quinta-feira, 14 de setembro de 2023

A espada da língua


“Eu vos digo que, de toda palavra ociosa que os homens disserem, hão de dar conta no dia do juízo.” Mat 12;36

O que seria palavra ociosa? Ocioso, inicialmente, nomeia ao que está desocupado, sem labor. Mas, esse predicado é humano, não de palavras. Ou as palavras trabalham?

Elas podem transportar um estado de ânimo, escolha, apologia, diatribe, ensino, informação, opinião, gosto, crença... é vasto o “trabalho” que eles podem fazer. Esse rol citado é atinente às funções probas na arte da fala. Pois, se essa se puser a serviço da improbidade, também laborará; porém, num trabalho sujo; poderá fomentar o desânimo, ofender, turbar uma escolha, defender o indefensável, ensinar vícios, heresias, mentir, blasfemar...

A palavra ociosa é uma linguagem figurada que significa, improdutiva, irrelevante, supérflua, sem função, inútil... Como diria o vulgo, não “infrói nem diminói”, dada sua futilidade.

Para Cristo, as coisas meramente da boca pra fora não têm valor; “... Este povo Me honra com os lábios, mas seu coração está longe de Mim.” Mc 7;6 Nesse caso, “infrói”, ao circunscrever o vão loquaz, no âmbito da hipocrisia, do qual se livraria, tão somente, guardando silêncio; “Até o tolo, quando se cala, é reputado por sábio...” Prov 17;28

Assim, podemos entender o que O Senhor pretendia dizer quando depreciou às palavras ociosas. As falas desprovidas de sentido, de compromisso com a realidade, desejando apenas, aparentar algo, não, comunicar. 

Sabedor que as palavras têm “peso”, O Salvador aliviou para os discípulos, no momento que julgou oportuno; “Ainda tenho muito que vos dizer, mas vós não podeis suportar agora.” Jo 16;12

É fácil pegar uma sentença e transformá-la numa espada, para, com ela ferir àquele/a de quem não gostamos, sem considerarmos que, aquele de quem mais gostamos, nós mesmos, também passará pelo crivo das palavras faladas; por elas será julgado. “Porque com o juízo com que julgardes sereis julgados, com a medida com que tiverdes medido vos hão de medir.” Mat 7;2 Por isso, o conselho: “Portanto, tudo que vós quereis que os homens vos façam, fazei-lhes também; porque esta é a Lei e os profetas.” Mat 7;12

Escrevendo aos romanos Paulo denunciou a severidade inconsequente dos que pareciam ignorar que a fala é via de mão dupla. “Portanto, és inescusável quando julgas, ó homem, quem quer que sejas, porque condenas a ti mesmo naquilo em que julgas a outro; pois tu, que julgas, fazes o mesmo. Sabemos que o juízo de Deus é segundo a verdade sobre os que tais coisas fazem. Tu, ó homem, que julgas os que fazem tais coisas, cuidas que, fazendo-as, escaparás ao juízo de Deus?” Rom 2;1 a 3

Quando anunciamos o juízo Divino, os escolhidos para isso devem fazê-lo, estamos apresentando algo que vale primeiro para nós, depois, para outrem que desejar alinhar seu viver aos Divinos padrões. 

Ao anunciarmos A Palavra, não estamos “subindo a régua” pelo prazer de fazer isso; nos está posta essa incumbência. Quem frui determinada luz não tem direito de andar no escuro. “Meus irmãos, muitos de vós não sejam mestres, sabendo que receberemos mais duro juízo. Porque todos tropeçamos em muitas coisas. Se alguém não tropeça em palavra, o tal é perfeito, poderoso para também refrear todo o corpo.” Tiago 3:1 e 2

Agora, invés de ociosa, a palavra aparece como pedra de tropeço. Na verdade, é A Palavra, que nos possibilita que andemos sem tropeçar; “Lâmpada para meus pés é Tua Palavra, luz para o meu caminho.” Sal 119;105

O que cremos, vivemos e ensinamos, faz parte do livro de nossas vidas; “Então aqueles que temeram ao Senhor falaram frequentemente um ao outro; e o Senhor atentou e ouviu; um memorial foi escrito diante Dele, para os que temeram o Senhor, e para os que se lembraram do Seu Nome. Eles serão Meus, diz o Senhor dos Exércitos; naquele dia serão para Mim joias; poupá-los-ei, como um homem poupa a seu filho, que o serve.” Ml 3;16 e 17

A facilidade de alcance e difusão, via redes sociais, deixa patentes duas coisas; a predisposição para ensinar, mesmo naquele que ainda não aprendeu; e a veemente aversão à correção, por tênue e educada que seja; o direito de alguém ser estúpido é aquilatado como mais importante que a necessidade de ser iluminado. “Não se meta na minha vida!”

E, a turba insana do, “O Senhor me mostra”, “O Senhor me diz”, não se dá ao trabalho de ler À Divina Palavra, para conhecer o que O Santo diz, a todos. A possibilidade de agir de modo mentiroso, profano, é um “direito” particular, que o tal, não negocia.

Ocorre-me um provérbio hindu: “Quando falares, cuida para que tuas palavras sejam melhores que teu silêncio.”

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