sexta-feira, 21 de outubro de 2016

Cirurgia espiritual

“Não seguirás a multidão para fazeres o mal; numa demanda não falarás, tomando parte com a maioria para torcer o direito. Nem, ao pobre favorecerás, na sua demanda.” Êx 23;2 e 3

Nem sempre usamos os remédios que receitamos, uma vez que é fácil, até, falarmos com certa sabedoria; difícil é praticar. Mesmo A Palavra de Deus, mui suave aos lábios, digerida, muda um tanto, seu sabor. “Fui ao anjo, dizendo-lhe: Dá-me o livrinho. Ele disse-me: Toma-o, come-o; ele fará amargo teu ventre, mas, na tua boca será doce como mel.” Apoc 10;9

Crianças psíquicas que somos, nem precisamos de regras explícitas para plasmarmos nossas redes virtuais de doçuras, de cantos de ninar, bajulações mútuas, pois, tendo em nós o infante paladar, presto identificamos, o alheio.

Nos dois versos iniciais temos nuances do Paladar Divino; a maioria não está necessariamente certa, tampouco, ser pobre é credencial moral numa disputa. Contudo, em nosso sistema governamental, sobretudo, a maioria está sempre “certa” ela diz quem vai mandar, seja analfabeto, ou, letrado, corrupto, ou probo; quem ela escolher está ungido, “a voz do povo é a vos de Deus”.

Muitos, aliás, logram apoios majoritários colocando-se como defensores incondicionais dos pobres, como se isso fosse um mérito em si, ou, pobreza, credencial. Há casos distintos, mesmo aí.

Desse modo, patenteamos que discordamos cabalmente dos valores diletos do Criador. Ele, invés da primazia do seu favor carrear aos desvalidos materiais, atenta, antes, a valores espirituais, morais, que abraçamos, malgrado nossa envergadura. “Tu amas a justiça e odeias a impiedade; por isso Deus, teu Deus, te ungiu com óleo de alegria mais do que a teus companheiros.” Sal 45;7 Essa partícula do hino alude à unção especial do Messias, por amar os valores do Céu.

Assim, quando Ele começou suas bem aventuranças pelos “pobres de espírito” basta que leiamos com atenção para vermos que nada tem com a condição social, antes, espiritual. Um pobre de espírito é alguém que reconhece carências, precisamente, nessa área.

Temos o exemplo do eunuco Etíope, homem rico, que lia Isaías o profeta, sem entender. Filipe, conduzido a ele pelo Espírito Santo perguntou: “Entendes o que lês? ... Como poderei entender, se alguém não me ensinar? Rogou a Filipe que subisse e com ele se assentasse.” Atos 8;30 e 31

Não fosse pobre de espírito teria dispensado ajuda de um andarilho eventual, afinal, era um Ministro cheio da grana, de que mais teria necessidade. É, muitas pessoas fecham-se para Deus com as chaves do ouro que Ele mesmo Deu; os pobres de espírito reconhecem que, as riquezas, posto trazerem certo conforto eventual, nada obram nas veredas espirituais.

Óbvio que a vera conversão não é uma coisa fácil, pois, nossa formação secular laborou sempre num vácuo espiritual, nos fazendo ter como normais, coisas que são erradas, abjetas, abomináveis, até, ante O Senhor. A natureza caída, que a Bíblia chama, carne, faz mais que rejeitar os valores celestes, opõe-se em inimizade. “Porque a inclinação da carne é morte; mas, a inclinação do Espírito, vida e paz. Porquanto a inclinação da carne é inimizade contra Deus, pois, não é sujeita à Sua Lei, nem, em verdade, pode ser.” Rom 8;6 e 7

Se, a carne não pode viver segundo os altos padrões celestes, restou A Deus regenerar espiritualmente, aos que lhe dessem ouvidos. “Na verdade, na verdade te digo que aquele que não nascer da água e do Espírito, não pode entrar no reino de Deus. O que é nascido da carne é carne, o que é nascido do Espírito, espírito.”Jo 3;5 e 6

Erram grosseiramente, pois, os que equacionam conversão com mera adesão ritual, mudança de religião, “passa pá crente”...
A conversão provida Por Jesus Cristo, transporta das trevas para a luz, da morte para a vida. Só então, invés de recrudescermos em nosso desacordo com O Santo, repensamos. Ele disse: “Andarão dois juntos se não estiverem de acordo?” Am 3;3 Óbvio que não.

