quinta-feira, 26 de janeiro de 2023

O tédio


“Minha alma tem tédio da minha vida; darei livre curso à minha queixa, falarei na amargura da minha alma.” Jó 10;1

Tédio, enfado produzido por algo lento, prolixo, ou temporalmente prolongado demais, aborrecimento, cansaço, causado por cenário árido, obtuso ou estúpido; certo desgosto, ou, vazio sem causas objetivas claras.

Era como se Jó dissesse: Minha alma está cansada de viver; darei voz à minha queixa, tornarei pública minha amargura.

Palavras como queixa e amargura já delineiam em parte, as razões do tédio. A queixa, geralmente deriva de uma sensação de injustiça; amargura é a consequência do prolongamento dessa sensação. Muitas vezes, é produto de um processo lento, paulatino que se instala sem sequer ser percebido; só é notado quando já se está entediado.

Ao sabor da rotina, expectativas, antes alvissareiras podem acabar em decepção; o que fora deslumbramento se tornar desencanto; no fim do túnel, acabar em desespero. A alegria de viver vai saindo devagar, a arte de sonhar, projetar coisas, aos poucos guarda suas “ferramentas”; o homem, outrora feliz, se torna aborrecido, de mal com a vida. Nisso o budismo acerta; excessivo desejo de ter, acaba sendo um feitor de dores. Os pré-socráticos diziam: “desejar mui violentamente a algo, cega-nos para as demais coisas.”

Cristo Ensinou a não excursionarmos muito aos tempos intangíveis; “Não vos inquieteis pelo dia de amanhã, porque o dia de amanhã cuidará de si. Basta a cada dia seu mal.” Mat 6;34

Quantas vezes alguém se acha nostálgico, incapaz de diagnosticar o que o deixa assim; sentindo uma “saudade não sei de quê;” como disse Saint Exupérry.

Contudo, esse não era o caso de Jó. As razões do seu tédio não tinham digitais humanas. Não fora um processo lento, imperceptível que tolhera suas motivações. Antes, uma verdadeira tempestade causada pelo invejoso Satanás, que apostara todas suas fichas que Jó, submetido a isso, blasfemaria do Eterno.

A boa índole tende a buscar causas do infortúnio em si mesma, não apontar para razões externas, como fariam, egoísmo e arrogância. Não encontrando coisas das quais se sentisse culpado, nem por isso culpou ao Criador. Não, ao ponto de blasfemar.

Já que as coisas estão assim, estou entediado, cansado de viver. Cogitou sua morte, porém, não a desejou tanto, ao ponto de tirar a própria vida; “Por que, pois, me tiraste da madre? Ah! se então tivera expirado, e olho nenhum me visse!” v 18 suspirou. Na verdade, considerou que seria melhor nem ter nascido, que sofrer daquele modo.

As razões do seu tédio eram plausíveis, não se tratava de um mimado reclamando a volta dos mimos perdidos.

Os que buscam a morte como solução, fuga de uma vida sem sentido, tardiamente poderão descobrir que morrer assim é que não faz sentido. Napoleão Bonaparte se destacou como guerreio, não como filósofo, mas disse: “Não há nada de grande em acabar com a própria vida como quem perdeu tudo no jogo; resistir a um infortúnio imerecido requer muito mais coragem.”

Vivemos dias que, segundo certo provérbio, “tempos fáceis fazem homens fracos” de comodismo e facilidades tecnológicas, ensejando uma imensa geração de fracos, pusilânimes.

Não é preciso perder todos bens, filhos e saúde de supetão, como foi com Jó, para se cansar da vida; basta a um adolescente ter uma frustração amorosa, não receber a roupa ou o celular que deseja, para o tal esbravejar que sua vida não vale à pena, Deus É Injusto, ou tolices assim.

Os que O Senhor Chama, Deseja que se entreguem a Ele em total confiança, mesmo que nos deixe em plena escuridão; “Quem há entre vós que tema ao Senhor e ouça a voz do Seu servo? Quando andar em trevas, não tiver luz nenhuma, confie no Nome do Senhor; firme-se sobre seu Deus.” Is 50;10

Foi O Criador que colocou em nós a capacidade para os sentimentos; e não deseja que lutemos contra eles; antes, que sejamos empáticos neles; “Alegrai-vos com os que se alegram e chorai com os que choram;” Rom 12;15

