sábado, 29 de junho de 2024

Dias maus


“Lembra-te também do teu Criador nos dias da tua mocidade, antes que venham os maus dias, e cheguem os anos dos quais venhas a dizer: Não tenho neles contentamento;” Ecl 12;1

Não seria mais fácil, alguém “dedicar-se” a Deus nos seus dias maus, que nos bons? A coerência coloca uma pulga atrás da orelha, um questionamento se, privados pelo tempo, do melhor dos nossos dons, não nos aproximaríamos de Deus, de modo casuísta, oportuno, numa demanda egoísta por socorro, não, por desejo de servir.

Se, no auge de nossa força nos entregarmos à dissolução, como o filho pródigo, não significa que O Pai baterá a porta na nossa cara, voltando-nos, arrependidos, para Ele. Antes, receberá ao suplicante, como fez o pai daquele. Para o amor Divino, salvar alguém “nos acréscimos” como fez com o ladrão na cruz, faz parte do Seu Bendito Ser; Deus É Amor. Como as obras não contam para salvação, mas a fé no Feito de Cristo, quem crê, de coração, mesmo que, no último instante, será salvo.

O questionável é se, tendo alguém vivido na esbórnia nos dias de sua juventude, endurecido o coração no tocante a Deus, entortado a “boca” da alma com o “cachimbo” dos vícios, nos dias em que não tiver mais esse contentamento, volte-se para uma direção que sempre desprezou.

Há uma tendência para certa repetição, nas coisas naturais. “Nasce o sol e se põe, apressa-se e volta ao seu lugar de onde nasceu. O vento vai para o sul, faz o seu giro para o norte; continuamente vai girando o vento, e volta fazendo os seus circuitos. Todos os rios vão para o mar, contudo, o mar não se enche; ao lugar para onde os rios vão, para ali tornam a correr.” Ecl 1;5 a 7

O aprendido em tenra idade se torna parte do ser que acompanha aos dias futuros; “Porventura pode o etíope mudar sua pele, ou o leopardo suas manchas? Então podereis fazer o bem, sendo ensinados a fazer o mal.” Jr 13;23

Há urgente importância de sermos dirigidos nas veredas da virtude desde a infância, para que isso molde-nos, para os dias maduros; “Instrui o menino no caminho em que deve andar; até quando envelhecer, não se desviará dele.” Prov 22;6

Se, de coração tenro, alguém foi avesso aos clamores do Divino amor, quando o mesmo coração estiver endurecido, petrificado pela resiliência nos pecados, é pouco provável que se deixe encontrar. Para nosso hipotético pródigo, os dias maus tendem a ser muito maus.

Infelizmente não são todos que têm oportunidade de encontrarem-se com Deus, na juventude. Nessa enganosa idade, tudo parece fácil; quanto mais desafiador, melhor. Tanta adrenalina a pulsar, por que “perder tempo” com exercícios espirituais?

O pensador “tirou as cordas dos jovens; depois, advertiu-os do risco de serem “livres”; “Alegra-te, jovem, na tua mocidade, recreie-se teu coração nos dias da tua mocidade, anda pelos caminhos do teu coração, pela vista dos teus olhos; sabe, porém, que por todas estas coisas te trará Deus a juízo.” Ecl 11;9

Inegável, que vivemos um tempo de parcas referências espirituais; há mais mercenários, egoístas, que servos de Deus de testemunhos exemplares no horizonte comum. Toda hora um “famoso”, pregador, cantor, é exposto em seu viver miserável, onde, como Esaú, trocou sua “primogenitura” a intimidade com Deus, por um prato de “lentilhas”, a punção dos apetites rasos deveria ter sido tratada na cruz, não, na alcova.

Se, dentre dez expoentes, sete tiverem um bom andar, e três, causarem escândalo, esses três serão “apreciados” enquanto os outros, esquecidos; quando não, medidos com a mesma régua que os que desonraram a sublime chamada ministerial.

Assim como, cada um particular tem seus “dias maus”, tempo em que fraquejam os sentidos físicos, a Igreja também os tem, pela desordenada infiltração de gente indigna que emporcalha às coisas santas.

Paulo advertiu: “nos últimos dias sobrevirão tempos trabalhosos. Porque haverá homens amantes de si mesmos, avarentos, presunçosos, soberbos, blasfemos, desobedientes a pais e mães, ingratos, profanos, sem afeto natural, irreconciliáveis, caluniadores, incontinentes, cruéis, sem amor para com os bons, traidores, obstinados, orgulhosos, mais amigos dos deleites que de Deus, tendo aparência de piedade, mas negando sua eficácia. Destes afasta-te.” II Tim 3;1 a 5

Conversões genuínas são pouco encontráveis, infelizmente. Quem lembrou do Criador em tempo, fez na própria alma, o “bom depósito”, vive seu “albinismo”, rejeitado, mesmo nos ambientes “santos”.

