domingo, 16 de abril de 2023

Erro de cálculo



“Assim, pois, qualquer de vós, que não renuncia tudo quanto tem, não pode ser Meu discípulo.” Luc 14;33

“Assim” é um advérbio que aponta para trás; para algo que fora dito. O Salvador dissera que, um rei sabendo que viria contra ele um exército mais poderoso que o seu, invés da batalha suicida, enviaria embaixadores pedindo condições de paz. Renunciaria lutar, sob pena de uma perda maior. Vs 31 e 32

Priorizaria o bem mais valioso, a vida; abdicaria seu direito de reinar, governar a si mesmo e aos seus, aceitando ser vassalo do poder superior. Assim, a chamada de Cristo. Tolhe nosso “reino”, mas preserva-nos a vida. Pois, “negue a si mesmo...” é o primeiro passo rumo à salvação.

Só quem ousa enfrentar a si mesmo sabe como é árdua a luta. Há um “inimigo” infiltrado que teima e resistir a Deus; o velho homem, a carne. “A inclinação da carne é inimizade contra Deus, pois não é sujeita à lei de Deus, nem pode ser.” Rom 8;7

Os convertidos “nascem de novo”, têm a natureza espiritual, antes morta, em delitos e pecados, regenerada, vivificada; doravante, não precisam mais seguir a costumeira servidão que submetia à força do pecado; “Porque não faço o bem que quero, mas o mal que não quero.” Rom 7;19

Em Cristo podemos mais: “A todos quantos O receberam, deu-lhes poder de serem feitos filhos de Deus, aos que creem no Seu Nome;” Jo 1;12

Porém, o poder resulta frágil, se não submeter ao seu domínio, à vontade. Nem sempre queremos o que podemos.

Schopenhauer negava o livre arbítrio. ‘Dada a índole e o motivo, a ação resulta necessária’, dizia. Ilustrou que, um homem de posse de um revólver poderia se jactar que tinha poder para se matar, quando, na verdade tinha apenas os meios. Para poder precisaria de um sentimento que superasse o amor pela vida e o temor à morte. Os meios, portanto, não significam poder. “Basta um homem pra levar um cavalo às águas; cem homens não bastam para forçá-lo a beber.” Spurgeon

Sem Cristo, deveras, o arbítrio não existe. O homem é escravo do pecado que o domina. “Se faço o que não quero, já o não faço eu, mas o pecado que habita em mim.” Rom 7;20

Não significa que apenas os não convertidos atuem nesse nível. Renascidos podem descer de novo ao âmbito natural, preferindo a escravidão, à liberdade de Cristo. Enquanto o novo homem, nascido do Espírito, estiver no comando, nosso andar será reto; “Qualquer que é nascido de Deus não comete pecado; porque Sua semente permanece nele; não pode pecar, porque é nascido de Deus.” I Jo 3;9

Depois de convertidos passamos a ter poder de escolha, não livre, totalmente; mas, livre no sentido de optar entre Cristo e a oposição. A vontade natural tende às coisas naturais, o pecado; a do Espírito, às espirituais. “De maneira que, irmãos, somos devedores, não à carne para viver segundo ela. Porque, se viverdes segundo a carne, morrereis; mas, se pelo Espírito mortificardes as obras do corpo, vivereis.” Rom 8;12 e 13

Essa rendição ao Rei dos Reis, Paulo comparou com morrer com Ele: “Ou não sabeis que todos quantos fomos batizados em Jesus Cristo fomos batizados na Sua morte? De sorte que fomos sepultados com Ele pelo batismo na morte; para que, como Cristo foi ressuscitado dentre os mortos, pela glória do Pai, assim andemos em novidade de vida.” Rom 6;3 e 4

A vera conversão não precisa muito barulho; acende uma luz que irradia Cristo no novo modo de ser e agir; “Assim resplandeça vossa luz diante dos homens, para que vejam vossas boas obras e glorifiquem ao vosso Pai, que está nos Céus.” Mat 5;16

Triste ver à queda de tantos que, começaram bem, andaram muitas milhas mas, capitularam às seduções do mundo; ocorre-me a pergunta de Saint Exupéry, feita noutro contexto: “Por que estranho molde passaram? Por que terrível máquina de entortar homens!?”

O sistema mundano é terrível, com seu fomento ao egoísmo, materialismo, trinfo das nulidades, inversão de valores, glamourização do vício, perseguição aos de Cristo.

