quinta-feira, 23 de outubro de 2025

Tédio alheio

 “Minha alma tem tédio da minha vida; darei livre curso à minha queixa, falarei na amargura da minha alma.” Jó 10;1

A situação de Jó era mui peculiar; perdera todos os bens e filhos de uma vez; portanto, nossas frustrações por grandes que sejam não chegam perto das que dele. Não obstantes, todos os percalços, perseverou ele, crendo no Eterno.

O quê, nos levaria a entediar, desistir de viver? Não poucos buscam refúgio na porta enganosa do suicídio, infelizmente. Me atrevo a dizer que, na maioria dos casos razões fúteis, incidindo sobre almas sem a devida têmpera assumem um peso desproporcional, fazendo um tigre de papel parecer uma fera sanguinária. O excesso de amor próprio, ocupando o que deveria ser amor ao próximo ajuda nisso.

No mundo como está hoje, onde os mais pueris devaneios podem ser retratados como realidades vividas, nas falsas vitrines das redes sociais, as pessoas sugestionáveis por essas farsas tendem a se deprimir por não serem tão “felizes” quanto, aqueles que desfilam solertes em suas “janelas”. Por que fulano consegue e eu não?

Invés de um choque de realidade visitando hospitais, observando a bravura indômita dos cristãos martirizados na Nigéria, favelas, velórios, e outros ambientes sisudos de vida real, esses mentecaptos se perdem no reino encantado da fantasia; aí, acabam se sentindo entediados, infelizes, por cotejarem suas sortes com a dos que, supostamente estão nos “paraísos” que eles merecem.

Enquanto um adolescente padece privação de alimentos, num recanto obscuro da vida dura, lhe são sonegados os direitos mais elementares, outro, da mesma idade “sofre horrores” porque um colega seu tem um aparelho celular mais moderno que o dele. Duas ou três “frustrações” assim, e presto teremos um “deprimido” entediado, se sentindo a mais infeliz das criaturas. Quem suportaria tamanha dor?

Não raro, escolhemos como referenciais, aqueles que estão “acima” de nós; não obstante, milhares de pessoas bem de perto, estejam em situações flagrantemente inferiores. Vivemos de modo inconsequente, como se a vida nos devesse e nos apressássemos a “cobrar”.

O consumo em doses excessivas de ilusão, produz como efeito colateral, pessoas sem noção, divorciadas da realidade; a fusão entre o mundo virtual e o real turba uma alma adoecida; e, turbada, pega uma arma, entra num colégio e sai matando aleatoriamente, como se, a dívida da vida estivesse pra lá de vencida, e esse fosse o jeito certo de acertar as contas.

Com o advento da Inteligência Artificial a coisa piorou muito. Primeiro, os ímpios governos tolheram a difusão de uma educação de qualidade que formaria seres livres, capazes de pensar; depois, as redes sociais alienaram da realidade fomentando toda sorte de ilusões, ao alcance de crianças; agora, a IA “empodera” mentecaptos, como que, ensinado a técnica de bio-fertilizantes; o resultado é idêntico; ambos os sistemas logram a proeza de transformar bosta em dinheiro.

Num sistema assim, que invés de premiar o mérito, fornece de bandeja, um imoral método, o que a presente geração legará à vindoura? Se houver outra.

No momento mais crítico da saga Divino humana, quando os sinais escatológicos apontam para iminente acerto de contas do Senhor com a humanidade, essa se encontra em seu mais ridículo estágio; pífia, nos prismas, intelectual, moral e espiritual.

A negligência em buscar por formação quando ainda era possível, que daria discernimento para ver, amiúde, os atuais dias, e têmpera para suportá-los, cobrará alto preço, como já aconteceu em tempos idos; A Palavra do Senhor registra e tudo caminha para se repetir.

“O Meu povo foi destruído, porque lhe faltou o conhecimento; porque tu rejeitaste o conhecimento, também Eu te rejeitarei, para que não sejas sacerdote diante de Mim; visto que te esqueceste da lei do teu Deus, também Me esquecerei de teus filhos.” Os 4;6

Algumas dezenas de escritos apócrifos “surgem” do nada para colocar em dúvida o que sempre soubemos via Palavra de Deus. Quem, antes dessa avalanche satânica não fez o bom depósito, como o fará agora? Como discernirá entre santo e profano, se, jamais se esforçou para aprender isso?

E, alguém enxergando um metro além das retinas, queda impotente para comunicar o que vê; sobretudo, por dois óbices; absoluta falta de interesse, e total incapacidade de quem precisa urgente, divisar os riscos que corre.

Se, no caso de Jó eram sobejas as razões e particulares, para ele estar entediado da vida, hoje, quem pode ver um tiquinho, corre risco de entediar pela inacessibilidade satisfeita, duma imensa leva de medíocres suicidas.

Quem os adverte do abismo para onde estão rumando, corre o risco de sofrer violência até, dada a “certeza” com que esses encarcerados de alma defendem seus feitores.

“Como é perigoso libertar a um povo que prefere a escravidão!” Maquiavel

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