A tendência dos jovens é buscar prazeres naturais. Quem ainda ousar nas coisas espirituais, descobrirá prazeres que escapam à carne, de origem sobrenatural. Invés de se incomodar com o tédio, exercitará sua “radicalidade” na escalada rumo à santificação. “Com que purificará o jovem o seu caminho? Observando-o conforme Tua Palavra.” Sal 119;9

sexta-feira, 28 de junho de 2024

Os fiéis e os oportunistas


“Filho do homem, estes homens levantaram seus ídolos nos seus corações, o tropeço da sua maldade puseram diante da sua face; devo Eu, de alguma maneira ser interrogado por eles?” Ez 14;3

Viviam cultuando aos ídolos da sua predileção, alienados do Eterno e Seus preceitos. Todavia, em momentos de crise, de ameaças contra o sossego, pretendiam vir ao profeta do Senhor, então, Ezequiel, e através dele, consultarem ao Eterno sobre suas ansiedades.

O Senhor falou as palavras acima, deixando ver que, Ele não se deixa usar assim, pela maldade e o cinismo de gente espiritualmente obscena. Em horas amenas, cada um segue do seu jeito, alheio a Mim; em tempos de angústia pretendem que Eu lhes sirva por defesa?

Sempre foi assim, infelizmente. No usufruto de saúde, poder, fazem as coisas como lhe dão na telha; em momentos de enfermidade mortal, infortúnio, “Deus”. Hugo Chavez, o finado ditador venezuelano fazia e acontecia contra vidas e direitos alheios de quem se lhe opunha; visitado por um câncer mortal, se dizia, “convalesciendo con Cristo.” Se tivesse vivido com ele, certamente teria Sua ajuda.

Mesmo que morresse, o faria em paz com Ele e com os semelhantes. Não foi o caso.

Nós que tentamos reparar o telhado em dias de tempo bom, somos tidos por fanáticos, fundamentalistas, quando não, expositores de discursos de ódio. Afinal, Deus seria como um pneu reserva, para emergências apenas; será? Em horas de calmaria, por que perturbar às pessoas, com nossa mania de levar A Palavra, tão a sério?

O Criador pretende ser mais que lenitivo nas horas difíceis; “Confia no Senhor de todo teu coração, não te estribes no teu próprio entendimento. Reconhece-o em todos os teus caminhos, Ele endireitará tuas veredas. Não sejas sábio aos teus próprios olhos; teme ao Senhor e aparta-te do mal.” Prov 3;5 a 8

“Eu sei, ó Senhor, que não é do homem o seu caminho; nem do homem que caminha, dirigir os seus passos.” Jr 10;23

Ainda que Ele seja, “socorro bem presente nas angústias”, pretende estar presente em nossas horas de paz. Quem O “teme” apenas nas emergências, não O conhece. De Levi, O Senhor disse: “Minha Aliança com ele foi de vida e paz; Eu as dei para que temesse; então temeu-me, assombrou-se por causa do Meu Nome.” Ml 2;5 Não careceu uma enfermidade, uma calamidade para que temesse ao Eterno. O Santo Nome bastou.

Os ensinos do Eterno são diretrizes para pautar nosso viver, em todos os dias; sejam ensolarados ou, tempestuosos. Quem devaneia com uma relação “utilitária”, engana a si mesmo, privando-se dos cuidados amorosos do Pai; por sua aversão à disciplina, que visa “compensar” com religiosidade cínica e oportuna, nos seus momentos soturnos.

Deus, malgrado seja Criador, e de nada careça, porque nos ama, toma iniciativa em nos buscar mediante Sua Palavra. “A sabedoria clama lá fora; pelas ruas levanta sua voz. Nas esquinas movimentadas ela brada; nas entradas das portas, nas cidades profere suas palavras: Até quando, ó simples, amareis a simplicidade? Vós escarnecedores, desejareis o escárnio? Vós insensatos, odiareis o conhecimento?” Prov 1;20 a 22

Esse “até quando” busca pelo termo da loucura humana; Einstein dizia: “Duas coisas são infinitas; o universo e a estupidez humana; não estou muito certo, quanto ao universo.”

