“Essa é a questão das atividades artísticas; os melhores trabalhos só valem alguma coisa depois que o trabalhador não pode mais ser pago”. Robert Heinlein
Vulgarmente se diz que, as pessoas ficam boas depois que morrem. Na sentença de Heinlein, parece que o produto dos artistas, finalmente se enobrece, após eles partirem, tendo reconhecido o seu valor, tardiamente; quando, os criadores já não poderão desfrutar das consequências disso.
A “insensatez” dos que resolvem se dedicar à arte, talvez seja uma necessidade. Os que veem a vida como um campo de trabalho forçado, onde, a feitora avareza, os coage a amontoar metais, persuadindo-os que essa reprodução mecânica tem seu sentido, sua beleza, em geral acabam privados do apreço para outras variantes, as estéticas. O que seria mais belo que um monte de cifrões?
“Desejar violentamente a alguma coisa, acaba cegando-nos às demais.” Pré-socráticos.
Pensadores de antanho já entendiam, que, quem finca raízes no vale do garimpo, não perde tempo na escalada rumo ao mirante da Bela Vista.
Os artistas, por reféns dessas veleidades, terminam atrofiando o seu potencial aquisitivo, presos a uns devaneios atemporais, (pré temporais, quiçá) e como uma mariposa queima suas asas voejando atraída pela luz da vela, esses incineram seus dias, mercê de uma chispa visionária que, a maioria não logra perceber. A chama da arte se alimenta de um combustível invisível à maioria dos mortais.
Uma vez paridos os filhos da musa que os assedia, muitos sofrem a frustração de “pais corujas”, ante uma beleza que os encanta, mas que os outros não veem. A maioria, são importantes homens de negócios; os que não, anseiam sê-los; têm mais o que fazer, que perder tempo com futilidades assim.
Os que gastaram suas vidas nos garimpos, e amontaram metais muito mais do que suas necessidades, acabam usando isso, uma vez entediados com tantas posses, para “aquisição de almas”; digo, de obras de arte que afirmaram seu valor vencendo o tempo, e foram tardiamente entendidas; de certa maneira, elas refletem as almas dos seus criadores.
Tais, os endinheirados, acreditam entendê-las e vivenciá-las em parte; afinal, as puderam comprar e agora se põem as exibir airosamente. Chamam amigos e mostram orgulhosos, os seus troféus, seu apreço estético, enquanto se esforçam para explicar seu amor, e sua compreensão pela arte adquirida.
Grandes fortunas acabam pagas, a herdeiros duvidosos, por obras cujos criadores não mais receberão um centavo.
Nos seus dias terrenos, eles, por razões irracionais, migraram para mui adiante do seu tempo, e acenderam nos lampiões de lá, chamas que levaram aos seus dias; por certo entenderão como necessário, que, seu talento seja devidamente apreciado, apenas, quatro ou cinco décadas depois. “Há tempo para todo o propósito debaixo do sol.” Então, suas criações estarão em dia.
Afinal, quem viaja a uma terra estranha, precisa se amoldar à cultura, fuso horário, ao idioma, para poder viver lá. De igual modo, quem excursiona ao futuro, “mete os olhos pelo tempo adiante,” como diria Machado de Assis, não deve se ressentir, se no além for informado, que, pelo seu talento, se enviou pequenas fortunas, pelo tempo atrás.
A simples escolha pela entrega à criação estética, em prejuízo da arte da aquisição, já evidencia que, o que assim faz, tudo o que carece é de meios para manter o veículo da alma em funcionamento. Em seu estranho sacerdócio, o dízimo do que lhe caberia, já lhe basta.
O que os “extrativistas” farão no futuro com os bichos da sua “fauna”, isso derivará de uma invasão alienígena, onde, alguns filhos do planeta estético serão abduzidos pelo metálico. Infelizmente, almas serão valoradas em metais.
A excentricidade da origem é que emprestará incalculável valor, aos olhos dos metaleiros; os estetas sempre souberam disso sem espanto nenhum. Sempre foram vistos no seu fútil viver “allien”, e quando sua origem nobre for finalmente entendida, os seus resíduos serão devidamente valorados.
Desnecessário lembrar ao inteligente leitor, que, estamos tratando de arte, dos “melhores trabalhos;” não, da prostituição mercantil que grassa, fazendo suas necessidades na raia da arte, enquanto corre pelos metais.
O sucesso de muitos nessa área, deriva da ignorância disseminada, não, da qualidade do trabalho que foi feito. Desses, “artistas” bem ironizou Millôr Fernandes: “Depois de bem ajustado o preço, a gente deve sempre trabalhar por amor à arte.”
Assim com um bom vinho demanda a cura pela mão do tempo, a compreensão estética de algo com valor artístico ímpar, não é obtida de maneira imediata; o visionário que o cria, costuma ser muito mais perspicaz que o senso comum.
A arte das multidões, de reconhecimento imediato, no próximo bissexto já terá sido consumida via acionamento da descarga, e os novos encantadores de serpentes estarão atuando nas praças.
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