Para andarmos com Deus carecemos mudar, antes, de mentalidade, depois, atitudes. Não podemos agir sem pensar, então, “Deixe o ímpio o seu caminho, o homem maligno os seus pensamentos, se converta ao Senhor, que se compadecerá dele; torne para o nosso Deus, porque grandioso é em perdoar. Porque, meus pensamentos não são os vossos, nem vossos caminhos os meus, diz o Senhor.” Is 55;7 e 8

O centro de nossa personalidade, intelecto, emoções, vontades, nosso coração; daí, saem fresquinhas nossas ações para o teatro da vida. “Sobre tudo o que se deve guardar, guarda teu coração, porque dele procedem as fontes da vida.” Prov 4;23

O novo coração prometido mediante Ezequiel, vem por uma “cirurgia” espiritual, “anestesiados” pelo Espírito Santo, sob o bisturi da Palavra de Deus.

quinta-feira, 20 de outubro de 2016

O tempo das asas

“Tudo tem o seu tempo determinado, há tempo para todo o propósito debaixo do céu.” Ecles 3;1

Não significa, tal afirmação, um fatalismo cronológico dentro do qual, o homem deixaria de ser arbitrário, antes, uma dimensão espaço-temporal, finita, na qual, deve exercer suas escolhas. Escolhas, essas, que podem abreviar, quando não, dar fim, a esse mesmo espaço.

A “condenação à liberdade” traz como penas as consequências, e, das tais, não podemos nos evadir. Muitos conflitos, dores, derivam de uma má compreensão de nossa situação ante o tempo. Para Sara, esposa de Abraão, por exemplo, passara o tempo para ter um filho; como Deus “falhara” em cumprir Sua promessa, planejou um arranjo periférico tomando sua escrava como “barriga de aluguel.” Ora, é certo que, no prisma da lógica humana, suas “credenciais” maternais não ajudavam, entretanto, quem prometera fora O Eterno, que tem outra relação com o tempo, diverso das coisas criadas, “debaixo do céu”. Onde a lógica fraqueja, a fé tem ocasião de se mostrar mais robusta.

Assim sendo, o “homem natural não compreende as coisas do Espírito de Deus...” devemos “comparar as coisas espirituais com as espirituais.” Nossa relação com o tempo natural está ao alcance de todos. “Sabeis discernir os sinais dos céus...” Contudo, os tempos espirituais, demandam certa relação mais apurada com Aquele que É “Pai da Eternidade.” “Quem guardar o mandamento não experimentará nenhum mal; o coração do sábio discernirá o tempo e o juízo.” Ecl 8;5 Ou, “Muitos serão purificados, embranquecidos, provados; os ímpios procederão impiamente, nenhum dos ímpios entenderá, mas, os sábios entenderão.” D 12;10

Deus privou-nos da data exata do nascimento do Salvador, bem como, Sua volta, pois, a primeira não parece relevante para nossa salvação, a segunda, seja quando for, não irá surpreender aos “sábios”, tampouco, alimentar excitação hipócrita de oportunistas. Dos Seus, Ele espera um relacionamento sadio “full time”, não ao açodo de imediatismos egoístas. “Em todo o tempo sejam alvas as tuas roupas, nunca falte o óleo sobre tua cabeça.” Ecl 9;8

“O tempo fez muito bem a você”, usamos dizer a alguém, cujo decurso dos dias não marcou tanto. Porém, mais, ou menos formosas, as coisas finitas rumam à decrepitude, ao fim. Embora possa ter sua vantagem eventual tecermos um belo casulo, no fim das contas, valerá, com quais asas dele sairemos, o demais, é biodegradável.

Como nossa tênue relação com o tempo oscila frágil pingente pelo fio da vida, é presunçoso deixarmos para amanhã, ou, um futuro indefinido decisões vitais, que respeitam ao “resto” de nosso tempo, a eternidade. Tiago pincelou essa fragilidade: “Digo-vos que não sabeis o que acontecerá amanhã. Que é a vossa vida? Um vapor que aparece por um pouco, depois, desvanece.” Tg 4;14

Em face disso, A Palavra sempre é apresentada com senso de urgência, para ser abraçada imediatamente, e, eventual ouvinte descuidado não ser precipitado no abismo tendo estado na Porta do Céu. “Enquanto se diz: Hoje, se ouvirdes sua voz, Não endureçais vossos corações...” Heb 3;15

É comum as pessoas dizerem a coisa certa pela razão errada. “Viva cada dia como se não houvesse amanhã, como se fosse o último”. Quando atentamos, amiúde, para a intenção das palavras, vemos que, não raro, a ideia é “curtir a vida” dar-se aos prazeres; não, estar espiritualmente preparado para iminente encontro com O Senhor. Invés, de, aproveite hoje como se, tua última oportunidade de salvação, dizem: Peque até à última gota, justifique bem tua perdição.

