“O furor é cruel, a ira impetuosa; mas, quem poderá enfrentar a inveja?” Prov 27;4
Embora vejamos três feras distintas, a rigor, são duas. Furor e ira são frutos do mesmo baraço, derivadas do extravasar emocional por alguma contrariedade, anelo frustrado, injustiça sofrida, ou vislumbrada contra outrem, quiçá, pretextada, apenas...
Do outro lado do ringue, como uma adversária de força mui superior, um Golias a arrostar o mundo, a inveja. Quem poderia enfrentá-la?
Sua “força” não reside na força, estritamente; antes, na dissimulação. O invejoso nunca diz: Eu me oponho a tal pessoa, empresa, projeto, nomeação etc. porque tenho inveja. Antes, se veste de uma série de “argumentos” nobres, para que o invejoso invés de ser visto, pareça um defensor de valores, zeloso guardião de virtudes.
Como se enfrenta a um adversário assim? Qual um ambiente cercado de espelhos em ângulos que difundem a mesma imagem em diversas direções, assim o invejoso com seus argumentos de araque, não se atreve a um enfrentamento objetivo, direto; nunca se sabe direito onde está o adversário real, e onde é apenas um reflexo dos seus interesses vis.
Claro que um quê das outras nuances, ira, fúria também “patrocinam” as ações do invejoso; sempre, lógico, dissimuladas de ardente defesa da virtude. Ele jamais se mostrará invejoso, simplesmente; antes, “zeloso pelo bem”.
“A inveja é um pecado envergonhado, é por isso que você não admite que é invejoso. Não que você não seja, mas que não admite.” Q. J. Pahar
Acaso, os oponentes de Jesus Cristo, assumiam abertamente que O odiavam, porque Ele era invencível nos argumentos, convincente na Doutrina, veraz nas denúncias, e de quebra, operava sinais extraordinários? Não!
Para consumo interno, o acusavam de ser blasfemo, inimigo de Moisés, transgressor da Lei, endemoniado; para os ouvidos romanos O apresentavam como sedicioso, revolucionário, inimigo de César. Era necessário que todos se lhe opusessem.
Se, essas narrativas fajutas logravam algum efeito ante os incautos, diante do Governador, que enxergava um pouco além, a coisa não se sustentava. “Pilatos lhes respondeu, dizendo: Quereis que vos solte o Rei dos Judeus? Porque ele bem sabia que por inveja os principais dos sacerdotes o tinham entregado.” Mc 15;9 e 10
Se, no momento da execução criminosa, a ira, e a fúria tiveram participação, quem a fez possível e “necessária”, foi a inveja. Por ser sua força a da persuasão, opera nas mentes, distorcendo fatos, difundindo mentiras; que, uma vez aceitos, fomentarão o uso da força, validada por motivações vis, envernizadas de justiça.
Nos dias de Acabe, o pusilânime rei invejou a vinha de Nabote, pela sua beleza, viço, produtividade, e a quis comprar. Mas, o infeliz vinhateiro alegou que não poderia vender, era de herança e ele prezava.
Então ele se frustrou, descaiu-lhe o semblante, pois, não poderia ter algo que tanto desejava.
A rainha Jezabel, que para efeito de fazer maldades era “melhor” que ele, disse: Deixa comigo! Eu lhe darei tua tão desejada vinha. Alugou falsas testemunhas, as quais afirmaram, ante os anciãos, que Nabote blasfemara contra Deus e contra o rei, e “em defesa de Deus”, o infeliz foi condenado à morte e seus bens confiscados. Ver I Rs cap 21
Outra vez, os tentáculos robustos da inveja, travestidos de zelo religioso. Para efeito do seu culto, a megera Jezabel usava a Baal; mas para “justificar” um assassinato para fins de pilhagem, profanou a Santo Nome do Eterno. Seu fim inglório foi pleno de justiça.
Embora o ensino que devamos amar ao próximo, um sentimento assim, sem fins lucrativos, não costuma ser muito encontrável, infelizmente.
Em geral se “ama”, aos ídolos dos esportes, da música, fé, cinema, pelo prazer que a atuação desses enseja; amando o que nos dá prazer, nos mostramos egoístas.
Os que estão em meio a alguma necessidade, servem como parâmetros das nossas “conquistas”; podemos até lhes dar alguma ajuda, desde que tenha câmera para registrar; porém, aos que estão na “mesma prateleira” num patamar que o invejoso devaneia que poderia estar, também, ai deles, se ousarem brilhar!
“Ainda vi que todo o trabalho, toda a destreza em obras, traz ao homem a inveja do seu próximo. Também isto, é vaidade e aflição de espírito.” Ecl 4;4
Enfim, uma radiografia da inveja. Seu valor, nulo; vaidade; sua causa: Aflição de espírito. Desejar cegamente alguma coisa, acaba nos cegando para as demais. O invejoso deixa de ser feliz com o que possui; prefere sofrer ao ver o que os outros têm.
Em todos os extratos sociais, se pode ser feliz ou infeliz; é uma questão de alma, não, de bolso. “... Acautelai-vos e guardai-vos da avareza; porque a vida de qualquer não consiste na abundância do que possui.” Luc 12;15
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