Todavia, nossas escolhas, decisões não devem ser pautadas por sentires, mas, pela Palavra de Deus; essa promete mudar as coisas e junto a isso, os sentimentos mudarão também; “Bem-aventurados os que choram, porque serão consolados;” Mat 5;4 Afinal, “... O choro pode durar uma noite, mas a alegria vem pela manhã.” Sal 30;5

Se as coisas inda não estão como queremos, pode ser fruto dum processo por meio do qual Deus nos molda Ele Quer. “Quando passares pelas águas Estarei contigo...” Is 43;2

Na hora da dor Jó deu vazão às suas queixas; na da retribuição, O Senhor Deus asas à Sua Graça; “... O Senhor acrescentou, em dobro, a tudo quanto Jó antes possuía.” Jó 42;10

quarta-feira, 25 de janeiro de 2023

Guerra e paz


“Deixo-vos a paz, Minha Paz vos Dou; não vos Dou como o mundo dá. Não se turbe vosso coração, nem se atemorize.” Jo 14;27

O Salvador Fazendo distinção entre Sua Paz, e a mundana. O risco de absolutizarmos à paz, como sendo, necessariamente, uma coisa boa, é abraçarmos à mesma segundo o mundo, não, como Cristo Ensinou.

Não é uma coisa auto impositiva, que se justifica por si mesma, como o são, justiça e verdade. Sendo ela algo que devemos “seguir”, “Segui a paz com todos, e a santificação, sem a qual ninguém verá o Senhor;” Heb 12;14 Nem sempre é possível que a alcancemos; “Se for possível, quanto estiver em vós, tende paz com todos os homens.” Rom 12;18

Por ser uma consequência, e, eventualmente colidir com a santificação que também devemos “seguir” fatalmente nos colocará em caminhos diferentes que a maioria; pois, santificar-se é separar-se do mundo e seus “valores”; consagrar-se a Deus, segundo Sua Palavra.

O respeito as diferenças, de cultura, gostos e credos é acondicionado nos vasilhames do mundo como algo sagrado, intocável. Daí a gestação do ecumenismo, validação de todos as crenças, por antagônicas que sejam, vem sendo acelerada, pois, segundo acreditam, a paz interreligiosa é indispensável para a paz internacional. Agindo assim, forçam a aquiescência, a concordância sob o rótulo do respeito. 

Quem disse que discordar de uma ideia, é desrespeitar? “Não concordo com uma palavra do que dizes; mas, defenderei até à morte teu direito de dizeres o que pensas.” Voltaire.

Após legar Sua Paz, O Salvador encorajou Seus discípulos, “não se turbe vosso coração, nem se atemorize”; porque Sabia que, a paz Consigo e com O Pai, nos indisporia com o mundo. Sua Paz aponta para isso: “Isto é, Deus Estava em Cristo reconciliando Consigo o mundo, não lhes imputando seus pecados; e pôs em nós a Palavra da reconciliação.” II Cor 5;19 Paz com Deus; independentemente de como isso pareça, aos olhos de mundo.

Aqueles que preferem o conforto de suas trevas, incomodados com a Luz de Cristo, tudo fazem e farão, para calar os difusores de tal Luz. “... a luz veio ao mundo, os homens amaram mais as trevas que a luz, porque suas obras eram más.” Jo 3;19

Os rótulos de intolerância, radicalismo, discurso de ódio, vêm sendo expostos ao gosto popular, para fornecer “argumentos” aos que lutam em “nome do amor”, para que, oportunamente se livrem de nós, calando ou matando, por “inimigos da paz”.

O Eterno não vê o ecumenismo como uma gestação amistosa; antes, um motim global contra Suas Leis; “Por que se amotinam os gentios, e os povos imaginam coisas vãs? Os reis da terra se levantam, governos consultam juntamente contra O Senhor e contra Seu Ungido, dizendo: Rompamos Suas ataduras, sacudamos de nós Suas Cordas.” Sal 2;1 a 3

Nossa simples fidelidade a Deus, caso a atinjamos, já nos colocará como alvos deles, o que a Bíblia ensina: “Também todos que piamente querem viver em Cristo Jesus padecerão perseguições.” II Tim 3;12

Mais: “Bem-aventurados os que sofrem perseguição por causa da justiça, porque deles é o Reino dos Céus; bem-aventurados sois vós, quando vos injuriarem, perseguirem e mentindo, disserem todo mal contra vós por Minha causa. Exultai e alegrai-vos, porque é grande vosso galardão nos céus; porque assim perseguiram os profetas que foram antes de vós.” Mat 5;10 a 12

A causa dessa perseguição não são eventuais delitos cometidos pelos seguidores de Cristo, antes, “perseguição por causa da justiça...”

