domingo, 26 de maio de 2024

Aparente mente


“Há um caminho que ao homem parece direito, mas o fim dele são caminhos da morte.” Prov 14;12

Que as aparências enganam é proverbial. De que é feita a hipocrisia, senão, da aparência da virtude usurpada por quem vive no vício? Entretanto, as culpas pelo engano nem sempre estão plenamente na conta das coisas visíveis.

“Os olhos e ouvidos são más testemunhas, quando a alma não presta”. Heráclito

Para o antigo pensador, havia uma inclinação nas almas que “entortava” a leitura dos fenômenos, mais que, a forma, como se apresentavam. Além do que vemos, o que ouvimos também pode ser “filtrado”, de modo a se adequar mais às preferências, que, à realidade.

A alma inocente de Eva, passou a “não prestar” quando, deixando a Palavra de Deus, começou a ver como boa, a sugestão da oposição, para que desobedecesse à vontade do Criador.

Afastando-se dessa, em direção ao conselho da serpente, até as “aparências mudaram”; “Viu a mulher que aquela árvore era boa para se comer, agradável aos olhos, árvore desejável para dar entendimento; tomou do seu fruto, comeu e deu também ao seu marido; ele comeu com ela.” Gn 3;6

“... desejável...”
aquilo que traria morte, conquistara um espaço na alma da mulher, de modo a gerar um filho, o desejo. A maioria dos nossos pecados viçam daí; quando esse rebento chora por mamar. Nossa alma carece ser entortada primeiro, para que suas percepções também entortem. Assim, me seja lícita a conclusão que, as aparências são assessórias do engano, não, a causa necessária.

Justo por ter abandonado a dependência de Deus, que a queda fez nossa dependência ainda maior. Agora, pela morte espiritual, o homem natural se torna vítima das aparências. “... Não atentes para sua aparência, nem para a grandeza da sua estatura, porque o tenho rejeitado; porque O Senhor não vê como o homem; pois, o homem vê o que está diante dos olhos, porém O Senhor olha para o coração.” I Sam 16;7

Quando os gibeonitas, temendo o avanço de Josué com seu exército, foram a ele propor um pacto, se dizendo peregrinos de largas distâncias, levaram como “prova” das suas falas, vestes rotas e pão bolorento. A causa pela qual queriam um pacto invés de lutar, era o medo; os assessórios usados para convencer ao general, foram falas astutas e trastes que “confirmavam” às falas.

O erro de Josué foi aceitar as coisas como se apresentaram, sem consultar a quem pode ver a verdade. “Então os homens de Israel tomaram da provisão deles e não pediram conselho ao Senhor.” Js 9;14

Suas almas autônomas foram culpadas do triunfo do engano. Por isso, o conselho: “Confia no Senhor de todo o teu coração, não te estribes no teu próprio entendimento. Reconhece-o em todos os teus caminhos, Ele endireitará tuas veredas. Não sejas sábio aos teus próprios olhos; teme ao Senhor e aparta-te do mal.” Prov 3;5 a 7

Os desejos do homem caído são consortes do engano; alguém, pretendendo ser irônico, foi filósofo ao dizer: “Me engana, que eu gosto.”

Em muitos casos, aparências revelam, mais do que enganam. Certas obviedades não podem ser outra coisa, senão, o que deixam ver. Pessoas exalando sensualidade no vestir, tomando púlpitos por aí, pretendendo-se, expoentes espirituais. Quem coloca a carne em relevo, não pode, ao mesmo tempo, realçar o espírito. “... Andai em Espírito, não cumprireis a concupiscência da carne.” Gál 5;16

Lembra uma anedota que escutei outrora. Um gaúcho caminhoneiro foi interpelado por um baiano, acerca do que ele transportava; “Que levas em teu possante, gaúcho? – uma carga de suínos tchê!” O baiano foi conferir de perto: “Suíno é? Ôxe! Bicho danado de parecido com porco!”

Sempre que restarem dúvidas entre o que vemos e ouvimos, por que não consultarmos a Deus? A cereja na torta da serpente, plantadora do engano na humanidade, será fazer seu títere parecer Divino, mediante o engano. O Anticristo virá, “... com todo o poder, sinais e prodígios de mentira, com todo engano da injustiça para os que perecem, porque não receberam o amor da verdade para se salvar.” II Tess 2;9 e 10

Como vemos, a verdade, mais que no testemunho sensorial, tem seu assento no coração; deve ser amada, para que sejamos livres do engano.
Enfim, mesmo que os caminhos nos pareçam direitos, antes de palmilharmos neles, consultemos Àquele que sabe o fim, aonde eles nos levam.

Quando inquirido acerca dos sinais do fim, e da Sua volta, a primeira coisa que O Salvador advertiu foi: “Vede que ninguém vos engane.”

“Exortai-vos uns aos outros todos os dias, durante o tempo que se chama Hoje, para que nenhum de vós se endureça pelo engano do pecado;” Heb 3;13

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