quinta-feira, 14 de setembro de 2017

A mesmice nova

“Por isso não deixarei de exortar-vos sempre acerca destas coisas, ainda que bem as saibais, e estejais confirmados na presente verdade.” II Ped 1;12
Vocês já sabem; estão confirmados; mesmo assim, seguirei exortando-vos sobre isso. Vulgarmente chamamos isso de chover no molhado.

Aquilo que aprendi no colégio, eventualmente me serve conforme circunstâncias da vida; aprendi de uma vez por todas, ou, não, mas, a coisa deixou de ser-me ensinada em dada ocasião. Por que no âmbito espiritual não é assim? O sujeito aprende gradua-se sai da escola e usufrui ao longo da vida?

Bem, algumas razões a considerar; Primeiro, o conhecimento espiritual é muito mais que mera propriedade intelectual; é necessário para exercício diário, pois, as tentações não são um teste de 
conhecimento estritamente, antes, o conhecimento da Vontade Divina requer o alinhamento submisso da nossa vontade, para que sejamos aprovados.

Primeiro deparamos com Sua Vontade negativa, o quê devemos evitar; feito isso, nos conduzirá ao aspecto positivo, como devemos proceder. “...apresenteis vossos corpos em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional. Não vos conformeis com este mundo, mas, transformai-vos pela renovação do vosso entendimento, para que experimenteis a boa, agradável, e perfeita vontade de Deus.” Rom 12;1 e 2

Contudo, caso sejamos aprovados nalgum teste, isso não encerra o assunto, como se o inimigo dissesse: Esse é servo de Deus, vou deixá-lo em paz. Antes, quanto mais perto de Deus estamos, mais esforça-se em sutilezas, ardis, para achar alguma brecha. Como suas tentações ocorrem o tempo todo através desse ímpio sistema que ele domina, a meditação, o aprendizado, e prática da Palavra de Deus deve ser contínua; uma espécie de “tentação” do bem como contraponto, aos muitos apelos do maligno. Alguém disse: “A verdade deve ser repetida em palavras todos os dias, porque o mal repete-se em ações.”

O salmo primeiro segue caminho semelhante: Adverte contra o conselho dos ímpios, o caminho dos pecadores a roda dos escarnecedores, depois, acresce: “Antes, tem seu prazer na lei do Senhor; na sua lei medita dia e noite.” V 2

Entretanto, além dos testes diários para preservação da vida espiritual, a graduação que O Eterno tem em mente é mui excelsa. Os ensinadores foram dados mesmo sendo os próprios, ainda aprendizes, estando mui aquém do alvo. “Ele mesmo deu uns para apóstolos, outros para profetas, outros, evangelistas, outros, pastores e doutores, querendo o aperfeiçoamento dos santos, para a obra do ministério, para edificação do corpo de Cristo; até que todos cheguemos à unidade da fé, ao conhecimento do Filho de Deus, a homem perfeito, à medida da estatura completa de Cristo.” Ef 4;11 a 13

Assim, se alguém já atingiu essa estatura pode parar de aprender; onde está o abençoado?

Desgraçadamente, o labor de grande parte da “igreja” atual não está nem aí para vida eterna; seu alvo é que os ímpios prosperem nessa vida, invés de renunciarem à impiedade pelo conhecimento do Santo, para adentrarem àquela.

Quem mira no alvo errado, mesmo acertando “na mosca” seu disparo acaba inútil. Noutras palavras: “Que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro, se perder sua alma? Ou que dará o homem em recompensa da sua alma?” Mat 16;26

Se, mirarmos a salvação, o conhecimento espiritual e a prática do que conhecemos acaba inevitável. “A vida eterna é esta: que conheçam a ti só, por único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste.” Jo 17;3

Shakespeare colocou nos lábios de uma personagem: “Há muito mais entre o Céu e a Terra do que supõe nossa vã filosofia”. Pois, poderíamos dizer que há infinitamente mais do sabe e vive o mais sábio dos santos, ao alcance dos que desejam de fato, conhecer a Deus. O preceito é: “Conheçamos e prossigamos em conhecer ao Senhor...” Os 6;3

Assim, as “mesmas coisas” de Pedro, ou, outro qualquer, se revestem de novidades sempre, uma vez que, O Espírito Santo que habita nos salvos forja uma compreensão progressiva; não raro, aquilo que pensávamos saber já, de repente, sem mais nem menos se nos abre muito mais amplo e precioso que supúnhamos. As mesmas coisas se tornam novas.

