sexta-feira, 10 de maio de 2024

Censurando à censura


“Quando dois sistemas filosóficos disputarem, a nenhum cabe o direito de dizer: Seu postulado é falso porque se opõe ao meu, que é verdadeiro. Pois, o outro poderia dizer a mesma coisa, arrastando a disputa ao infinito. O falso deve ser demonstrado como tal, em si mesmo; não por ser oposto ao presumido verdadeiro.” Heráclito.

Essa sentença do filósofo pré-socrático é perfeita. Tudo aquilo que é falso tem seus pontos fracos, pelos quais, pode ser desmascarado, a despeito do que digam seus defensores.

Embora essa forma de pensar tenha perto de três milênios já, é extremamente atual, dadas as disputas que observamos em nosso dia a dia, sobre as ditas “Fake News”, tão em evidência atualmente.

Esse qualificativo virou um biombo para trás do qual sempre corre, quem não gosta de algo que está sendo publicado, como se, bastasse essa pecha, para desqualificar algo, malgrado, o testemunho dos fatos.

O exemplo mais notório pela repercussão, foi a denúncia de que a ANTT estava multando caminhões que traziam doações para socorro das vítimas da tragédia no RS.

A Rede Globo, invés de uma investigação “in loco” como requer o verdadeiro jornalismo, se ateve à leitura de uma nota de estúdio qualificando como falsas as referidas denúncias; no que foi secundada pelo ex jogador Neto, que, baseado nas mesmas “fontes” as tais “vozes de minhazoreia”, também bradou que tudo era mentira.

Pior, o Ministro da SECOM, Paulo Pimenta, além de dizer o mesmo requereu do Ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, providências em “defesa das instituições” que estariam sendo desacreditadas pelas supostas mentiras.

O SBT enviou uma repórter ao local e entrevistou caminhoneiros que confirmaram exibindo as multas que sofreram no referido posto; pelo menos, seis delas. O Governador de Santa Catarina, Jorginho Melo também afirmou, ao lado de um funcionário da Defesa Civil de seu Estado, a veracidade daquilo. Portanto, a notícia falsa estava nos lábios que negavam os fatos, não nos que os relatavam.

Desgraçadamente, o Governo Federal, em meio a uma tragédia sem precedentes, invés de lutar pelo resgate das pessoas flageladas, prefere lutar usando mentiras, para criar uma imagem favorável, quando, bastaria fazer a coisa certa; a boa imagem viria como efeito colateral inevitável. Querem frutos sem plantio; aprovação sem uma atuação proba.

O influencer Pablo Marçal, que, foi acusado de ser o criador da “notícia falsa” vociferou indignado, exigindo uma retratação da Rede Globo, sob pena de processar a referida emissora, e requerer uma reparação financeira pelo dano sofrido.

Mas, voltando ao Ministro Pimenta, quais “providências” ele estaria demandando contra os internautas que divulgaram aqueles incidentes? As mesmas que o “democrata” Alexandre de Morais, usou a torto e a direito, contra os que pensavam diferente da esquerda; censura.

Os fatos mostraram que, as Fake News foram contadas pelos que disseram não ter havido aplicação de multas; Rede Globo, Neto, e Governo Federal, na pessoa do Ministro; porque, mais tarde foi confirmado que realmente aconteceu, até, pelo diretor da própria ANTT. Assentado isso, aplicariam censura contra eles mesmos? Não. Tal lei só valeria contra desafetos.

O falso foi demonstrado como falso, pela averiguação dos fatos, deixando patente a realidade. A censura sempre foi uma tirania de gente totalitária que teme à verdade. Pois, quando alguém conta uma mentira, que antídoto mais eloquente pode haver, que demonstrar isso, expondo os fatos?

Embora, pretenda ser uma vacina preventiva contra a mentira, a censura sempre foi e sempre será, uma imposição covarde e tirânica por parte de quem teme à verdade. Os mesmos que, outrora cantaram “afasta de mim esse cálice, (nas entrelinhas, cale-se, a censura) de vinho tinto de sangue”, agora que se sentem donos da vinha querem fazer tin tin com nosso sangue.

Assim, como a pretendida censura se “justificaria” ancorada numa mentira, e seria imposta para prevenir contra essas, urge que censuremos à censura, para que ela tenha um mínimo vínculo com a verdade. Se o falso pode ser demonstrado como tal, em si mesmo, as “razões” da censura tropeçam na falta de razão. Não é possível prevenir à mentira, estabelecendo à mesma como antídoto, sendo que ela é o vírus.

Senão, se os fatos não contam, quem manda, pode dizer o que é, e o que não é verdade, daremos os Ministro da Censura, digo, das comunicações, o poder “Divino” de arbitrar desde seu umbigo, desde suas predileções, sem nenhum respeito pelos eventos.

“Os Melhores do Mundo” encenam uma peça onde um sequestrador, com mania de português correto, mata um refém a cada erro de português dos policiais. Até que ele mesmo comete um; por questão de coerência, suicida-se.

Que o garboso Ministro, tão cioso contra mentiras, amordace a si mesmo, em nome da lei.

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