidado com o que plantas, pois, a lei do retorno não falha...” etc.
Embora sejam advertências com sentido, bíblicas até, ainda evidenciam uma pobreza de motivação para a escolha da “virtude”; requer as aspas, dada a poluição moral, pelo concurso do vício; por certo utilitarismo interesseiro, a patrocinar tais escolhas.
Com a mesma astúcia, me ocorreu uma frase “espiritual” que diz: “Que Deus te dê em dobro tudo o que me desejares.” Grosso modo, parece uma coisa boa; mas, a rigor é uma ameaça: “Me deseje apenas coisas boas, senão, Deus te pega.” Se, naquele caso temos o “patrocínio” do interesse, nesse vemos a coação em busca do medo.
Devo ser educado, gentil, respeitador, porque interajo com pessoas iguais a mim; a simples ciência da dignidade delas deveria bastar como estímulo, para que eu as tratasse de modo cortês.
Óbvio que, os papéis se inverterem, a roda girar, acontece muito. Mas não devemos pagar na mesma moeda aos que nos pisaram. Um exemplo clássico foi o de José; desprezado, perseguido, vendido como escravo pelos irmãos. Alguns anos mais tarde foi feito governador do Egito, e teve todos eles nas mãos, podendo puni-los como desejasse; mas, não fez, antes, os perdoou e protegeu.
Para aqueles que o maltrataram quando jovem e pobre, as espertezas interesseiras teriam sido úteis, se tivessem se precavido delas, no devido tempo; teriam evitado a vergonha e humilhação que passaram, embora, perdoados e socorridos depois.
Quando A Palavra de Deus fala que ceifaremos o que tivermos semeado, aborda no “atacado”; os que semeiam na carne ceifarão a corrupção, os que semeiam no espírito a vida eterna. No varejo, muitas atitudes carnais podem sumir nas águas do perdão, sem as ceifar segundo o mérito. O perdão não seria um dos principais ensinos cristãos, se toda culpa devesse ser punida, necessariamente.
No contexto em que O Salvador exorta a imitarmos a perfeição Divina, ensina: “... amai aos vossos inimigos, bendizei aos que vos maldizem, fazei o bem aos que vos odeiam, orai pelos que vos maltratam e perseguem; para que sejais filhos do vosso Pai que está nos Céus. Poque faz com que Seu sol se levante sobre maus e bons; e a chuva desça sobre justos e injustos.” Mat 5;44 e 45
Óbvio que essas coisas são muito mais fáceis de falar, escrever, do que viver; mas cada vez que falharmos nelas, o que ocorre bastante, devemos nos inquietar, arrepender, e buscar crescer com os erros, evitando repeti-los.
Quando O Senhor ensina a fazermos ao próximo como gostaríamos que ele nos fizesse, não está Ele encorajando uma postura interesseira, mercantil; antes, oferecendo um aferidor, para agirmos quando tivermos dúvidas sobre qual a postura correta. Como A Palavra de Deus trabalha com princípios, em sua maioria, não pode abarcar todas as vicissitudes do nosso cotidiano; por eles, saberemos como atuar em todas as situações.
Por ex.: não há e nem poderia, instruções sobre não passarmos no sinal vermelho, no trânsito; mas diz: “Obedecei às autoridades”; logo, todos sabemos o modo correto de agir, pelo princípio. Assim, no trato com o semelhante; em caso de dúvida, um “e se fosse comigo”, pode clarear as coisas.
Quando Paulo aconselhou que vençamos o mal com o bem, anexou um interesse nobre; “Portanto, se teu inimigo tiver fome, dá-lhe de comer; se tiver sede, dá-lhe de beber; porque fazendo assim, amontoarás brasas de fogo sobre sua cabeça.” Rom 12;20
Forma poética de dizer, que, fazendo o bem aos nossos inimigos, quiçá, os façamos repensar sobre os motivos pelos quais mantêm a inimizade; e nalguns venturosos casos, pode que esse “monte de brasas” queime motivos fúteis e a inimizade acabe em cinzas.
Fazer a coisa certa pela possibilidade de algum interesse no fim do túnel, ainda é melhor que não fazer; todavia, a excelência, é fazer o bem a quem necessita apenas por isso; porque alguém como nós, eventualmente não está numa situação como a nossa.
Lógico que ninguém agirá do modo que Deus se agrada “impunemente”; no devido tempo Ele recompensará. Mas, os que forem tidos por dignos de contemplar à Face do Rei dos Reis, não creio que se importarão tanto com coisas menores. “Quanto a mim, contemplarei Tua Face na justiça, e me satisfarei da Tua semelhança quando acordar.” Sal 17;15
Nenhum comentário:
Postar um comentário