Enfim, o conhecimento é arma poderosa, pois, não estamos numa faculdade, antes, num campo de batalha. O mundo é um deserto moral, espiritual; nele somos desafiados a lutar pela sobrevivência. Nesse cenário, vindo a sede o soldado bebe sempre do mesmo cantil; cada vez que o faz, preserva suas condições básicas de vida.

O risco não é que bebamos sempre do mesmo; mas, que alguém traga-nos “água” diferente; “Ainda que nós mesmos ou um anjo do céu vos anuncie outro evangelho além do que já vos tenho anunciado seja anátema.” Gál 1;8

quarta-feira, 13 de setembro de 2017

O "ódio das elites"

“A integridade parte da verdade, e a verdade da honestidade, e a honestidade da consciência.” Bruno Cidadão

Integridade trata de inteireza, completude de algo, ou, alguém. No aspecto psíquico todos temos; digo, somos almas plenas, íntegras, indivisíveis; daí, indivíduos. Entretanto, no prisma moral trata-se de jóia rara, difícil de encontrar.

Quantas vezes ouvimos lapsos de integridade em frases como: “Ele é um ótimo sujeito, mas, quando bebe, sai da frente”; ou, “Ele é boa gente, mas, se esquenta a cabeça costuma fazer bobagens”; ainda, “Não costuma fazer isso, mas, as más companhias...” etc. Tudo gente boa, que sempre tem um, mas, que revela sua desintegração moral, comportamental.

Integridade, por sua natureza não pode ser fragmentária; ou o sujeito possui inteira, ou, nada. Como não existe meio virgem, meio grávida, também não, meio íntegro.

Um aspecto que a esquerda brasileira tem desconsiderado são os efeitos colaterais de sua “moral”, tentando reduzir a opção oposta apenas a um viés econômico. Assim, se sou contra a esquerda, sou elitista, coxinha, inimigo dos pobres, defensor dos exploradores da miséria, contra a inclusão social, etc. enquanto, eles seriam isso tudo.

Bem, as muitas fraudes nos programas sociais, o oceano de corrupção pra contraponto aos riachos de distribuição de renda, a tsunami de desemprego derivada da roubalheira e incompetência, os abusivos preços da energia elétrica e combustíveis para compensar a má gestão, etc. insistem em desmentir que eles sejam essa joia toda no prisma econômico.

Entretanto, ainda que fossem o supra-sumo da competência, que a economia sob sua batuta fosse uma harmônica sinfonia, restariam sobejas razões para homens de bem rejeitarem-nos por motivos paralelos.

Eles defendem o aborto que, para a imensa maioria é algo abjeto, detestável; invés de apenas respeitar aos direitos dos homossexuais, como convém, tentam glamurizar, promover; pior, a famigerada exposição do Santander Cultural, com nosso dinheiro, acariciava também à pedofilia; criaram “espetáculos” de “arte” em faculdades cujo talento aplaudido era andarem nus em círculo os “artistas” enfiando um o dedo no ânus do outro, o “nível superior" que forjavam; mais, se tiverem que optar entre disciplina e marginalidade sempre ficam com o plano B, o bandido invés do policial que seria o opressor; a maioria deles é pela liberação das drogas, algo extremamente deletério pra sociedade, por fim, seu engajamento na “desconstrução da moral cristã” nome bonito que dão ao desrespeito para com a fé alheia, ao vilipêndio de símbolos religiosos, ou, objetos de culto.

Com essa amostra toda, sinceramente me surpreende que tenham conseguido vencer quatro eleições majoritárias. Um homem íntegro não pode escolher como representantes pessoas que defendem coisas que afrontam valores que lhe são caros sem se desintegrar; teriam eles recebido uma “ajudinha” das urnas eletrônicas, ou, conseguido arrastar o pleito apenas para o prisma econômico, onde, mesmo tendo falhado grotescamente, via marketing, fraudes de prestações de contas conseguiam ir fingindo que a coisa andava bem?

Outro dia ouvi o Lula dizendo que o crescimento de Jair Bolsonaro em pesquisas é fruto do ódio da direita, das elites; extraordinário como eles são defensores do amor! O aborto é ódio contra a vida; as drogas contra a sanidade, a lucidez; o homossexualismo contra a moral, os bons costumes; a profanação de símbolos religiosos, contra a fé alheia; o vilipêndio da arte, contra a cultura... Quem é pós-graduado na disseminação do ódio?

