domingo, 16 de junho de 2024

Marcas de vitória


“Disse mais Davi a Abisai, e todos seus servos: Meu filho, que saiu das minhas entranhas, procura minha morte; quanto mais ainda este benjamita? Deixai-o, que amaldiçoe; porque o Senhor lhe disse.” II Sam 16;11

Davi destronado pelo próprio filho, Absalão, fugia da cidade, temendo pela vida. Simei, um desafeto da tribo de benjamim o amaldiçoava, dizendo que ele merecia aquilo.

O rei ainda tinha um exército leal, consigo, o que fazia da atitude de Simei, uma temeridade. Tanto que, um dos seus valentes cogitou matá-lo; “Então disse Abisai, filho de Zeruia, ao rei: Por que amaldiçoaria este cão morto ao rei, meu senhor? Deixa-me passar, e lhe tirarei a cabeça.” V 9

Ter força para punir uma afronta, é fácil; muitos a têm. Agora, a força da mansidão, domínio próprio ante uma injúria sofrida, é coisa para poucos. O rei bem sabia das suas culpas pretéritas, pelas quais fora avisado que a violência não se apartaria da sua casa; invés de atribuir as maldições sofridas a uma iniciativa temerária e vingativa do benjamita, via nelas, uma porção do Divino juízo. “... Deixe que amaldiçoe, porque O Senhor lhe disse.”

Resignação ante o sofrimento, reconhecimento das próprias falhas são coisa valiosas diante do Eterno. Exercitando-se nelas, Davi confiou que, a Bondade Divina inda o encontraria. “Porventura o Senhor olhará para minha miséria e me pagará com bem, sua maldição deste dia.” V 12

Oportunamente, Deus teve misericórdia dele e foi restituído ao seu reino, cumprido o propósito didático daquele juízo pontual. “... Minha é a vingança, Eu darei a recompensa, diz o Senhor. E outra vez: O Senhor julgará Seu povo.” Heb 10;30

Para os que esposam o suposto “poder da palavra”, resta considerar que, palavra nenhuma, de bênção ou maldição nada pode, contra a Vontade Divina, como, até o mercenário Balaão sabia; “Como amaldiçoarei o que Deus não amaldiçoa? Como denunciarei, quando O Senhor não denuncia?” Nm 23;8 O que tem poder é A Palavra de Deus; o resto é cisco que o vento espalha.

Ocorre com muita frequência, que, conceitos válidos no escopo espiritual, sejam apreciados por métodos distorcidos, numa anemia de significado que preserva o casulo enquanto joga fora a vida em gestação. Palavras como, “vencer”, são trazidas da arena espiritual para a imanente, o que deturpa completamente seu significado. A maior de todas as vitórias se deu na cruz; onde Cristo bebeu por nós, o cálice amargo de tantas dores.

Vencedores espirituais não são os que se vingam, dobram adversários, impondo seu poder; antes, os que renunciam aos próprios direitos, numa submissão confiante e incondicional ao Senhor, fiéis aos valores, dele, aprendidos. Enquanto o homem natural se jacta de “não levar desaforos para casa”, o espiritual não leva carne e sangue para a “arena” onde, o combate é do espírito.

Ciente do alvo, não sai errante dando golpes no ar, como disse Paulo. “Porque não temos que lutar contra a carne e sangue, mas contra os principados, potestades, príncipes das trevas deste século, contra as hostes espirituais da maldade, nos lugares celestiais. Portanto, tomai toda armadura de Deus, para que possais resistir no dia mau e, havendo feito tudo, ficar firmes.” Ef 6;12 e 13

Notemos que nossa “ação” no embate é de resistir, não, atacar. “Sujeitai-vos, pois, a Deus, resisti ao diabo e ele fugirá de vós.” Tg 4;7

Como a dança só faz sentido para quem consegue ouvir a música, também a luta espiritual só é compreendida por quem anda em espírito. “Ora, o homem natural não compreende as coisas do Espírito de Deus, porque lhe parecem loucura; não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente. Mas o que é espiritual discerne bem tudo, e de ninguém é discernido.” II Cor 2;14 e 15

Aprendamos com Davi, pois: Quando desafetos gratuitos, invejosos reles tripudiarem acerca dos nossos nomes, sosseguemos fiados na sabedoria do Senhor; “Porventura o Senhor olhará para a minha miséria; e o Senhor me pagará com bem a sua maldição deste dia.”

Na verdade Paulo aconselha a irmos mais longe que, apenas sofrer à maldade sem pagar na mesma moeda, diz: “Portanto, se teu inimigo tiver fome, dá-lhe de comer; se tiver sede, dá-lhe de beber; porque, fazendo isto, amontoarás brasas de fogo sobre a sua cabeça. Não te deixes vencer pelo mal, mas vence o mal com o bem.” Rom 12;20 e 21

Outra vez, a distinção entre a vitória espiritual, e a natural. Não temos que vencer eventuais inimigos; antes, vencer o mal, com uma arma que lhe é letal; o bem.

Vencedores com Cristo não ostentam medalhas, mas, cicatrizes. “Desde agora ninguém me inquiete; porque trago no meu corpo as marcas do Senhor Jesus.” Gl 6;17

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