domingo, 12 de maio de 2024

Cães sapiens


A maturidade chega quando, teorias bonitas que sempre cortejamos, finalmente nos fitam nos olhos e nos convidam para dançar. Ou, como disse David Bowie, é quando nos tornamos o que sempre deveríamos ter sido.

A capacidade intelectiva costuma ser mais célere que o bom siso. Mais facilmente entendemos às coisas, que, as praticamos. Dessa doença, ironias como a de Joelmir Betting: “Na prática, a teoria é outra.” Ou, “O que és, grita tão alto, que não consigo ouvir ao que dizes.” Pregadores puritanos.

Há um componente que, quando anexo à fala pode entortar às palavras retas. Se, a coisa certa é dita com motivações erradas, fingindo conectar o que é desconexo, ou, mesmo o tom do que é falado traz um peso derivado do aguilhão das paixões, cujo fogo, tende a produzir calor, enquanto sonega a luz, teremos um cego tateando crinas, e descrevendo-as como cabelos. Nesses dias sombrios, onde se vibra com a vida de um equino, e silencia quanto a centenas de vidas humanas perdidas...

O reducionismo ao rótulo, que presto desqualifica aqueles, dos quais discordamos, tolhe a análise honesta dos motivos, das escolhas.

Se, eu esposar que gosto da liberdade de expressão, equilíbrio respeitoso entre os poderes, um viés conservador nos costumes, da preservação dos valores cristãos, que sou contra o aborto, a imposição das garras do Estado onde devem habitar os direitos do cidadão, empreendedorismo econômico etc. em lugar de, quem me ouve, pensar sobre isso, se faz sentido defender tais coisas ou não, muitos, por desafeitos a pensar, acharão um atalho.

Se, sua predileção se chocar com algumas dessas coisas, logo me tacharão: Bolsonarista!

Ora, foi Bolsonaro que inventou essas opções? Não. Como que, defendê-las se tornou um adjetivo derivado do nome dele? Por muito tempo Jair foi difamado, chamado de nazista, fascista, golpista... assim, seria uma forma de colar todos esses adesivos em mim, economizando cola?

Ora, eu discordo da esquerda porque eles defendem o aborto, a descriminação das drogas, a estatização, o assistencialismo em detrimento do desenvolvimentismo, censura, imposição do homossexualismo como disciplina nas escolas, a doutrinação ideológica endeusando o comunismo, vertendo a educação em mera doutrinação... etc. não porque os canhotos são “Lulistas”.

Lula e Bolsonaro passarão. Os valores que um e outro defendem, não. É tão mais fácil colar um rótulo que exercitar os neurônios; criticar outrem que avaliar aos próprios motivos. Aliás, narrativa e fake News são gêmeas, univitelinas.

As narrativas que fazem da castração dos direitos, “defesa da democracia”, e das críticas verazes, “fake News”, não são meros frutos da imaturidade cidadã. São derivados da imbecilização coletiva, mão-de-obra barata de quem aprendeu a replicar mentiras, invés de exercitar neurônios.

Cada um pode concordar com, ou, defender ao, que quiser. Mas, se fizer isso à força de gritos, não à persuasão de argumentos, invés de um cidadão cuja individualidade devo respeitar, cujos pensamentos convém considerar, verei um títere, um “idiota útil” como os socialistas chamam, metátese de um câncer social.

A melhor crítica de um postulado político são suas consequências. O que ele produz, valida, ou não, sua defesa. Todavia, para os idiotas úteis, sua bandeira consagra tudo; a adversa desafia ao ataque, como o pano do toureiro, ao touro, nas arenas de Madri.

Desgraçadamente, nos tornamos uma sociedade que, intelectual, moral e espiritualmente cresce para baixo, como rabo de cavalo. Os xingamentos anulam a reflexão, sentenças decoradas substituem ao ensino, repetições de platitudes se pretendem, reflexões filosóficas... como cães que festejam aos conhecidos e latem contra os estranhos, assim o “homo sapiens” ante o que ignora, e o que pensa saber.

A Palavra de Deus denunciou esses dias, onde as predileções particulares usurpariam à verdade. “Porque virá tempo em que não suportarão a sã doutrina; mas, tendo comichão nos ouvidos, amontoarão para si doutores conforme suas próprias concupiscências; desviarão os ouvidos da verdade, voltando às fábulas.” II Tim 4;3 e 4

Como buscaria aperfeiçoamento, higidez psicológica, adequação espiritual à vontade de Deus, quem se supõe pronto, independente, maduro, politizado, o último maracujá da latada? A mesma Palavra de Deus deixa patente a desesperança nesses casos. “Tens visto o homem que é sábio aos seus próprios olhos? Pode-se esperar mais do tolo do que dele.” Prov 26;12

Não que, por me atrever em coisas mais altas que o lugar comum, isso signifique maturidade adquirida, ser uma fonte donde só mana, e não precisa receber; antes, estamos em pleno processo de aprendizado, colhendo lições de tropeços diuturnamente; afinal, nesse quesito, as falhas são as melhores docentes.

Enfim, a maturidade não deriva, necessariamente, do curso dos dias. Há muitos meninos velhos. É um apanhado de experimentos que nos faculta crescer com nossas dores, e não sofrer pelas doenças alheias.

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