Ora, eles se comportam de modo tal, que se torna impossível um homem íntegro e coerente escolher suas propostas sem deixar de ser o que é, todavia, o fazemos por ódio? Não senhores, Bolsonaro, ou, qualquer candidato com predicados semelhantes é fruto de nossa coerência entre valores que acreditamos e representantes que comissionamos.

A decadência da esquerda não é filha do ódio, é consequência da luz, de ter enfim caído a máscara dos corruptos totalitários e intolerantes transfigurados em democratas defensores dos fracos.

Eles sentem-se justificados diante das denúncias contra Temer e asseclas, ignorando convenientemente que andaram de mãos dadas por mais de uma década. Para eles, desemprego, os preços dos combustíveis e outras mazelas atuais são frutos dos “golpistas”, não, a colheita inevitável de sua semeadura. 

Aliás, a lei sequer permitia que o BNDS investisse fora do país seu fim era fomentar o desenvolvimento nacional, mas, em 2007, Lula assinou um decreto mudando isso e, segundo dados preliminares, mais de seis bilhões tiveram como destino ditaduras de “companheiros” e uma grossa fatia ao PT.

Em suma, rejeitá-los não é nenhuma indiferença com os pobres, fruto de nenhum ódio ou coisa assim; antes, um exercício natural, inevitável, para qualquer cidadão íntegro que preza isso e quer continuar assim.

Enfim, os discursos bonitos da esquerda foram balançados no crivo do tempo e saíram junto com os ciscos.

terça-feira, 12 de setembro de 2017

A Fé e as Montanhas

“Bem-aventurado o homem cuja força está em ti, em cujo coração estão os caminhos aplanados.” Sal 84;5

Quem escolhe nossos caminhos não são os passos; antes, os corações. Embora, coração seja uma metáfora para condensar nosso âmago, a essência do ser, nossa mentalidade, desejos e emoções.

O “coração” psicológico, diferente do biológico que pulsa no peito, atua no cérebro; planejando, querendo, sentindo, reagindo. Nossos passos são apenas meios de expressarmos decisões dele.

Óbvio que o texto Bíblico atina a esse. Entretanto, os caminhos do coração podem ser acidentados, montanhosos, habitando neles a impiedade, pois, a promessa de ventura atina aos corações fortalecidos em Deus, que têm em si caminhos planos.

Uma figura comum em nossa cultura é a retidão; a perseverança contínua no rumo certo em direção ao alvo, o caráter; o caminho plano, por sua vez, sugere algo nivelado, que não sofre acidentes verticais, o que demanda constância na relação com o Alto, Deus. Essa figura para a integridade espiritual é muito usual na literatura hebraica.

Isaías pré-anunciou a mensagem de João Batista nesses termos: “Voz do que clama no deserto: Preparai o caminho do Senhor; endireitai no ermo, vereda, ao nosso Deus. Todo vale será exaltado, todo o monte e outeiro serão abatidos; o que é torcido se endireitará; o que é áspero se aplainará.” Cap 40;3 e 4

Vindo o enviado, reiterou: “Porque este é o anunciado pelo profeta Isaías, que disse: Voz do que clama no deserto: Preparai o caminho do Senhor, endireitai suas veredas.” Mat 3;3

Se, o texto dos salmos fala do coração do homem, a mensagem do Batista atinava à sociedade feita de montes e vales. Os mais baixos, as prostitutas, os publicanos, gente socialmente rejeitada; altos, os líderes religiosos, os escribas, gente que, imaginava-se perto de Deus enquanto a “plebe que não sabe a Lei é maldita” diziam.

Quando João os exortou: “preparai o caminho”, não era para que O Senhor pudesse vir; antes, preparai os corações, dai ouvidos, pois, O Senhor vem e vai falar. Afinal, Ele disse: “Eu sou o caminho...” Contudo, alguns eram tão seguros de si, refratários ao Senhor, que, mesmo corroborando Suas Palavras com Obras, ainda assim não se deixavam convencer.

“Rodearam-no, pois, os judeus, e disseram-lhe: Até quando terás nossa alma suspensa? Se tu és o Cristo, dize-nos abertamente. Respondeu-lhes Jesus: Já vos tenho dito, e não credes. As obras que faço, em nome de meu Pai, essas testificam de mim. Mas, vós não credes porque não sois das minhas ovelhas, como já vos tenho dito. As minhas ovelhas ouvem a minha voz, eu conheço-as, e elas me seguem.” Jo 10;24 a 27

Seus corações montanhosos seguiam endurecidos; “já vos disse e não credes... não sois minhas ovelhas... elas ouvem minha voz...” Quando se diz que a fé remove montanhas, a maioria cogita obstáculos externos, sem considerar que os montes que incomodam a Deus estão em nossos corações, e esses, a fé Nele pode remover, à medida que enseja arrependimento, confissão e mudança de rumos.

