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terça-feira, 4 de outubro de 2016

Têmpera, a cautela de Deus

“Quase todos os homens são capazes de suportar adversidades, mas, se quiser por à prova o caráter de um homem, dê-lhe poder.” Abraham Lincoln

Nada mais enganoso que caracteres humanos e seus múltiplos disfarces. Amiúde dizemos que, aparências enganam, quando, na verdade, é a ingenuidade que prefere se enganar. Diferente de Deus, sem nenhum trauma por aceitação, nós, tendemos a colocar primeiro o “vinho bom” reservando o mau para, quando do concurso da embriaguez. Noutras palavras, acentuamos nossas pretensas qualidades, e diluímos, maquiamos nossos defeitos.

Assim, invariavelmente as pessoas nos decepcionam “para baixo”, são piores do que parecem. Muitas vezes, até o que parece meritório carece melhor análise, pois, pode ser mero disfarce. Sócrates dizia: “Quando alguém for reputado justo, lhe caberão por isso, encômios, aplausos, louvores. Nós, ficaremos sem saber se o tal, é justo por amor à justiça, ou, aos louvores que recebe. Convém colocá-lo em situação tal, que de todas essas coisas seja privado; se, inda assim permanecer justo, o é, por amor à justiça.”Necessariamente, ante palavras assim, assoma a saga de Jó, o herói bíblico que fora fiel na fartura, e seguiu sendo, na adversidade.

Quem conhece nossa história mais recente há de lembrar quão incisivo era Lula quando deputado de oposição, em suas denúncias contra a improbidade e corrupção. Em dado momento chegou a dizer que no Congresso havia pelo menos uns trezentos “picaretas”, políticos venais. Contudo, após várias tentativas subiu ao poder, e, ele que fora um sindicalista pobre, morando em apto de 40 m2 tornou-se um milionário, bem como, assim são, seus filhos. O sujeito zeloso da ética, da probidade sumiu nas águas fartas e poluídas do poder. Quem falava mal dos corruptos, em pretensa honestidade, hoje fala mal de juízes, procuradores, em evidente sinal de medo, acessório da culpa.


Acho graça quando, ao apostarem nas loterias, várias vezes acumuladas, o que amontoa veras fortunas em prêmios, as pessoas que jogam fazem seus planos benevolentes de todo bem que fariam se ganhassem. A lógica da palafita jamais será a mesma que a do palácio. Fazem tais planos benévolos ancorados no que presumem ser; contudo, se o ser fosse mesmo seu alvo, sua meta, seriam, a despeito das circunstâncias, invés de estarem fazendo suas preces à fortuna, nas longas filas do ter. Acho que, no fundo, tentam negociar hipocritamente com a sorte, prometendo serem bonzinhos se, ela lhes for favorável.


José Ortega Y Gasset, filósofo espanhol disse: “O homem é o homem, e suas circunstâncias”. Isso, vertido para uma linguagem vulgar equivale ao popular, “A ocasião faz o ladrão.” Se isso fosse veraz, uma minoria de caracteres nobres que não capitula ao vício, mesmo em ocasiões favoráveis, deve ser considerada anômala, estragada? Ou, ao ter furtado, alguém, em ocasião favorável deve ser inocentado, uma vez que, a culpa foi da ocasião?


Na verdade, tendemos a ver o mérito que falta, na situação que falta, quiçá, na pessoa ausente. Por exemplo: No futebol, determinado jogador erra bisonhamente uma jogada, e logo o torcedor lembra outrem que não erraria. “Tira essa pereba e bota o fulano”, gritam. Mas, nada garante que, o fulano da reserva faria melhor. De igual modo, nas situações cotidianas, não raro apreciamos erros alheios dizendo: Se fosse eu, jamais faria isso; esquecendo que, eventualmente, eu, faço coisas ruins, que outros não fariam.


Nossas oportunidades, quer grandes, quer módicas, são o “poder” no qual somos investidos, e onde, aceitemos ou não, nossos caracteres são testados. O Salvador ensinou que, o fiel no pouco será colocado gestor do muito. D’onde se conclui que o adjetivo fiel, é mais que as variáveis circunstanciais, pouco, ou, muito.



O Eterno, conhecedor de nossa natureza caída, não nos guinda a lugares altos, sem, antes, aperfeiçoar nosso caráter em meio à dura têmpera das aflições. "Eis que te purifiquei, mas, não como a prata; provei-te na fornalha das aflições." Is 48;10

Ao exortar que os grandes se façam pequenos espera que, eventual poder não nos suba à cabeça em detrimento do dever. “...Os reis dos gentios dominam sobre eles, os que têm autoridade são chamados benfeitores. Mas, não sereis vós assim; antes o maior entre vós seja como o menor; quem governa como quem serve.” Luc 22;25 e 26



