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terça-feira, 18 de novembro de 2014

Almas perdidas



“Então disse Jesus aos seus discípulos: Se alguém quiser vir após mim, renuncie a si mesmo, tome sobre si a sua cruz, e siga-me; porque aquele que quiser salvar a sua vida, perdê-la-á; quem perder a sua vida por amor de mim, achá-la-á. Pois que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro, se perder a sua alma? Ou que dará o homem em recompensa da sua alma?” Mat 16; 24 a 26 

O Mestre colocou como perdedor da alma, em Seu exemplo, um que “ganhou o mundo inteiro”. Todavia, essa antítese extrema tem como fim ressaltar o valor da alma, não ensinar que os que muito ganham necessariamente a perdem; ou, que os paupérrimos serão salvos em recompensa às privações sofridas. 

Na verdade, o cerne do que foi ensinado aqui é que o “preço” da salvação é perder a vida natural, renunciá-la; se não, mesmo que essa, a natural, prospere a ponto de ganhar o mundo, no fim, tudo será inútil. 

Falando no fim, aliás, não é lá, necessariamente que podemos perder a alma. Tanto quanto a vida eterna é uma bênção que podemos desfrutar desde já, como disse Paulo a Timóteo; “Milita a boa milícia da fé, toma posse da vida eterna, para a qual também foste chamado...” I Tim 6; 12 Também o infortúnio de se perder a alma pode ocorrer desde já. 

Escrevendo à Igreja de Sardes na Ásia o Senhor denunciou a perda da alma de alguém que sequer identificava tal perda, antes, descansava na presunção de ser salvo. “...Conheço as tuas obras, que tens nome de que vives e estás morto.” Apoc 3; 1 Daí, concluir que se perdeu a alma em plena igreja não é forçar o texto, antes, interpretá-lo.

Quando o sofrimento daqueles que nos cercam não nos comove mais, apenas parece engraçado, quiçá, indiferente, isso é sintoma muito robusto que perdemos nossa alma. Se nos tornamos sectários, fanáticos achando que a virtude é nossa aliada e o vício é “qualidade” dos que eventualmente discordam de nós, também temos um sintoma coletivo em sua manifestação do mesmo sentimento do exemplo anterior, indiferença, egoísmo, males que tomam almas mortas. 

A coisa é bem mais profunda que a visão simplista de alguns, tipo: Está na igreja, então, tem a alma salva; está fora? Necessariamente é um perdido. 

Mesmo as coisas certas feitas mecanicamente, sem coração, amor, alma, não passam de obras mortas, frutos de almas igualmente mortas. Paulo foi muito didático sobre isso: “Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, não tivesse amor seria como o metal que soa ou como o sino que tine. E ainda que tivesse o dom de profecia,  conhecesse todos os mistérios, toda a ciência; ainda que tivesse toda a fé, de maneira tal que transportasse os montes, não tivesse amor, nada seria. E ainda que distribuísse toda a minha fortuna para sustento dos pobres, ainda que entregasse meu corpo para ser queimado; não tivesse amor, nada disso me aproveitaria.” I Cor 13; 1 a 3 

Se, todos esses predicados espirituais se tornam inócuos sem amor, parece lícito inferir que o primeiro indício de salvação da alma é a manifestação desse sentimento. Não se entenda com isso, porém, que advogo certas posições ocas como se bastasse a definição natural e sentimentalóide do que seja amor. 

O amor ensinado na Palavra é disciplinado responsável, obediente. “Se me amais, guardai os meus mandamentos.” Jo 14; 15 Assim, uma alma salva importa-se com o semelhante e com Deus. Qualquer que supuser possível trilhar pela senda da salvação divorciado disso, nem se aproximou de “perder sua vida” que o Salvador colocou como essencial. 

Por fim, o Senhor questionou sobre o que daria o homem pelo resgate da alma. Basta que vejamos alguém de posses sofrendo uma enfermidade grave para constatar que não existem barreiras, distâncias, valores, que impeçam o tal, de fazer tudo pela preservação da vida; e O Senhor falava da Eterna. 

Essa metáfora de perder a vida para ganhá-la, na verdade, quer dizer abdicar da autonomia, submeter-se ao Senhor para herdar a vida eterna. Quem se acostumou a fazer o que quis, de repente passar a ser dependente é um grande sacrifício; essa é a ideia. “Rogo-vos, pois, irmãos, pela compaixão de Deus, que apresenteis os vossos corpos em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional.” Rom 12; 1 

Assim, nossa alma não é ameaçada por satanás, mundo,  pessoas, estritamente; antes, pelo próprio hábito de agir autônomos em rota de colisão com a finitude do nosso tempo.