Vejamos sete montes desprezíveis ao Senhor: “Estas seis coisas o Senhor odeia, e a sétima sua alma abomina: Olhos altivos, língua mentirosa, mãos que derramam sangue inocente, coração que maquina pensamentos perversos, pés que se apressam a correr para o mal, testemunha falsa que profere mentiras, e o que semeia contendas entre irmãos.” Prov 6;16 a 19

Assim como a cidade endereço da Besta segundo a Bíblia está geograficamente sobre sete montes, os corações dos que se alienam na incredulidade também trazem esses “acidentes geográficos” que O Santo abomina.

“Bem aventurado o homem cuja força está em ti...” isso é dependência, submissão; aos que se colocam assim O Eterno fortalece. Mas, os orgulhos dos “olhos altivos” são “bons” demais para reconhecerem pecados; aí, os “vales” entram e os montes presunçosos ficam; “...os publicanos, tendo sido batizados com o batismo de João, justificaram a Deus. Mas, os fariseus e doutores da lei rejeitaram o conselho de Deus contra si mesmos, não tendo sido batizados por ele.” Luc 7;29 e 30

Esse é o nivelamento Divino; não há grandes ou pequenos, há pecadores. Malgrado a sociedade tenha lá suas classes, para Deus “Todos pecaram e carecem da Sua Glória”; a todos, pois, a mensagem é igual: “Arrependei-vos e crede no Evangelho”. Os que isso fazem, mesmo que tragam em si cordilheiras de iniquidade, há eficácia suficiente no Sangue Bendito de Cristo para fazer “os seus caminhos aplanados.”

Deus nos dirige por Sua Palavra; nossa parte, ouvir, obedecer; “Quanto ao trato dos homens, pela palavra dos teus lábios me guardei das veredas do destruidor. Dirige os meus passos nos teus caminhos, para que minhas pegadas não vacilem.” Sal 17;4 e 5

segunda-feira, 11 de setembro de 2017

A Liberdade e os cegos

“Se, pois, o Filho vos libertar, verdadeiramente sereis livres.” Jo 8;36

Esse “verdadeiramente” implica a existência do falso conceito de liberdade; os interlocutores do Senhor eram servos do Império Romano, reféns de tradições religiosas ocas, e, espiritualmente, presas do inimigo; todavia, diziam-se livres. Seu conceito de liberdade era falso.

Sendo possível estarmos de alguma forma presos sem perceber, parece que o aspecto mais nocivo ao ser humano é a ignorância; pois, essa o faz “dormir com o inimigo” sem divisar, pela escuridão intelecto-espiritual em que se encontra. Aí, sua alforria derivaria inicialmente da Luz, antes que, de outro libertador qualquer.

Por um lado, pensadores antigos diziam que somos “condenados a ser livres”, por outro, que somos meros títeres da vontade sobre a qual, nos falta controle, como pensava Schopenhauer, que negava que tenhamos livre arbítrio; ainda outros nos viam como fugitivos homiziados às sombras de ideologias, para que o “eu” não seja responsável; certa concepção de mundo pré-fabricada alhures pensaria por mim, que apenas seguiria a manada.

Falando nisso o russo Nikolai Berdiaev tido como cristão ortodoxo existencialista, era contra a abolição do indivíduo, a massificação; a "coletivização e mecanização da sociedade;” entretanto, ele era Marxista. Resta-nos imaginar que o marxismo inicial, ou, pelo menos teórico, era bem diverso do que se tornou, ou, que o dito pensador o via de modo diverso.

Na verdade o conceito vulgar de liberdade é apenas inconsequência. Fazer o que quiser sem responder por isso é o “sonho de consumo” de muitos “libertários” que, por ignorantes, sequer percebem que se isso fosse levado às últimas consequências, digo, estendido a todos, deixaríamos de ser uma sociedade organizada e volveríamos à barbárie. Aliás, todos os dias ouço músicas que não gosto, em horários que preciso do silêncio para pensar; pois, meus vizinhos estão usufruindo suas “liberdades”.

Então, as leis, a ética, as instituições são limites que colocamos às nossas liberdades, para não acontecer, que, embriagados nelas, venhamos a invadir às alheias. Somos livres dentro de certos parâmetros, e, forçoso nos é concluir que usufruímos liberdade relativa.

