quarta-feira, 13 de dezembro de 2023

Flores e frutos


Deparei com duas frases divergentes que me fizeram pensar. A primeira, com bela roupagem poética mas, discutível teor filosófico dizia: “Se ninguém me regar, não tenho obrigação de ser flor que se cheire.”

A outra trazia: “cuide do jardim da sua mente; o pensamento que você rega, cresce.

A primeira ideia me pareceu escapista, daquele que atribui a outrem a responsabilidade pelas escolhas suas. Se, não foi regado em tempo, tratado como gostaria, não tem dever de se tornar uma pessoa que a sociedade venha a gostar. Essa “filosofia” eliminaria o papel da superação; anularia feitos de tantos, que, mesmo privados de meios, recursos, fizeram grandes e relevantes coisas.

Nossas escolhas arbitrárias, mais que as de outrem, moldam nossos destinos, como disse Baudelaire: “Conheço muitos que não puderam quando queriam, porque não quiseram, quando podiam.”

A ideia de “pagar na mesma moeda”, pode ter algum apelo no prisma da justiça; mas, não no da sabedoria. Invés de, mero e seco, “eu devolvo segundo o que recebo”, devemos aprender a semear o que gostaríamos de colher; Jesus ensinou: “Portanto, tudo que vós quereis que os homens vos façam, fazei-lhes também, porque esta é a lei e os profetas.” Mat 7:12 Não nos compete sermos ceifeiros, antes de termos sido semeadores.

Isso requer dar o primeiro passo; fazermos até mesmo, o que não recebemos e “corrermos o risco” de jamais receber. “... Amai aos vossos inimigos, bendizei os que vos maldizem, fazei bem aos que vos odeiam, orai pelos que vos maltratam e perseguem; para que sejais filhos do vosso Pai que está nos céus; porque faz que Seu sol se levante sobre maus e bons, a chuva desça sobre justos e injustos. Se amardes aos que vos amam, que galardão tereis? Não fazem os publicanos o mesmo? Se saudardes unicamente, aos vossos irmãos, que fazeis de mais? Não fazem os publicanos também assim? Sede vós pois perfeitos, como é perfeito o vosso Pai que está nos céus.” Mat 5:44-48

O “toma-lá-dá-cá tem a ver com reles negócios; o “negócio” de Deus é o amor.

Paulo ampliou a ideia: “... Se teu inimigo tiver fome, dá-lhe de comer; se tiver sede, dá-lhe de beber; porque, fazendo isto, amontoarás brasas de fogo sobre sua cabeça. Não te deixes vencer pelo mal, mas vence o mal com o bem.” Rom 12:20,21

A ideia de vencer o mal patenteada pelos mercenários da praça é remover adversidades; no prisma sadio, é vencer às inclinações que nos afastam de Deus.

Não que as ações não terão as devidas recompensas, oportunamente. Mas, isso pertence ao Eterno; “... Minha é a vingança; Eu recompensarei, diz o Senhor.” Rom 12:19

Ele deseja perdoar, em Sua Longanimidade; fará isso, sempre que houver arrependimento e mudança de atitudes; “... não tenho prazer na morte do ímpio, mas em que o ímpio se converta do seu caminho, e viva.” Ez 33:11

Senão, quem melhor que Ele, sabe qual “moeda” é correspondente a determinada dívida? Não raro, os melindres humanos nos fazem cometer erros crassos na “casa de câmbio”, como se, a Libra Esterlina e Peso tivessem o mesmo valor. Nossas “justiças” por causa das paixões, podem abrir novos lapsos, invés de os corrigir.

Enfim, a ideia de que posso ser mau, porque outros foram maus comigo, cria um círculo vicioso infinito; como os “Carmas” do espiritismo; o que, anularia o sentido do perdão, e vilipendiaria ao inefável Sacrifício de Cristo. Não havia nada pelo quê pagar, se, abstraídas as razões do amor. “Deus prova o seu amor para conosco, em que Cristo morreu por nós, sendo nós ainda pecadores.” Rom 5:8

Portanto, identifico-me melhor, com a segunda frase: “cuide do jardim da sua mente; o pensamento que você rega, cresce.”

Sobre os pensamentos, Paulo aconselhou: “Quanto ao mais, irmãos, tudo o que é verdadeiro, tudo que é honesto, tudo que é justo, tudo que é puro, tudo que é amável, tudo que é de boa fama, se há alguma virtude, se há algum louvor, nisso pensai.” Fp 4:8

Demócrito, um antigo pensador defendia que a bondade se aprende. Senão, qual o sentido de todos os ensinos que apontam para a virtude?

Assim como, a vivência nos domínios do mal forja a maldade, “Porventura pode o etíope mudar a sua pele, ou o leopardo as suas manchas? Então podereis vós fazer o bem, sendo ensinados a fazer o mal.” Jr 13:23 De igual modo, o ensino na senda do dever molda caracteres bons; “Educa a criança no caminho em que deve andar; até quando envelhecer não se desviará dele.” Prov 22:6

Mais que flores que se cheirem, a Virtude de Cristo aprendida e vivida, deixará frutos ao longo dos nossos caminhos.

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