sexta-feira, 8 de setembro de 2023

Os eunucos


“A mente não é um vaso para ser cheio; antes, é um fogo a ser aceso.” Plutarco

Nada contra as frases feitas, tanto que, lanço mão de uma, como ponto de partida nessa reflexão. O que o dito de Plutarco tem de belo, aliás, é que ele aponta pra necessidade de cada um fazer fogo com sua lenha, invés de, apenas aquecer-se no fogo estranho.

Eventualmente, o talento alheio cai como um “nicho” sob medida ao nosso “santo”; nesse caso, por que cavar outro? Todavia, a preguiça mental manda seus pacientes às prateleiras do decoreba, quando a demanda da alma seria uma aventura por entre as brumas da reflexão.

Uma vez, um sujeito me lançou em rosto o poema, “O Analfabeto Político” de Bertoldt Brecht, por eu discordar de sua visão esquerdista de mundo. Para ele, ou, o sujeito era de esquerda, ou era analfa; devo tê-lo mandado pastar, não lembro os termos da discussão.

O lugar comum não tem nada de especial, estritamente por isso: É comum. Você pode mais; você é indivíduo, é ímpar. O que lança mão só de pensares alheios, como quem escolhe pratos acondicionados em pilhas, abdica do potencial da própria mente. Esses eunucos intelectuais, podem servir no palácio do comodismo, atrofiando e esterilizando seus neurônios; no fim, esses, ocuparão espaço em vão em seus crânios baldios.

Às vezes a incongruência ante os desabituados a pensar, ganha vitrines tais, que Sophia muda-se para a favela. Há alguns anos, em Porto Alegre, deparei com um outdoor que versava o seguinte: “Chester, a mais nova tradição do Natal”. Tradição nova?? Meus dois neurônios deram um nó. As palavras desfilavam com anemia de significado; ninguém parecia se importar com a doença. O importante era a figura peituda e apetitosa, do novo velho, que o anúncio ostentava.

Nas redes sociais às vezes deparo com uma “diatribe” às críticas que dá o que pensar: “Ninguém atira pedras em árvores sem frutos.” Defendem-se os criticados. Mas, criticar não é analisar com critério, com conhecimento de causa? A palavra não vem do grego “Krinei”, separar, julgar, discernir? Não dizemos, quando determinado espetáculo recebeu aprovação dos que entendem do assunto, que ele foi um “sucesso de crítica?” Sendo a crítica uma análise com conhecimento de causa, seria uma “pedrada?”

Para a atual geração mimimi, qualquer reparo, por mínimo que seja, soa a um estranho no ninho; só sabem das coisas os que mandam coraçõezinhos. Claro que tem ataques gratuitos em muitas coisas; mas, esses derivam de despeito, inveja e não devem ser aquilatados como críticas.

Outro dia postei um comentário contrariando, via argumentos, à teoria da evolução. Um sujeito que não gostou do que escrevi, copiou de meu perfil: “Profissão, Mestre-de-Obras" e colocou abaixo de meu comentário, sem nenhuma coisa que rebatesse meu dito. Na falta de material para isso, me atacou, como se, minha profissão fosse um desabono e me desautorizasse a pensar sobre coisas tão “altas”. Deus É Um Mestre-de-Obras, qual o problema? E se eu varresse ruas? Não poderia pensar por mim mesmo?

Quando alguém desce a esse nível, despreza o “quê” e parte para cima do “quem”, já deixa exposta sua obscenidade intelectual, a incapacidade de incursionar nas veredas do saber. Cada vez que fala, suja às límpidas vitrines que o silêncio lhe tinha proposto. Sua paixão ignorante é um fogo que produz calor privado de luz. Como diria o vulgo: “Perdeu uma chance de ficar calado.”

Voltando aos evolucionistas, além de explicar onde e quando se deu o “salto” do instintivo ao racional, deveriam entender e explicar também, por que, depois que “evoluímos” ao âmbito do apreço filosófico e estético, dos altos juristas, políticos, descemos ao culto da feiura e da ignorância outra vez. Teria a evolução parado, e precisaria de um “tranco” para pegar de novo?

Afinal, depois de grandes músicos em todos os gêneros, e pensadores, atualmente se cultiva Anitta, Pablo Vittar, Ludmilla, Manoel Gomes, vulgo Caneta Azul; Felipe Neto, Márcia Tiburi, Marilena Chauí, são os “pensadores” atuais; Vitória Souza, a pregadora, Lula o Tribuno (depois da Mulher Sapiens) e Alexandre de Morais, o Jurista... a evolução cresce como rabo de cavalo? Sei lá; não passo de um construtor.

Enfim, a decadência chegou a masmorras tais, que as piadas se não tiverem um componente sexual, dificilmente serão entendidas; e um texto, uma postagem qualquer, usando a ironia como método precisa de um “desenho”: “Atenção, contém ironia!”

Pois, somos uma geração apressada, avessa a processos que extrapolem aos cinco minutos; quem mal consegue engolir as bagas da uva sem mastigar direito, acaba tolhendo a si mesmo, da possibilidade de fruir o bom vinho.

Felizes os que, como Jacó, conseguem ir “no passo do gado!”

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