Entretanto, O Salvador preveniu que seria assim. “Tenho-vos dito isto, para que em Mim tenhais paz; no mundo tereis aflições, mas tende bom ânimo, Eu venci o mundo.” Jo 16;33

A Palavra menciona uns que tendo começado valorosamente, estavam voltando atrás. A advertência àqueles segue atual; “Ainda um pouquinho de tempo, o que há de vir virá, não tardará. Mas o justo viverá da fé; se ele recuar, Minha Alma não tem prazer nele. Nós, porém, não somos daqueles que se retiram para perdição, mas daqueles que creem para conservação da alma.” Heb 10;37 a 39

A força do amor


“Ó Timóteo, guarda o depósito que te foi confiado, tendo horror aos clamores vãos e profanos e às oposições da falsamente chamada ciência, a qual, professando alguns, se desviaram da fé...” I Tim 6;20 e 21

A advertência de Paulo não é contra a ciência, propriamente dita. Mas, contra uma farsa que a deturpa; na verdade, uma fé bastarda. Pois, invés de defender seus postulados mediante experimentos demonstrativos, como faz a vera ciência, essa, tenta se impor no grito, mediante “clamores vãos e profanos, oposições” cujo alvo seria desviar seus pacientes da fé.

Com esse fito circulam postagens de “mestres” respondendo aos pupilos, por que a ciência é mais difícil que a “teoria da conspiração”; aquela demanda estudo, essa não, diz o velhaco da mensagem capciosa que visa apagar a luz, invés de acendê-la.

A ciência verdadeira sempre se valeu dos próprios resultados; não precisou de propaganda, dos préstimos duvidosos do marketing para vigorar. Suas descobertas se impunham por si, sem muletas. Acaso o surgimento do automóvel precisou de muita gritaria para demonstrar que ele era mais rápido e eficaz que as carroças? O telefone para se impor aos pombos-correios ou aos sinais de fumaça?

Todavia, se eu for bombardeado mediante o massacre de uma narrativa, que, obedecer aos ditames da “ciência” é a postura mais “culta” do que o “negacionismo” que pretende denunciar a conspiração global, esperam que, na hora H, eu aceite bovinamente as imposições de uma OMS, por exemplo, que numa semana dizia uma coisa, na seguinte o contrário; depois, voltava ao primeiro dogma... como foi na pandemia.

Bem disse o padre Paulo Ricardo, “Quer conhecer as motivações espirituais de alguém? Observe contra o quê, ele está lutando.”

Se, essa gente que domina Google, Facebook, Instagram, Twitter etc. Trabalha combatendo aos que denunciam à conspiração global, por que o fazem, se, a denúncia não tem sentido? Não é mera teoria sem fundamento? Por que dar importância, espaço, para tolices?

Embora o arcabouço dentro do qual pintam o ansiado reino global use as tintas das vantagens econômicas, ecológicas e funcionais do governo único, a motivação verdadeira, é espiritual. Rejeição a Cristo, Seu Governo e Suas Leis; o resto é fumaça. “Os reis da terra se levantam, governos consultam juntamente contra o Senhor e Seu Ungido, dizendo: Rompamos suas ataduras, sacudamos de nós Suas cordas.” Sal 2;2 e 3

Não se trata de uma teoria; antes, do cumprimento aos nossos olhos, de uma revelação dada a Davi há três mil anos, aproximadamente.

A fé em Deus, comprometida, demanda muito mais que pensar. Requer a coragem de não fugir da luz, como esses fazem. “Porque todo aquele que faz o mal odeia a luz, não vem para a luz, para que suas obras não sejam reprovadas. Mas quem pratica a verdade vem para a luz, a fim de que suas obras sejam manifestas, porque são feitas em Deus.” Jo 3;20 e 21

Acaso o pleito disseminado por toda sorte de perversões sexuais, por exemplo se dá pelo direito de as praticar? Isso sempre houve. A vida particular de cada um sempre comportou escolhas pessoais, a despeito da aprovação social.

A luta não é pelo direito de praticar, mas pela imposição da prática, pelo estabelecimento de um “novo normal” avesso a Cristo. “Rompamos Suas ataduras! Sacudamos de nós Suas cordas!”

A “ciência” não suporta homens livres, aptos a escolher se querem vacinas duvidosas ou não; se desejam crer nisso ou naquilo. Ou, o sujeito abraça o que a dita, ordena, ou, logo é rotulado como adepto da “heresia negacionista”.

