domingo, 10 de março de 2024

Talento alheio

 

“Quantas vezes a gente, em busca da ventura,
Procede tal e qual o avozinho infeliz:
Em vão, por toda parte, os óculos procura
Tendo-os na ponta do nariz!” Mário Quintana

O que nos faz buscarmos distante aquilo que está à mão, nem sempre é nossa incapacidade de ver; mas, de apreciar devidamente o que temos.

Depreciamos desonestidade intelectual. Pois, há também um grave dano, ensejado pela desonestidade conceitual, que acha a cruz do outro, mais leve; as dádivas que possui, insuficientes, mesmo tendo o bastante. Os Pablos Marçais da vida enriquecem com essa doença.

O risco de trazermos pra nós, seres volúveis e falhos, a “autoridade” para a definição das coisas, remete-nos ao conselho de Satanás; ele estimulou a autonomia, independência de Deus. A Palavra Divina adverte: “Confia no Senhor de todo teu coração, não te estribes no teu próprio entendimento. Reconhece-o em todos os teus caminhos, Ele endireitará tuas veredas. Não sejas sábio aos teus próprios olhos; teme ao Senhor e aparta-te do mal.” Prov 3:5 a 7

A escolha é nossa: “Não sabeis que, a quem vos apresentardes por servos para obedecer, sois servos daquele a quem obedeceis...” Rom 6:16 Atitudes mostram escolhas.

A imprudência do primeiro casal, os fez “hospedeiros” de um vício de Satanás; agiram como se tivessem inveja de Deus. Quem padecia disso era o canhoto. “Tu dizias no teu coração: Eu subirei ao céu, acima das estrelas de Deus exaltarei meu trono; no monte da congregação me assentarei, aos lados do norte. Subirei sobre as alturas das nuvens, serei semelhante ao Altíssimo.” Is 14:13 e 14. Quando disse: “vós sereis como Deus...” fez parecer desejável ao primeiro casal, o que assim parecia a ele.

“Elevou-se teu coração por causa da tua formosura, corrompeste tua sabedoria por causa do teu resplendor; por terra te lancei, diante dos reis te pus, para que olhem para ti.” Ez 28:17 Vemos que, formosura e resplendor não bastavam a esse amante do brilho alheio.

Em geral, a capacidade de “não ver”, excede às nossas coisas e toca nas do semelhante, sobretudo, se o que vamos ignorar são as suas qualidades. Não significa que todas as pessoas, a despeito dos seus atos, mereçam o que possuem. Cada um “escreve” sua história como bem lhe parecer. Ora, as circunstâncias são favoráveis, outra, adversas; devemos andar em meio a elas, firmados em valores, se temos em conta a vontade de Deus. Senão, faça cada um o que aprouver e encontre-se, em tempo, com a consequências.

O tempo da análise da “concordância” entre preceitos e atitudes, A Divina vontade, será do dia do juízo; então, a perfeita justiça dará a cada um exatamente o que merecer.

A palavra inveja deriva do latim, “invídia”, com sentido de desgosto causado pela felicidade alheia; recusa a ver as coisas como são.

Machado de Assis colocou um “freio de mão” no “carro” da felicidade; escreveu para que não nos empolguemos muito com ela, pois, sempre traz em sua boca “uma gota da baba de Caim.” Alusão à inveja que aquele sentiu, vendo Abel em comunhão com Deus, enquanto ele estava em falta. Invés de consertar sua vida, decidiu tirar a do irmão. “Se bem fizeres, não é certo que serás aceito?” Gn 4;7 questionara O Criador.

Salomão versou: “Também vi que, todo o trabalho, toda a destreza em obras, traz ao homem a inveja do seu próximo...” Ecl 4;4 Ninguém inveja à mediocridade.

O lado mais doentio da inveja é que ela recusa ver a si mesma. Sempre desfilará com alguma veste furtada, embora, no fundo, saiba o real motivo dos seus pleitos. Como os que entregaram Jesus Cristo a Pilatos. Nenhum dizia que era por algum motivo torpe; antes porque seria um agitador, inimigo de césar, um sedicioso... assim, seu clamor seria por “justiça.”

No entanto, quem não estava sob a febre do ciúme poderia ver o que esse recusava. “Porque ele bem sabia que por inveja os principais dos sacerdotes o tinham entregado.” Mc 15:10

Infelizmente, como o vovozinho citado pelo Quintana, muitos buscam os óculos alhures, tendo-os na ponta do nariz.

Superdimensionam futilidades, desprezam valores. Acerca de posses, poderíamos aprender com Agur: “Afasta de mim a vaidade e a palavra mentirosa; não me dês nem pobreza nem riqueza; mantém-me do pão da minha porção de costume; para que, porventura, estando farto não te negue, e venha a dizer: Quem é o Senhor? ou que, empobrecendo, não venha a furtar, tome o Nome de Deus em vão.” Prov 30:8 e 9

Às vezes é necessária a intervenção de um profeta, para a cura da visão. “Orou Eliseu, e disse: Senhor, peço-te que lhe abras os olhos, para que veja.” II Rs 6:17

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