“Mas eles
bradaram: Tira, tira, crucifica-o. Disse-lhes Pilatos: Hei de crucificar o
vosso Rei? Responderam os principais dos sacerdotes: Não temos rei, senão
César.” Jo 19;15
César,
imperador romano era cabeça de um reino que oprimia e dominava Israel, cobrando
pesados tributos, a ponto de, um judeu trabalhar para o império cobrando
impostos de seus compatriotas ser considerado grave pecado, daí, o desprezo que
sofriam os publicanos.
Contudo, no
julgamento de Jesus disseram eles que preferiam o domínio de César. O que havia
no Senhor que o fazia tão detestável a ponto de os líderes judeus preferirem a
tirania de Roma?
Segundo
vaticinara Isaías, parece que o lapso era estético: “...não tinha beleza nem
formosura, olhando nós para ele, não havia boa aparência nele, para que o
desejássemos.” Is 53;2 Embora não haja maiores referências físicas sobre O
Salvador, exceto que, “crescia em estatura e em graça perante Deus e os homens”,
a simples omissão de lapsos físicos demonstra que era Ele um homem normal. A falta
de atrativos derivava de Seus ensinos, não, de atributos físicos, até porque, a
esses ( os ensinos ) o profeta mencionara, antes, da “feiura” do Messias. “Quem
deu crédito à nossa pregação...?”
Assim, a
doutrina do Mestre soava sem atrativos aos judeus, não, Sua aparência. Porém,
tão desprezível a ponto de preferirem César? Por quê?
Se atentarmos
para Isaías uma vez mais, veremos que não pretendeu narrar a “coisa em si” como
diriam os filósofos, mas, a coisa para si. Noutras palavras: Não, quem, de fato,
era, O Senhor, mas, como seria aquilatado por seus ouvintes. Afinal, algo pode
ser reputado mau, por ser, deveras, mau, ou, pela inépcia do avaliador.
O mesmo Senhor
aludiu à importância da percepção apurada, para usufruto da luz espiritual. “A
candeia do corpo são os olhos; de sorte que, se os teus olhos forem bons, todo
teu corpo terá luz; se, porém, teus olhos forem maus, teu corpo será tenebroso. Se, portanto, a luz
que em ti há são trevas, quão grandes serão tais trevas!” Mat 6;22 e 23
Acho que começamos
a entender porque César assustava menos que O Salvador. João introduz sua
narrativa colocando Jesus como opositor diametral dos seus ouvintes, diz: “A
luz resplandeceu nas trevas, e as trevas não a compreenderam.” Jo 1;5
Com o Império
Romano a coisa tinha certa harmonia. Malgrado os extorsivos tributos, havia
concessões, como liberdade de culto segundo a crença judaica. O Senhor, por Sua
vez, denunciou a hipocrisia de uma religião puramente formal, aparente, sem
nenhuma essência, incapaz de agradar a Deus. Além disso, operou grandes sinais,
que corroboravam Sua autoridade espiritual para contradizer doutrinariamente
aos que se diziam doutores e mestres em Israel.
César não era
ameaça ao “status quo”, pois, apesar dele, as coisas “iam bem”. Na verdade,
desde que a humanidade passou a decidir por si mesma o bem e o mal, por
sugestão de satanás, o bem passou a ser o comodismo, conforto, mesmo que
conduza à perdição; o mal, correção, disciplina, não obstante, aja em prol da
salvação.
Basta
refletirmos uns segundos para vermos a massacrante vantagem numérica dos que
preferem “César” aos ensinos do Salvador, mesmo, hoje.
Apesar dos
pesados tributos de uma consciência culpada, as pessoas preferem a servidão no
reino falido do pecado, uma liberdade condicional eventual, que é mera
preliminar da prisão eterna, à cruz de Cristo que, mesmo tolhendo facilidades
circunstanciais, reconcilia com Deus, silencia a consciência em paz, e permite
a contemplação do Senhor como, de fato É, não, como parece aos maus olhos. “Dai
ao Senhor a glória devida ao seu nome, adorai o Senhor na beleza da santidade.”
Sal 29;2
O mais grave
dessa perversão é que as pessoas dão a César o que não é dele; digo, ao escolherem
as conveniências egoístas, carnais, não é isso estritamente, que escolhem.
Antes, o domínio do “rei” alternativo que sugeriu independência humana invés da
submissão a Deus. No fundo, ele é que está por trás de “César”, tipo de toda
escolha comodista, indiferente ao Amor Divino.
O verniz
hipócrita que compartilha nas redes sociais palavras bonitas e alugadas, não
basta para disfarçar vidas feias, nem diante de homens com certo discernimento,
quiçá, diante de Deus. Na verdade, podemos ser inimigos da Cruz de Cristo
fazendo poesias e os mais belos encômios sobre ela.
Pilatos,
então, representante de César lavou suas mãos hipocritamente enquanto fazia a escolha
mais fácil ante Jesus. Quem avalia a aprovação humana como mais importante que
a Divina, facilmente empresta seus lábios para “glorificar” a Jesus, enquanto
seu coração clama por César. Quem não consegue ver feiura no pecado nunca verá
a Beleza do Salvador; luz e trevas não coabitam.