Nunca, a fé sadia foi tão difícil como atualmente. Dentro as igrejas a infiltração massiva de “teólogos liberais” defensores da “Edição de Deus” e, uma súcia de mercenários, amantes dos prazeres ensinando o que não sabem, profanando O Santo, por interesse.
Fora, a zombaria dos que pisam no “sal degenerado”, pujante campanha de descrédito aos valores cristãos; sobretudo, às vidas que os defendem.

Por isso, antes de deplorar os feitos da falsa ciência Paulo aconselhou: “guarda o depósito que te foi confiado.”

Mesmo que nos tirem O Livro Santo das mãos, (por enquanto o pervertem; breve vetarão) quem fez em si mesmo o bom depósito e o guarda, poderá dizer como Jó: “Ainda que me mate, Nele (em Deus) esperarei...” Jó 13;15

Se esses “cientistas” acham que nossa fé é algo que basta eles nos chamarem de bobos ou feios para nos magoarem e fazerem desistir, sua ciência ignora a força do amor. Não aderimos a mera corrente de pensamento; fomos atraídos pelo mais nobre dos sentimentos.

O traidor terá seus seguidores, “... mas o povo que conhece ao seu Deus se tornará forte e fará proezas.” Dn 11;32

sábado, 15 de abril de 2023

Os incômodos


“... tua filha já está morta, não incomodes O Mestre.” Luc 8;49

Jairo vencera a restrição dos fariseus, de que seria expulso do seu meio quem desse crédito a Jesus. Movido pela dor paterna de ver uma filha à morte, fora ter com Ele.

O Senhor “perdera” tempo, no incidente em que, uma mulher com fluxo de sangue fora curada, ao tocar em Suas vestes. Então, alguém chegou com a triste notícia: “Tua filha já está morta, não incomodes O Mestre.”

Tendemos a “medir” Deus com réguas humanas. Avaliar as possibilidades Dele, a partir das nossas perspectivas. Aquilo que nos é cabal, terminal, desesperador, a morte, para Ele é diferente. “... não está morta, mas dorme.” V 52

Os que a isso ouviram, “riam-se dele, sabendo que estava morta.” v 53 Como Jesus podia Ser tão ingênuo, não sabendo o que todos eles sabiam?

Nossas limitações deviam nos aproximar Dele. “Confia no Senhor de todo teu coração, não te estribes no teu próprio entendimento. Reconhece-o em todos os teus caminhos, Ele endireitará tuas veredas. Não sejas sábio aos teus próprios olhos; teme ao Senhor e aparta-te do mal.” Prov 3;5 a 7

Pedir algo “impossível” seria incomodar O Mestre. Contudo, “... para Deus nada é impossível.” Luc 1;37

Porém, podendo fazer o que quiser diante de quem desejar, eventualmente, O Senhor seleciona quem será testemunha dos Seus Feitos. No monte da transfiguração, levou consigo três, apenas. Então, “... a ninguém deixou entrar, senão Pedro, Tiago, João, o pai e a mãe da menina.” v 51

Diferente dos políticos que valoram apoios pelos números, O Senhor prioriza propósito, confiança, valores, identidade, intimidade. “O segredo do Senhor é com aqueles que o temem; Ele lhes mostrará Sua Aliança.” Sal 25;14
Não poucas vezes, ensinava Sua Doutrina ao público em geral; mas, só explicava o sentido aos chegados que permaneciam junto, desejosos de saber.

Se, a chamada do Seu Amor é expansiva, “pregai o Evangelho a toda criatura.” O selo da Sua aprovação é seletivo; “Meus olhos estarão sobre os fiéis da terra, para que se assentem comigo; o que anda num caminho reto, esse Me servirá.” Sal 101;6

A salvação é proposta a todos; porém, os que aceitarem à mesma, que acatem junto seus termos; “Porque a graça de Deus se há manifestado, trazendo salvação a todos os homens, ensinando-nos que, renunciando à impiedade e às concupiscências mundanas, vivamos neste presente século sóbria, justa e piamente, aguardando a bem-aventurada esperança, o aparecimento da glória do grande Deus, nosso Salvador, Jesus Cristo.” Tt 2;11 a 13

Voltando à casa de Jairo, somados O Senhor, três discípulos, os pais e a menina temos sete pessoas no ambiente do milagre. Por razões do Divino querer, o sete, figura na Palavra de Deus como o número da perfeição. Nesse ambiente, o perfeito amor e a perfeita graça restituíram vida à menina que estivera morta.

A aparente fineza e elegância de quem não queria “incomodar” O Mestre se mostrara contraproducente, fútil, deletéria.