Aliás, existe liberdade absoluta? Deus a desfruta diria alguém; será? Quem ama é totalmente livre, ou, de certa forma refém do objeto do Seu amor? Ademais, Ele diz que vela por Sua Palavra para cumpri-la; assim, torna-se servo de Sua Própria Integridade.

Paulo descreveu a natureza humana pecaminosa como que possuída por um invasor mais forte que a domina, o pecado; “Porque eu sei que em mim, isto é, na minha carne, não habita bem algum; querer está em mim, mas, não consigo realizar o bem. Porque não faço o bem que quero, mas, o mal que não quero, faço. Ora, se faço o que não quero já o não faço eu, mas, o pecado que habita em mim. Acho então esta lei em mim, que, quando quero fazer o bem, o mal está comigo.” Rom 7;18 a 21

Claramente refere-se à prisão da vontade justa aos caprichos de outra, que no âmago do homem natural se revela mais forte. Esse é o famigerado “si mesmo” que deve ser mortificado na cruz para que sejamos livres; aí poderemos praticar aquela vontade justa que chamamos “bem”. Cristo nos faz livres desse feitor; mas, inda seguimos servos, agora, de Deus.

Isso não se dá num passe de mágica, é um aprendizado diário, onde somos desafiados à prática da Palavra e suas consequências, que pouco a pouco vai desfazendo em nós os resquícios da mentira em que vivíamos. O Salvador desafiou: “...Se vós permanecerdes na minha palavra, verdadeiramente sereis meus discípulos; conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará.” Jo 8;31 e 32

A liberdade possível, pois, é para, regenerados podermos agir conforme o “programa original” do Criador, cuja paz na consciência testifica no íntimo que estamos “funcionando bem.”

Muitos “libertários” políticos surgiram na Terra com discursos bonitos, utópicas promessas; os que governaram, sem exceção, revelaram-se déspotas, enriqueceram a si e alguns asseclas e oprimiram ao povo que lhes deu ouvidos. Podem até ter sido honestos nas proposições iniciais, o “quero fazer o bem” de Paulo; contudo, de posse dos meios, e ainda servos das paixões pecaminosas, suas boas vontades sumiram; o mal que incidia sobre seu hospedeiro apenas, propagou-se a todo seu domínio.

Ninguém pode dar o que não tem; e os homens verdadeiramente livres o são também da pretensão de poder libertar a outrem; apenas apontam para O Único, Jesus Cristo. Os demais não passam de fraudes, cegos com pretensões de guias.

Há em suas longínquas consciências certo lampejo, um “Braille” pra leitura da alma, que seu orgulho entronizado se ocupa de anular a sensibilidade táctil, e seguem presos imaginando-se livres. Os veros livres são servos do Senhor.

domingo, 10 de setembro de 2017

O lugar da esperança

“Esforçai-vos, Ele fortalecerá vosso coração, vós todos que esperais no Senhor.” Sal 31;24

Deparamos nesse cântico com mais uma das tantas “contradições” bíblicas; Deus fortaleceria aos que se esforçam, contudo, esses são os que esperam. Ora, esforço sugere mover-se com vigor em determinada direção, objetivo, alvo; e, esperar evoca a ideia de uma confiança passiva que não faria grande coisa, exceto, isso, esperar.

Esperar é uma palavra que tanto tem conteúdo, quanto, forma; digo, tanto pode referir-se a como fazer algo, quanto, por quê, fazer, no caso, o quê, esperar. Se, a esperança em foco demanda para seu êxito que, nossos corações sejam fortalecidos por Deus, de nossa parte, esforço, não pode ser algo tão passivo assim.

Spurgeon dizia: “Uma coisa boa não é boa fora do seu lugar”. Todos hão de convir que a esperança é uma coisa boa. Entretanto, essa bendita pode errar o endereço, estar fora do lugar? Pode.

Num primeiro momento todas as esperanças são iguais; referem-se à confiança, de que teremos, veremos, desfrutaremos aquilo que esperamos num momento qualquer d’um ditoso porvir. Contudo, o quê esperamos difere de pessoa para pessoa; e, falo aos cristãos, esperarmos algo que contrarie a Vontade Divina, necessariamente coloca nossa esperança fora da casinha.

Por exemplo: Os cristãos hebreus da Igreja inicial esperavam a Volta de Jesus em seus dias; passada a empolgação inicial, sofrendo eles o concurso das lutas e perseguições começaram a enfraquecer na fé, quando não, apostatar.