Por irônico que pareça, é essa, a justiça, que enseja paz; “o efeito da justiça será paz, e a operação da justiça, repouso e segurança para sempre.” Is 32;17

Nós, os combatentes das injustiças seremos avaliados como inimigos da paz mundial, pois, a que eles buscam é um arranjo amoral, onde de comum acerto, todos concordarão em não discordar. Todos estarão “certos”.

Não é de estranhar, pois, que no auge da sua “Paz”, cujo implemento terá custado enorme gama de injustiças, O Eterno Resolverá julgá-los; “Pois que, quando disserem: Há paz e segurança, então lhes sobrevirá repentina destruição, como as dores de parto àquela que está grávida, de modo nenhum escaparão.” I Tess 5;3

As alternativas são apenas duas; reconciliar com Deus, mesmo ao preço de ser tido por inimigo do mundo; ou, amoldar-se dócil aos ímpios conchavos globais, e em tempo, sofrer a Justiça Divina.

O Senhor mesmo colocou as alternativas, reconciliar com Ele ou, Lhe fazer guerra; “Não há indignação em Mim. Quem poria sarças e espinheiros diante de Mim na guerra? Eu iria contra eles e juntamente os queimaria... (então) se apodere da Minha Força, e faça paz Comigo; sim, que faça paz Comigo.” Is 27;4 e 5

Cristianismo de plástico


“Amarás O Senhor teu Deus de todo teu coração, de toda tua alma e de todas tuas forças.” Deut 6;5

Deparei pela enésima vez, com um bilhetinho manuscrito dizendo o seguinte: “Se não estiveres muito ocupado, escreva: Deus, eu preciso de Ti”.

Pode parecer inocente, bem intencionado, motivador; porém, visto com olhos espirituais e devido discernimento, o breve texto traz dois testemunhos eloquentes do descaminho do homem atual; pois, até quando menciona Deus, o faz de modo desrespeitoso, ordinário, sem noção, egoísta.

Quem conhece A Palavra sabe que Ele Requer prioridade; ser amado de toda nossa alma, pensamento, forças... então, essa postura de “lembrar” Dele apenas não estando muito ocupado, coloca O Todo Poderoso ao nível das coisas irrelevantes, nas quais pensamos, apenas quando não temos nada melhor para fazer. Francamente! Nem um humano falho, pecador, aceitaria ser tratado com tanto descaso.

Esse “Cristianismo” lembra certo “culto” do Antigo Testamento, onde os “servos” ofereciam coisas desprezíveis; Ele disse: “... Ora apresenta-o ao teu governador; porventura terá ele agrado em ti? ou aceitará ele tua pessoa?” Mal 1;8

Mais adiante sentenciou: “... maldito o enganador que, tendo macho no seu rebanho, promete e oferece ao Senhor o que tem mácula; porque Eu Sou O Grande Rei, diz O Senhor dos Exércitos, Meu Nome é temível entre os gentios.” V 14

Pois essa “lembrança” eventual, quando não tivermos nada melhor a fazer assemelha-se em tudo, aos sacrifícios defeituosos que acabamos de ver.

Se, a premissa básica para salvação é a renúncia do ego, “negue a si mesmo”, esse tipo de postura deixa patente quem está no comando. O velho eu, sem noção, que deveria ter se identificado com a cruz de Cristo.

Isso testificado também, no segundo momento em que os sintomas da doença aparecem; pois, chegada essa migalha de tempo em que o “servo” se voltaria a Deus, qual seria a motivação? “Eu preciso de ti.” Outra vez, a porcaria do, eu, na frente.

Relembremos a oração modelo ensinada pelo Salvador: “Pai nosso, que Estás nos Céus, santificado seja Teu Nome; venha Teu Reino, seja feita Tua Vontade, assim na Terra como no Céu;” Mat 6;9 e 10

A abordagem é de filho, “Pai Nosso;” Ele pontuou, no contexto do culto defeituoso aquele: “O filho honra o pai, e o servo o seu senhor; se Sou Pai, onde está minha honra?” Ml 1;6

Depois, o lugar excelso que Ele ocupa, “Estás nos Céus”; a seguir, três menções às coisas Divinas, antes das minhas; Teu Nome; Teu Reino, Tua Vontade. Só depois dessa justa e necessária prioridade, eu me ocuparei em mencionar minhas carências. Meu pão cotidiano, perdão, o compromisso com a isonomia, pois, peço que Ele Perdoe minhas falhas, do modo como perdoo meus desafetos. É prudente atentarmos a isso.

