sábado, 23 de setembro de 2023

Mistura inflamável


“Maravilho-me de que tão depressa passásseis daquele que vos chamou à Graça de Cristo para outro evangelho;” Gál 1;6

Por que somos tão rápidos em mudar rumo ao erro, e resilientes, tardios, quando a mudança proposta é atinente à virtude? Talvez, porque “morro abaixo, todo santo ajuda”, como se diz vulgarmente.

Rumo à perversão a carne encontra seu caminho livre, porque essa é sua natureza; “Porquanto a inclinação da carne é inimizade contra Deus...” Rom 8;7

Mudanças “para cima” demandam renúncias, submissão, cruz. O comodismo suicida patrocina rumo ao mais fácil; enquanto, a sobriedade, desafia a suportarmos o custo das coisas, em vista do que está em jogo. Por mirar nessa brecha, as mensagens dos falsos profetas soam mais palatáveis que a dos mensageiros idôneos.

A perplexidade de Paulo fora pela rapidez da mudança; “... tão depressa...” observou ele.

Não houvera uma troca de Evangelhos, estritamente; antes, uma ressignificação, que, desfigurara a mensagem original; “O qual não é outro, mas há alguns que vos inquietam e querem transtornar o Evangelho de Cristo.” V 7

Os judaizantes tentavam fundir Lei e Graça, amalgamar numa só, coisas distintas, e com funções diferentes. A Lei viera para manifestar os pecados; Cristo com Sua Graça, para removê-los.

A distinção ritual entre judeus e gentios já não fazia sentido; “Porque Ele (Cristo) é a nossa paz, o qual, de ambos os povos fez um; derrubando a parede de separação que estava no meio.” Ef 2;14

Não era necessário, tampouco, hoje é, judaizar aos que se convertem; judeus e gentios devem se santificar; se separar do mundo, em submissão ao Senhor.

O judaísmo fora rejeitado, não por surgir uma nova ideia no Divino pensar; antes, pelos frutos que produzira; “Porque a vinha do Senhor dos Exércitos é a casa de Israel; os homens de Judá são a planta das Suas delícias; esperou que exercessem juízo, eis aqui opressão! justiça, eis aqui clamor!” Is 5;7

Para contraponto a essa vinha degenerada que O Salvador disse, de si mesmo: “Eu Sou a Videira Verdadeira, Meu Pai É O Lavrador. Toda a vara em Mim, que não dá fruto, a tira; limpa toda aquela que dá fruto, para que dê mais.” Jo 15;1 e 2

Se, injustiça e opressão foram motivos para rejeição do judaísmo, por parte do Senhor, igualmente o serão em relação a nós, se, nessas viermos a errar. O propósito do Eterno permanece o mesmo, no que tange aos Seus; “Não escolhestes a Mim, mas Eu vos escolhi e nomeei, para que vades e deis fruto, e vosso fruto permaneça; a fim de que tudo quanto em Meu Nome pedirdes ao Pai Ele vos conceda.” Jo 15;16

Isso é a base de um relacionamento; não, os termos de um acordo comercial, tipo: Deem os frutos que Eu desejo, e em troca darei o que pedirdes.

A relação implica que, se dermos os frutos desejados pelo Eterno, o será porque entendemos Seu propósito; assim, não pediremos mais coisas com um viés egoísta, antes, segundo O Espírito que nos impulsiona na Obra Dele. “Assim que, se alguém está em Cristo, nova criatura é; as coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez novo.” II Cor 5;17

Quem ainda confunde a nova vida com as “coisas velhas” de certo modo perde-se como os gálatas; aqueles, numa mistura insana de Lei com Graça; esse, numa dubiedade de interesses, entre servir, e servir-se.

Não pretende, O Senhor, que demos uma guinada veloz em direção à virtude, à salvação. Deseja que entendamos o que está em jogo; nosso câmbio pode ser lento, mas deve ser decidido, contínuo; “A vereda dos justos é como a luz da aurora; vai brilhando mais e mais até ser dia perfeito.” Prov 4;18

Conversão é ruptura, não absorção. Ante a “Pérola de Grande valor”, as coisas pretéritas devem ser deixadas, não, anexadas. Nos dias de atos os convertidos tinham ideias bem estabelecidas sobre os caminhos pretéritos, nos quais tinham errado; “Também muitos dos que seguiam artes mágicas trouxeram os seus livros, e os queimaram na presença de todos; feita a conta do seu preço, acharam que montava a cinquenta mil peças de prata.” Atos 19;19

Se, igualmente, não “queimarmos” nossa ímpia maneira de viver em prol de Cristo, como resistiremos durante as provas? “A obra de cada um se manifestará; na verdade o dia declarará, porque pelo fogo será descoberta; o fogo provará qual seja a obra de cada um.” I Cor 3;13

Se alguém escolher coisas combustíveis para edificação, não espere pela promessa: “quando passares pelo fogo a chama não arderá em ti.”

Quem opta pela Água da Vida não precisa recear o fogo; quem prefere “outro Evangelho” com razão, deve temer.

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