terça-feira, 19 de setembro de 2023

O Dízimo


“É você olhar no espelho e se sentir um grandessíssimo idiota que é humano, ridículo, limitado e só usa dez por cento de sua cabeça animal.” Trecho da música “Ouro de tolo” cantada por Raul Seixas nos anos setenta.

Que usamos só o “dízimo” do nosso potencial intelectual é uma imposição arbitrária do autor; não há como saber isso desde nosso mirante “ridículo, limitado.”

Todavia, que podemos bem mais, usamos uma pequena parte do potencial dado ao ser humano, isso qualquer um, com um mísero facho de luz, poderá ver.

Eu que milito nas coisas do espírito, e derivo a imensa maioria dos meus escritos da Palavra de Deus, tenho o dever de saber, e sei, que a salvação não tem nada a ver com a capacidade intelectual; antes, com a submissão a Cristo; vem por uma escolha moral, que mesmo um analfabeto pode fazer, não carece de muita inteligência. Está ancorada na cruz, não, na filosofia.

Por isso, esse ensaio não tem a ver com esse prisma, mas, com a acomodação de quem pode mais, e se recusa a desenvolver seu potencial.

Pascal disse: “Um pouco de ciência afasta o homem de Deus; um muito, o aproxima.” Assim, até nos domínios da ciência a fé tem algo a dizer. Aliás, a “palavra da ciência” é um dom espiritual.

Então, o festival de platitudes que estimulam nossa preguiça, ao desfilar por aí, é um testemunho da preguiça alheia, que se amolda ao lugar comum, invés de encontrar um nicho mais ousado para desenvolver as próprias ideias.

O que é uma platitude? A característica de uniformidade, banalidade, inexpressão, superficialidade, dito corriqueiro, sem importância, monótono. “Mais do mesmo” diria o vulgo.

Pegar uma frase dessas e partilhar, além de não transportar nada de criativo que edifique, faça pensar, é um testemunho da preguiça mental, a anexar um cérebro anestesiado, aos outros tantos, na vala comum da negligência com a própria alma.

Sócrates, o filósofo, depreciava à ação dos retóricos vãos, os sofistas, pois, a arte deles produzia crença sem ciência; adesão sem entendimento.

Deus nunca desejou isso aos Seus; se “baixou a régua” ao rés do chão, intelectualmente falando, para que todos pudessem entrar; isso deriva do Seu Amor que não quer que ninguém se perca. Todavia, espera que nos esforcemos para entender Sua revelação. “Então, conheçamos e prossigamos em conhecer ao Senhor...” Os 6;3

A Sabedoria Divina está expressa por todo lado. “Um dia faz declaração a outro; uma noite mostra sabedoria a outra; não há linguagem nem fala; mas, onde não se ouve sua voz?” Sal 19;2 e 3

A pós-verdade na qual vivemos, trouxe consigo e advento das narrativas (nome palatável das mentiras) como superiores aos fatos. Os melhores “narradores” levam vantagem, nesse insano castelo de cartas, cujo equilíbrio é forjado pela comunhão de interesses escusos. De um lado os que “recriam” as coisas ao seu querer; de outro, a imprensa prostituta que abdicou há muito seu poder de polir vidraças enquanto se aperfeiçoou em fazer cortinas de fumaça.

A cumplicidade do preguiçoso mental traz sua bovina aceitação do que é servido, (com todo respeito aos bovinos que ruminam o que engolem) sem colocar-se a refletir um pouco, para não ser enganado. A estupidez dessa geração anestesiada mental faz a opulência de políticos safados e dos falsos profetas; os tais, pisoteiam à verdade no afã pelos interesses, e na maioria dos casos, ainda posam de benfeitores.

Uma dessas platitudes que se propaga no meio evangélico diz: “Deus não escolhe aos capacitados; capacita os escolhidos”; reverberam os preguiçosos mentais, que ignoram como Deus capacita aos tais. 

O que dizem é verdade, mas, “uma coisa boa não é boa, fora do seu lugar”, ensinava Spurgeon. Assim, dizer isso, para fugir do chamado ao estudo, à preparação para bem servir, é tentar colocar o pneu no lugar do volante.

A Palavra ensina que O Eterno forjou diversos tipos de mestres, “Querendo o aperfeiçoamento dos santos para a obra do ministério; para edificação do Corpo de Cristo.” Ef 4;12

Os que descansam no fato de que O Criador usou a uma mula para falar com Balaão, esquecem duas coisas: antes disso, falara três vezes com o profeta, sendo ignorado; e, se quiser usar uma assim outra vez, usará a de quatro patas, não uma que nasceu com potencial humano e resignou-se à sina muar, pela preguiça de aprender.

Outrora, o gládio intelectual era em alto nível; arminianismo versus calvinismo; agnosticismo e revelação; salvação pelas obras ou, pela fé; etc. hoje, se perde tempo a discutir bizarrices de subsolo moral, coisas que, causariam perplexidade aos santos de antanho.

Temo que, os presumidos dez por cento de cérebro vigente, seja um exagero.

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