sábado, 10 de maio de 2025

O ouro maldito


“... Fala, Balaão, filho de Beor, fala o homem de olhos abertos; fala aquele que ouviu as Palavras de Deus, o que vê a visão do Todo-Poderoso; que cai, e se lhe abrem os olhos.” Nm 24;3 e 4

Balaque rei dos moabitas tentara alugar a Balaão para que amaldiçoasse a Israel, porque temia. Acreditava que, a maldição por parte do profeta seria eficaz para enfraquecer ao povo hebreu. Mais de uma vez O Senhor o advertira para que não fizesse isso; aquele povo era bendito do Senhor.

Tanto porfiou amando às recompensas oferecidas que O Eterno se irou contra ele; colocou o anjo da morte no seu caminho com espada desembainhada, como sinal do juízo, e permitiu que sua jumenta falasse, num último aceno de misericórdia.

Após várias tentativas frustradas, e o breve “diálogo” com a cavalgadura, O Senhor permitiu que ele fosse; porém, só poderia falar o que, pelo Eterno lhe fosse dado. Mais que as palavras certas, O Senhor lhe permitiu ver às coisas como Ele vê; assim, invés de um estado de transe, de ver algo em sonhos, comum aos videntes, ele disse extasiado: “... fala o homem de olhos abertos...”

Em geral o sentido da visão não recebe maior relevância atinente às coisas espirituais. O reino das aparências é enganoso. Reiteradas vezes encontramos: “Quem tem ouvidos ouça o que o espírito diz.” Pois, “A fé vem pelo ouvir, e ouvir à Palavra de Deus.” Rom 10;17 Não tem relação com o ver.

Porém, quando pode um vidente acessar à dimensão espiritual de olhos abertos, uma graça extraordinária se lhe concedeu.

A visão no âmbito espiritual não é como no físico. Mais do que, o que vemos, pelo entendimento nós podemos ver. Dado que a “Fé é o firme fundamento das coisas que não se vê...” Heb 11;1

Quando a oposição faz seu trabalho de escurecer aos incrédulos, não oblitera retinas, antes, a compreensão espiritual; “Nos quais o deus deste século cegou os entendimentos dos incrédulos, para que lhes não resplandeça a luz do Evangelho da Glória de Cristo, que é a Imagem de Deus.” II Cor 4;4

Essa acuidade que pode ver às coisas como são, não, como parecem, também é chamada de discernimento, prerrogativa dos homens espirituais. “Ora, o homem natural não compreende as coisas do Espírito de Deus, porque lhe parecem loucura; não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente. Mas o que é espiritual discerne bem tudo, e de ninguém é discernido.” I Cor 2;14 e 15

A edificação, o crescimento no aprendizado das coisas espirituais, como que, abre nossos olhos, de modo a podermos “ver” muitas coisas de olhos abertos também. Algumas falcatruas são tão bisonhas, que de longe saltam às vistas.

A diligência no ouvirmos, e o desejo por buscarmos a Palavra de Deus nos deixando moldar por ela, nos lega a necessária maturidade, o aperfeiçoamento possível, vivendo num corpo de carne como vivemos.

E dos que atingem esse patamar, se exercitando de contínuo nas coisas espirituais, está dito que têm um paladar diferenciado: “Mas o mantimento sólido é para os perfeitos, os quais, em razão do costume, têm os sentidos exercitados para discernir tanto o bem, quanto, o mal.” Heb 5;14

A Bíblia registra um longo diálogo do Senhor com Jó; o patriarca nada viu além dum redemoinho, e ouviu à voz do Eterno. Clareado seu entendimento em parte, acerca do que se passara, disse: “Com o ouvir dos meus ouvidos ouvi, mas agora te veem meus olhos.” Jó 42;5

Assim, uma compreensão de como as coisas são aos olhos Divinos, é a “visão” que podemos ter no âmbito espiritual. A falta dessa pode nos levar a embates vãos, suposições ocas, “dar golpes no ar”, como ilustrou Paulo.

Pois, no mesmo texto em que Balaão disse que falava de olhos abertos também encontramos: “... fala aquele que ouviu as Palavras de Deus...” portanto, sem nenhuma forçada de barra, podemos dizer que, quem quer ter bons olhos espirituais, carece antes, ter bons ouvidos.

Não fora o caso de Balaão que errou, obstinado, no desejo de vender maldições por ouro. Tardiamente entendeu e foi registrado para que entendamos também, que as coisas espirituais não são objeto de manipulação humana. “Como amaldiçoarei o que Deus não amaldiçoa? Como denunciarei, quando o Senhor não denuncia?” Nm 23;8

Por isso somos instados a vencer o mal com o bem; pois, aquilo que desejamos ao nosso semelhante acaba voltando para nós; a justiçado Eterno assim o faz.

Enfim, quem tem olhos abertos na dimensão espiritual, desconsidera às mesquinharias espúrias do inimigo, mesmo adornadas a ouro, como as prometidas por Balaque, e dá ouvidos à Palavra de Deus, fonte de todas as bênçãos.

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