“Porque na muita sabedoria há enfado; o que aumenta em
conhecimento, aumenta em trabalho.” Ecl 1;18
Salomão, de certa forma deplorando à sabedoria, da qual, dissera
ser, vaidade, aflição de espírito. A própria, ensina que, não causa-nos aflição,
ver as coisas nos devidos lugares, antes, seu oposto. Vaidade pressupõe um
esforço, uma empresa que não terá resultados úteis, quiçá, os terá pífios,
insignificantes, em face ao esforço demandado.
Ver as coisas fora do lugar o afligia, diante da perspectiva de que
se não poderia mudar isso. “Aquilo que é torto não se pode endireitar; aquilo
que falta não se pode calcular.” “Atenta para a obra de Deus; quem poderá
endireitar o que ele fez torto?” Ecl 1;15 e 7;13
Teria Deus, feito algo imperfeito de modo que a sabedoria humana
pudesse identificar? De quais imperfeições estaria falando? Jó perguntara: “Quem
do imundo tirará o puro? Ninguém.” Dissera. Jó cap 14;4
Porém, Salomão viu uma depuração possível; “Tira da prata as
escórias, e sairá vaso para o fundidor;” Prov 25;4 Assim, o que Deus “fizera
torto” seria uma mescla de virtude com vício, de boas com más inclinações, figuradas
como prata entre escórias.
O que Deus “fez de mal” foi dar absoluta liberdade às Suas criaturas,
e mesmo sendo contra Sua Vontade o advento do pecado no mundo, foi Seu desejo
amoroso, deixar ao homem a possibilidade de pecar, para que, eventual
obediência fosse voluntária, não, automática. Da livre vontade humana, “encorajada”
o concurso das escórias, que inquietavam o sábio.
No fundo, todos temos sabedoria que possibilita vermos as coisas
como são; entretanto, quando más, conosco abrigadas, são dolorosas; tendemos a
desviar o foco para onde dói menos, quiçá, dá certo prazer. “Temos olhos de
lince para erros alheios, de toupeiras para os nossos”, como disse Erasmo de
Roterdã.
Assim, identificar as escórias demanda a graça de Deus, como
fizera ao dar sabedoria a Salomão. A nós, mediante o “Novo nascimento” permite
que vejamos a “trave no nosso olho” antes, do cisco no alheio. Mais; permite
suportarmos à Palavra de Cristo, coisa que se revela impossível, a quem não é
capacitado pelo Espírito Santo. “Mas quem suportará o dia da sua vinda? Quem
subsistirá, quando ele aparecer? Porque ele será como o fogo do ourives, como
sabão dos lavandeiros. Assentar-se-á como fundidor, purificador de prata; purificará
os filhos de Levi, refinará como ouro e como prata; então, ao Senhor trarão
oferta em justiça.” Mal 3;2 e 3
A mesma moléstia, antes referida, de ver melhor os erros alhures,
que em nós, leva certos “teólogos” a relativizarem A Palavra, alterarem o que O
Altíssimo disse, para não adequarem suas vidas, ao Preceito Eterno. Isaías os
viu: “A terra está contaminada por causa dos seus moradores; porquanto têm
transgredido as leis, mudado os estatutos, quebrado a aliança eterna. Por isso,
a maldição consome a terra...” Is 24;5 e 6
Paulo apóstolo sofreu quando viu em si mesmo a mescla de prata com
escórias, desabafou: “Sabemos que a lei é espiritual; mas, eu sou carnal,
vendido sob o pecado. O que faço não aprovo; o que quero, não faço, mas, o que
aborreço, faço. Se faço o que não quero, consinto com a lei, que é boa. De
maneira que agora já não sou eu que faço isto, mas, o pecado que habita em mim.
Porque sei que em mim, isto é, na minha carne, não habita bem algum; com efeito,
querer está em mim, mas, não consigo realizar o bem. Porque não faço o bem que
quero, mas, o mal que não quero. Ora, se eu faço o que não quero, já não faço
eu, mas, o pecado que habita em mim. Acho então esta lei em mim, que, quando
quero fazer o bem, o mal está comigo.” Rom 7;14 a 21
Tal “ciência” nos dá trabalho, pois, quem consegue ver essas
escórias todas deve lutar contra elas em si mesmo; no aspecto ministerial, ser,
à medida do possível, agente iluminador, para que outros vejam melhor também.
Contudo, se nos dias de Salomão não havia perspectiva de se poder endireitar o
que Deus “fez torto”, Paulo vislumbrou Uma Luz, no túnel sombrio da revelação: “Dou
graças a Deus por Jesus Cristo, nosso Senhor. Assim, que, eu mesmo, com o
entendimento sirvo à lei de Deus, mas, com a carne à lei do pecado.” Rom 7;25
A natureza espiritual regenerada por Cristo, permite andar segundo
o Espírito, que endireita o que a carne pecaminosa entorta. “Portanto, agora
nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus, que não andam segundo
a carne, mas, segundo o Espírito.” Rom 8;1 O que fora aflição de espírito, Deus
converteu em vida no Espírito.