Após rogar livramento das tentações e do mal, encerro de volta ao entendimento da Majestade Divina; “... porque Teu é o Reino, o Poder e a Glória, para sempre. Amém.” Mat 6;13

Parece que essa amostragem não combina com a “busca” egoísta, quando restar algum tempo.

O abençoado mencionado no Salmo primeiro é um que, além de todo tempo, tem deleite nas coisas Divinas; “tem seu prazer na Lei do Senhor, e na Sua Lei medita dia e noite.” v 2

A exceção de alguns trabalhos que demandem a fala, como professores, palestrantes, parlamentares... é possível falarmos com Deus enquanto trabalhamos. Mesmo nas funções aquelas, há espaços onde isso é possível.

Como seria se, O Eterno Resolvesse lembrar de nossas necessidades apenas quando lhe sobrasse algum tempo? Ele tem mais de sete bilhões de pessoas em Seus Domínios; quando Ele Chamaria nossa senha?

Por fim, além da forma insana e alienada sugerida, o local também está errado. Quem “ora” nas redes sociais fala com seus “amigos virtuais”, não com Deus. A oração que se pavoneia em público, nada reserva para o relacionamento privado; “... quando orares, entra no teu aposento e, fechando tua porta, ora ao teu Pai que Está em secreto; teu Pai, que vê em secreto, te recompensará publicamente.” Mat 6;6

É inevitável que transitemos pelo mundo virtual, dada a abrangência do mesmo; entretanto, nosso relacionamento com O Pai deve ser vivo, submisso, respeitoso, nos termos Dele, não na velocidade sem noção das mini postagens, que somem no nada, como ciscos ao vento.

O apocalipse menciona uma imagem bestial que fala e exige adoração. Sejamos cuidadosos com o excesso de vida virtual, se descuidarmos, o canhoto projetará diante de nós as nossas doenças e nos convencerá que é nossa saúde.

“O maior engano do espírito é acreditarmos nas coisas porque queremos que elas aconteçam, e não porque tenhamos visto que elas existem de fato.” Jacques Bossuet

terça-feira, 24 de janeiro de 2023

Daniel Alves na cova dos leões


“Quem busca a verdade, a acha e se completa. Quem busca a satisfação própria, nunca a encontra e continua buscando sempre.” Ivenio Hermes

Essa frase tem paralelos bíblicos; “Quem amar o dinheiro jamais dele se fartará; quem amar abundância nunca se fartará da renda; também isto é vaidade.” Ecl 5;10 Ainda, a fartura de bens sem devido usufruto; “Um homem a quem Deus deu riquezas, bens e honra, nada lhe falta de tudo quanto sua alma deseja; e Deus não lhe dá poder para daí comer, antes o estranho o come; também isto, é vaidade, má enfermidade.” Ecl 6;2

O clássico choque entre os bens verdadeiros, permanentes, e o engano das sombras; o logro incapaz de satisfazer, das coisas materiais.

Repercute internacionalmente a prisão do jogador brasileiro, Daniel Alves, que teria cometido violência sexual contra uma mulher de 23 anos, numa boate de Barcelona.

Não pretendo entrar no mérito do que pertence à polícia, se houve crime ou não. Mas, fortes indícios levam a crer que sim, além disso, o jogador teria mudado três vezes sua versão, o que complica as coisas.

Meu tema é a busca desesperada por satisfação a qualquer custo, mal que assola nossa geração. No prisma esportivo ele está no teto, sendo o jogador que ganhou mais títulos em todos os tempos; concomitante ao desempenho em alto nível, a fartura material também lhe sorriu; no prisma pessoal ele é casado com uma jovem modelo espanhola, de modo que, teria todas as razões para estar satisfeito com o que a vida lhe facultou.

Entretanto, estava em altas horas, numa boate de luxo, onde teria acontecido o abuso. Das duas uma: ou, a satisfação é uma insaciável, como um viciado que, quanto mais consome, mais depende das drogas, ou, ela não é encontrável no domínio da matéria.

