sábado, 25 de maio de 2024

O fogo das provas

 

“Ninguém, sendo tentado, diga: De Deus sou tentado; porque Deus não pode ser tentado pelo mal, e a ninguém tenta.” Tg 1;13

Eventualmente elencamos coisas que O Todo Poderoso “não pode”, não por limitações ao Seu Poder; antes, por nuances da Sua Integridade, “... não pode negar a si mesmo.” II Tim 2;13 pelo choque excludente com Sua Santidade; “... não posso suportar iniquidade...” Is 1;13 “Tu És tão puro de olhos, que não podes ver o mal...” Hc 1;13

Inicialmente, vimos que Deus “não pode ser tentado pelo mal...” Coincidência ou não, quatro “impotências” do Todo Poderoso, todas em versos sob o número treze.

Para que o mal exerça tentação sobre alguém, é necessário que ele acene com algum bem, inda que, parcial. O pecado costuma envernizar-se com brilhos do prazer, de algum ganho, seja monetário, emocional, reputação, vingança, etc.

Para O Senhor Onisciente, que vê as coisas precisamente como são, não como tentam parecer, toda sorte de pecados, por artificiosos que sejam na sua apresentação, a Ele cheiram mal, incapazes de oferecer o menor atrativo. De ambos os lados a tentação hipotética acaba tolhida; O Santo não pode ser tentado pelo mal, pelo que Ele É; e pelo que o mal é, a despeito dos disfarces que use. “Não há criatura alguma encoberta diante Dele; antes todas as coisas estão nuas e patentes aos olhos Daquele com Quem temos de tratar.” Heb 4;13

Contudo, a coisa não é assim, diante de nós. “Cada um é tentado, quando atraído e engodado pela própria concupiscência.” Tg 1;14

Reflexo do concurso da natureza carnal, e sua inclinação rebelde, desde a queda; “Porquanto a inclinação da carne é inimizade contra Deus, pois não é sujeita à lei de Deus, nem pode ser.” Rom 8;7 Aquilo que parece aprazível ao nosso instinto, acaba despertando a cobiça em nós. Essa atua em consórcio com a tentação, colocando a prova, nossa obediência.

“Bem-aventurado o homem que sofre a tentação; porque, quando for provado, receberá a coroa da vida, a qual o Senhor tem prometido aos que O amam.” Tg 1;12 Há uma diferença diametral entre cair em tentação, e sofrer à tentação.

Se, caio, sucumbo aos seus apelos e peco; se, sofro, disciplino-me, mediante submissão ao Espírito, fazendo a escolha meritória, como a que, ao seu tempo fez Moisés, num contexto mais abrangente; “... recusou ser chamado filho da filha de Faraó, escolhendo antes, ser maltratado com o povo de Deus, que, por um pouco de tempo ter o gozo do pecado;” Heb 11;24 e 25

Isso é o que há de mais fútil na tentação; superestima o usufruto de um deleite que dura “... um pouco de tempo...” colocando a perder, uma comunhão eterna.

Quando Paulo ensina que, sobre o Único Fundamento aceitável a Deus, Jesus Cristo, devemos edificar nossas vidas, que serão provadas pelo fogo, Ver I Cor 3;11 a 13, refere-se às tentações, que com suas ardentes chamas, colocarão a prova, nossa devoção ao Senhor.

“Não veio sobre vós tentação, senão humana; mas fiel é Deus, que não vos deixará tentar acima do que podeis; antes, com a tentação dará também o escape, para que a possais suportar.” I Cor 10;13

Lembro do tempo que eu lia gibis; as tentações eram figuradas como, um capetinha sobre o ombro esquerdo acoroçoando para o mal; resistido por um anjinho no ombro direito, das personagens, cujo conselho era oposto. “Mutatis mutandis”, é isso mesmo. A “voz” da tentação acenando com as “vantagens” de pecar, do outro lado, a consciência, advertindo das consequências de cairmos no erro.

Se, como vimos no início, “Deus não pode negar a Si mesmo;” no nosso caso, se não negarmos nossas mais instantes inclinações, andando em espírito, não poderemos ser servos Dele. A Graça de Cristo só incide sobre os que se submetem em obediência “... nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus, que não andam segundo a carne, mas segundo o Espírito.” Rom 8;1

Não importa quão fervorosas nossas profissões de fé, sinceras; cada tentação é uma oportunidade de evidenciarmos nossa fé, mediante obras correspondentes; podemos glorificar a Deus pela obediência, ou, capitular ao pecado, rendendo-nos a ele, malgrado, seu cheiro de morte. “Não sabeis que a quem vos apresentardes por servos para obedecer, sois servos daquele a quem obedeceis; do pecado para morte, ou da obediência para justiça?” Rom 6;16

Dizermos que somos “sal da terra e luz do mundo”, é apenas envergarmos um rótulo; agir conforme, mesmo ante tentações, é que evidenciará a virtude de Cristo em nós; “Assim resplandeça vossa luz diante dos homens, para que vejam vossas boas obras e glorifiquem ao vosso Pai, que está nos Céus.” Mat 5;16

Nenhum comentário:

Postar um comentário