Muitos são levados por fontes espúrias a crer que, haverá sempre novas oportunidades, reencarnações. Quem não for salvo nesse tempo será noutro. Pode ser mais fácil crer assim, contudo, não é certo. Sem essa que Espiritismo é Bíblico, tampouco, cristão. Dizem que O Prometido Espírito Santo seria a revelação da doutrina espírita prometida por Cristo, mentira!

O Salvador, aludindo ao Espírito Santo disse que, vindo, “Convenceria o mundo do pecado, da justiça, do juízo”, ensinos ausentes no espiritismo; mais: “Vos fará lembrar minhas Palavras”, disse. Nada fora escrito, até então, do Novo Testamento, O Espírito escolheu vasos para isso, e capacitou após.

A salvação depende de “Novo nascimento” sim, mas, nesse mesmo corpo pecaminoso, arrepender-se dos erros, confessar, receber Jesus como Senhor, obedecer. Não se trata de novo corpo para esse espírito, antes, um novo espírito para esse corpo, potencializado pelo Espírito Santo. “O que é nascido da carne é carne, o que é nascido do Espírito é espírito.” Jo 3;6

Mediante Jeremias, Deus dera tempo e ensinos que teriam salvado seu povo de cativeiro iminente. Não deram ouvidos, nem aproveitaram seu tempo. Não aconteça o mesmo conosco, para não termos que falar como aqueles: “Passou a sega, findou o verão, e nós não estamos salvos.” Jr 8;20

quarta-feira, 19 de outubro de 2016

Amor; em nome do Pai


“O Senhor vosso Deus é Deus dos deuses, Senhor dos senhores, Deus grande, poderoso e terrível, que não faz acepção de pessoas, nem aceita recompensas; faz justiça ao órfão, à viúva, ama o estrangeiro, dando-lhe pão e roupa. Por isso, amareis o estrangeiro, pois, fostes estrangeiros no Egito.” Deut 10 17-19

Normalmente, quando pensamos num servo de Deus, idôneo, imaginamos alguém com identidade espiritual, moral, com Seu Senhor; certamente deve ser assim mesmo, se, de fato, O serve. Entretanto, no texto supra encontramos Ele demandando identidade sentimental. “Amareis ao estrangeiro... pois, Vosso Deus, ama...”

Religiosidade puramente formal, desprovida de sentimentos equivale à fé sem obras denunciada por Tiago como, morta. Aos Fariseus que isso faziam, Jesus, chamou, hipócritas; aos demais que O ouviam, desafiou a ir além. “Porque vos digo que, se vossa justiça não exceder a dos escribas e fariseus, de modo nenhum entrareis no reino dos céus.” Mat 5;20 “Sede vós, pois, perfeitos, como é perfeito vosso Pai que está nos céus.” V 48

O amor requerido foi equacionado com justiça, não, mero sentimento. Mas, diria alguém, Israel fora injustamente tratado no Egito, quando estrangeiro, logo, “baixar a lenha” em eventuais estrangeiros que peregrinassem em seu meio seria uma questão de justiça, olho por olho.

É, assim como, obediência pode ter sua faceta puramente formal, também, justiça. O, “ama a teu próximo com a ti mesmo”, significa não fazer-lhe o que não desejaria para si, pouco importando o histórico. Se, quando cativos, oprimidos, sofriam com isso, não desejavam tal sorte, em liberdade, não deveriam fazer, o que lhes era mau, simples assim.

Contudo, frequentemente deparamos com “cristãos” que publicam nas redes sociais versos bíblicos de grande relevância sobre, amor; não muito depois, frases com seus sentimentos em relação aos “estrangeiros” de suas relações. “Ainda vou calar a boca de muita gente.” “Esses que falaram mal de mim, vão ter que me engolir”, etc. coisas assim testificam desejo de vingança, egoísmo, carnalidade de açougue, malgrado, a presunção de servirem a Deus.

É vero que, circunstancialmente foram necessárias guerras, por duas razões: a) A iniquidade dos cananeus enchera todas as medidas e Deus, como juízo decidiu bani-los da Terra; b) Israel seria o povo a ocupar seu lugar para dar frutos melhores. Naquele contexto, violência era um mal necessário.

