terça-feira, 26 de dezembro de 2023

Fogo roubado


“Quem come do fruto do conhecimento, sempre é expulso de algum paraíso.” Melanie Klein

Não há dúvida que, quem deixa os círculos da mediocridade buscando o conhecimento acaba sendo excluído quase que, automaticamente, de ambientes rasos; porque esses, são refratários a quaisquer feixes, de luz. Dizem que nos tornamos metidos, presunçosos, arrogantes. Não; apenas inadequados ao antigo meio.

Porque há “paraísos” onde a ignorância é a maior ventura. Onde se sabe pouco e ainda têm raiva de quem sabe, como dizem. A “moral” de que, o que os olhos não veem, o coração não sente; ou, o outro lado da moeda no dito de Salomão: “Porque na muita sabedoria há muito enfado; e o que aumenta em conhecimento, aumenta em dor.” Ecl 1:18 essas visões acusam os “males” do conhecimento. 

Assim, o fruto do conhecimento digerido, expulsaria seus comensais do “Éden” indolor da ignorância, rumo à dolorosa sina de ver melhor.

No entanto, nas entrelinhas da ideia inicial, está o mito de “Prometeu”, de uma criação paralela, vestindo à queda humana com roupas bonitas, onde foi dado ao inimigo, que seduziu o primeiro casal rumo à desobediência, aquele nome mitológico.

“O fogo que Prometeu roubou aos deuses e pelo qual foi condenado, representa o conhecimento humano. Mas também, e talvez mais importante, a liberdade. Até aí os homens faziam tudo sem razão, porque os deuses, ao contrário do que tinham feito com os restantes animais, nada lhes deram.” O enredo genérico do mito.

Algumas coisas padecem falta de sentido nessa ideia. Primeiro, que sejam deuses, e não O Deus Vivo, O Criador, o Único. Essa história de Olimpo, deuses e Titãs, carece verossimilhança. 

Segundo; se, os humanos fossem criados inferiores aos animais, sem a ajuda de Prometeu, jamais poderiam ser postos como gestores da criação, como foram os do primeiro casal. Natural que os mitos e a Bíblia desafinem.

Terceiro, se os humanos tivessem sido criados privados de liberdade, não teriam condições de pecar. A única forma de obediência, requer que a mesma seja livre; existindo possibilidade de desobediência. Para o homem ter condições de optar, era preciso que houvesse opções. Isso explica a existência da árvore proibida, como signo da liberdade de escolha facultada; não, como um veto ao conhecimento, como as análises mais grosseiras fazem parecer.

Certo que a serpente afirmou que, desobedecendo, os humanos seriam “como Deus, conhecendo o bem e o mal.” Os “intérpretes” mais bisonhos vêm nisso o “conhecimento” como fato novo.

Adão conhecia a Deus e com Ele falava; dera nome a todas as criaturas que há; recebera o governo, o domínio sobre toda a criação, com uma exceção apenas, para lembrar que era um domínio delegado, não, absoluto. Logo, possuía excelso conhecimento.

A proposta do inimigo trazia a independência, autonomia em relação ao Criador; de lambuja, o conhecimento do mal; o bem já era conhecido. Os “acréscimos” após o pecado, além da morte espiritual e mais tarde, física, foi a presença do medo, e sentimento de culpa na consciência, que levou Adão a se esconder. O mal começou a ser conhecido, então.

Portanto, essa ideia que o homem foi criado quase autômato, acéfalo, e deve a “Prometeu” o “favor” de ter tido acesso ao conhecimento é grotesca falácia, de gente que não aprendeu, mas se apressou a ensinar.

Outra besteira difundida pelo catolicismo é que o “pecado original” seria o sexo. No casamento é abençoado. O pecado original foi desobediência; um de cada vez; primeiro Eva; num segundo momento, Adão. Se fosse o sexo, teriam pecado ambos, de uma vez.

Se, Deus vetasse o conhecimento, como uma coisa má, e sua aquisição indevida, como colocaria sentenças assim: “O Meu povo foi destruído, porque lhe faltou o conhecimento; porque tu rejeitaste o conhecimento, também te rejeitarei...” Os 4:6 Ou, “Porque os lábios do sacerdote devem guardar o conhecimento, e da sua boca devem os homens buscar a lei porque ele é o mensageiro do Senhor dos Exércitos.” Ml 2:7 ainda; “A vida eterna é esta: que conheçam a Ti só, por Único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste.” Jo 17:3 “Porque Eu quero a misericórdia, não sacrifício; e conhecimento de Deus, mais que holocaustos.” Os 6;6 (?) etc.

Há um “paraíso” onde, bruxuleiam emanações de fogos fátuos, dos cadáveres do siso, da lógica e entendimento; sofismas, falso saber, desfilam airosos, defendendo a insipiência engajada como sendo luz; como se bastasse ter algo a dizer, não importando o quê, para que o falaz posasse de conhecedor.

Tanta gente por aí, estragando o silêncio com mau uso das cordas vocais... Oportuno lembrar certo provérbio hindu: “Quando falares - diz - cuida para que tuas palavras sejam melhores que teu silêncio.”

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