“Aquilo que foi doloroso suportar torna-se agradável depois de suportado; é natural sentir prazer no final do próprio sofrimento.” Sêneca
Machado de Assis versou mais ou menos o mesmo, porém de modo cômico; “Botas... as botas apertadas são uma das maiores venturas da terra, porque fazendo doer os pés, dão azo ao prazer de descalçá-las.” Disse.
A ideia comum é que, as dores necessárias, uma vez suportadas, além da têmpera gerada trazem certo alento ao seu paciente.
Da dor da separação Dele de modo traumático que estava prestes a acontecer O Salvador advertiu aos discípulos: “Na verdade, na verdade vos digo que vós chorareis e lamentareis; o mundo se alegrará; vós estareis tristes, mas a vossa tristeza se converterá em alegria. A mulher, quando está para dar à luz, sente tristeza, porque é chegada sua hora; mas, depois de ter dado à luz a criança, já não se lembra da aflição, pelo prazer de haver nascido um homem no mundo. Assim também vós agora, na verdade, tendes tristeza; mas, outra vez vos verei, e vosso coração se alegrará, e vossa alegria ninguém tirará.” Jo 16;20 a 22
Sobre a tristeza dos eventuais errantes disciplinados pelo Senhor A Palavra acena com a mesma ideia: “Na verdade, toda a correção, ao presente, não parece ser de gozo, senão de tristeza; mas depois produz um fruto pacífico de justiça nos exercitados por ela.” Heb 12;11
O Salmista se mostrara agradecido pela disciplina, dados os frutos; “Antes de ser afligido andava errado; mas agora tenho guardado Tua Palavra... Foi-me bom ter sido afligido, para que aprendesse Teus Estatutos.” Sal 119;67 e 71
A disciplina da perspectiva correta é uma declaração de amor; “Porque o Senhor corrige o que ama, e açoita qualquer que recebe por filho. Se suportais a correção, Deus vos trata como filhos; porque, que filho há a quem o pai não corrija?” Heb 12;6 e 7
Contudo, não nos convém um apreço superficial do preceito: “Bem aventurados os que choram, porque serão consolados.” Como se, tristeza e choro em si, trouxessem embutido, necessariamente, algum mérito ou crédito perante Deus. No contexto se aventa de fome e sede de justiça, bem como perseguições por causa do Nome de Jesus. Chorar nesse contexto é agradável a Deus.
Paulo depois de saber que certa exortação que escrevera à igreja em Corinto causara grande pranto de arrependimento entre eles, fez a necessária distinção entre dois tipos de tristeza antagônicos: “Porquanto, ainda que vos contristei com minha carta, não me arrependo, embora já me tivesse arrependido por ver que aquela carta vos contristou, ainda que por pouco tempo. Agora folgo, não porque fostes contristados, mas porque fostes contristados para arrependimento; pois fostes contristados segundo Deus; de maneira que por nós não padecestes dano em coisa alguma. Porque a tristeza segundo Deus opera arrependimento para salvação, da qual ninguém se arrepende; mas a tristeza do mundo opera a morte.” II Cor 7;8 a 10
A tristeza mundana geralmente é subproduto de paixões naturais contrariadas; contudo, tristezas segundo Deus, muitas derivam das boas escolhas que fazemos e causam estranheza em ambiente hostil ao Santo. “Porque é bastante que no tempo passado da vida fizéssemos a vontade dos gentios, andando em dissoluções, concupiscências, borrachices, glutonarias, bebedices e abomináveis idolatrias; eles acham estranho não correrdes com eles no mesmo desenfreamento de dissolução, blasfemando de vós.” I Ped 4;3 e 4
Embora o mundo ímpio cante loas à diversidade e tolerância, não tolera que creiamos diverso dele; que derivemos nossas escolhas sociais à partir da Palavra de Deus, não dos costumes em voga. Essa diferença sempre nos fará confrontar em temas como aborto, homossexualismo, drogas, ecumenismo, etc.
Nosso porte em Cristo incomoda-os como se fosse uma denúncia contra eles. Por nossa ótica, a dor de conviver compromissados com justiça e verdade num mundo injusto e mentiroso nos deixa meio como Ló em Sodoma: “Porque este justo, habitando entre eles, afligia todos os dias sua alma justa, vendo e ouvindo sobre suas obras injustas.” II Ped 2;8
Além das dores circunstantes, nossas próprias misérias pulsam na carne corrupta e devem ser diuturnamente mortificadas na cruz. Essas “boas apertadas” só descalçaremos ao passar para eternidade.
Nas bodas em Caná se disse que homens põem primeiro o vinho bom; o ordinário por último. Para convivas bêbados tanto faz.
