“Porque a sua ira dura só um momento; no seu favor está a
vida. O choro pode durar uma noite, mas, a alegria vem pela manhã.” Sal 30;5
Quantas vezes
ouvimos, ou, citamos esse texto quando nos parece oportuno, sem, contudo,
refletirmos um pouco sobre ele. Primeiro, menciona dois estados emocionais
Divinos; ira e favor. Depois, duas reações humanas; choro e alegria.
Não carecemos
muita perspicácia para notarmos que se trata de um relacionamento de Deus com
Seus filhos, ainda que, eventualmente, rebeldes. “Porque o Senhor corrige o que
ama, açoita a qualquer que recebe por filho.” Heb 12;6 e, “Eu repreendo e
castigo a todos quantos amo; sê pois zeloso, arrepende-te.” Apoc 3;19
Não
significa, isso, que a maldade de outros que ainda não são filhos de Deus não
entre em conta. Acontece que, Deus não é Deus de mortos, e essa é,
infelizmente, a situação daqueles que O ignoram, ou, mesmo mencionando-O,
eventualmente, não ousam se comprometer com o conhecimento e obediência da Sua
Vontade.
Paulo fez
distinção entre dois tipos de tristeza; um, pelo fato de ter falhado em
alcançar o padrão Divino em nosso modo de viver, que definiu como, tristeza
segundo Deus; outro, pela mera frustração de anseios naturais, a tristeza
segundo o mundo. “Agora folgo, não porque fostes contristados, mas, porque
fostes contristados para arrependimento; pois, fostes contristados segundo
Deus; de maneira que por nós não padecestes dano em coisa alguma. Porque a
tristeza segundo Deus opera arrependimento para a salvação, da qual, ninguém se
arrepende; mas, a tristeza do mundo opera a morte.” II Cor 7;9 e 10
Assim, os
arrependidos que passam pela “noite” entristecidos, são os que, à Face Bendita
do Favor Divino encontrarão a alegria ao amanhecer.
A noite, entretanto, não se
refere estritamente a um período entre dois dias, como conhecemos, antes, é uma
noite espiritual, que dura o tempo necessário para que reconheçamos nossas
culpas, delas nos arrependamos, e venhamos a confessá-las em busca do perdão.
Só então, O Senhor fará “resplandecer Seu rosto” sobre nós, e veremos as
nuances áureas da Sua graça.
Isso se dá
muitas vezes, não é algo que acontece de uma vez por todas, antes, é um
gradativo processo de abandono do pecado, que chamamos, santificação. A noite
dos ímpios, indiferentes, é sem aurora, a dos “justos” vislumbra a esperança. “O
caminho dos ímpios é como a escuridão; nem sabem em que tropeçam... Mas, a
vereda dos justos é como a luz da aurora, que vai brilhando mais e mais até ser
dia perfeito.” Prov 4;19 e 18
Nem todos as
noites, contudo, derivam de consequências de pecado. Há permissões Divinas que
nos colocam à prova para nos infundir têmpera espiritual, edificar nossa fé,
como se deu com Jó, por exemplo, cujos sofrimentos advieram mediante inveja caluniosa
do inimigo, não, desvios de caráter dele. Para esses casos, de escuridão total,
O Nome do Senhor, Seu Caráter, integridade, são a “Luz” que nos permite andar,
mesmo no escuro. “Quem há entre vós que tema ao Senhor e ouça a voz do seu servo?
Quando andar em trevas, não tiver luz nenhuma, confie no nome do Senhor,
firme-se sobre o seu Deus.” Is 50;10
Abraão não
tinha, então, 1% da Revelação de Deus temos, os que conhecem Sua Palavra,
entretanto, em seu momento de angústia temendo pela vida do sobrinho que viu
ameaçada, “apostou todas as fichas” no Caráter de Deus: “Não faria justiça o
Juiz de toda a Terra?” Gn 18;25
Assim, sendo
O Eterno de Caráter Santíssimo, e, “grandioso em perdoar” como disse Isaías,
mesmo estando na noite, os servos fiéis estão sendo abençoados, ainda que, só
percebem isso depois. Porém, quando a “noite” deriva de más escolhas, rebelião,
desobediência, o Espírito Santo, posto que, entristecido, ainda habita em nós,
nos fará entender o motivo da tristeza.
Esses cultos
rasos onde toda noite trazem as “revelações de Deus” não passam de fogo
estranho, faíscas humanas acendidas por gente que inda não conhece ao Santo.
Isaías aponta um fim desastroso a esses incendiários espúrios. “Eis que todos
vós, que acendeis fogo, vos cingis com faíscas, andai entre as labaredas do
vosso fogo, entre as faíscas que acendestes. Isto vos sobrevirá da minha mão, e
em tormentos jazereis.” Is 50;11
Enfim,
qualquer que seja a causa da noite, ela não pode ser abreviada com artifícios
humanos; mas, Aquele que ordenou a separação entre a luz e as trevas e foi
obedecido, a Ele cabe chamar a aurora sobre nossas vidas.
Você que está no meio
da noite, pois, tire o melhor que puder da tristeza, como uma fruta verde tira
das seivas da Terra, para produzir, em tempo, a doçura da maturidade.