Apresentarmos a Ele nossas petições necessárias, numa atitude de fé não O incomoda; Ele ordenou que o fizéssemos: “Eu vos digo: Pedi, e dar-se-vos-á; buscai e achareis; batei e abrir-se-vos-á;” Luc 11;9

Ele se incomoda com outras coisas: “Não Me compraste por dinheiro cana aromática, nem com a gordura dos teus sacrifícios Me satisfizeste, mas Me deste trabalho com teus pecados, Me cansaste com tuas iniquidades.” Is 43;24

Sim, são nossos pecados, iniquidades que incomodam ao Senhor. Ele mesmo asseverou: “... não posso suportar iniquidade, nem mesmo a reunião solene.” Is 1;13

A obediência e as ações de justiça que aprazem ao Eterno, eram coisas raras, todavia, os ajuntamentos solenes, cultos cheios de “louvores” aconteciam.

A falsidade também incomoda ao Santo. Por isso, afirmou: “Odeio, desprezo as vossas festas, e vossas assembleias solenes não Me exalarão bom cheiro. Ainda que Me ofereçais holocaustos, ofertas de alimentos, não Me agradarei delas; nem atentarei para as ofertas pacíficas de vossos animais gordos. Afasta de Mim o estrépito dos teus cânticos; porque não ouvirei as melodias das tuas violas. Corra, porém, o juízo como as águas, e a justiça como o ribeiro impetuoso.” Am 5;21 a 24

Esse hábito infantil de tentar compensar a desobediência com bajulações, rebeldia com cultos, causa aversão ao Senhor, tanto quanto, nossos pecados cometidos longe dos locais de culto. Não precisamos vir a esses, se não for para consertarmos nossas vidas mediante arrependimento, reconciliação com O Senhor.

Ele deixa patente o caminho que nos convém, e onde levam os alternativos. Não força ninguém a escolher nada. Ensina a sermos consequentes. Se, santidade não nos convém, os apelos do mundo soam-nos mais fortes que Seu Amor, não incomodemos mais O Mestre.

sexta-feira, 14 de abril de 2023

De salvos e de loucos


“O longânime é grande em entendimento, mas o que é de espírito impaciente mostra sua loucura.” prov 14;29

O que é de ânimo equilibrado e possui a paz de espírito foi apreciado em oposição ao impaciente. Enquanto aquele galga degraus na escada do entendimento, esse perde-se nos descaminhos da insensatez.

A loucura, no sentido vulgar, é vista como um lapso que aliena da realidade, priva do senso, vulnera faculdades intelectivas. Quem “não diz coisa com coisa” é tido por louco.

Entretanto, na Bíblia, a loucura denunciada tem um componente moral, espiritual, onde a ignorância, ou o desprezo acerca da colheita adjetiva como insensatez, ao plantio. As consequências valoram as causas.

“O temor do Senhor é o princípio do conhecimento; os loucos desprezam sabedoria e instrução.” Prov 1;7

Sobre certo próspero material, alienado espiritual, foi sentenciado: “... Louco! esta noite pedirão tua alma; o que tens preparado, para quem será?” Luc 12;20 Mesmo tendo usado esperteza, sabedoria, trabalho, para aquisição de bens, a ignorância acerca do propósito da vida o tornara louco.

Esses que priorizam as coisas efêmeras em detrimento das eternas já tinham sido apreciados: “Este caminho deles é sua loucura; contudo sua posteridade aprova suas palavras.” Sal 49;13

Então, temos duas loucuras possíveis; a vulgar dos lapsos psíquicos, sensoriais e intelectuais, e a espiritual, que se mantém distante de Deus e Seus Ensinos, não obstante, possuindo potencial intelectual. Óbvio que a dos insensatos denunciada é essa última. Falta-lhes o senso do propósito, do objetivo da vida.

Acontece que, a loucura do ponto-de-vista da lógica humana, não basta para tolher a alguém de acertar com a vereda da salvação: “Ali haverá uma estrada, um caminho, que se chamará o caminho santo; o imundo não passará por ele, mas será para aqueles; os caminhantes, até mesmo os loucos, não errarão.” Is 35;8

Paulo enfatizou que as coisas espirituais não podem ser entendidas pelos que se apoiam apenas na inteligência natural. “Nós pregamos a Cristo crucificado, que é escândalo para os judeus, loucura para os gregos.” I Cor 1;23

Pois, “O homem natural não compreende as coisas do Espírito de Deus, porque lhe parecem loucura; não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente.” I Cor 2;14

Sem vida espiritual, mesmo os “sábios” tateiam no escuro. “Falamos Sabedoria de Deus, oculta em mistério, a qual Deus ordenou antes dos séculos para nossa glória; a qual nenhum dos príncipes deste mundo conheceu; porque, se conhecessem, nunca crucificariam ao Senhor da Glória.” I cor 2;7 Aos que creem Deus revela; aos demais, segue “oculta em mistério.”