Porém, estabelecidos em Canaã, cumprida a “plenitude dos tempos,” vindo O Salvador, o alvo passou a ser a salvação espiritual, não a conquista da Terra. Por isso, Ele reformulou: “Ouvistes que foi dito: Amarás o teu próximo, e odiarás o teu inimigo. Eu, porém, vos digo: Amai a vossos inimigos, bendizei os que vos maldizem, fazei bem aos que vos odeiam, orai pelos que vos maltratam e perseguem; para que sejais filhos do vosso Pai que está nos céus;” Mat 5;43 e 44

Vimos que o alvo não é a posse de uma nesga de terra, mas, filiação espiritual; “...para que sejais filhos...”. Que decepcionante quando me deparo com a versão “gospel” da frase do macumbeiro que teria dito: “Não mexe comigo, que ponho seu nome no meu terreiro.” A “cristã” ficou assim: “Que Deus te dê em dobro tudo o que me desejares.” Noutras palavras: Deseje-me apenas coisas boas, senão, meu Deus te pega. Que vergonha!

Deus é tão “meu” quanto do outro; não encontro nenhuma razão pela qual Ele deva amar mais a mim que ao “estrangeiro”. Se, eventualmente tivermos, eu e ele, relações distintas com O Eterno é circunstancial; estou salvo? Cuidado, posso cair! Ele ainda não está? Eis um motivo para orar, Deus o Ama. Mesmo que o sentimento não ajude, a justiça requer que eu o ame também.

Entretanto, a onda tem sido ensinar nossa geração investir num “banco” falido. O empregado é desafiado “gospelmente” às mandingas que breve, o farão patrão. O Mestre ensinou diferente: “Não ajunteis tesouros na terra, onde a traça e ferrugem tudo consomem, onde os ladrões minam, roubam; mas, ajuntai tesouros no céu, onde nem a traça nem a ferrugem consomem, onde os ladrões não minam nem roubam.” Mat 6; 19 e 20

Não é crime ter dinheiro, lutar para prosperar; mas, é erro grave desviar o foco da Palavra de Deus, transformar meios em fins.

Sempre haverá “estrangeiros”, doentes, desvalidos, presos, aos quais, quando fizermos o bem, “a mim o fizestes” disse O Senhor.

Enfim, não sejamos tão “espirituais” a ponto de presumir chegar a Deus ignorando ao próximo; tampouco, humanistas devaneando soberbamente salvação por méritos. 


Afinal, boas obras são um caminho para nosso andar espiritual. “As necessidades materiais do teu próximo, são tuas necessidades espirituais”. Israel de Salant 

Quando o lapso alheio e o meu se encontram, só o Amor de Deus, pode suprir a ambos.

terça-feira, 18 de outubro de 2016

As botas do diabo

“Botas...as botas apertadas são uma das maiores venturas da terra, porque, fazendo doer os pés, dão azo ao prazer de as descalçar.” Machado de Assis

Essa tirada bem humorada faz pensar em aspectos distintos do que, chamamos, prazer. Tanto pode ser um “upgrade” sensorial, usufruto de um deleite qualquer, quanto, retorno a uma situação normal, que, sem o concurso da anomalia acossando, poderia, até, ser reputada tediosa. Assim, ao saudável, apraz desfrutar diversões, sensações, conquistas, ao encontro das quais, corre; eventual doente, veria prazer na mera restauração da saúde.

Claro que o prazer é uma dádiva Divina, tanto que, mesmo, Deus, o sente. Ele gostaria que o nosso, como convém em qualquer relacionamento afetivo, conjugasse ao Dele, invés de ir de encontro.

Mediante Isaías O Eterno denunciou uma geração sem noção, que, era pródiga em “cultuar a Deus”, quando, na verdade, gostava apenas de se banquetear mascarando aquilo de culto. “Quem mata um boi é como o que tira a vida a um homem; quem sacrifica um cordeiro é como o que degola um cão; quem oferece uma oblação, como o que oferece sangue de porco; quem queima incenso em memorial é como o que bendiz um ídolo; estes escolhem seus próprios caminhos, sua alma se deleita nas suas abominações.” Is 66;3

Ora, os sacrifícios ordenados eram recurso extremo, para quando, ficassem aquém das demandas Divinas, não, o suprassumo da fé, o sentido do relacionamento, como, faziam parecer. No Novo Testamento Paulo denunciou ainda a existência desses, “cujo Deus é o ventre.”

Seu culto egoísta, carnal, invés de proteger de eventuais temores os aproximava inda mais do perigo, como advertiu O Santo: “Também escolherei suas calamidades, farei vir sobre eles seus temores; porquanto clamei e ninguém respondeu, falei e não escutaram; mas, fizeram o que era mau aos meus olhos, escolheram aquilo em que eu não tinha prazer.” V 4

Deus É Espírito, assim, o prazer em comunhão com Ele demanda que vivamos nessa dimensão. Imaginemos um morto deitado em seu esquife; pode eventual carinho da viúva despertar alguma sensação? Palavras aprazíveis sobre ele, ditas por amigos lhe farão sorrir? Não, está morto, insensível, ausente. Igualmente, quem não nasceu de novo, não verá atrativo algum na Palavra de Deus, tampouco, em Seu Excelso caráter, Integridade; a “beleza da santidade” se perderá aos seus olhos baços, e O Salvador será, como aos Seus coevos, “sem parecer, nem, formosura”.

