terça-feira, 1 de abril de 2025

A doce corrupção


“Como o crisol é para a prata, e o forno para o ouro, assim, o homem é provado pelos louvores.” Prov 27;21

O crisol é um recipiente onde metais derretidos são testados, depurados; o forno, oferece o combustível ardente para possibilitar o processo. A ideia do símile é: Como esses metais, ouro e prata são derretidos para ser purificados, testados em sua pureza, assim o homem, diante dos elogios.

Geralmente, vemos os encômios como um “selo de qualidade” do nosso desempenho no teatro da vida; não são. Na verdade, são um teste à nossa sobriedade; rivais com potencial para emular nossa soberba, presunção; ou, como acontece na maioria das vezes, uma manobra diversionista para nos ludibriar, enfraquecer às nossas defesas.

Quantas vezes, os que se acercavam do Salvador preparando alguma armadilha, vinham cheios de fricotes, elogios, acreditando surpreendê-lo? Certa vez disseram: “... Mestre, bem sabemos que és verdadeiro, ensinas o caminho de Deus segundo a verdade, de ninguém se te dás, porque não olhas a aparência dos homens, dize-nos, pois, que te parece? É lícito pagar tributo a César, ou não?” Mat 22;16 e 17

Antes de armarem um laço mortal contra O Senhor, cobriram-no de elogios; Ele respondeu: “... porque me experimentais, hipócritas?” v 18 Discerniu a maldade, onde um incauto se derreteria, ante tais lisonjas.

Nem todo o louvor é danoso; eventualmente, é derivado da vera admiração, como fez Nicodemos quando buscou ao Senhor; ele falou: “... Rabi, bem sabemos que és Mestre vindo de Deus, porque ninguém pode fazer os sinais que Tu fazes, se Deus não for com ele...” Jo 3;2 Disse que acreditava no Senhor, e expôs razões lógicas para isso; os sinais que Ele fazia eram de origem sobrenatural. Não era um elogio venenoso, pois.

Então, se somos provados pelos louvores que recebemos, a necessidade de discernimento sobre deles, faz parte da prova, também.

É prudente colocarmos os elogios na mesma prateleira que as vaias; como expressões do estado de espírito de terceiros; sem ter, necessariamente, ralação com os fatos, com a verdade. Sócrates dizia que, as pessoas por aplaudirem apenas as coisas com as quais se identificam, no fundo, aplaudem a si mesmas. Se, induzidas por alguma claque, o fazem sem querer, não passam de massa de manobra, sem nenhum valor em si. A “massa” representa os interesses do “padeiro” não, os próprios.

Porém, alguns são tão amantes de si mesmos, que se não receberem encômios, eles mesmo fazem em seu favor. Pavoneiam-se obscenos chamando atenção para o que pensam ser suas mais vistosas qualidades. A Palavra é categórica: “Que um outro te louve, não tua própria boca; o estranho, não os teus lábios.” Prov 27;2

Os mais escrupulosos pedem elogios de modo indireto, quando fazem suas “caridades” suas “boas ações” diante das câmeras, para que todos vejam.

Também sobre essa febre O Senhor ensina: “Guardai-vos de fazer vossa esmola diante dos homens, para serdes vistos por eles; aliás, não tereis galardão junto ao vosso Pai que está nos Céus; quando, pois, derdes esmolas, não faças tocar trombeta diante de ti, como fazem os hipócritas, nas sinagogas e nas ruas; para serem glorificados pelos homens; em verdade vos digo que, já receberam o seu galardão; mas tu, quando derdes esmola, não saiba tua mão esquerda, o que faz a tua direita.” Mat 6;1 a 3

Vistas essas variáveis todas, onde os louvores podem ser disfarces de armadilhas, manobras diversionistas, apreciação sincera, falta de noção pedante, arrogante obscenidade de alma, precisamos ser cuidadosos ao encontrá-los. Diante deles, tanto somos provados no prisma dos sentimentos, quanto, no discernimento.

Porque a natureza humana deseja ser bajulada, mais do que ser corrigida, os falsos profetas omitem à Palavra de Deus com sua sóbria porção de sal, e oferecem em seu lugar, simulacros adocicados, com profusas promessas fáceis, bênçãos sem renúncias, perdão sem arrependimento, aceitação sem mudanças, Evangelho sem cruz.

Diante de “elogios” dessa espécie, também somos provados, agora, num aspecto em que nossas vidas acabam em jogo. Invés de discernir o logro do inimigo e se afastar, a maioria o deseja e busca; “Porque virá o tempo em que não suportarão à sã doutrina, mas, tendo comichão nos ouvidos, amontoarão para si doutores, conforme suas concupiscências; desviarão os ouvidos da verdade, voltando às fábulas.” II Tim 4;3 e 4

Nos sacrifícios da Antiga Aliança Deus já deixou uma pista do que nos convém; “Todas as tuas ofertas dos teus alimentos, temperarás com sal; não deixarás faltar à tua oferta de alimentos, o sal da Aliança do teu Deus; em todas as tuas ofertas, oferecerás sal.” Lev 2;13

“Prefiro os que me criticam, porque me corrigem, aos que me elogiam, porque me corrompem.” Santo Agostinho.

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