sexta-feira, 29 de março de 2024

Em tempo


“Foi há trêis ontonte que a porca deu cria.” Cresci ouvindo expressões como esta, sem a curiosidade investigativa de hoje, para procurar entender.

Anteontem foi há dois dias. O que seriam três anteontens? Três vezes dois dias? Três dias? Além de anteontem, mais dois dias, o que daria quatro? Confesso que ignoro qual o sentido com que antigos usavam linguagens assim.

A criação dos “luminares”, Sol e Lua, entre outras coisas serviriam para marcar tempos, estações. Os indígenas usavam chamar aos dias de sóis, aos meses, luas. O período entre uma cheia e outra, era uma lua. Deve ser daí, da presunção de que o primeiro mês do matrimônio é sobremodo doce, que surgiu a expressão, “Lua de mel.”

Nossa relação com o tempo, eventualmente, deixa de ser estritamente temporal, anexando outros fatores. Quem jamais ouviu: “Ela já tem três aninhos?” Quantos dias ou sóis, teria um aninho? Salvo o “anão” bissexto, que tem um a mais, todos têm 365.

Assim, quando se mensura o tempo de vida no diminutivo, não se está reduzindo-o; antes, usando uma redução carinhosa para o tamanho do “relógio”.

Tal leitura sofre intromissões, quando, fatores psicológicos se sobrepõem aos cronológicos. Muitos fazem “memes” quando um mês é pleno de más notícias, dores, lutas como se fosse algo moroso, sem pressa de passar.

Por outro lado, quando o “vento vira” noutro mês, dizem: “Tal mês humilhou ao precedente; meteu quinze dias em dois.” Nesses casos não se está medindo o tempo, mas, o sabor que teve a vida em ambos, que, a rigor, duraram exatamente o mesmo.

Na posse de sentimentos deleitosos o tempo voa; enquanto nos momentos difíceis rasteja. Porém, reitero, são nossas percepções que lhe emprestam “asas”, o ou reduzem a “réptil”.

Além dos fatores psicológicos, a decadência moral costuma ancorar seu barco nas águas dos tempos. Invés de uma leitura precisa da queda nos valores pela perda gradativa da vergonha, costumam dizer: “Os tempos são outros.”

Os homens são outros, muito piores do que os primeiros. “Por isso o direito tornou atrás, a justiça se pôs de longe; porque a verdade anda tropeçando pelas ruas; equidade não pode entrar. Sim, a verdade desfalece, quem se desvia do mal arrisca-se a ser despojado; O Senhor viu, e pareceu mal aos Seus Olhos que não houvesse justiça.” Is 59:14 e 15

A tendência é piorar progressivamente, à medida que, o rio do tempo corre. Salomão, o mortal mais sábio de todos os tempos, via como necessária essa piora; “Nunca digas: Por que foram os dias passados melhores que estes? Porque não provém da sabedoria esta pergunta.” Ecl 7:10 Um sábio não perguntaria o óbvio.

Um atirador de elite, que acerta alvos a grandes distâncias, depois de muito treinamento, o faz aprendendo a controlar, até mesmo a respiração, no momento do disparo. Um vacilo mínimo na técnica, que represente um milímetro de imprecisão no ponto de partida do projétil, numa distância razoável se fará um grande erro. Quanto mais avançar o disparo, mais se afastará do alvo.

Assim, a humanidade divorciada de Deus. “Progredimos” da vergonha por ter cometido um grave erro, em Adão, para a presunção sem limites que se atreve a imputar erros a Deus, O Criador.

A inversão de valores acaba sendo “natural”, dado o vício de origem do “projétil”. “Ai dos que ao mal chamam bem, e ao bem, mal; que fazem das trevas luz, da luz, trevas; fazem do amargo doce, do doce, amargo! Ai dos que são sábios aos seus próprios olhos, prudentes diante de si mesmos!” Is 5:20 e 21

Em Cristo somos chamados a “perder tempo”, para ganhar a eternidade; “Porque aquele que quiser salvar sua vida, perdê-la-á; quem perder sua vida por amor de Mim, achá-la-á.” Mat 16:25

Embora seja irônico, os que se esbaldam em prazeres ilícitos para “curtir a vida, porque a vida é curta”, como dizem, no afã de “aproveitarem” uma fração de tempo, o desperdiçam por inteiro. “Mas Deus lhe disse: Louco! esta noite pedirão tua alma; o que tens preparado, para quem será?” Luc 12:20

A existência terrena, que muitos avaliam como sendo o “show”, é apenas a fila de ingresso; “De um só sangue fez toda geração dos homens, para habitar sobre toda a face da terra, determinando os tempos já dantes ordenados, e os limites da sua habitação; para que buscassem ao Senhor, se porventura, tateando, o pudessem achar; ainda que não está longe de cada um de nós;” Atos 17:26 e 27

Deus quer perdoar o que fizemos ontem, anteontem ou a “trêis ontonte”; dá-nos de presente, o direito de escolher hoje, como será nosso amanhã. “... quem Me der ouvidos habitará em segurança...” Prov 1:33

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