A epístola a eles endereçada nos dá luz sobre isso e os exorta e retomarem o fervor inicial; “Lembrai-vos, porém, dos dias passados, em que, depois de serdes iluminados, suportastes grande combate de aflições. Em parte fostes feitos espetáculo com vitupérios e tribulações; em parte fostes participantes com os que assim foram tratados. Não rejeiteis, pois, vossa confiança, que tem grande e avultado galardão.” Cap 10;32, 33 e 35

Aqui a esperança foi equacionada com, confiança; antes, dissera: “Retenhamos firmes a confissão da nossa esperança; porque fiel é o que prometeu.” V 23

Na verdade, o autor da epístola tinha exatamente isso em mente ao diagnosticar a causa do esfriamento de fé dos hebreus; de que eles esperaram o que desejavam, não, o que fora prometido. “...é impossível que Deus minta, tenhamos a firme consolação, nós, os que pomos o nosso refúgio em reter a esperança proposta; a qual temos como âncora da alma, segura e firme, que penetra até ao interior do véu...” Cap 6; 18 e 19

Perseverar na esperança proposta é uma sutil reprimenda que implica que eles esperaram o que não lhes fora prometido. O moderno “Deus é fiel” tem sido usado a torto e a direito como patrocinador de muitas coisas que se espera. É Ele É Fiel.

Porém, Sua Fidelidade vale tanto para as promessas de bênçãos, quanto, para as advertências disciplinares, os vaticínios de perseguições, as ameaças de juízo. Tudo isso nos foi proposto na Palavra.

“Bem-aventurados sois vós, quando vos injuriarem, perseguirem e, mentindo, disserem todo o mal contra vós por minha causa. Exultai e alegrai-vos, porque é grande o vosso galardão nos céus; porque assim perseguiram os profetas que foram antes de vós.” Mat 5;11 e 12 “Não é o discípulo mais que o mestre, nem o servo mais que o seu senhor. Basta ao discípulo ser como seu mestre, e ao servo como seu senhor. Se chamaram Belzebu ao pai de família, quanto mais aos seus domésticos?” Mat 10;24 e 25 etc.

Claro que essas não são coisas que esperamos ancorados em nossos desejos; mas, devemos esperar como necessárias baseados na Palavra de Deus.

Acho que começamos a perceber, enfim, porque para esperarmos precisamos ter fortalecidos por Deus, os nossos corações. Neles, por eles, o inimigo trava seu combate com toda sorte de tentações, explorando em sua covardia, os pontos mais fracos de cada um.

Um cântico de nosso hinário traz: “Entra na batalha onde mais o fogo inflama, e peleja contra o vil tentador...” Ou seja: Onde a tentação se revela mais forte, mais desejável, inda assim, devo resistir, pelejar. Isso não nos é possível, exceto, se formos fortalecidos por Deus.

Então, não permitamos que o enganador acuse que não se cumprem promessas que nasceram de fontes espúrias, como se fossem de Deus. Digo; acusar ele fará é o seu papel; mas, não deixemos que isso enfraqueça nossa fé, debilite nossa confiança; se, por um lado é “Impossível que Deus minta”, por outro, e possível que o diabo fale algumas verdades, torcendo o tempo, modo, qualquer coisa que sirva ao seu propósito de matar.

Contudo, “Os que confiam no Senhor serão como o monte de Sião, que não se abala, mas, permanece para sempre.” Sal 125;1

sábado, 9 de setembro de 2017

Por que Deus permite a dor?

“Orando também juntamente por nós, para que Deus nos abra a porta da palavra, a fim de falarmos do mistério de Cristo, pelo qual estou também preso;” Col 4;3

Submissão à Vontade de Deus sempre foi difícil para o ser humano, afinal, depois que certo “profeta” ensinou que graças à desobediência seríamos “como Deus” toda a espécie padeceu de uma enfermidade moral onde as preferências pessoais, particulares, se impõem ao coletivo.

O Ego recém nascido tomou o lugar de Deus. Desobediência, invés de nos fazer como O Eterno, nos fez como o inimigo; rebeldes, obstinados, egoístas.

Por isso, o regresso ao Pai, a regeneração precisa passar necessariamente pela cruz, onde, esse traidor deve ser mortificado todos os dias; de modo que nossas inclinações pessoais sejam deixadas em plano secundário, e o Propósito do Eterno cumpra-se em nossas vidas. Óbvio que uma renúncia dessa magnitude é muito mais fácil ensinar que viver; contudo, sendo fácil ou difícil é isso que Deus espera de cada um; “Negue-se, tome sua cruz e siga-me”.

