“Aquilo que o perverso teme sobrevirá a ele, mas o desejo dos justos será concedido.” Prov 10;24
Certa vez li um livro chamado, “Temer é Ocasionar”, ideia derivada do texto acima. A profilaxia sugerida era sermos confiantes em todo o tempo; cultivar um pensamento positivo, nada temer, para que nenhum mal viesse sobre nós.
Na época pareceu uma boa dica, com certo viés lógico; porém, olhando com melhores olhos, suspeito que essa não seja a sadia interpretação.
Embora abarque dois sentimentos, temor e desejo, liga-os a dois sujeitos distintos. O perverso e o justo. Seria o temor do perverso, a causa dele ser adjetivado assim, perverso porque temeu algo; ou, o monstro temido, seria a sentença necessária por ele ter escolhido a perversão?
Alguns medos são consequências, não, causas. “Os ímpios fogem sem que haja ninguém a persegui-los; mas os justos são ousados como um leão.” Prov 28;1 Se foge é porque teme; e certamente, possui motivos. O temor assim não ocasiona infortúnios, revela as ações.
Há um temor antecipado, que, significa reverência, respeito, e tolhe que façamos as más escolhas; desse está dito: “O temor do Senhor é o princípio da sabedoria...” Prov 1;7 e outro, após termos feito às coisas más, que é a revelação, na consciência, de que, o mal perpetrado, fatalmente terá consequências.
O temor pode ter dois sujeitos distintos; o do justo que teme ao Senhor e evita pecar, por isso; e o do perverso que, já pecou, e teme ser punido pelo que fez. Nesse escopo, o temor que ocasiona alguma coisa é o do justo, que preserva o sadio relacionamento com o Criador. O do perverso nada ocasiona, senão, a fuga, pela informação antecipada de que a Divina justiça o busca, e, fatalmente, o encontrará.
Embora pareça contraditório, no escopo espiritual o antídoto ao medo não é a coragem; antes, o amor. Sendo esse, em relação ao próximo e a Deus, o motivador das atitudes em misericórdia e justiça, quando falhamos nele, tememos que tenha consequências essa falha; porém vivendo plenamente, de modo probo ante O Eterno, nada tememos; descansamos Nele, confiantes. “No amor não há temor, antes, o perfeito amor lança fora o temor; porque o temor tem consigo a pena, e o que teme não é perfeito em amor.” I Jo 4;18 Se o temor tem consigo a pena, ou a punição, ele é uma fuga, não o fomento de alguma incidência futura.
Afinal, todo os atos injustos contra nossos semelhantes seriam evitados, se, invés do egoísmo, fôssemos movidos pelo amor. Não poucas vezes, Deus busca pelos maus para a devida correção, mediante as autoridades que constituiu sobre a terra. Quando justa, a “justiça dos homens” é uma extensão da Divina. “Porque ela é ministro de Deus para teu bem. Mas, se fizeres o mal, teme, pois não traz debalde a espada; porque é ministro de Deus, vingador para castigar ao que faz o mal.” Rom 13;4
A expressão, “não temas” e similares, são recorrentes na Palavra de Deus; sempre, como um alento a quem precisa agir segundo Deus, não, como se, o não temer, bastasse; fosse uma espécie de “couraça mística” a nos blindar contra o mal. Ousar na direção prescrita é um ato de fé, que agrada ao Eterno.
Uma coisa é não temermos quando Deus assim nos diz; outra, ignorarmos ao Seu dito, e agirmos temerariamente. Esse tipo de inconsequência que levou Adão a desconsiderar o limite colocado pelo Amor Divino, e se lançar nos braços de um “novo amor”.
Quando caiu a ficha, do que ele tinha feito, tardiamente o temor entrou em cena. “Ouvi a Tua voz soar no jardim e temi, porque estava nu, e me escondi.” Gn 3;10
A acusação quase que ressentida que, cada um interpreta a Bíblia de um jeito, como se, ela embasasse a todo tipo de desejo, é uma fraude. Sá há duas formas de interpretar; certo e errado. Torturar a revelação até que ela “confesse” o que os ímpios desejam ouvir, não é interpretar; e cometermos erros em passagens mais difíceis, também ocorre, pelas nossas limitações.
Contudo, naquilo que é básico para nosso viver segundo Deus, a Palavra é categórica; de fácil compreensão. Portanto, o temor dos que agem mal, é já um mensageiro íntimo, atuando para convencê-los que afrontaram ao Divino querer.
Por isso, a preservação de uma fé sadia demanda uma consciência em silêncio; quando ela faz barulho, é porque, em algum momento, abraçamos o caminho dos perversos. Andando no caminho desses, natural herdarmos seus temores também.
Paulo aconselhou ao jovem Timóteo, sobre, como convém andar: “Conservando a fé, e a boa consciência, a qual alguns, rejeitando, fizeram naufrágio na fé.” I Tim 1;19
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