Embora, a longanimidade Divina, a Santa Paciência uma hora se cansa de chamar os errados ao arrependimento; “... porque clamei e recusastes; estendi Minha Mão e não houve quem desse atenção, antes rejeitastes todo Meu conselho, não quisestes a minha repreensão, também de Minha parte rirei na vossa perdição e zombarei vindo vosso temor. Vindo o vosso temor como a assolação, e vossa perdição como uma tormenta, sobrevirá a vós aperto e angústia. Então clamarão a Mim, mas Eu não responderei; de madrugada Me buscarão, porém não Me acharão.” Prov 1;24 a 28

Assim, voltamos ao caso dos oportunistas dos dias de Ezequiel. Sua alienação nas horas de calmaria, os colocava alheios, em seus pretensos clamores, nas angústias.

Não significa que o fiel não sofra enfermidades, calamidades, etc. Está sujeito às mesmas coisas que todos. Mas, por ter uma relação sadia com O Criador, certamente terá o socorro Nele, seja para o sarar, seja, para permitir repousar em paz. Há casos em que a morte é mais desejável que a cura; Deus, que sabe todas as coisas, certamente escolhe o melhor para os Seus.

Leva a liberdade humana às últimas consequências; permite que cada um creia, expresse, o que quiser. Porém, quando as consequências das escolhas forem danosas, deixa que as recebamos também.

Ama a pureza. Misturas religiosas estão fora do Seu conselho; “... Preparai para vós o campo de lavoura, não semeeis entre espinhos.” Jr 4;3

quinta-feira, 27 de junho de 2024

As Alianças


“Sai da tua terra, da tua parentela e da casa de teu pai, para a terra que Eu te mostrarei.” Gn 12;1
“... Arrependei-vos, porque é chegado o Reino dos Céus.” Mat 3;2

Na primeira abordagem, a chamada a Abrão, para que deixasse tudo, indo após Deus, a uma terra que Ele lhe mostraria. Embora, fosse O Eterno a chamar, se tratava de assuntos da terra. O Criador anelava criar aqui, um povo para Si que lhe fosse propriedade peculiar, e O representasse diante dos demais. “Agora, pois, se diligentemente ouvirdes Minha Voz e guardardes Minha Aliança, então sereis Minha propriedade peculiar dentre todos os povos, porque toda Terra é Minha.” Ex 19;5

Isso foi dito algumas gerações adiante ao povo que derivara da promessa Divina a Abrão, que teve seu nome mudado para Abraão, porque, vocacionado em Deus, e ser pai de muitos povos.

Mateus apresentou um rol de gerações dede Abraão, até chegar a José, pai adotivo de Jesus Cristo. Resumiu sua lista assim: “De sorte que todas as gerações, desde Abraão até Davi, são catorze gerações; de Davi até a deportação para a babilônia, catorze gerações; da deportação para Babilônia até Cristo, catorze gerações.” Mat 1;17

Através de Jesus Cristo, enfim, foi cumprida a promessa de muitos povos descendendo de Abraão. Uma descendência, agora, espiritual. Paulo ensina: “Ora, tendo a Escritura previsto que Deus havia de justificar pela fé os gentios, anunciou primeiro o Evangelho a Abraão, dizendo: Todas as nações serão benditas em ti. De sorte que os que são da fé são benditos com o crente Abraão.” Gál 3;8 e 9

Adiante, explica: “As promessas foram feitas a Abraão e sua descendência. Não diz: Às descendências, como falando de muitas, mas como de uma só: À tua descendência, que é Cristo.” V 16

Se, a chamada a Abrão, atinava a estabelecer uma nação sobre a terra, a mensagem de Cristo, desde Seu precursor, João Batista, atina para um alvo mais alto; “Arrependei-vos porque é chegado O Reino dos Céus!”

O povo eleito recusou-se a produzir os frutos que O Eterno desejava. Isaías alegorizou: “Que mais se podia fazer à Minha vinha, que Eu não tenha feito? Por que, esperando que desse uvas boas, veio a dar uvas bravas?” Is 5;4

Depois, explicou: “A vinha do Senhor dos Exércitos é a casa de Israel, os homens de Judá são a planta das suas delícias; esperou que exercesse juízo, eis aqui opressão; justiça, eis aqui clamor.” V 7

Certamente, num contraponto Divino à videira degenerada, O Salvador disse: “Eu Sou a videira verdadeira, Meu Pai É O Lavrador. Toda a vara em Mim, que não dá fruto, tira; limpa toda aquela que dá fruto, para que dê mais.” Jo 15;1 e 2