Normalmente temos dificuldade de entender, ou, aceitar como Vontade Divina, situações, circunstâncias adversas das quais, sabemos, Deus bem nos poderia livrar se quisesse, entretanto, não faz. Ora, se nós, frágeis pecadores não fazemos o que podemos, mas, somente o que queremos, por que Ele, O Soberano do Universo teria que fazer diferente?

Um aspecto que às vezes desconsideramos sobre o Poder do Eterno é Sua Onisciência. Assim, tanto pode nos livrar de circunstâncias dolorosas, quanto, nos exercitar nelas, pois, Sua Ciência Excelsa sabe onde tudo vai dar, qual será o fruto, a têmpera gerada nesse momento adverso.

Paulo ensinou que: “...todas as coisas contribuem juntamente para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo Seu propósito.” Rom 8; 28

Então, se estou num processo cujo produto contribuirá para meu bem, desejar, orar para que dele Deus me retire não é bênção, estritamente, inda que possa obrar certo alívio eventual. Como a prata é derretida para remoção das escórias as impurezas, assim faz O Santo Conosco, pois, almeja embelezar Seus vasos. “Tira da prata as escórias, sairá vaso para o fundidor.” Prov 25;4

Desafinamos da Sabedoria Divina, se, lutamos contra o necessário processo, enquanto o “Fundidor” luta contra nossas impurezas. Embora a fé moderna tenha sido pervertida como, se, uma força que faz as coisas acontecerem, a sadia é uma confiança irrestrita na Integridade, Bondade e Sabedoria Divinas; se, creio deveras, mesmo que não goste do que estou passando, sequer entenda os motivos, descanso em Deus, confiando que, Ele sabe o que me convém.

Caso não me livra de meu incômodo é porque deve ser melhor assim. Então, foco no que pode ser feito; apesar dos pesos das provas, sempre nos restam algumas forças. Paulo estava na prisão por causa da Obra de Deus; escrevendo à Igreja de Colossos e rogando orações, não pediu que orassem para que as portas da prisão fossem abertas, antes, “...para que Deus nos abra a porta da Palavra, a fim de falarmos do Mistério de Cristo...”

Quando estivera preso em Filipos juntamente com Silas, resolveram combater à “insônia” cantando louvores ao Senhor. Não há registro que tenham orado por isso, mas, O Senhor fez a Terra tremer e abriu a prisão. Desse modo, tanto pode nos livrar de modo maravilhoso, quanto, nos deixar na prova sem maiores explicações; nosso papel não é questionar, “determinar, decretar, ordenar” nada.

O Santo não precisa fazer nada por que eu quero; nem, para ser, enfim, Deus. O que quero é momentâneo, circunstancial, às vezes, passado certo tempo nem quero mais; Ele não faz coisas grandiosas para Ser, antes, porque É.

A beleza aos olhos Divinos está no cardume, não, no peixe; no enxame, não, na abelha; o mundo cultua seus ídolos, os que são “feras” em alguma coisa; mas, a igreja foi chamada para ser um coletivo, um corpo cujas necessidades e alegrias sejam compartidas. As motivações egoístas devem ser banidas. “Para que não haja divisão no corpo, antes, tenham os membros igual cuidado uns dos outros. De maneira que, se um padece, todos padecem com ele; se um é honrado, todos se regozijam com ele.” I Cor 12;25 e 26

Então, se temos uma “contradição” bíblica é apenas verbal, não, real; pois, ora, ordena: “Negue a si mesmo”; outra; “ame a teu próximo como a ti mesmo;” forçoso é concluir que o negue-se não inclui o amor próprio, mas, a pretensão de gerir por meu saber e querer, aquilo que pertence ao Eterno, os rumos da vida. “Eu sei, ó Senhor, que não é do homem o seu caminho; nem do homem que caminha o dirigir os seus passos.” Jr 10;23

sexta-feira, 8 de setembro de 2017

Nada mais que a Verdade

“O que é a verdade?” Jo 18;38 Mesmo estando diante Daquele que dissera “Eu Sou...a verdade...” Pilatos deu as costas sem esperar resposta.

Muitos filósofos e acadêmicos debruçaram-se a pensar nisso, e, embora cada um tenha acrescido coisas válidas à apreciação, nenhum pode gabar-se de ter sido cabal; de ter matado a cobra, definindo-a num conceito irrefutável, que não comportasse emendas.