O prazer sensual é automático ao alcance dos sentidos; o espiritual, não. É “paladar adquirido” como certos hábitos que inicialmente não parecem agradáveis, mas, lentamente vão se nos tornando melhores, aprazíveis, até, se fazerem indispensáveis.

O Salmo primeiro abençoa alguém que se separa de coisas que não aprazem a Deus; “Bem aventurado o homem que não anda segundo o conselho dos ímpios, não se detém no caminho dos pecadores, nem se assenta na roda dos escarnecedores.” Sal 1;1 Depois de fazer isso, vai ao encontro de que agrada ao Altíssimo: “Antes tem o seu prazer na lei do Senhor, na sua lei medita dia e noite.” V;2

O Criador tinha prazer em sua relação inicial com o homem, tanto, que o visitava pela viração do dia para conversar. Até que, “entediados” do paraíso, Adão e Eva resolveram partir para um prazer alternativo; ouvindo ao chifrudo, puseram chifres em Deus. Desde então, nenhum homem, por melhor que tenha sido, como Samuel, Noé, Jó, nenhum, se aproximou da perfeição espiritual que agrada ao Criador.

A humanidade “legou” a Ele quatro milênios de infelicidade, até poder dizer outra vez, “Eis o meu filho amado! Nele está todo meu prazer!”

Não só O Eterno foi infeliz, como o homem desgraçou sua carreira. As “botas novas” da independência prometidas pelo “sapateiro” traíra começaram a ferir os pés de toda a raça. Pior, refém da cegueira espiritual, sequer conseguia discernir a fonte das dores. Os pés doíam, trocavam as cuecas, o chapéu, a camisa; o problema seguia lá. De outro modo; o homem sente as aflições por estar vazio de Deus pela promoção do Ego em Seu lugar; para amenizar isso, fabrica religiões, busca vícios, promiscuidade, mas, foge, como o diabo, da cruz.

Quem descalçou a inimizade espiritual, se converteu, deveras, sabe o prazer de sentir outra vez, a Bendita Presença de Deus; alegra-se em conhece-lo à luz da Sua Palavra.

Não que a conversão nos livre cabalmente das dores, mas, em meio a elas, a presença do Santo que passa pela água, pelo fogo, conosco, basta.

Ademais, há muita diferença entre dores de fonte egoísta, e, ser partícipe das “aflições de Cristo” como são, os salvos. Na vida desses, o diabo perdeu as botas, pois têm, “calçados os pés na preparação do Evangelho da Paz.”

segunda-feira, 17 de outubro de 2016

Os loucos e o tempo

“Até aos quarenta anos o homem permanece louco; quando então começa a reconhecer a sua loucura, a vida já passou.” ( Lutero )

“Começamos a dar bons conselhos quando a idade nos impede de dar maus exemplos.” ( Jueves de Excelsior )

Dos ditos, supra, a conclusão necessária que a loucura tem seu consórcio com a juventude, e, fraqueja concomitante ao peso dos anos. Pode ser veraz, ou, não; depende do que se conceitua, assim.

Salomão, à decrepitude nomeou, maus dias, tempo de pessimismo, de modo que, neles considerou vaidades, coisas que pareceriam tesouros noutro contexto. “Afasta, pois, a ira do teu coração, remove da tua carne o mal, porque a adolescência e a juventude são vaidade.” Ecl 11;10 Após, ampliou: “Lembra-te também do teu Criador nos dias da tua mocidade, antes que venham os maus dias, cheguem os anos dos quais venhas a dizer: Não tenho neles contentamento;” Ecl 12;1

Embora, normalmente taxamos os loucos em virtude de sua relação com a razão, ou, falta dela, agora, os vemos também, derivando sua loucura da má relação com o tempo. Claro que, Cronos, por si só não faz alguém melhor, tampouco, pior. O mesmo sábio versara: “Coroa de honra são as cãs; achando-se elas, no caminho da justiça.” Vemos que, honra, não tem suas raízes nos cabelos brancos, antes, nesses, escudados pela justiça. Ruy Barbosa disse algo semelhante de outra maneira: “Não te impressiones com cabelos brancos, pois, os canalhas também envelhecem.”