Inegável que, o “povo eleito”, são os hebreus, descendentes de Abraão. Mas, ante a superioridade do elo espiritual sobre o carnal, esse, perde relevância em função daquele, como disse com duro linguajar, João Batista: “Não presumais, de vós mesmos, dizendo: Temos por pai a Abraão; porque Eu vos digo que, mesmo destas pedras, Deus pode suscitar filhos a Abraão.” Mat 3;9

Se eles, na Antiga Aliança tiveram o privilégio e a reponsabilidade de representar Deus, em Cristo, essas coisas pertencem a todos. “Mas vós sois a geração eleita, o sacerdócio real, a nação santa, povo adquirido, para que anuncieis as virtudes Daquele que vos chamou das trevas para Sua maravilhosa luz; vós, que noutro tempo não éreis povo, mas agora sois povo de Deus; que não tínheis alcançado misericórdia, mas agora alcançastes misericórdia.” I Ped 2;9 e 10

Se aqueles, produzindo frutos indesejáveis a Deus, foram rejeitados, mesmo como menos informações, e sem o auxílio do Espírito Santo, que temos, como será conosco, caso, caiamos no mesmo erro? “Porque a terra que embebe a chuva, que muitas vezes cai sobre ela, e produz erva proveitosa para aqueles por quem é lavrada, recebe a bênção de Deus; mas a que produz espinhos e abrolhos, é reprovada, perto está da maldição; seu fim é ser queimada. Mas de vós, ó amados, esperamos coisas melhores, coisas que acompanham a salvação, ainda que assim falamos.” Heb 6;7 a 9

A questão à qual devemos responder, inquieta: “Porque, se a palavra falada pelos anjos permaneceu firme, toda a transgressão e desobediência recebeu a justa retribuição, como escaparemos nós, se não atentarmos para uma tão grande salvação, a qual, começando a ser anunciada pelo Senhor, foi-nos depois confirmada pelos que ouviram?” Heb 2;2 e 3

“Vede que não rejeiteis ao que fala; porque, se não escaparam aqueles que rejeitaram o que na terra os advertia, muito menos nós, se nos desviarmos Daquele que É dos Céus;” Heb 12;25

terça-feira, 25 de junho de 2024

A dor de viver


“Porque a nossa leve e momentânea tribulação produz para nós um peso eterno de glória mui excelente;” II Cor 4;17

Quais foram os sofrimentos de Paulo por amor a Cristo, aos quais, chamou de leve e momentânea tribulação? Um pouco, narrou:

“Recebi dos judeus cinco quarentenas de açoites menos um. Três vezes fui açoitado com varas, uma vez fui apedrejado, três vezes sofri naufrágio, uma noite e um dia passei no abismo; em viagens muitas vezes, em perigos de rios, de salteadores, dos da minha nação, dos gentios, na cidade, no deserto, no mar, em perigos entre os falsos irmãos; em trabalhos e fadiga, em vigílias muitas vezes; fome, sede, jejum muitas vezes, frio e nudez. Além das coisas exteriores, me oprime cada dia o cuidado de todas as igrejas.” Cap 11;24 a 28

Tendo sofrido essas coisas, valorou-as como leve e momentânea tribulação; no verso seguinte explicou: “Não atentando nós nas coisas que se vê, mas nas que se não vê; porque as que se vê são temporais, as que se não vê são eternas.” V 18

Vendo nossas dores apenas da perspectiva terrena, duvidaremos da sapiência de servirmos a Jesus Cristo. Dado que, os que levam as vidas às suas errôneas maneiras, eventualmente, não sofrem nada semelhante.

A sina dos maus, em geral parece muito melhor que a nossa. Coisa que observou Asafe; “Não se acham em trabalhos como outros homens, nem são afligidos. Por isso a soberba os cerca como um colar; vestem-se de violência como de adorno. Os olhos deles estão inchados de gordura; têm mais do que o coração poderia desejar. São corrompidos e tratam maliciosamente de opressão; falam arrogantemente. Põem suas bocas contra os Céus, suas línguas andam pela terra.” Sal 73;5 a 9

Chegou a cogitar que preservar-se na pureza tivesse sido má escolha; “Na verdade que em vão tenho purificado meu coração; lavei minhas mãos na inocência. Pois todo dia tenho sido afligido, castigado cada manhã.” Vs 13 e 14
Depois, refez: “Se eu dissesse: Falarei assim; eis que ofenderia a geração de Teus filhos.” V 15

Então, fez a leitura correta de como toda aquela prosperidade e opulência arrogantes eram efêmeras. “Até que entrei no santuário de Deus; então entendi o fim deles. Certamente Tu os puseste em lugares escorregadios; Tu os lanças em destruição. Como caem na desolação, quase num momento! Ficam totalmente consumidos de terrores.” Vs 17 a 19

Ninguém consegue fazer uma leitura acurada do propósito da vida, sem entrar no Santuário de Deus.

