sexta-feira, 10 de janeiro de 2025

O garimpo


“Preparas uma mesa perante mim, na presença dos meus inimigos...” Sal 23;5

A certeza de bênçãos em submissão ao Divino Pastor, poderá ser entendida de modo superficial, como se fôssemos lançados a um lugar de comodismo; ou, fartura e ausência de obstáculos. Não é essa a ideia, porém. Servir ao Senhor não é acertar na loteria.

As verdadeiras riquezas não são vulgares, como disse o poeta Drummond de Andrade: “As pessoas se enganam pensando que os cofres dos bancos possuem riquezas; lá tem apenas dinheiro.”

Além da possibilidade de passar pelo “vale da sombra da morte”, Davi entendia o caminho como estreito, requerendo retidão; “veredas da justiça”; não ignorava a presença dos desafetos. O próprio Saul que fora abençoado mediante a vida dele, o procurava matar.

Assim, invés de uma presunção festeira, pelo fato de O Senhor ser seu Pastor, supondo que nada de ruim ocorreria o autor entendia e expressou, que apesar dessas coisas todas, a fidelidade Divina seguia presente, valia a pena confiar no Eterno. “Se formos infiéis Ele permanece fiel; não pode negar a Si mesmo”. II Tim 2;13

Afinal, Davi escreveu boa parte dos salmos, na sina de proscrito, fugitivo, errante; apostou na Divina fidelidade, mesmo quando as circunstâncias pareciam dizer o contrário. Essa é a verdadeira fé; “... Quando andar em trevas, não tiver luz nenhuma, confie no Nome do Senhor; firme-se sobre o seu Deus.” Is 50;10 Pois, quem tem certeza do Divino cuidado, já tem luz suficiente.

A “fé” utilitarista, que atina mais ao que espera obter, do que a devida fidelidade, a despeito das circunstâncias, longe de ser fé, não passa de auto engano. Como se, O Senhor Onisciente pudesse ser manipulado por uma criatura insignificante. O suposto crente em apreço trai a si mesmo, cegado pela própria hipocrisia.

O Eterno deplorou a “adoração” efêmera, que era fruto de um momento apenas; “... porque vossa benignidade é como a nuvem da manhã; como orvalho da madrugada que cedo passa.” Os 6;4 Que valor tem uma “metamorfose” assim?

As provas e tentações são um convite do Senhor a vencermos, para, então, sermos abençoados. “Bem aventurado o homem que sofre a tentação, porque, quando for provado, receberá a coroa da vida, a qual, O Senhor tem prometido aos que O amam.” Tg 1;12

Sofrer a tentação é resisti-la, não, cair. Quando caímos, não sofremos no momento, apenas, pecamos. Em geral a carne sente prazer em pecar, embora, armazene, com isso, um depósito de dores futuras, as consequências.

Ele não nos prova para saber como reagiremos; pois, já sabe. Mas o faz para que também saibamos. Uma coisa é declararmos nossa fé com os lábios; outra, a vivermos, no teatro das ações. Assim, as provas servem como um filtro, como o instrumento do garimpeiro, que ciranda até separar o precioso do fútil. “Para que a prova da vossa fé, muito mais preciosa do que o ouro que perece e é provado pelo fogo se ache em louvor, honra e glória, na revelação de Jesus Cristo.” I Ped 1;7

O objeto da fé é a pessoa em quem se crê; não, um conjunto de circunstâncias que se espera usufruir. “Crede em Deus, crede também em Mim...” ensinou O Salvador. A fé sadia visa corresponder ao Divino amor, não, obter favores. “Sem fé é impossível agradar a Deus...” Heb 11;6

Quando, eventuais estreitamentos são necessários, ou permitidos, pelo Supremo Pastor, como no caso de Jó, devemos aprender a reagir como ele. Quando sua mulher, que tinha uma “fé” utilitária, o aconselhou a renunciar a Deus e morrer, disse: “... como fala qualquer doida, falas tu; receberíamos o bem, de Deus, e não receberíamos o mal?” Jó 2;10

Adiante, acossado pelas falsas suposições de seus amigos, de que estava sofrendo como juízo pelas suas culpas, recusou-se a aceitar tão injusta acusação; porém, sem renunciar sua fé; “Ainda que Ele me mate, Nele esperarei; contudo, meus caminhos defenderei perante Ele.” Cap 13;15

Sendo o mundo como é; alienado do Santo, jazendo no maligno, o simples fato de alguém crer em Deus, ser fiel a Ele, já torna necessária a existência de inimigos. “prepara-me uma mesa na presença dos meus inimigos...”

Um “cristianismo” que, para evitar isso, mundaniza-se, foge de inimigos frágeis e se faz inimigo do Todo Poderoso. “Adúlteros e adúlteras; não sabeis que a amizade do mundo é inimizade contra Deus? Portanto, qualquer que quiser ser amigo do mundo constitui-se inimigo de Deus.” Tg 4;4

Sejamos, na medida do possível, instrumentos de Deus, para reconciliar com Ele os que estão em inimizade; mas se formos forçados a escolher entre O Senhor ou eles, azar deles. Sigamos à mesa, onde é servido o Pão dos Céus.

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