Antes, expusera os motivos: “Visto como na Sabedoria de Deus o mundo não O conheceu pela Sua Sabedoria, aprouve a Deus salvar os crentes pela loucura da pregação.” I Cor 1;21

Abstraída a ironia do texto de Paulo, a loucura é apenas um disfarce da sabedoria Divina. “Porque a loucura de Deus é mais sábia que os homens; a fraqueza de Deus é mais forte que os homens.” I Cor 1;25 Figura eloquente para retratar ao Amor Divino.

A precipitação, a impaciência é uma espécie de “luta contra o tempo”, desnecessária para quem aprendeu e crê, que em Cristo possui vida eterna. A redução das expectativas à vida terrena apenas, patrocina ao “curta a vida porque a vida é curta” e similares.

Essa “curtição" não passa de escravidão, fuga acoroçoada pelo temor da morte; Cristo veio para que, “Livrasse todos os que, com medo da morte, estavam por toda vida sujeitos à servidão.” Heb 2;15

Longanimidade é um “efeito colateral” da paz de espírito, de uma consciência sem acusações, alinhada com Deus; coisa impensável a quem vive na impiedade; “Os ímpios são como mar bravo, porque não se pode aquietar; as suas águas lançam de si lama e lodo. Não há paz para os ímpios, diz o meu Deus.” Is 57;20 e 21

A mulher adúltera também foi vista como uma refém da impaciência: “Estava alvoroçada e irrequieta; não paravam em sua casa seus pés. Foi para fora, depois pelas ruas, ia espreitando por todos os cantos;” Prov 7;11 e 12

Como vimos no princípio, o impaciente “mostra” sua loucura. A outra, a “loucura” que crê em Deus enseja paz, dá discernimento sem se deixar discernir; “O que é espiritual discerne bem tudo, e de ninguém é discernido.” I Cor 2;15

Assim, na reta final da saga Divino/humana, a loucura que crê será atacada como nunca pela loucura que duvida. A força estará do lado dos ímpios, até certo ponto. Quem não ousou viver além da matéria, também não terá o que fazer no reino que lhe é estranho. “... Não temais os que matam o corpo, depois, não têm mais o que fazer.” Luc 12;4

domingo, 9 de abril de 2023

O exercício da espera


“Se te mostrares fraco no dia da angústia a tua força será pequena.” Prov 24;10

Angústia, quando nossas expectativas são malogradas, as coisas acontecem opostas aos nossos anseios, as luzes que mostrariam o caminho parecem se apagar, o mero continuar vivendo nos é um peso.

Alguns chamaram de “noite escura da alma”; “Quem há entre vós que tema ao Senhor e ouça a voz do Seu servo? Quando andar em trevas, não tiver luz nenhuma, confie no Nome do Senhor; firme-se sobre seu Deus.” Is 50;10

Ora, se o desafio é para que andemos na luz, quando estamos perplexos, sem luz nenhuma, sem a menor noção do que fazer, óbvio que estamos num lugar de espera; não devemos andar no escuro.

Se, “Os passos de um homem bom são confirmados pelo Senhor...” Sal 37;23 as pausas dos que seguem em obediência a Ele, certamente, também.

Essas inquietações tipo: "alguém precisa fazer alguma coisa!” não combinam com a jornada dos que seguem Àquele que É A Luz do mundo. Quando Ele nos deixa no escuro, testa nossa confiança Nele; sabemos que, oportunamente virá em nosso socorro.

As precipitações dos que não suportam esperar foram figuradas como acender um fogo; os arranjos humanos, onde se deveria simplesmente, confiar e esperar; “Eis que todos vós, que acendeis fogo e vos cingis com faíscas, andai entre as labaredas do vosso fogo, entre as faíscas, que acendestes. Isto vos sobrevirá da minha mão, em tormentos jazereis.” Is 50;11

Quando O Senhor chamou Moisés para lhe dar as Tábuas da Lei, ao povo cabia esperar, uma vez que, as maravilhosas intervenções Divinas para os libertar da escravidão eram recentes, testemunhas eloquentes do cuidado Divino para com eles. Entretanto, o “exercício da espera” se revelou insuportável para eles.

