quinta-feira, 2 de janeiro de 2025

No lugar santo


“Quando eu ocupar o lugar determinado, julgarei retamente.” Sal 75;2

Duas coisas podemos deduzir lendo esse verso. Seu autor não estava ainda, no lugar que fora determinado para ele; esse, seria uma posição de autoridade, onde teria, também, a incumbência de julgar.

Sabendo da Saga de Davi, que mesmo ungido para ser rei peregrinou errante por muito tempo, fugitivo dos intentos injustos de Saul, que atentou contra sua vida, podemos inferir, em qual contexto aquele cântico foi escrito.

Nada melhor para saber o valor da justiça, que ser, eventualmente, vítima de injustiças. Davi planejar, uma vez estando no lugar reservado para ele, em fazer as coisas melhores do que contemplara e sofrera, sendo feitas, era melhor que sonhar com vingança, acalentar anseios revanchistas. “Quando eu ocupar o lugar determinado, julgarei retamente.”

A Fidelidade Divina sempre cumpre o que promete. O lugar que fora prometido ao jovem pastor, de governante do povo de Deus, no devido tempo foi fielmente cumprido, como o próprio Davi, testificou. “Trouxe-me para um lugar espaçoso; livrou-me porque tinha prazer em mim.” Sal 18;19

Antes de ser guindado ao “lugar espaçoso” precisou muitos livramentos, pelos riscos que correu.

O fato do anseio dele, pelo lugar determinado estar no salmo 75, e o testemunho do cumprimento, no 18, é irrelevante. A numeração dos hinos foi uma atitude aleatória de quem os compilou, sem obedecer, necessariamente, a ordem cronológica.

Os cânticos que retratam perseguições, livramentos, esperanças, em geral são filhos da peregrinação errante do poeta; os que exaltam a fidelidade Divina, cumprimento das Suas promessas, provavelmente são gerados no palácio; a lógica supõe assim.

A virtude teórica sempre foi mais fácil que a prática, porque as boas intenções podem ser emolduradas com meras falas, enquanto as boas ações demandam mais que isso.

Quantos disfarçam seus desejos por comodidades, e a ilusão de alcançar isso, ganhando em loterias! O fazem com “promessas” que, se ganharem ajudarão aos pobres. Dizem isso para emprestar respeitabilidade às suas cobiças; se um desses chegar a ganhar, como disse Joelmir Betting, “Na prática a teoria é outra.” Vai que, os pobres nem careçam mais de ajuda.

Não estou advogando que Davi, quando Rei, não julgou retamente aos pleitos de terceiros que chegaram a ele. Não há razões para duvidarmos que tenha feito assim. A Palavra o define como “um homem segundo o coração de Deus.”

Porém, uma coisa é julgarmos situações distantes, com as quais nenhum envolvimento emocional nos atrela; outra, as que nos são caras de alguma forma, com as quais temos alguma ligação mais estreita.

Pois, Davi falhou grotescamente no caso atinente a Urias e Batseba; julgou oportuno um direito, onde lhe cabia um dever; também no trato com seus filhos; sobretudo, Amnon quando forçou sua meia-irmã; e Absalão que, cansado de esperar justiça contra o que violara sua irmã, vingou-se. Depois, acabou se levantando contra o próprio Pai.

As boas intenções acabam tendo oportunidade de se expressar, pelas ações. A rigor, a sentença de Tiago que a fé sem as obras é morta, pode ser ressignificada como: Mera intenção, divorciada da ação correspondente, não tem nenhum valor.

As coisas virtuosas convencem mais rapidamente aos nossos intelectos que às nossas vontades, patrocinadoras das ações.

Por isso, O Salvador requereu que fôssemos fiéis aos nossos ditos, “Seja vosso sim, sim; vosso não, não; porque o que passar disso é de procedência maligna.” Mat 5;37

O mesmo Davi descrevera características do “Cidadão dos Céus” e entre outras, é “... aquele que jura com dano seu, contudo, não muda.” Sal 15;4

Na verdade Davi julgou retamente ao próprio adultério, condenando-se à morte, porque o profeta Natã, envolveu a coisa de forma tal, que fez o descuidado rei pensar que julgava a outro, quando o fazia em relação a si mesmo.

Fácil a conclusão “cronológica” que o salmo 51 foi escrito no palácio, pois; “Cria em mim ó Deus, um coração puro, renova em mim, um espírito reto; não me lances fora da Tua presença, não retires de mim, Teu Espírito Santo; torna a dar-me a alegria da Tua salvação, e sustém-me com um espírito voluntário.” Sal 51;10 a 12

Precisou de um “atalho” para julgar retamente, pois na hora da tentação, permitiu que o desejo o cegasse, de modo a entortar o necessário juízo. “É bem mais difícil julgar a si mesmo que julgar os outros. Se consegues fazer um bom julgamento de ti, és um verdadeiro sábio.” Saint Exupéry

Aos Seus O Salvador disse: “Vou preparar-vos lugar.” Jo 14;2 Devemos agir como se já estivéssemos lá. “Nos ressuscitou juntamente com Ele, (conversão) nos fez assentar nos lugares celestiais, em Cristo Jesus (santificação).” Ef 2;6
Pela santidade do lugar recebido, pois, procedamos justamente.

Nenhum comentário:

Postar um comentário