Na verdade, O Salvador não colocou a satisfação apenas, como inalcançável aos braços da fartura, mas, a própria vida; “... Acautelai-vos e guardai-vos da avareza; porque a vida de qualquer um, não consiste na abundância do que possui.” Luc 12;15

Não apenas Disse o que não é, como ensinou em que consiste a vida; “A vida eterna é esta: que conheçam, a Ti só, por Único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a Quem Enviaste.” Jo 17;3

Claro que o homem natural que a Bíblia chama de “carne” não pode se satisfazer em Deus; antes, sente-se ameaçado, resiste; “Porque os que são segundo a carne inclinam-se para as coisas da carne; mas os que são segundo o Espírito para as coisas do Espírito. Porque a inclinação da carne é morte; mas a inclinação do Espírito é vida e paz. Porquanto a inclinação da carne é inimizade contra Deus, pois, não é sujeita à Lei de Deus, nem pode ser.” Rom 8;5 a 7

Por isso, o desafio para que sejamos salvos requer o “despejo” desse intruso, o ego. “Negue a si mesmo, tome sua cruz e siga-me".

A riqueza que permite aquisição de quase tudo, faculta ao “rico” que tenha sua morte folheada a ouro, e se presuma vivo; no entanto, com ou sem posses, a sentença é a mesma: “... aquele que não nascer de novo, não pode ver o Reino de Deus... aquele que não nascer da água e do Espírito, não pode entrar no Reino de Deus.” Jo 3;3 e 5

Se alguém presume que a rejeição à fartura como geratriz de satisfação seja uma “esperteza” de pobre para pintar em cores belas uma sina feia, ouçamos um que foi riquíssimo e sapientíssimo, Salomão: “Olhei para todas as obras que fizeram minhas mãos, como também para o trabalho que eu, trabalhando, tinha feito; eis que tudo era vaidade e aflição de espírito, e proveito nenhum havia debaixo do sol.” Ecl 2;11

Depois de aquilatar todas as coisas da esfera material e seus prazeres, como “vaidade e aflição de espírito”, Ele apontou noutra direção: “De tudo o que se tem ouvido, o fim é: Teme a Deus, e guarda Seus Mandamentos; porque isto é o dever de todo homem. Porque Deus há de trazer a juízo toda obra; tudo o que está encoberto, quer seja bom, quer seja mau.” Ecl 12;13 e 14

Os bens fartos até facultam o que vulgarmente se chama de qualidade de vida. Cristo nos dá vida de qualidade; espiritual, eterna, mesmo que, com certo custo, aqui.

Daniel levou uma vida construindo um nome, que estragou numa noite. Mas, se arrependido encontrar a Cristo e Seu perdão, ainda não perdeu nada que valha, realmente.

A satisfação verdadeira é “carta de outro baralho”, como disse Davi: “Quanto a mim, contemplarei Tua Face na justiça; me satisfarei da Tua Semelhança quando acordar.” Sal 17;15

Coma enquanto podes


“... nomeia magistrados e juízes, que julguem todo o povo que está dalém do rio, a todos que sabem as leis do teu Deus; ao que não sabe, lhe ensinarás.” Ed 7;25

O persa Artaxerxes, enviando Esdras pra restabelecer o culto em Jerusalém e organizar a sociedade; tendo como princípio normativo a Lei de Deus; os juízes seriam, preferencialmente, os que a soubessem; caso contrário, deveriam aprender.

Amarga ironia; foram para o cativeiro, justamente pela desobediência ao Mandado Divino; então, eram libertos sob a condição de terem como norma, a Lei; isso, vindo de um gentio.

Para os que pretendiam ser “povo santo” ficou essa lição; ampliada nos dias de João Batista. “Não presumais, de vós mesmos, dizendo: Temos por pai Abraão; porque vos digo que, mesmo destas pedras, Deus pode suscitar filhos a Abraão.” Mat 3;9

A Palavra nunca teve trânsito fácil, por causa da fraude que se tornou o homem, após a queda. Preferiu o novo “profeta” que, descompromissado com justiça e verdade, lastreou seu acesso ao coração humano pelas facilidades, prazeres.

Invés de aquilatar as coisas segundo a justiça, o homem valorou pelo sabor; o agradável sobrepujou ao verdadeiro; o alienado do Criador, morto, começou a atuar como se, o chamado à vida fosse uma ameaça, a morte, refúgio. “... a luz veio ao mundo, os homens amaram mais as trevas que a luz, porque suas obras eram más. Porque todo aquele que faz o mal odeia a luz, não vem para luz, para que suas obras não sejam reprovadas.” Jo 3;19 e 20

Se o critério para a reprovação é a consciência do mal, a história de autonomia, que o homem mesmo decidiria sobre bem e mal se revelou crassa mentira, o próprio íntimo humano testifica.