“Vendo o povo que Moisés tardava em descer do monte, acercou-se de Arão, e disse-lhe: Levanta-te, faze-nos deuses, que vão adiante de nós; porque quanto a este Moisés... não sabemos o que lhe sucedeu.” Ex 32;1

Para quem estivera 430 anos em cativeiro, de repente, libertos milagrosamente, esperar 40 dias pareceu demais. Então, decidiram agir “no escuro”. “... porque, quanto a Moisés... não sabemos o que lhe sucedeu.”

Um clássico exemplo de que, quem está no escuro, não precisa caminhar; se não sabe o que fazer não piore as coisas, espere.

Porém, eles pioraram! Forjaram um bezerro de ouro e fizeram festa ao redor daquilo. Quando O Eterno agia milagrosamente em favor deles, espalhando pragas no Egito para os libertar, não há registro que nenhum deles tenha se alegrado pela Majestosa intervenção! Mas, na fraude que criaram, se alegraram! “No dia seguinte madrugaram, ofereceram holocaustos, trouxeram ofertas pacíficas; e o povo assentou-se a comer e beber; depois levantou-se a folgar.” Ex 32;6

Essas temeridades “no escuro” resultaram na Ira Divina, e na morte de três mil homens, v 28 porque não suportaram a “angústia” de esperar 40 dias.

Jeremias ensinou: “Eu sei, ó Senhor, que não é do homem o seu caminho; nem do homem que caminha o dirigir seus passos.” Jr 10;23

Salomão ampliou: “Confia no Senhor de todo teu coração, não te estribes no teu próprio entendimento. Reconhece-o em todos os teus caminhos, Ele endireitará tuas veredas. Não sejas sábio aos teus próprios olhos; teme ao Senhor e aparta-te do mal.” Prov 3;5 a 7

Geralmente, nossas angústias são de fabricação própria. As expectativas que acoroçoamos, divorciadas do Divino plano para nós, nas quais, julgamos estar nossa ventura, nem sempre seriam como nos parecem, se levadas a efeito. Entretanto, nos angustiamos porque elas não acontecem.

Quem pretende herdar a vida eterna, deve aprender a ver o tempo com O Eterno; “Tudo tem seu tempo determinado, há tempo para todo o propósito debaixo do céu.” Ec 3;1 Não se trata de fatalismo, no estilo as tragédias gregas; mas, que tudo tem seu tempo oportuno; há têmperas e experiências que devemos receber, suportando o processo do Criador.

Nem todas as angústias são pelas precipitações da alma, porém, para todas, a confiança em Deus é indispensável. Sua providência não se atrasa; é nossa ansiedade que se antecipa.

Nossos dias difíceis, se outra coisa não fizerem, ao menos, servem de contraponto, para que melhor apreciemos os bons. “No dia da prosperidade goza do bem, mas no da adversidade considera; porque também Deus fez a este em oposição àquele, para que o homem nada descubra do que há de vir depois dele.” Ecl 7;14

“Ouvistes qual foi a paciência de Jó, e vistes o fim que o Senhor lhe deu...” Tg 5;11 “Por que estás abatida, ó minha alma, por que te perturbas em mim? Espera em Deus, pois ainda O louvarei pela salvação da Sua Face.” Sal 42;5

sábado, 8 de abril de 2023

Mortos, vivos

 “Ainda que se mostre favor ao ímpio, nem por isso aprende justiça; até na terra da retidão, pratica a iniquidade; não atenta para a Majestade do Senhor.” Is 26;10

Filósofos discutiram se, as almas humanas vêm à vida com “informações” gravadas ou, se são como um CD virgem, “em branco” que nascem e passam a receber noções, valores, conhecimento, a partir do meio em que vivem, e influências que recebem.
Os racionalistas criam que trazemos certas coisas inatas na nossa “razão”, de modo que as “sabemos” sem ter aprendido. Os empiristas acreditam que todo nosso cabedal de luz e valores foi aprendido durante a vivência; nada trouxemos como ponto de partida. Nascemos vazios e pouco a pouco fomos preenchidos.
No verso inicial temos uns, cuja índole é tal, que parecem não sofrer influências alheias, tampouco, do meio; “ainda que se mostre favor ao ímpio, nem por isso aprende justiça; até na terra da retidão pratica iniquidade...” Esse despreza a ajuda, o favor de alguém, e mesmo as circunstâncias que parecem requerer certo tipo de postura, na “terra da retidão”; nada disso basta para que, ele atue de modo diverso à sua índole, se deixe contagiar pelo ambiente onde está.