As dores necessárias para quem abraça a santidade num mundo que prefere o pecado, podem ser aquilatadas como “breve e momentânea tribulação,” porque são vistas tendo a eternidade como “pano de fundo”. Quem não consegue ir além do imanente, achará qualquer, frustração, mera, pontual, um sofrimento muito grande.

Por isso Paulo aconselha a “atentarmos para as coisas que não se vê”, pois, em contraponto com elas, nossas dores, por grandes que sejam, se nos mostrarão com um peso bem menor. Na eternidade nossa riqueza nos espera: “Se esperamos em Cristo só nesta vida, somos os mais miseráveis de todos os homens.” I Cor 15;19

A maturidade espiritual não prescreve que neguemos as dores que sentimos, tampouco, sejamos insensíveis à dor do próximo. Apenas, ampliando o horizonte do nosso ponto-de-vista, os dias de dores empalidecem ao gozo que está proposto.

Há uma qualidade didática nas dores, para nosso aperfeiçoamento, tanto que, O Senhor prefere passar por elas conosco, a livrar-nos; “Quando passares pelas águas estarei contigo, quando pelos rios, eles não te submergirão; quando passares pelo fogo, não te queimarás, nem a chama arderá em ti.” Is 43;2

Enfim, vida eterna, diferente do que possa pensar alguém desavisado, não é uma dádiva que receberemos após a morte; é um modo de viver a nós prescrito, que deve começar agora, ainda na fragilidade da vida terrena; “Milita a boa milícia da fé, toma posse da vida eterna, para a qual também foste chamado, tendo já feito boa confissão diante de muitas testemunhas.” I Tim 6;12

Tem sua dieta peculiar: “Desejai afetuosamente, como meninos novamente nascidos, o leite racional, não falsificado, para que por ele vades crescendo;” I Ped 2;2

Sua academia: “... exercita a ti mesmo em piedade; porque o exercício corporal para pouco aproveita, mas a piedade para tudo é proveitosa, tendo a promessa da vida presente e da que há de vir.” I Tim 4;7 e 8

Dores são inevitáveis, mas, produzirão um “peso de glória excelente”. Vida sem sofrimento, não é, necessariamente, vitoriosa; pode ser a oposição ninando nosso berço, para que sigamos dormindo. “A calmaria que te faz dormir, é mais perigosa que a tormenta que te mantém acordado.”

domingo, 23 de junho de 2024

A excelência da força


“Corroborados em toda fortaleza, segundo a força da Sua Glória, em toda a paciência, e longanimidade com gozo;” Col 1;11

Paulo escrevendo aos cristãos de Colossos, entre outras coisas, desejando essas. Que eles fossem confirmados em toda fortaleza, segundo a força da Glória de Deus.

Em geral, pensamos em força como a aptidão para fazer as coisas difíceis, que escapam aos fracos; não é errada essa ideia. Entretanto, para entendermos quais são as que nos são demandadas, precisamos algo que vai além de força; luz espiritual.

É mais difícil dominar-se, que exercitar-se em mansidão, crucificar às próprias paixões, que dominar outros. “Melhor é o que tarda em irar-se que o poderoso; o que controla seu ânimo, que aquele que toma uma cidade.” Prov 16;32

Soren Kirkegaard, o filósofo dinamarquês versou sobre dominar a muitos: “Para dominar às multidões - disse - basta conhecer as paixões humanas, certo talento e boa dose de mentiras.” 

Para ser mentiroso com conhecimento sobre as inclinações naturais, não é preciso força; com um reles talento para o engano, qualquer um arrebanha muitos; como a realidade mostra, infelizmente. Há tantos patifes que eu não receberia em minha casa, que montam verdadeiros impérios apenas com esses “dons.”

Qual tipo de força, O Senhor, através de Paulo, estava requerendo? “... a força da Sua Glória em toda paciência, e longanimidade com gozo.” Ora, a força da paciência é a capacidade de suportar; não, de fazer acontecer. A longanimidade é um paralelismo; desdobramento da mesma ideia.

Deus espera muito pela mudança dos errados de espírito; embora essa espera não perdure indefinidamente. “Estas coisas tens feito, e Me calei; pensavas que era tal como tu, mas Eu te arguirei, as porei por ordem diante dos teus olhos.” Sal 50;21 Isso contra um, que, fazendo menção de Deus, escondia muitos “esqueletos” no armário. Vivia à sua ímpia maneira, achando que o silêncio Divino significava aprovação.