Paulo mencionou essa dubiedade nociva; onde o homem, escravo do mal, tem ciência do bem, sem força para praticar; “Se faço o que não quero, já o não faço eu, mas o pecado que habita em mim. Acho então esta lei em mim, que, quando quero fazer o bem, o mal está comigo.” Rom 7;20 e 21

A primeira providência do Salvador, no tocante aos que O Recebem, é “turbiná-los” para que possam agir conforme a ciência do bem, do justo. “A todos quantos O receberam, deu-lhes poder de serem feitos filhos de Deus...” Jo 1;12

Essa insanidade da rejeição ao Santo recrudesce cada vez mais; em determinado tempo o homem se mascarava na hipocrisia, até tomando porções da Santa Palavra sem cumprir; esse “nicho de mercado” deu azo ao labor dos falsos mestres; depois, “progrediu” para um estágio onde não mais queria ouvir; a apostasia potencializou a busca por credos “alternativos”.

A derrocada continuou rumo ao descrédito agressivo contra A Palavra da Vida; nesse viés, ganharam evidência muitos pensadores ateístas; suas falácias foram promovidas nos meios midiáticos, como se, a cegueira fosse sinônimo de filosofia.

Agora, se parte para o enfrentamento da Palavra; é proibida em mais de duas dezenas de países; a China, maior produtor de Bíblias para exportação, veta que se publique por lá, porções das Escrituras nas redes sociais. Altera ao bel prazer do Partido Comunista, partes “incômodas”. Isso figura certas “teologias” que grassam; a Bíblia seria boa para se ganhar dinheiro apenas, não para alimentar espiritualmente.

Em alguns casos o enfretamento à Palavra é disfarçado; pregadores liberais falam em “atualizá-la;” a essência é a mesma, dizem, mas a forma não deve ser “rígida”; pretendem abrir as portas para alterações ao gosto do mundo, “adequando” O Texto Sagrado às perversidades vulgares de ímpios. O líder dessa temeridade suicida atende pela alcunha de Papa Francisco. Contudo, há muitos “pastores evangélicos” na avenida.

Breve teremos a criminalização da fé, porque, a sadia recusará o balaio de gatos em gestação, o ecumenismo. O mundo já treina a narrativa com a qual rotulará a resiliência dos remanescentes fiéis; “discursos de ódio.”

Logo, os “defensores do amor” se ocuparão em calar nossa voz, tolher o Livro Sagrado, considerando todos os credos igualmente válidos, por contraditórios que sejam; nova versão do “vós mesmos sabereis o bem e o mal”. O “bem” será concordar com tudo; o “mal”, seguir fiel ao Deus Vivo.

Será juízo vindo Dele. “... não receberam o amor da verdade para se salvar. Por isso Deus lhes enviará a operação do erro...” II Tess 2;10 e 11 “Irão errantes de um mar até outro, do norte até ao oriente; correrão por toda parte, buscando A Palavra do Senhor, mas não acharão.” Am 8;12

Quem não tiver dentro de si, “O Livro de Eli”, não achará mais. Então, “... não sejas rebelde como a casa rebelde; abre tua boca e come o que Te dou.” Ez 2;8

segunda-feira, 23 de janeiro de 2023

A dor necessária


“... fostes contristados para arrependimento; pois fostes contristados segundo Deus; de maneira que por nós não padecestes dano em coisa alguma.” II Cor 7;9

Paulo enviara uma dura carta aos coríntios, determinando a exclusão de um que cometia pecado grave; “... há entre vós fornicação tal, que nem ainda entre os gentios se nomeia, como é haver quem abuse da mulher de seu pai. Estais ensoberbecidos, nem ao menos vos entristecestes por não ter sido dentre vós tirado quem fez isso. Eu, na verdade, ainda que ausente no corpo, mas presente no espírito, já determinei, como se estivesse presente, que o que tal ato praticou, em Nome de nosso Senhor Jesus Cristo, juntos vós e meu espírito, pelo poder de nosso Senhor Jesus Cristo, seja entregue a Satanás para destruição da carne, para que o espírito seja salvo no dia do Senhor Jesus." I Cor 5;1 a 5

“Entregue a Satanás” significava excluir ao tal da Igreja; melhor seria estar morto fora, que dentro. Talvez, sofrendo as consequências das suas ações impuras, antes de morrer ainda encontrasse lugar de arrependimento.