Não significa que tenha nascido assim, nem que, só tenha tido oportunidade de aprender isso; pode ter chegado a esse ponto mediante escolhas feitas ao longo da caminhada.
Normalmente, num conflito entre valores e comodismo, as almas preferem o mais fácil, em seu próprio prejuízo; “Porque todo aquele que faz o mal odeia a luz, não vem para a luz, para que suas obras não sejam reprovadas.” Jo 3;20 Entre a luz que a desnuda e mostra como está, e as trevas que permitem manter as aparências, a alma ímpia escolhe essas.
A Palavra de Deus esposa que muitos fazem as coisas certas, coerentes com A Lei Divina, não as tendo aprendido. “Porque, quando os gentios, que não têm lei, fazem naturalmente as coisas que são da Lei, não tendo eles lei, para si mesmos são lei; os quais mostram a obra da Lei escrita em seus corações, testificando juntamente suas consciências e seus pensamentos, quer acusando-os, quer defendendo-os.” Rom 2;14 e 15 Se, a coisa estava escrita nos corações e é lida pela consciência, inegável que isso veio “de fábrica”, não foi aprendido na escola da vida.
Notório que as experiências têm poder de nos moldar, forjar preferências, patrocinar escolhas. Um modo de ser, adotado por largo tempo, como que, se torna parte de nós. “Porventura pode o etíope mudar sua pele, ou o leopardo suas manchas? Então podereis vós fazer o bem, sendo ensinados a fazer o mal.” Jr 13;23
Entretanto, aquele que, antes de mesclar-se aos meios onde a impiedade campeia, aprendeu e adotou valores, sua alma se impregnou dos mesmos, ainda que as coisas ao seu lado favoreçam à impiedade e injustiça, as coisas que albergou antes em sua alma tendem a se sobrepor, como Ló, em Sodoma: “Porque este justo, habitando entre eles, afligia todos os dias sua alma justa, vendo e ouvindo sobre suas obras injustas.” II Ped 2;8

Esse pleito filosófico entre racionalismo e empirismo, também tem um similar, teológico; calvinismo e arminianismo. Os primeiros acreditam que trazemos escolhas “à priori”, que Deus teria predeterminado quem seria salvo e quem se perderia. Os arminianos acreditam que nossas escolhas, após ouvirmos o Evangelho, é que determinam onde será nossa eternidade.
Não vou me ater aos argumentos de uns e outros, agora; não é o objetivo desse texto. Apenas, pontuo que me identifico com a posição arminiana, me parece mais coerente com As Escrituras.
Alguns pretendem se escudar no meio, outros, dizem que sua inclinação a determinado comportamento é inata; “Eu nasci assim.”
Ora, é justo por saber que todos nascem com defeito, (inclinados ao pecado) que Cristo colocou duas coisas como indispensáveis: Renúncia: “... Se alguém quer vir após Mim, negue a si mesmo...” Luc 9;23 e Regeneração: “... aquele que não nascer de novo, não pode ver o Reino de Deus... aquele que não nascer da água e do Espírito, não pode entrar no Reino de Deus.” Jo 3;3 e 5

A voz tênue que consegue advertir até aos “sem Lei” sobre os reclames da Lei Divina, a consciência, é potencializada nos renascidos; a “Lei de Cristo” é escrita para conduzir aos que nascem de novo. “... Porei Minhas leis no seu entendimento, em seu coração escreverei...” Heb 8;10

Quem quiser justificar-se achará explicações inatas ou circunstantes sobejas; porém, quem quiser ser justificado por Cristo, esqueça argumentos e pegue sua cruz. Ela mata, mas faz viver. “Porque já estais mortos, e vossa vida está escondida com Cristo em Deus.” Col 3;3

sexta-feira, 7 de abril de 2023

Paixão, ou amor?