Por fim, Paulo: “Não atente cada um para o que é propriamente seu, mas, cada qual também para o que é dos outros. Haja em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus, que, sendo em forma de Deus, não teve por usurpação ser igual a Deus, mas, esvaziou-se, tomando forma de servo, fazendo-se semelhante aos homens; achado na forma humana, humilhou-se, sendo obediente até à morte, e morte de cruz.” Fp 2;4 a 8

quarta-feira, 10 de setembro de 2014

Minha coragem alheia

“E quero, irmãos, que saibais que as coisas que me aconteceram contribuíram para maior proveito do evangelho; de maneira que as minhas prisões em Cristo foram manifestas por toda a guarda pretoriana, e por todos os demais lugares; e muitos dos irmãos no Senhor, tomando ânimo com as minhas prisões, ousam falar a palavra mais confiadamente, sem temor.” Fp 1; 12 a 14

Ao invés da comiseração Paulo comemora o proveito à obra derivado de seus sofrimentos. O que tenho sofrido se tornou manifesto, e ao ver isso, muitos irmãos, que estou disposto a sofrer pela causa de Cristo, armaram-se de ousadia e estão inclinados a pagar o preço também; era a ideia exposta.

Contudo, como são raros em nossos dias homens que conseguem abstrair seu egoísmo em favor de uma causa maior! Aliás, parece nem haver uma causa de maior monta que as conquistas pessoais, a realização individual; ainda, entre a maioria dos sedizentes cristãos.

Mesmo o Senhor tendo ensinado que o maior entre os cristãos é quem mais serve, não conseguimos assimilar isso ainda: não o anseio por grandeza, mas, o compromisso com o servir.  “Porque todos buscam o que é seu, e não o que é de Cristo Jesus.” Fp 2; 21
 
Além de fomentar a necessária têmpera ao que deve participar de um combate, as lutas logram demonstrar profundidade, intensidade da fé. Tais exemplos encorajam outros que de per si não ousariam tanto; mas, estimulados pela valentia alheia, despertam à própria. Nesses casos, raros, evidencia-se a conquista de Cristo; diverso dos “testemunhos de fé” atuais cujas conquistas pessoais mensuram a fé.

A carta aos Hebreus alista os grandes de Deus chamados heróis da fé; depois de arrolar Abel, Enoque, Noé, os patriarcas, Moisés, os profetas… seus sofrimentos por amor a Deus, o autor estimula os leitores a verem-se como  atletas num estádio cujo desempenho seria apreciado por aqueles vencedores. “Portanto nós também, pois que estamos rodeados de uma tão grande nuvem de testemunhas, deixemos todo o embaraço, e o pecado que tão de perto nos rodeia, e corramos com paciência a carreira que nos está proposta;” Como fazer feio por covardia em face a tantos valentes?

Por fim, o cotejo com o Exemplo do Sofredor Mor, posto que, inocente; “Olhando para Jesus, autor e consumador da fé, o qual, pelo gozo que lhe estava proposto, suportou a cruz, desprezando a afronta, e assentou-se à destra do trono de Deus.” Heb 12; 2  

Afinal, fé saudável não é um atalho para  evadir-se ao sofrimento; antes, uma viva convicção que evita atalhos espúrios, mesmo ante o sofrimento. Com Jó foi assim: “Ainda que ele me mate, nele esperarei;…” Jó 13; 15
 
Assim, não basta que creiamos que Deus pode algo para que o mesmo seja feito em nosso favor; antes, devemos considerar a Vontade Soberana do Eterno. Se essa for diversa de nossos anseios, ainda assim, permanecermos fiéis. 

Como, aliás, se propuseram os três da fornalha em Babilônia. “Eis que o nosso Deus, a quem nós servimos, é que nos pode livrar; ele nos livrará da fornalha de fogo ardente, e da tua mão, ó rei. E, se não, fica sabendo ó rei, que não serviremos a teus deuses nem adoraremos a estátua de ouro que levantaste.” Dn 3; 17 e 18
 
O Rei questionara quem poderia livrar aos judeus de sua mão; eles responderam a isso fiados em Seu Deus; depois, expuseram sua fé: “… ele nos livrará…” por fim, deixaram um senão, respeitando a possível vontade diversa do Eterno, protestando que nem assim, abalaria sua fé. 

O fim da história conhecemos. Além do livramento dos que expuseram as vidas por amor a Deus tivemos outro exemplo de coragem contagiante, de ousadia mensageira. 

Pois, mesmo o rei que quisera cultuar na marra seus ídolos escreveu o que segue: “Por mim, pois, é feito um decreto, pelo qual todo o povo, e nação e língua que disser blasfêmia contra o Deus de Sadraque, Mesaque e Abednego, seja despedaçado, e as suas casas sejam feitas um monturo; porquanto não há outro Deus que possa livrar como este.” V 29
 
Entretanto, sua ousada declaração foi muito pontual, ao sabor de um feito extraordinário; adiante o encontramos de novo às voltas com seu maior vício; o orgulho. Passou por uma dieta vegetariana de “sete tempos” para cuidar disso.

A fé é mais sólida que frêmitos circunstanciais; esses podem ser filhos do assombro, do medo. Aquela é dom de Deus;  assombra-se mais com Seu Ser, que com Seu agir. 

E quando vemos um valente sofrendo sem desfalecer temos alguém que “viu” a Deus; se algo de bom há em nossas profundezas, pode emergir içado pelo anzol de tais exemplos.