sábado, 9 de março de 2024

Derrocada


“O que foi é o que há de ser; o que se fez, isso se fará; de modo que nada há novo debaixo do sol.” Ecl 1;9

“Cada estágio da história é um momento necessário da ideia do espírito do mundo.” Hegel

A divisão histórica em períodos onde predominou certo modo de pensar, no aspecto político, filosófico, sociológico, é a chamada “Dialética Hegeliana”. Segundo Hegel, em cada estágio duas ideias opostas combatem, tendo conceitos válidos em ambas; depois de certo tempo surge uma “síntese” e abarca parte da tese e da antítese.

Essa, torna-se nova tese, para a qual, surgirá sua oponente, as quais, darão lugar a nova síntese; assim sucessivamente. Como degraus duma escada, facultarão a subida do conhecimento civilizatório. Certa ou não, essa leitura, permanece o fato que seu defensor esposava a humanidade em contínuo aperfeiçoamento.

Como a sociedade é composta de seres humanos, natural que esses também cresçam, galgando degraus na escada da maturidade.

Machado de Assis ilustrou: “... Cada estação da vida é uma edição, que corrige a anterior, e será corrigida também, até a edição definitiva, que o editor dá de graça aos vermes.” Tendemos a crescer, pois, até que nossos corpos sejam decompostos; a ideia machadiana.

Logo, seja no prisma particular, seja no aspecto social, coletivo, o esperável é que haja contínua escalada, rumo à maturidade, num caso; ao aperfeiçoamento social, n’outro.

Embora, ambos os postulados tenham lógica, a realidade insiste em negar tais teorias, como necessárias no curso da vida. Acontece que, à medida que o fio do tempo se desenrola, um contraste preocupante fica mais visível. Parte do homem sobe; outra, desce vertiginosamente.

Sobre a inevitável piora ao curso do tempo, Salomão versou: “Nunca digas: Por que foram os dias passados melhores que estes? Porque não provém da sabedoria esta pergunta.” Ecl 7:10
Parece que, esperar o decréscimo da qualidade de vida seria o óbvio, infelizmente. Só um tolo e crédulo ousaria pensar diferente.

Se, no prisma tecnológico, a teoria de Hegel se aplica sempre, inventos imperfeitos são sintetizados, aprendizados são aperfeiçoados, dando origem a outros melhores, que por sua vez acabam superados também, nas relações sociais, na maturidade cívica e nas relações interpessoais, pioramos a olhos vistos.

Depois de séculos estabelecendo à família como célula mãe da sociedade; igualdade de gêneros, reconhecendo a dignidade da mulher; o estabelecimento inviolável das liberdades, de credo, ir e vir, expressão, escolha, com a sedimentação da democracia; de repente, num período assustadoramente breve, para tão graves mudanças, tudo isso agoniza, ferido de morte. 

Homem e mulher já não resumem nossos gêneros. São tantos quantos, a perversão conseguir inventar; ela tem sido criativa. Destruir a família, vilipendiar a educação, tolher as liberdades virou programa de governo; “democrático”, pasmem!

O irônico desse “status quo” é que, as múltiplas facilidades tecnológicas atrapalham os anseios tirânicos dos novos ditadores. Pois, podendo amordaçar à imprensa com cédulas, têm que conviver com a “imprensa alternativa” ameaçadoramente livre. Urge que eles façam o “controle social da mídia”, eufemismo palatável, com o qual pretendem dourar a pílula da censura, tão cara aos seus projetos totalitários.

Com devido respeito, pois, caro Georg Wilhelm Friedrich Hegel, sua tese furou. Invés de galgarmos o próximo degrau, estamos ameaçados de voltar uns quatro ou cinco para trás, governados pela “Vanguarda do Atraso” como ironizou Augusto Nunes.

Se, adotando como necessária a figura de Machado de Assis, que, todos os homens passam por “edições”, onde erros pretéritos são corrigidos e eventual crescimento os aperfeiçoa, infelizmente, muitos parecem-se com os “Escritos de Qumram”, ainda rudimentares, “originais”. Incapazes de pensar, defensores do indefensável.

Um parêntese é necessário: Quem carece de aperfeiçoamento, amadurecimento são os seres humanos; o teor da Palavra de Deus, por antigo que seja, segue atual, pelo caráter eterno do seu Autor.

O progresso civilizatório deve ser integral; envolver todos os aspectos da vida humana, sobretudo o ético e o espiritual. Imaginemos uma tribo de antropófagos, que, tenha sido “civilizada” apenas no prisma dos meios e esquecido dos fins. Outrora, enquanto bárbaros, comiam carne humana com seus aparatos toscos; agora, “civilizados” ainda mantêm a mesma “dieta”, porém, usam garfos, facas e lenços...

Assim caminhamos, tristemente. Os meios são superados de modo célere, por outros cada vez mais modernos; os fins apodrecem, porque o homem tão dedicado a melhoramentos tecnológicos, pouco se importa com crescimento psicológico e propósito espiritual como motores de suas escolhas.

Deus não edita; regenera. Os que O rejeitam, o canhoto cega, e põe a trabalhar para ele, como fizeram os filisteus com Sansão. 

Aos Seus depois de justificar, O Eterno ilumina. “A vereda dos justos é como a luz da aurora; vai brilhando mais e mais até ser dia perfeito.” Prov 4:18

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