O Senhor nos capacita à paciência, para que lhe sejamos imitadores. “Sede vós pois, perfeitos, como É Perfeito vosso Pai que está nos Céus.” Mat 5;48

Por isso, Paulo encorajou-nos a fazer como ele; “Sede meus imitadores, como também eu de Cristo.” I Cor 11;1

No âmbito espiritual as coisas não se desdobram como no aparente. Eventualmente, lutamos quando parece que fugimos à luta. Um dos ladrões crucificados ao lado do Senhor desejava que Ele mostrasse Seu poder, descendo da cruz, e os tirando também. Essa seria, para ele, a demonstração cabal da Força de Jesus. Aos Olhos de Deus, levar a Sua Vontade até às últimas consequências, no caso, à morte, foi a excelência, a Vitória Maiúscula do Salvador.

Aos mesmos colossenses, Paulo interpretou o significado da “não resistência” de Jesus Cristo. “Despojando os principados e potestades, os expôs publicamente e deles triunfou em Si mesmo.” Col 2;15 

A “filosofia” do Capeta, exposta no caso de Jó: “Pele por pele, tudo que homem tem, dará pela sua vida”, Jó 2;4 Foi desmentida, quando, O Filho do Homem deu Sua Vida pela observância da Vontade de Deus. Eis uma força, até então, desconhecida!

O problema que confunde aos obtusos, é que desejam nos ver lutando segundo a carne, quando o estamos fazendo, em espírito. Pois, “O homem natural não compreende as coisas do Espírito de Deus, porque lhe parecem loucura; não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente. Mas o que é espiritual discerne bem tudo, e de ninguém é discernido.” I Cor 2;14 e 15

Paulo aconselhou aos irmãos colossenses, pois, que sofressem o necessário por amor ao Senhor, “... com gozo.” 

Não se trata de masoquismo; que tenhamos algum prazer com a dor. Antes, que devemos ter em mente, quão honroso é, sofrermos pela nossa identificação com O Homem de Dores, que sofreu por nós; como fizeram os apóstolos quando açoitados por isso. “Retiraram-se, pois, da presença do conselho, regozijando-se de terem sido julgados dignos de padecer afronta pelo Nome de Jesus.” Atos 5;41

Se a resiliência deles em defesa da verdade provocou a fúria da oposição, isso significava que estavam no caminho certo. Pedro aconselhou que imitemos àquelas pisadas: “Porque é coisa agradável, que alguém, por causa da consciência para com Deus, sofra agravos, padecendo injustamente.” I Ped 2;19

Invés da capacidade para vingarmos uma injustiça, sofrermos à mesma, sem permitirmos que nossa confiança no Justo Juiz seja abalada; eis a força que nos foi dada, na qual, devemos nos exercitar!

Enfim, “cristãos” que “não levam desaforos para casa”, certamente precisam avaliar com honestidade, para ver se Cristo está nas suas casas. Se Ele, tão esplêndido, não aparecer no seu modo de agir, talvez nem esteja; pois, “... não se pode esconder uma cidade edificada sobre um monte;” Mat 5;14

sábado, 22 de junho de 2024

Quem tem olhos, ouça!


“Todos os caminhos do homem são puros aos seus olhos, mas O Senhor pesa o espírito.” Prov 16;2

Dois pontos distintos de aferição; os olhos do próprio homem, e o espírito, ao apreço Divino. O fato da segunda parte começar com um, “mas”, já implica que a “pureza” vista na primeira, carece ser revista.

Tendemos a ser lenientes conosco, dando às nossas vontades um peso de legitimidade, justiça. O Eterno não sofre ataques das paixões como nós; vê as coisas exatamente como são.

Por isso, o conselho: “Confia no Senhor de todo teu coração, não te estribes no teu próprio entendimento. Reconhece-o em todos os teus caminhos, Ele endireitará tuas veredas. Não sejas sábio aos teus próprios olhos; teme ao Senhor e aparta-te do mal.” Prov 3;5 a 7

Através de Jeremias, denunciou: “Enganoso é o coração, mais que todas as coisas, e perverso; quem o conhecerá? Eu, O Senhor, esquadrinho o coração e provo os rins; isto para dar a cada um segundo seus caminhos, segundo o fruto das suas ações.” Jr 17;9 e 10

Quando escuto alguém aconselhando que se faça algo com todo coração, eventualmente penso: Que tipo de coração? Sinceridade não basta; carecemos pureza de motivação.

