quinta-feira, 19 de janeiro de 2023

Tesouro de tolos


“Sabe, porém, isto: que nos últimos dias sobrevirão tempos trabalhosos. Porque haverá homens amantes de si mesmos... Tendo aparência de piedade, mas negando a eficácia dela.” II Tim 3;1, 2 e 5

Não é erro o amor próprio; na devida medida é tido como referencial do amor devido ao semelhante; “Ama ao teu próximo como (amas) a ti mesmo”.

Quando Paulo denunciou os tempos difíceis, no qual, os homens seriam “amantes de si mesmos” aludiu ao egoísmo doentio de nossos dias; onde, o amor devido ao próximo é sonegado, e doentiamente carreado para si mesmo. Quando alguém faz algo na área da caridade, tira fotos, filma e coloca nas redes sociais; exibe-se, para que todos vejam. Amou a admiração humana e já teve sua recompensa; nada depositou para o “Tesouro nos Céus.”

Se, o próximo é alvo do meu amor, as necessidades dele, em certo grau, são minhas também. “As necessidades materiais do teu próximo, são as tuas necessidades espirituais.” Como disse Israel de Salant.

Sendo ele mero expectador de meu amor próprio desmedido, vira observador de minha “bondade”, alguém que deve me admirar, invés de outrem que, eu devo amar. Para conseguir isso, preciso parecer “bem na foto” aos olhos dele, por isso capricho na “aparência de piedade”. Notemos que, as raízes da hipocrisia são alimentadas pelos “sais minerais” do orgulho e do egoísmo.

A piedade verdadeira me faria preocupado, solícito; a mera aparência é só o doentio desejo de aplausos. Por honrarias humanas, o homem hipócrita consegue fazer sacrifícios até. Contudo, “Ainda que distribuísse toda minha fortuna para sustento dos pobres, ainda que entregasse meu corpo para ser queimado, se não tivesse amor, nada disso me aproveitaria.” I Cor 13;3

Por que alguém faria tais coisas se não tivesse o amor altruísta como motivo? Pelos motivos vistos acima. Desejo doentio de celebrizar seu nome, invés de, desinteressadamente, partilhar, socorrer.

A prioridade ao semelhante antes de nós, foi defendida por Cristo; “Mas, se vós soubésseis o que significa: Misericórdia quero, e não sacrifício, não condenaríeis os inocentes.” Mat 12;7

A Parábola do Fariseu e do publicano ilustra; nela vemos dois homens, um cheio de sacrifícios, jejuns, religiosidade... enfim, cheio de si. Outro, sem nenhum mérito, apenas, sincero e arrependido. Esse foi justificado, aquele, não.

A misericórdia coloca meus dons, afetivos, espirituais, materiais, a serviço das necessidades alheias; o sacrifício pode ser patrocinado pelo fanatismo, orgulho, egoísmo, buscando coisas exclusivamente para mim.

O Único Sacrifício verdadeiramente altruísta, que se deu inteiramente pelas carências alheias, foi o de Cristo; a maior demonstração possível, de amor; “Ninguém tem maior amor que este, de dar alguém sua vida pelos seus amigos.” Jo 15;13

Então, foi por urgente necessidade nossa. A impostura de Satanás escravizara o homem, apenas um Resgate como O de Jesus Cristo, redimiria; “Porque nos convinha tal Sumo Sacerdote, Santo, Inocente, Imaculado, Separado dos pecadores, e feito mais Sublime do que os Céus; que não necessitasse, como os sumos sacerdotes, de oferecer cada dia sacrifícios, primeiramente por seus próprios pecados, depois pelos do povo; porque isto fez Ele, uma vez, oferecendo a si mesmo.” Heb 7;26 e 27

Ele disse que Daria Sua Vida pelos Seus amigos; porém, condicionou essa amizade a certa maneira de ser; “Vós sereis Meus amigos, se fizerdes o que vos Mando... Isto vos Mando: Que ameis uns aos outros.” Jo 15;14 e 17

Mas, voltando ao início, como é possível negar a eficácia da piedade? Antes, devemos ver em quê, ela consiste. “Porque o exercício corporal para pouco aproveita, mas a piedade para tudo é proveitosa, tendo a promessa da vida presente e da que há de vir.” I Tim 4;8

Nas duas esferas, a presente e a eterna, a piedade traz proveito; o apego excessivo às coisas materiais, busca por honrarias na terra dos homens, mostra alguém que, mesmo aparentando ter, não usufrui a eficácia dessa qualidade.

Há um mineral chamado pirita de ferro, que, pela cor confunde incautos, por se parecer com ouro. Vulgarmente a chamam, por isso, de ouro de tolos. Pois, a vida espiritual também possui sua “pirita”, a hipocrisia; essa faz um estardalhaço áureo/religioso, mas nada valerá diante do Divino Ourives;

“Muitos Me dirão naquele dia: Senhor, Senhor, não profetizamos nós em Teu Nome? em Teu Nome não expulsamos demônios? em Teu Nome não fizemos muitas maravilhas? Então lhes Direi abertamente: Nunca vos conheci; apartai-vos de mim, vós que praticais a iniquidade.” Mat 7;22 e 23

“A aparência das virtudes é muito mais sedutora que as próprias virtudes; quem se vangloria de as possuir tem grande vantagem sobre quem realmente possui.” Madame de Ricobboni

Porém, “Não julgueis segundo a aparência, mas julgai segundo a reta justiça.” Jo 7;24

Nenhum comentário:

Postar um comentário