Entretanto, assim como, loucura, pode ser um conceito ambíguo, dependendo de quem conceitua, igualmente, razão. Paulo apresentou de modo irônico a fé cristã como loucura, falando num desafio aos de fora: “Visto como na sabedoria de Deus o mundo não O conheceu pela sua sabedoria, aprouve a Ele salvar os crentes pela loucura da pregação.” I Cor 1;21

Contudo, falando aos salvos, exortou-os à razão: “Rogo-vos, pois, irmãos, pela compaixão de Deus, que apresenteis os vossos corpos em sacrifício vivo, santo, agradável a Deus, que é o vosso culto racional.” Rom 12;1

Noutra parte expusera essa relatividade conceitual: “Porque a palavra da cruz é loucura para os que perecem; mas, para nós, que somos salvos, é poder de Deus.” I Cor 1;18

Voltando à relação com o tempo, aí, os ímpios nos rotulam de loucos, afinal, tantos prazeres disponíveis, e nos esforçamos à disciplina, passamos a vida em conflito com nossa natureza perversa, obedecendo, inda que, imperfeitamente, à Vontade de Deus. Isso, aos seus olhos é perder tempo.

A ideia vulgar de vida eterna é que acontecerá aos “bons” depois da morte. Dois erros: Primeiro; bom é Deus apenas, nós, somos maus; mais verdadeiramente seremos, à medida que tencionarmos negar isso. Segundo; vida eterna tem a ver com qualidade de vida espiritual, antes, de que, com tempo. Quando, escrevendo a Timóteo Paulo disse: “...Toma posse da vida eterna...” não aconselhou o suicídio, antes, viver essa, em seus valores e implicações, desde a saga terrena.

Assim, os salvos, mesmo que “percam tempo” evadindo-se aos prazeres pecaminosos, saem no lucro. Pode perder uma gotícula quem possui um oceano sem notar o “prejuízo”. A vida eterna começa aqui, na conversão; se mantém na perseverança, e não pode ser interrompida pela morte física, como disse Paulo, ao ver nela a interrupção de suas dores, apenas: “Porque para mim o viver é Cristo, e, morrer é ganho.” Fp1;21
Por outro lado, quem aliena-se de Deus, Seu Amor, manifesto no ensino de Sua Palavra preferindo “curtir” os prazeres da vida, o que fará quando seu fôlego for tirado? Quem, deveras, está perdendo tempo? 

Tiago aludiu à fragilidade da vida de modo tal, que é temerário supor do amanhã: “Digo-vos que não sabeis o que acontecerá amanhã. Porque, que é a vossa vida? Um vapor que aparece por um pouco, depois se desvanece.” Tg 4;14

Moisés, por sua vez, denunciou a fugacidade da existência: “Os dias da nossa vida chegam a setenta anos, se, alguns, pela sua robustez, chegam a oitenta, o orgulho deles é canseira, enfado, pois cedo se corta, vamos voando.” Sal 90;10 Em vista dessa limitação orou para nela pudéssemos ser ajudados pelo Eterno, para, encontrarmos sabedoria. “Ensina-nos contar nossos dias, de tal maneira que alcancemos corações sábios.” V 12

Enfim, se, adolescência e juventude são vaidade, velhice, dias maus, resta buscarmos a varonilidade eterna proposta pelo Salvador. “Até que todos cheguemos à unidade da fé, ao conhecimento do Filho de Deus, homem perfeito, à medida da estatura completa de Cristo.” Ef 4;13

Não exatamente, eterna juventude do imaginário fictício, mas, eterno vigor espiritual, a ação do tempo presa à inércia, e os prazeres lícitos potencializando a vida. Pensando bem, nem são tão insanas assim, as razões dos loucos.

sábado, 15 de outubro de 2016

Nuances do Reino

“Porque o trono se firmará em benignidade, sobre ele no tabernáculo de Davi se assentará em verdade um que julgue, busque o juízo, e se apresse a fazer justiça.” Is 16;5

Certamente o profeta messiânico fala do Reino de Deus. Após defini-lo como firmado nas bases do bem, três palavras; julgue, juízo e justiça, dão mostras do bem maior, ante, O Rei Vindouro.

No encerramento da Revelação, O Senhor insta para que cada um deixe patentes suas escolhas: “Quem é injusto, faça injustiça ainda; quem está sujo, suje-se ainda; quem é justo, faça justiça ainda; e quem é santo, seja santificado ainda.” Apoc 22;11 Paralelismo sinonímico que equaciona injustiça à sujeira, justiça, à santidade.

Quer dizer que é na base do dente por dente e olho por olho? Apenas justiça, e a misericórdia? É uma boa pergunta, pois, o salmista associara essa àquela no séquito dos valores Eternos. “A misericórdia e a verdade se encontraram; justiça e paz se beijaram.” Sal 85;10 Vemos, porém, que ambas aparecem com “acessórios”; A misericórdia, com a verdade, a justiça, com a paz.