Como minhas pretensões de leigo são bem mais módicas, esposo uma definição de Aristóteles, que diz que a verdade seria a “perfeita adequação entre a realidade nos fatos, e na mente;” ou, na expressão dos mesmos, acrescento.

Outra discussão é se ela é absoluta, ou, relativa. Ora, relativismo pleno ( algumas coisas o são) por sua natureza não pode ser um conceito; se o fosse, pretenderia firmar-se na areia movediça. Pois, se tudo depende da relação, quem garantiria, ou, ancorado em quê, que o próprio conceito não é relativo também??

A meu ver, que a verdade seja absoluta é uma necessidade, a menos que desejemos comer todo o bolo e ainda o ter na mão.

Existem coisas subjetivas na verdade, isso sim. Por exemplo: Se alguém afirma estar com dor de cabeça; a percepção dessa verdade é exclusiva do paciente. Tal verdade não pode receber o testemunho da percepção de terceiros; tampouco, da inferência lógica, ou, outra ferramenta qualquer.

Além dessa, podemos lidar com a verdade acidental; se “chutamos” a resposta numa questão de múltipla escolha e acertamos sem saber “copulamos” com a verdade no escuro.

Então, se a verdade não for absoluta, deixa da essência de ser, e torna-se mero estar, sentir, parecer... Ora a afirmação de Goebbels que uma mentira muitas vezes repetida torna-se verdade, requer, para firmar-se no terreno lógico, que uma verdade muitas vezes repetida se torne mentira. Se a repetição exaustiva obra isso de perverter o ser, a conclusão se faz necessária.

Não senhores, uma mentira repetida à exaustão pode acomodar-se à preguiça mental de um, ou, de muitos, e, mesmo posando eventualmente de verdade, será apenas a velha mentira usando roupa alheia.

Outra distinção que os pensadores se ocupavam, era entre o ser em si, e o ser para si. Simplificando: O que o coisa é; e, o que significa para mim.

Se, definirmos a verdade em si é um poço fundo e nos falta corda, como disse a Samaritana ao Senhor, a verdade para nós, o que nos significa, isso está ao nosso alcance. Porém, só os homens deveras livres podem lidar com isso de modo coerente.

Pois, os que sofrem a febre das paixões gostam da verdade, vociferam por ela quando a mesma os beneficia, e tudo fazem para ocultá-la, quando lhes desfavorece.

Contudo, como reagiríamos se soubéssemos que alguém está falando alhures, inverdades graves a nosso respeito? Geralmente o sentimento é de indignação, revolta; desejo de colocar os pingos nos is desmanchando a mentira.

Ora, se projetaríamos as garras do Wolverine para fora em defesa da mesma, a verdade deve ser algo valioso, bom. O homem que agarra-se à verdade mesmo quando ela lhe desfavorece faz uma espécie de “delação premiada” contra si mesmo; assume publicamente eventuais falhas pelo prêmio da preservação da dignidade moral, da integridade psíquica.

Quando, eventualmente ela se volta contra mim, não significa que tenha se tornado má; segue sendo o que é. Errarei uma vez mais, se, pretender “consertar” maus passos vilipendiando a verdade. Um erro não conserta o outro, como diz o adágio.

Quando O Senhor ordenou que fizéssemos aos outros, o que desejamos para nós, outra coisa não implica, isso, senão, que sejamos verdadeiros até em nossos sentimentos mais caros, que patrocinam nossas ações.

No mundo atual a verdade é a visitante menos desejada, pois, as faculdades de raciocinar e falar, que nos fazem “superiores” aos animais, têm sido usadas mais para ocultar que para manifestar a realidade dos fatos. Isaías o profeta anteviu nossos dias. “...o direito se tornou atrás; a justiça se pôs de longe; porque a verdade anda tropeçando pelas ruas, e a equidade não pode entrar.” Is 59;14

Os cultores da mentira acreditam que podem “criar” fatos a partir de narrativas repetidas. Não criarão; e quando estiverem enferrujados na lata de lixo da história, além dos fatos nefastos que tentam ocultar, pesará sobre eles essa pecha de falsidade engajada, hipocrisia atuante.

Andamos demais na senda da destruição de valores; ou retomamos e apreciamos devidamente o que nos é caro, ou nossa sociedade implodirá de vez no salve-se quem poder, na barbárie do triunfo da força, apenas.

O banquete dos sentidos costuma não convidar à razão; o agradável sempre é convidado em seu lugar.


“As palavras verdadeiras não são agradáveis e as agradáveis não são verdadeiras.” Lao-Tsé