Os Livros sapienciais, Jó, Salmos, Provérbios, Eclesiastes e Cantares, embora sejam instrumentos difusores do conhecimento da Divindade, e das escolhas virtuosas, derivam das reflexões dos sábios, não significando que sejam, estritamente, A Palavra do Senhor. Exceção é o livro de Jó, onde O Senhor Falou.
Nalguns textos há rico teor profético, o que evidencia a Divina inspiração; mas, são em geral, conselhos práticos, sem ser, necessariamente, revelações Divinas. Não encontramos trechos como nos profetas: “Veio a mim a Palavra do Senhor... ou, Assim diz O Senhor”.
Ensinam regras gerais, que podem comportar exceções. Tipo, “Fui moço, agora sou velho; mas nunca vi desamparado o justo, nem a sua semente a mendigar o pão.” Paulo, por exemplo, depois de receber ao Salvador foi justificado, perdoado, feito justo. Contudo, escreveu: “Sei estar abatido e também ter abundância; em toda a maneira, em todas as coisas estou instruído, tanto a ter fartura, quanto a ter fome; tanto a ter abundância, quanto, padecer necessidade.” Fp 4;12
Embora a permissão de certas coisas possa ser uma “bênção disfarçada” visando nossa edificação, poderia um caçador de “contradições bíblicas” tentar ancorar num cais assim.
O preceito aponta às vantagens de sermos justos, dizendo ser uma coisa boa, cujas consequências serão benditas; não expressa uma profecia, como se fosse impossível acontecer diferente. Quem interpreta à Palavra com esses cuidados, tem melhores chances de desenvolver um conhecimento correto dela.
Mas, o verso inicial que a bênção do Senhor enriquece e não traz consigo dores, é também um assim? Afinal a bênção Divina em maior grau que podemos receber é a salvação; essa traz o concurso de toda sorte de aflições, perseguições do inimigo, dos amigos e familiares até.
Nesse caso, não é uma exceção, mas uma questão de “sintonia fina”, de entendermos deveras, o que o texto diz.
“Não traz consigo”, dores. A salvação traz o perdão dos nossos pecados, permite que nosso nome figure no Livro da Vida, nos dá paz de espírito, agrega dons espirituais, livra do medo da morte, nos faz filhos do Eterno... enfim, só traz coisas boas.
As dores contíguas derivam da apreciação externa, por pessoas más, inspiradas pelos espíritos maus; a reação desses às coisas boas que passam a ver em nós.
Nossa fragilidade carece ser suplementada, todo o tempo, pela Divina Bondade atuando em nosso favor; pois, a oposição estará vivamente interessada em furtar as riquezas que vislumbra em nós. “Temos, porém, esse tesouro em vasos de barro, para que a excelência do poder seja de Deus, não, nossa.” II Cor 4;7
Imaginemos, como ilustração, um barraco abandonado, portas e janelas quebradas, goteiras, pátio coberto de matagal; alguém colocaria um vigilante num lugar assim, para o proteger? Porém, se alguém rico o comprar, reformar, pintar, embelezar, passar a vender nele, joias de refinado valor, certamente uma transformação assim saltaria aos olhos dos ladrões; teria que ser vigiado para não ser pilhado.
De igual modo, as riquezas anexas a um “ambiente”, antes desprezível, é que nos fazem alvo, de potenciais “dores”. Enquanto perdidos em vícios, devassidões, descaminhos, não incomodávamos em nada à oposição. Porém, quando restaurados, embelezados e enriquecidos pelo Senhor, fatalmente somos alvos de toda sorte de aflições. Que, reitero, não são derivadas da bênção do Senhor, estritamente; antes, da inveja dos que não a suportam vê-la incidindo sobre nós.
A transformação de um que, errava na lama e socorrido pelas Mãos Divinas, muda de vida, incomoda a oposição por duas razões; primeira, a própria mudança, que transforma um títere de Satã, num servo de Deus. A segunda são os “efeitos colaterais” que podem dar azo a novas mudanças, como vimos no Salmo 40. Sobre um que, sendo tirado do charco de lodo, foi firmado na rocha e terminou louvando a Deus. “... muitos o verão, temerão e confiarão no Senhor.” V 3
Então, a bênção do Senhor enriquece, deveras, e não traz consigo dores. Porém, nesse mundo que jaz no maligno, e tem a maioria das pessoas a serviço dele, quanto mais abençoados formos, mais tendem a concorrer aflições.
O mesmo Paulo, quando, a serviço do judaísmo perseguia à Igreja, não conhecia dores; antes as infligia às suas vítimas. Mas, convertido ao Senhor, feito um defensor da verdade, os “amigos” de antes, o perseguiram até à morte.
Enfim, caro cristão, o concurso das dores, a necessidade de lidarmos com nossas fraquezas, além de nos manter dependentes de Deus, testifica que, de fato, pertencemos a Ele, incomode a quem incomodar. “Por isso, sinto prazer nas fraquezas, nas injúrias, necessidades, perseguições, angústias por amor a Cristo; porque, quando estou fraco, então, sou forte.” II Cor 12;10
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