Acontece que temos pouca afinidade, tanto com a verdade, quanto, com a justiça, quando, essas nos são desfavoráveis. Digo, tendemos a clamar por justiça quando nos sentimos no prejuízo. Igualmente, a verdade nos parece boa se, realça-nos em algum mérito, vantagem, senão, incomoda.

A Misericórdia em pessoa, Jesus Cristo veio. Porém, por trazer junto a verdade, foi rejeitado. “A condenação é esta: Que a luz veio ao mundo, os homens amaram mais as trevas que a luz, porque as suas obras eram más.” Jo 3;19 Assim, nada vale estarmos convencidos da Misericórdia, se, não estivermos, igualmente, convictos de nossos pecados. Por isso, labora O Bendito Espírito Santo; “Quando ele vier, convencerá o mundo do pecado, da justiça e do juízo.” Jo 16;8

A misericórdia Divina é misericordiosa, não, amoral; Deus perdoa sempre quem reconhece falhas, se arrepende, confessa. Assim, até a Justiça Divina se satisfaz, imputando aos arrependidos, a Justiça de Cristo. Aos demais, resta o olho por olho, a punição proporcional à falha. Não se trata de uma grandeza superior, mas, de uma preferência do Amor Divino, dar primazia à misericórdia no trato com nossas faltas. “Porque o juízo será sem misericórdia sobre aquele que não fez misericórdia; e, misericórdia triunfa do juízo.” Tg 2;13

Quando associa justiça à paz, não se refere aos relacionamentos interpessoais, sujeitos a diversidade de caracteres e motivações, antes, à paz com Deus, que usufruem, mesmo em tempos angustiosos, aqueles que, mediante a misericórdia, se fazem herdeiros de Cristo.

A paz é, em caso de conflito de interesses, um bem bilateral. Desde a queda, o homem se fez inimigo do Criador, uma guerra suicida, inda assim, guerra. Quando O Mediador veio para ser nosso Resgate os anjos cantaram: “...paz na Terra...”  Quando subiu a Jerusalém para consumar Sua Obra, O Espírito Santo pôs nos lábios de alguém: “Bendito o Rei que vem em nome do Senhor; paz no céu...” Luc 19;38

Desde então, os que pertencem a Cristo estão em paz com Deus, malgrado toda sorte de aflições eventuais. O Salvador ensinou que Sua Paz não era como a do mundo; Paulo disse que excede a todo entendimento.

Por ora, O Reino de Deus é mero enclave nesse mundo ímpio; mas, os súditos que renasceram pelo Sangue de Cristo e foram vivificados pelo Espírito Santo, usufruem em si, e entre si, os benignos efeitos da Misericórdia e da Justiça Divinas. “Até que se derrame sobre nós o espírito lá do alto; então o deserto se tornará em campo fértil, o campo fértil será reputado um bosque. O juízo habitará no deserto, a justiça morará no campo fértil. O efeito da justiça será paz, e a operação da justiça, repouso e segurança para sempre.” Is 32;15 a 17

Contudo, há um “Reino” paralelo, cuja ênfase recai sobre prosperidade, direitos, ignorando que, não há bênção maior, que estar reconciliado com Deus, Fonte de todo o bem. Se, até quando vai pelo caminho o tolo diz a todos quem é, como versou Salomão, até quando ora, o ímpio patenteia a sua sujeira. “O que desvia os seus ouvidos de ouvir a lei, até a sua oração será abominável.” Prov 28;9


Vivemos tempos difíceis, onde, as pessoas, senhoras de si, invés de se afastarem do que O Santo veta, vetam o veto, digo, distorcem e pervertem A Palavra. 

Enquanto a ampulheta do tempo não se esvazia, os ímpios estão em “vantagem”, podem fazer que quiserem. Entretanto, quando isso acontecer, a misericórdia deixará de ser, um bem, disponível; Restará ao Eterno apenas a justiça. Não era bem o que Ele queria, contudo, é um bem, que quer. 

terça-feira, 11 de outubro de 2016

A Vereda da Justiça

“Assim como as moscas mortas fazem exalar mau cheiro e inutilizar o unguento do perfumador, é, para o famoso em sabedoria e honra, um pouco de estultícia.” Ecl 10;1

Que animais em decomposição causam mau cheiro, não é novidade, contudo, moscas logrando isso é uma sutileza surpreendente. Acontece que, a reflexão em apreço atina a um pouco de estultícia, na vida do, que, se reputa sábio. Uns dizem que temos cinco minutos de bobeira todos os dias, outros, que errar é humano; então, cometer um pouco de estultice nos parece inevitável.