Outrora alguém versou, meio que, em tom de ironia, “Me engana que eu gosto”, a rigor, fez uma confissão sincera. Assim é o homem natural. Prefere o engano “saboroso”, ao encontro com o veraz, que atina à justiça, mais que ao paladar.

Ao filosofar nos botecos da vida, que “as aparências enganam”, o ser humano está tentando diluir sua responsabilidade. A vontade divorciada do Divino querer nos trapaceia. Mesmo assim, não raro, preferimos essa, como se o fato de algo nos parecer aprazível, e “ter” que ser verdade, o tornasse verdadeiro. Nesse caso, o ser humano engana a si mesmo.

Então, quando A Palavra concede, meio irônica, que andemos secundando às escolhas dos olhos, depois adverte que os espíritos serão “pesados”. “... anda pelos caminhos do teu coração, pela vista dos teus olhos; sabe, porém, que por todas estas coisas te trará Deus a juízo.” Ecl 11;9

Pelo engano precisar vistosos carros alegóricos, deveria ser bastante para fazer o homem prudente desconfiar. “quando a promessa é demais, - dizem – o santo desconfia.” Pena que tantos “santos” mergulhem, fiados pelo próprio desejo a despeito da falta de idoneidade de quem as faz.

Dessa doença a fortuna dos falsos profetas e dos políticos. A diferença entre uns e outros é que, os “profetas” acenam com o que, Deus, supostamente fará; enquanto os políticos mentem sobre o que eles mesmos “farão.”

Eventualmente nem estamos mentindo quando prometemos algo; mas, superdimensionando nossa capacidade; pois, não nos pertence nem o dia de amanhã; quiçá, um futuro mais remoto? Tiago ensina: “... vos gloriais em vossas presunções; toda glória como esta é maligna.” Tg 4;16

Enfim, embora nos seja uma bênção o dom da visão, não deve ser ele o patrocinador das nossas escolhas, refiro-me aos que temem a Deus, dos quais está dito: “Porque andamos por fé, não por vista.” II Cor 5;7

A fé não é uma faculdade derivada dos olhos. Somos desafiados a ela pelo que ouvimos da Palavra de Deus; “Quem tem ouvidos ouça, o que O Espírito diz às igrejas.” Esse ouvir deve ser processado, recebido num coração regenerado pelo Espírito Santo, para que, o Divino querer, não o desejo raso, carnal, patrocine nossas escolhas.

Pois, a Divina Palavra não é um manual para consultarmos em momentos de crise; antes, a constituição dos Céus, pela qual, devem pautar o viver, os que pretendem habitar lá.

Quando todo alento for negado aos olhos, ainda assim, quem tem uma fé saudável, saberá onde reside sua segurança; “Quem há entre vós que tema ao Senhor e ouça a voz do Seu servo? Quando andar em trevas, não tiver luz nenhuma, confie no Nome do Senhor; firme-se sobre seu Deus.” Is 50;10

As coisas visíveis tem um relevante papel, principalmente didático, para a revelação das que não podemos ver; “Porque as suas coisas invisíveis, (de Deus) desde a criação do mundo, tanto Seu Eterno Poder, quanto Sua Divindade, se entende, e claramente se vê pelas coisas que estão criadas, para que eles (Os incrédulos) fiquem inescusáveis;” Rom 1;20

Há tantas maravilhas para que vejamos! Todavia, quem tem olhos espirituais, por trás delas vê também O Maravilhoso Criador, que as fez, e deu ao homem o domínio sobre elas. “Os céus declaram a glória de Deus; o firmamento anuncia a obra das Suas mãos. Um dia faz declaração a outro, uma noite mostra sabedoria a outra. Não há linguagem nem fala, mas onde não se ouve a sua voz?” Sal 19;1 a 3

sexta-feira, 21 de junho de 2024

Os inimigos


“Quando cair o teu inimigo, não te alegres, nem se regozije o teu coração quando ele tropeçar; para que, vendo-o O Senhor, seja isso mau aos Seus olhos, e desvie dele Sua ira.” Prov 24;17 e 18

Quanto mais sincero, probo, relevante alguém for em seu modo de viver, mais sujeito a inimizades. Principalmente, no âmbito espiritual. A inveja granjeia desafetos pelas qualidades, não, pelos defeitos, logo, termos inimigos não significa, necessariamente, que estejamos agindo de modo ímprobo.

