sábado, 29 de junho de 2024

Dias maus


“Lembra-te também do teu Criador nos dias da tua mocidade, antes que venham os maus dias, e cheguem os anos dos quais venhas a dizer: Não tenho neles contentamento;” Ecl 12;1

Não seria mais fácil, alguém “dedicar-se” a Deus nos seus dias maus, que nos bons? A coerência coloca uma pulga atrás da orelha, um questionamento se, privados pelo tempo, do melhor dos nossos dons, não nos aproximaríamos de Deus, de modo casuísta, oportuno, numa demanda egoísta por socorro, não, por desejo de servir.

Se, no auge de nossa força nos entregarmos à dissolução, como o filho pródigo, não significa que O Pai baterá a porta na nossa cara, voltando-nos, arrependidos, para Ele. Antes, receberá ao suplicante, como fez o pai daquele. Para o amor Divino, salvar alguém “nos acréscimos” como fez com o ladrão na cruz, faz parte do Seu Bendito Ser; Deus É Amor. Como as obras não contam para salvação, mas a fé no Feito de Cristo, quem crê, de coração, mesmo que, no último instante, será salvo.

O questionável é se, tendo alguém vivido na esbórnia nos dias de sua juventude, endurecido o coração no tocante a Deus, entortado a “boca” da alma com o “cachimbo” dos vícios, nos dias em que não tiver mais esse contentamento, volte-se para uma direção que sempre desprezou.

Há uma tendência para certa repetição, nas coisas naturais. “Nasce o sol e se põe, apressa-se e volta ao seu lugar de onde nasceu. O vento vai para o sul, faz o seu giro para o norte; continuamente vai girando o vento, e volta fazendo os seus circuitos. Todos os rios vão para o mar, contudo, o mar não se enche; ao lugar para onde os rios vão, para ali tornam a correr.” Ecl 1;5 a 7

O aprendido em tenra idade se torna parte do ser que acompanha aos dias futuros; “Porventura pode o etíope mudar sua pele, ou o leopardo suas manchas? Então podereis fazer o bem, sendo ensinados a fazer o mal.” Jr 13;23

Há urgente importância de sermos dirigidos nas veredas da virtude desde a infância, para que isso molde-nos, para os dias maduros; “Instrui o menino no caminho em que deve andar; até quando envelhecer, não se desviará dele.” Prov 22;6

Se, de coração tenro, alguém foi avesso aos clamores do Divino amor, quando o mesmo coração estiver endurecido, petrificado pela resiliência nos pecados, é pouco provável que se deixe encontrar. Para nosso hipotético pródigo, os dias maus tendem a ser muito maus.

Infelizmente não são todos que têm oportunidade de encontrarem-se com Deus, na juventude. Nessa enganosa idade, tudo parece fácil; quanto mais desafiador, melhor. Tanta adrenalina a pulsar, por que “perder tempo” com exercícios espirituais?

O pensador “tirou as cordas dos jovens; depois, advertiu-os do risco de serem “livres”; “Alegra-te, jovem, na tua mocidade, recreie-se teu coração nos dias da tua mocidade, anda pelos caminhos do teu coração, pela vista dos teus olhos; sabe, porém, que por todas estas coisas te trará Deus a juízo.” Ecl 11;9

Inegável, que vivemos um tempo de parcas referências espirituais; há mais mercenários, egoístas, que servos de Deus de testemunhos exemplares no horizonte comum. Toda hora um “famoso”, pregador, cantor, é exposto em seu viver miserável, onde, como Esaú, trocou sua “primogenitura” a intimidade com Deus, por um prato de “lentilhas”, a punção dos apetites rasos deveria ter sido tratada na cruz, não, na alcova.

Se, dentre dez expoentes, sete tiverem um bom andar, e três, causarem escândalo, esses três serão “apreciados” enquanto os outros, esquecidos; quando não, medidos com a mesma régua que os que desonraram a sublime chamada ministerial.

Assim como, cada um particular tem seus “dias maus”, tempo em que fraquejam os sentidos físicos, a Igreja também os tem, pela desordenada infiltração de gente indigna que emporcalha às coisas santas.

Paulo advertiu: “nos últimos dias sobrevirão tempos trabalhosos. Porque haverá homens amantes de si mesmos, avarentos, presunçosos, soberbos, blasfemos, desobedientes a pais e mães, ingratos, profanos, sem afeto natural, irreconciliáveis, caluniadores, incontinentes, cruéis, sem amor para com os bons, traidores, obstinados, orgulhosos, mais amigos dos deleites que de Deus, tendo aparência de piedade, mas negando sua eficácia. Destes afasta-te.” II Tim 3;1 a 5

Conversões genuínas são pouco encontráveis, infelizmente. Quem lembrou do Criador em tempo, fez na própria alma, o “bom depósito”, vive seu “albinismo”, rejeitado, mesmo nos ambientes “santos”.

A tendência dos jovens é buscar prazeres naturais. Quem ainda ousar nas coisas espirituais, descobrirá prazeres que escapam à carne, de origem sobrenatural. Invés de se incomodar com o tédio, exercitará sua “radicalidade” na escalada rumo à santificação. “Com que purificará o jovem o seu caminho? Observando-o conforme Tua Palavra.” Sal 119;9

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