A exposição do pecado, da forma veemente como foi, estremeceu à igreja; muitos discursos eclodiram; “Porque, quanto cuidado não produziu isto mesmo em vós que, segundo Deus, fostes contristados! que apologia, que indignação, que temor, que saudades, que zelo, que vingança! Em tudo mostrastes estar puros neste negócio.” II Cor 7;11

Quando fizeram vistas grossas ao pecado, Paulo os chamou de ensoberbecidos; depois, tendo tratado à afronta com devido zelo, disse que eles estavam puros.

Aquela onda de zelo no tocante à santidade fez “estragos” no que andava errado e nos que compactuavam, de modo a gerar arrependimento, e consequente perdão. Sabedor disso, o apóstolo reconsiderou. “A quem perdoardes alguma coisa, também eu; porque, o que eu também perdoei, se é que tenho perdoado, por amor de vós o fiz na presença de Cristo; para que não sejamos vencidos por Satanás; porque não ignoramos seus ardis.” II Cor 2;10 e 11

Tanto é grave a tolerância com o pecado, quanto, a ausência de perdão, quando o culpado exibe sinais de sincero arrependimento e disposição para mudar seu proceder.

Depois daquilo, Paulo discorreu filosoficamente sobre a necessidade de pregações que gerem tristeza, por causa do fruto que produzem; “Porque a tristeza segundo Deus opera arrependimento para a salvação, da qual ninguém se arrepende; mas a tristeza do mundo opera a morte.” II Cor 7;10

Atualmente grassa uma súcia de “obreiros”, cujo labor visa, produzir bem estar, auto aceitação, motivar ímpios, para que, mesmo seguindo na impiedade sejam levados a crer que está tudo bem; que o Amor Divino supre à falta de caráter. A tal “teologia do coach”, que de teologia não tem nada.

Bastaria lermos o Salmo 50, com alguma honestidade intelectual, para constatarmos duas coisas: Uma: Os que recusam a correção de Deus não têm autorização nem para mencionarem Sua Palavra; “Mas ao ímpio Diz Deus: Que fazes tu em recitar Meus Estatutos, e tomar Minha Aliança na tua boca? Visto que odeias a correção, e lanças Minhas Palavras para detrás de ti?” Vs 16 e 17

Duas: O silêncio Divino deriva de Sua Longanimidade, não significa aprovação. “Estas coisas tens feito, e Me Calei; pensavas que era tal como tu, mas eu te Arguirei, as Porei por ordem diante dos teus olhos.” v 21

E quando Deus Fala repetidamente ao errado de espírito, para que esse emende seus caminhos, caso persista no erro, uma hora, a Santa Paciência acabará; “O homem que muitas vezes repreendido endurece a cerviz, de repente será destruído sem que haja remédio.” Prov 29;1

Os consumidores de lisonjas estão haurindo veneno, apenas porque gostam do sabor doce. “O homem que lisonjeia seu próximo arma uma rede aos seus passos.” Prov 29;5 Essa mesma verdade é ampliada noutras palavras: “Leais são as feridas feitas pelo amigo, mas os beijos do inimigo são enganosos.” Prov 27;6

Se, essa doença humana já foi cantada em prosa e verso; “mente pra mim, mas diz coisas bonitas...” (Agnaldo Timóteo) Os que pretendem servir a Deus são desafiados a coisas melhores; “Deus É Espírito; importa que os que O adoram, adorem em espírito e verdade.” Jo 4;24

Tem circulado bastante aquele ensino que, homens fracos fazem tempos difíceis; e tempos difíceis fazem homens fortes;

pois, podemos, de certa forma, parafrasear sob o prisma espiritual: Homens espiritualmente fracos, aduladores, fazem uma igreja doente; homens probos, comprometidos com a verdade e seus devidos frutos, são indispensáveis, para que, mediante eles, O Espírito Santo nos traga a cura. 

Urge que entristeçamos os ímpios invés de adulá-los; “Porque a tristeza segundo Deus opera arrependimento para salvação, da qual ninguém se arrepende...”

domingo, 22 de janeiro de 2023

Inabalável


“... Acharíamos um homem como este em quem haja o Espírito de Deus? Depois disse Faraó a José: Deus te fez saber tudo isto, ninguém há tão entendido e sábio como tu.” Gn 41;38 e 39

Faraó a José, após esse ter interpretado seus sonhos. O prisioneiro dissera ao soberano, que a capacidade para interpretar não estava nele; não era própria dele, antes, vinha do alto; “Deus dará resposta de paz a Faraó.”

Ainda não tinha ouvido o sonho, o que demonstrava absoluta confiança no Altíssimo, de que Nele, não seria envergonhado.