“Vi que todo trabalho, toda a destreza em obras, traz ao homem a inveja do seu próximo...” Ecl 4;4

O nosso inimigo com I maiúsculo é Satanás; “Porque não temos que lutar contra carne e sangue, mas contra principados, potestades, príncipes das trevas deste século, contra as hostes espirituais da maldade, nos lugares celestiais.” Ef 6;12

Os versos em apreço tratam de inimigos de carne e sangue, gente como nós. Tanto que, um regozijo excessivo de nossa parte levaria O Senhor e remover o juízo dele, como freio à maldade nossa. “... isso seja mau aos seus olhos, (de Deus) e desvie dele Sua ira.” Não veríamos espíritos sob a punição Divina; eventualmente, vemos nossos semelhantes.

O fato de não termos que lutar contra carne e sangue, não tolhe que tenhamos grandes embates com seres dessa natureza. Esses gládios são lícitos no campo das ideias, doutrinas, ensinos, valores... nada abona nenhuma espécie de violência, tampouco, deslealdade, desonestidade moral, intelectual.

Certo regozijo é inevitável, quando um mau colhe do seu plantio, ainda aqui; “Os pecados de alguns homens são manifestos, precedendo o juízo; em alguns manifestam-se depois.” I Tim 5;24 Esse gozo deriva do senso de justiça implantado em nós; traz anexa, uma espécie de confirmação oblíqua das nossas escolhas, por sabermos que todas terão consequências. Muitos se gloriam: “Quem sabe o que planta, não teme à colheita.”

A alegria que zomba, comemora a plenos pulmões a queda dos maus, sem nenhuma pontada de tristeza no âmago, desejando que tivesse sido diferente, malgrado, a resiliência no mal impossibilitou, pode ser um sintoma de desumanidade, falta de empatia, amor ao próximo... coisas que faríamos bem em escrutinar, caso estejam em nós. “Se alguém diz: Eu amo a Deus, e odeia seu irmão, é mentiroso. Quem não ama seu irmão, ao qual viu, como pode amar a Deus, a quem não viu?” I Jo 4;20

Nosso interesse deve ser de conquistar os que nos aborrecem, dando-lhes, quando oportuno, motivos para reverem sua aversão; “Não vingueis a vós mesmos, amados, mas dai lugar à ira, porque está escrito: Minha é a vingança; Eu recompensarei, diz o Senhor. Portanto, se teu inimigo tiver fome, dá-lhe de comer; se tiver sede, dá-lhe de beber; porque, fazendo isto, amontoarás brasas de fogo sobre sua cabeça. Não te deixes vencer pelo mal, vence o mal com o bem.” Rom 12;19 a 21

Lutarmos contra principados e potestades espirituais, não significa derrota-los em si mesmos; isso O Salvador já fez. “Despojando os principados e potestades, os expôs publicamente e deles triunfou em Si mesmo.” Col 2;15

Devemos lutar contra o “produto” desses, que, mediante seu marketing agressivo visa tomar o lugar dos valores de Cristo que A Palavra da Vida, incutiu em nós. “Ainda não resististes até o sangue, combatendo contra o pecado.” Heb 12;4

Nossa mais incisiva arma é a cruz, que mortifica tendências carnais, as quais, facilmente abraçariam aos conselhos da oposição. “... a carne não é sujeita à Lei de Deus, nem pode ser.” Rom 8;7

Logo, a “batalha espiritual,” termo que tantos “guerreiros” gostam, requer escolha de valores, caminhos, mais do que exorcismo, tomada de “territórios” espirituais e outras jactâncias afins.

A inversão de valores nunca foi tão agressiva quanto agora. Nossa “trincheira” foi cavada para que resistamos, firmados no Senhor e na Sua Bendita Palavra. Se não estivermos armados disso, melhor que nem sejamos vistos no front. Quando, da conquista da terra de Canaã, já foi assim; “Disse ao povo: Passai e rodeai a cidade; quem estiver armado, passe adiante da Arca do Senhor.” Js 6;7

Muito mais, estando o Céu em disputa, devemos nos revestir da Armadura de Deus. Verdade, justiça, fé; os pés calçados num testemunho que evidencia os valores de Cristo e desafia outros a abraçá-los, e a Espada do Espírito, A Palavra de Deus, genuína, honestamente interpretada, sem edições, rasuras...

Respondendo favoravelmente ao Divino apelo, O Espírito do Senhor atuará mediante nós. Como fez com Ezequiel: Deu uma ordem, ele se dispôs, O Senhor atuou. “... Filho do homem, põe-te em pé, e falarei contigo. Então entrou em mim o Espírito, quando Ele falava comigo, me pôs em pé, e ouvi o que me falava.” Ez 2;1 e 2