Pois, O Eterno coloca primeiro a cruz, dores e aflições; para que, O Homem de Dores nos infunda Sua têmpera; resistidas, na Eternidade, o sumo da nossa regeneração será o doce vinho da correspondência ao Seu Amor. Então, “Deus limpará de seus olhos toda lágrima; não haverá mais morte, nem pranto, clamor, nem dor; porque já as primeiras coisas são passadas.” Apoc 21;4
“E ele disse: Ouvi a tua voz soar no jardim, e temi, porque estava nu, e escondi-me.” Gen 3; 10
Nessa
estreia do mal na vida de Adão se pode vislumbrar algo bom ainda.
Mesmo tendo se feito indigno de Deus, tinha ciência disso. Ao invés de
sair em passeata com sua consorte exigindo seu direito à diversidade
moral, ciente de seu erro, tentou evadir-se da face de Deus.
Não pode ser diferente disso; a presença do Santo, ante um ser pecador,
necessariamente gerará temor, insegurança, contrição. Aqui, aliás,
pecam gravemente os “animadores” de plateia que tomam os púlpitos
modernos. Buscam gerar entretenimento, diversão, bem estar.
Ora, se são
de fato, expoentes de Deus, suas mensagens deveriam nos deixar mal, uma
vez que somos pecadores, ao invés de fazer nos sentirmos melhor.
A Palavra pregada nunca divertiu ninguém; ou produziu temor e
arrependimento, ou, violenta oposição. Afinal, ela é invasiva, ousada.
Labora para destronar um rei falso, falido, chamado ego, e entronizar ao
Rei dos Reis. Isso não é divertido, antes, crítico.
Vejamos
alguns exemplos de reação à Palavra: “E, ouvindo eles isto
compungiram-se em seus corações, e perguntaram a Pedro e aos demais
apóstolos: Que faremos, homens irmãos?” Atos 2; 37 “E, ouvindo eles
isto, se enfureciam, e deliberaram matá-los.” Atos 5; 33 “E, ouvindo
eles isto, enfureciam-se em seus corações, e rangiam os dentes contra
ele.” Atos 7; 54
Paulo,
por sua vez, enviou uma carta com dura reprimenda à igreja de Corinto
que estava acobertando pecados, e isso fez um “estrago”, dada a tristeza
que causou, mas, sarou a igreja.
Sabedor disso, ele escreveu:
“Porquanto, ainda que vos contristei com a minha carta, não me
arrependo, embora já me tivesse arrependido por ver que aquela carta vos
contristou, ainda que por pouco tempo. Agora folgo, não porque fostes
contristados, mas porque fostes contristados para arrependimento; pois
fostes contristados segundo Deus; de maneira que por nós não padecestes
dano em coisa alguma. Porque a tristeza segundo Deus opera
arrependimento para a salvação, da qual ninguém se arrepende; mas a
tristeza do mundo opera a morte.” II Cor 7; 8 a 10
Grande
parcela da igreja moderna teme a crítica, quando deveria estar
preparada até para a perseguição. De minha parte, não estou preocupado
em adequar a mensagem à linguagem da moda, ao “politicamente correto”.
O
Evangelho é parcial? É. Vem da parte de Deus. É fundamentalista? É.
Recusa terminantemente outro fundamento que não seja Cristo e Sua
Palavra. É radical? Totalmente; coloca-se como único caminho para Deus, o
que torna qualquer pretensa alternativa, uma fraude. É intolerante? Com
o pecado, é.
Afinal, labora para apresentar o pecador ante um Ser que é
“… tão puro de olhos, que não podes ver o mal, e a opressão não podes
contemplar…” Hab 1; 13
Portanto
não estranho à rejeição violenta de certos setores; estranharia, aliás,
se O Santo passeasse pelo jardim e o Adão culpado lhe desse boas
vindas.
Claro que meu anelo é que todos os pecadores se deixem persuadir
pelo Espírito e pela Palavra, reconciliando com Deus. Mas, a grande
maioria, infelizmente, prefere pelejar pela implantação do nudismo, a
reconhecer-se em falta para com o Criador.
As
alternativas são simples: Ou andamos segundo Deus, em temor reverente, o
“princípio da sabedoria”, ou, endeusamos nossas opiniões e
preferências, que Salomão chamou de “sábio aos próprios olhos”. E
destes, aliás, não falou de forma elogiosa. “Tens visto o homem que é
sábio aos próprios olhos? Pode-se esperar mais do tolo do que dele.”
Prov 26; 12
Laboremos,
pois, com fidelidade, mesmo que sejamos “desmancha-prazeres” com nossa
mensagem; afinal, os que forem sanados por ela, com tristeza em
princípio, se alegrarão depois, na Paz de Deus. “E, na verdade, toda a
correção, ao presente, não parece ser de gozo, senão de tristeza, mas
depois produz um fruto pacífico de justiça nos exercitados por ela.” Heb
12; 11
Pecadores
“plantarão” seu arrependimento com lágrimas, e ceifarão a salvação com
gozo. “Aquele que leva a preciosa semente, andando e chorando, voltará,
sem dúvida, com alegria, trazendo consigo os seus molhos.” Sal 126; 6