Contudo, nós, pessoas comuns, como tais, esperam que nos portemos. A estultícia mínima é vetada ao sábio. Tiago desenvolveu de modo diverso: “Meus irmãos, muitos de vós não sejam mestres, sabendo que receberemos mais duro juízo. Porque todos tropeçamos em muitas coisas. Se, alguém não tropeça em palavra, tal, é perfeito, poderoso para também refrear todo o corpo.” Tg 3;1e 2 Se, alguém é mestre no falar, pois, que seja perfeito no agir.

Mesmo os apóstolos, durante seu discipulado, após, até, cometeram eventualmente, suas falhas. Como seria, porém, se Jesus Cristo, o Mestre dos Mestres, em cujos “lábios não se achou engano” incorresse nalguma? Tal incidente seria a predileção dos inimigos, o banquete dos ateus, uma dolorosa ferida aos Seus seguidores. Entretanto, esse lapso inexiste, glória a Deus!

Na verdade, o mesmo erro, em contextos diversos sofre diversos apreços; produz pesos diferentes, proporcionais às circunstâncias de vida, do, eventual, errante. Paulo ensinou: “Quando eu era menino, falava como menino, discorria como menino, mas, tornando-me adulto, acabei com as coisas de menino.”

A Epístola aos Hebreus, aliás, traz dura reprimenda a uns que, malgrado o curso do tempo, negligenciaram o crescimento espiritual. “Do qual ( Cristo ) muito temos que dizer, de difícil interpretação; porquanto vos fizestes negligentes para ouvir. Porque, devendo já ser mestres pelo tempo, ainda necessitais que se vos torne a ensinar quais os primeiros rudimentos da Palavra de Deus; vos haveis feito tais, que necessitais de leite, não de sólido mantimento. Porque qualquer que ainda se alimenta de leite não está experimentado na palavra da justiça, é menino. Mas, o mantimento sólido é para os perfeitos, os quais, em razão do costume, têm os sentidos exercitados para discernir tanto o bem quanto o mal.” Heb 5;11 – 14 Dos “perfeitos” em questão, pois, se esperava discernimento de valores, coisa relevante.

De que coisas sofrem apreço distinto em diferentes circunstâncias temos um exemplo didático no que ocorreu na vida do “presidenciável” Donald Trump. Disse algumas porcarias grosseiras sobre mulheres quando era apenas um playboy mimado; se, tivesse “vazado” então, seria essa a repercussão; garoto mimado metido a besta, grosseirão. Algo assim, que em pouco tempo seria esquecido. Contudo, veio a lume agora, que postula o cargo de Presidente dos Estados Unidos. Isso pode custar a eleição dele. Um peso infinitamente maior, dado seu novo contexto.

Igualmente nós, os mesmos erros que cometemos, em ocasiões diferentes podem ter pesos diversos também. Daqueles que são mais chegados a Si, O Senhor espera uma postura melhor que de outros que estão alienados Dele. Mediante Isaías, narra como “normal” a idolatria dos gentios, mas, de Israel, povo escolhido, esperava algo mais. “Porém, tu, ó Israel, servo meu, tu Jacó, a quem elegi descendência de Abraão, meu amigo; tu a quem tomei desde os fins da terra, te chamei dentre os seus mais excelentes, te disse: Tu és o meu servo, te escolhi, nunca te rejeitei. ( ?) Is 41;8 e 9

Necessária a conclusão que o crescimento espiritual tem preço; tanto para aquisição, quanto, para exercitar-se nele com devida coerência. Se, por um lado é “natural” na vida do cristão; por outro, escolher a vereda da justiça, como disse o salmista é o “sine qua non”, para que sejamos iluminados. “a vereda dos justos é como a luz da aurora; vai brilhando mais e mais, até ser dia perfeito.” Prov 4;18

Voltando à mosca morta, O Senhor acusou aos hipócritas de coarem um mosquito, e engolirem um camelo. Dessa vez a mosca estava na bebida, não no perfume. Tais, eram ciosos de ninharias e cegos para grandes erros. Desse modo, tanto podemos tirar a mosca por apuro espiritual, quanto, por hipócritas razões, para encenarmos ante terceiros, um zelo que não temos.


Spurgeon dizia que uma coisa boa não é boa fora do seu lugar. Assim, zelo onde a demanda é por misericórdia é só aridez espiritual; ênfase na graça quando o caso é correção, é frouxidão moral, conivência, cumplicidade. Saibamos, como O Mestre, diferir circunstâncias. Era amoroso, brando, com os fracos, terrível, com os falsos. Paulo disse que somos o perfume de Cristo; preservemos a pureza que Ele ama.