Podemos perder nossas almas já, e só identificarmos quando for tarde demais. Lá daríamos tudo; mas, então, tudo e nada serão sinônimos.

quarta-feira, 10 de setembro de 2014

Minha coragem alheia

“E quero, irmãos, que saibais que as coisas que me aconteceram contribuíram para maior proveito do evangelho; de maneira que as minhas prisões em Cristo foram manifestas por toda a guarda pretoriana, e por todos os demais lugares; e muitos dos irmãos no Senhor, tomando ânimo com as minhas prisões, ousam falar a palavra mais confiadamente, sem temor.” Fp 1; 12 a 14

Ao invés da comiseração Paulo comemora o proveito à obra derivado de seus sofrimentos. O que tenho sofrido se tornou manifesto, e ao ver isso, muitos irmãos, que estou disposto a sofrer pela causa de Cristo, armaram-se de ousadia e estão inclinados a pagar o preço também; era a ideia exposta.

Contudo, como são raros em nossos dias homens que conseguem abstrair seu egoísmo em favor de uma causa maior! Aliás, parece nem haver uma causa de maior monta que as conquistas pessoais, a realização individual; ainda, entre a maioria dos sedizentes cristãos.

Mesmo o Senhor tendo ensinado que o maior entre os cristãos é quem mais serve, não conseguimos assimilar isso ainda: não o anseio por grandeza, mas, o compromisso com o servir.  “Porque todos buscam o que é seu, e não o que é de Cristo Jesus.” Fp 2; 21
 
Além de fomentar a necessária têmpera ao que deve participar de um combate, as lutas logram demonstrar profundidade, intensidade da fé. Tais exemplos encorajam outros que de per si não ousariam tanto; mas, estimulados pela valentia alheia, despertam à própria. Nesses casos, raros, evidencia-se a conquista de Cristo; diverso dos “testemunhos de fé” atuais cujas conquistas pessoais mensuram a fé.

A carta aos Hebreus alista os grandes de Deus chamados heróis da fé; depois de arrolar Abel, Enoque, Noé, os patriarcas, Moisés, os profetas… seus sofrimentos por amor a Deus, o autor estimula os leitores a verem-se como  atletas num estádio cujo desempenho seria apreciado por aqueles vencedores. “Portanto nós também, pois que estamos rodeados de uma tão grande nuvem de testemunhas, deixemos todo o embaraço, e o pecado que tão de perto nos rodeia, e corramos com paciência a carreira que nos está proposta;” Como fazer feio por covardia em face a tantos valentes?

Por fim, o cotejo com o Exemplo do Sofredor Mor, posto que, inocente; “Olhando para Jesus, autor e consumador da fé, o qual, pelo gozo que lhe estava proposto, suportou a cruz, desprezando a afronta, e assentou-se à destra do trono de Deus.” Heb 12; 2  

Afinal, fé saudável não é um atalho para  evadir-se ao sofrimento; antes, uma viva convicção que evita atalhos espúrios, mesmo ante o sofrimento. Com Jó foi assim: “Ainda que ele me mate, nele esperarei;…” Jó 13; 15
 
Assim, não basta que creiamos que Deus pode algo para que o mesmo seja feito em nosso favor; antes, devemos considerar a Vontade Soberana do Eterno. Se essa for diversa de nossos anseios, ainda assim, permanecermos fiéis. 

Como, aliás, se propuseram os três da fornalha em Babilônia. “Eis que o nosso Deus, a quem nós servimos, é que nos pode livrar; ele nos livrará da fornalha de fogo ardente, e da tua mão, ó rei. E, se não, fica sabendo ó rei, que não serviremos a teus deuses nem adoraremos a estátua de ouro que levantaste.” Dn 3; 17 e 18
 
O Rei questionara quem poderia livrar aos judeus de sua mão; eles responderam a isso fiados em Seu Deus; depois, expuseram sua fé: “… ele nos livrará…” por fim, deixaram um senão, respeitando a possível vontade diversa do Eterno, protestando que nem assim, abalaria sua fé. 

O fim da história conhecemos. Além do livramento dos que expuseram as vidas por amor a Deus tivemos outro exemplo de coragem contagiante, de ousadia mensageira. 

Pois, mesmo o rei que quisera cultuar na marra seus ídolos escreveu o que segue: “Por mim, pois, é feito um decreto, pelo qual todo o povo, e nação e língua que disser blasfêmia contra o Deus de Sadraque, Mesaque e Abednego, seja despedaçado, e as suas casas sejam feitas um monturo; porquanto não há outro Deus que possa livrar como este.” V 29
 
Entretanto, sua ousada declaração foi muito pontual, ao sabor de um feito extraordinário; adiante o encontramos de novo às voltas com seu maior vício; o orgulho. Passou por uma dieta vegetariana de “sete tempos” para cuidar disso.

A fé é mais sólida que frêmitos circunstanciais; esses podem ser filhos do assombro, do medo. Aquela é dom de Deus;  assombra-se mais com Seu Ser, que com Seu agir. 

E quando vemos um valente sofrendo sem desfalecer temos alguém que “viu” a Deus; se algo de bom há em nossas profundezas, pode emergir içado pelo anzol de tais exemplos.