Fora injustiçado; quando vendido pelos irmãos; caluniado pela esposa infiel de Potifar; finalmente, desprezado pelo copeiro do rei, que, após ser ajudado por José, o esquecera.

Para uma pessoa superficial, imediatista, José teria várias razões para duvidar da Bondade Divina. Afinal, toda aquela sequência de infortúnios.

Entretanto, sua fé seguira inabalável. Sofrer tamanhos revezes e persistir confiante é algo raramente encontrável; “Quem há entre vós que tema ao Senhor e ouça a Voz do Seu Servo? Quando andar em trevas, não tiver luz nenhuma, confie no Nome do Senhor; firme-se sobre seu Deus.” Is 50;10

Até alguém alienado do Eterno conseguiu “ver” em José o Espírito de Deus; porque ele mantinha estreita intimidade e confiança no Santo, malgrado, o que sofrera.

Muito ouvi, pregadores realçando a saga de José como sendo ele uma espécie de conquistador, como se ele tivesse sonhado grandes coisas, e por elas perseverado até as fruir.

Aquele tipo de sonho, homem nenhum pode produzir; depois, se a perseverança dele fosse mercenária, interesseira, Deus que sonda os corações teria visto; invés de premiar à esperteza, teria denunciado como falsa uma “fé” que até Satanás aprovaria. “Porventura Tu não Cercaste de sebe, ele e sua casa, e tudo quanto tem? A obra de suas mãos Abençoaste, e seu gado se tem aumentado na terra.” Jó 1;10
Uma “fé” que fosse um “bom negócio” como insinuou o acusador sobre a de Jó, até ele entenderia.

Todavia, a verdadeira fidelidade não precisa um segundo motivo; o primeiro, agradar Àquele em Quem crê, já basta. “Sem fé é impossível agradar-lhe; porque é necessário que aquele que se aproxima de Deus creia que Ele existe, e é galardoador dos que O buscam.” Heb 11;6

A índole do fiel eleva seus motivos para além de si; isso honra ao Eterno que Se agrada em “pagar na mesma moeda”; “... porque aos que Me honram Honrarei, porém os que Me desprezam serão desprezados.” I Sam 2;30

José, mesmo padecendo diversas adversidades, em momento nenhum duvidou da Bondade Divina, tampouco, deixou de crer. As coisas me estão dando erradas? Tudo bem; Deus sempre Está certo; Deve Ter Seus Motivos.

Muitos equacionam a fé com uma força, poder que faria as coisas acontecerem aos nossos anseios; não. É uma confiança inabalável, que permanece assim, mesmo que tudo nos aconteça ao reverso do que desejamos.

Quando Paulo disse que podia todas as coisas em Cristo, referia-se a isso: Invés do vulgar, posso fazer acontecer as coisas que desejo estando em Cristo, o que ele tencionou dizer, foi: Posso permanecer fiel a Ele, mesmo que todas as coisas ruins me aconteçam. Vejamos: “... aprendi contentar-me com o que tenho. Sei estar abatido, e também ter abundância; em toda maneira, e em todas as coisas estou instruído, tanto a ter fartura, quanto, ter fome; tanto ter abundância, quanto, padecer necessidade. Posso todas as coisas em Cristo que me fortalece.” Fp 4;11 a 13

Pois José viveu “antes de Cristo”, da manifestação Dele em carne; no entanto, não consigo imaginar melhor exemplo de fé, de confiança inabalável, que o vivido por ele.

Não importa qual lugar O Senhor nos tem reservado; estar em Cristo já é uma honraria bastante, como disse Spurgeon: “Não trocamos de lugar com reis em seus tronos, a menos que esses também conheçam a Jesus Cristo.”

Paulo, homem extremamente culto jogou tudo no lixo, pela “Pérola de Grande Valor”; “Na verdade, tenho também por perda todas as coisas, pela excelência do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor; pelo qual sofri a perda de todas estas coisas; as considero como escória, para que possa ganhar a Cristo.” Fp 3;8

Depois que conhecemos a Ele mais de perto, as demais coisas empalidecem, perdem seu apelo, seu brilho. “Para que os seus corações sejam consolados, estejam unidos em amor e enriquecidos da plenitude da inteligência, para conhecimento do mistério de Deus Pai e de Cristo, em Quem estão escondidos todos os tesouros da sabedoria e da ciência.” Com 2;2 e 3

O que aconteceu a José, depois, foi um trabalho honroso; mas sua glória foi mostrar a Luz de Deus em meio às trevas.