 

“Deus prova Seu amor para conosco, em que Cristo morreu por nós, sendo nós ainda pecadores.” Rom 5;8

A ideia vulgar de amor deriva de apelos estéticos; beleza, robustez, admiração, desejos, idealização e prazer. O cinema, novelas, os realitys, escolhem os belos, os “sarados” para contarem suas “histórias de amor”; para envolver o público, que, “amaria” seus personagens favoritos. Ora, isso é paixão, uma “doença” com prazo de validade, alterações psicossomáticas, reações químicas no organismo que, logo empalidecem.
Pois, o Amor de Deus aflorou por nós apesar de nossa feiura moral, de sermos adversários Dele. A ideia de inimizade com Deus pode ferir os escrúpulos dos mais sensíveis; Deus não doura a pílula e apresenta as coisas como são: “Isto é, Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo, não lhes imputando seus pecados; e pôs em nós a palavra da reconciliação.” II Cor 5;19 Quem carece reconciliar-se é inimigo.
Na Bíblia não encontramos o ensino que, Cristo tenha se apaixonado pela humanidade. Embora, as que trazem secções distinguidas por certos títulos, num desses aludam à “Paixão de Cristo”, O Salvador não foi superficial no que sentiu por nós.
“Ninguém tem maior amor que este, de dar alguém Sua vida pelos Seus amigos.” Jo 15;13 O amor se demonstra com ações, não com palavras. “... dar Sua vida...”

Se, a relação do homem com Deus era de inimizade, e O Mediador, deu Sua vida pelos amigos, aparentemente temos uma contradição. Deus “... chama às coisas que não são, como se já fossem.” Rom 4;17
Aqueles que corresponderem ao Seu amor, mediante obediência, serão reconciliados; “Vós sereis Meus amigos, se fizerdes o que vos mando. Já vos não chamarei servos, porque o servo não sabe o que faz o seu senhor; mas tenho-vos chamado amigos...” Jo 15;14 e 15 Amigos não têm segredos. “O segredo do Senhor é com aqueles que O temem; Ele lhes mostrará Sua Aliança.” Sal 25;14
Embora a eficácia da regeneração seja suficiente para todos, não serão todos, infelizmente, beneficiados pela Vitória do Salvador. “A todos quantos O receberam, deu-lhes poder de serem feitos filhos de Deus, aos que creem no Seu Nome;” Jo 1;12
“Porque, como pela desobediência de um só homem, muitos foram feitos pecadores, assim pela obediência de um muitos serão feitos justos.” Rom 5;19 Mesmo a salvação estando ao dispor de “toda criatura”, alcançará apenas os que correspondem ao Amor Divino, não, a todos. A porta estreita e o caminho largo conduzem a destinos diferentes.
Pois, o amor, diferente da paixão, não é mero sentimento; é um mandamento, que envolve uma decisão moral, uma escolha, mesmo que o sentimento nem ajude no tocante a isso. “Amai, pois, aos vossos inimigos, fazei bem, emprestai, sem nada esperardes; será grande o vosso galardão e sereis filhos do Altíssimo; porque Ele é benigno até para com ingratos e maus.” Luc 6;35

Alguns se equivocam presumindo ter o “dom do amor”; amor não é um dom.
Paulo denuncia que nenhum dom sem ele faz sentido, ver I Cor 13 de modo que, esse mandamento é “acessório” indispensável para nosso relacionamento, com Deus e o semelhante.
Paulo exemplifica como se pode amar aos inimigos, a despeito dos sentimentos; “se teu inimigo tiver fome, dá-lhe de comer; se tiver sede, dá-lhe de beber; porque, fazendo isto, amontoarás brasas de fogo sobre sua cabeça. Não te deixes vencer do mal, mas vence o mal com o bem.” Rom 12;20 a 21
A hipervalorização da Graça, leva alguns desavisados a presumir que em nome do amor, a “porta estreita” agora é larga. Equacionam erroneamente o amor com sentimentalismo, ausência de correção, disciplina.
Os que pregam essas coisas são cheios de “religiosidade, legalismo, falta de amor”. Será? Deus ensina: “Porque o Senhor corrige ao que ama, e açoita a qualquer que recebe por filho.” Heb 12;6 “Eu repreendo e castigo a todos quantos amo; sê, pois, zeloso e arrepende-te.” Apoc 3;19

É mais fácil enfrentar a outrem do que a si mesmo. Assim, muitos se ocupam de atacar os ministérios de quem lhes causa desconforto anunciando retamente A Palavra, invés de ousar contra seus pecados favoritos, ainda guardados afetivamente em seus armários.
“O não julgueis,” veta juízo temerário, de humana origem. A Palavra julga ao próprio pregador. Quem prega-a retamente não julga, apenas apresenta o juízo Divino. “... a palavra que tenho pregado, essa os há de julgar...” Jo 12;48

Em suma, a entrega de Cristo por nós não derivou de paixão, mas de amor; a aversão à disciplina e correção não são derivados do amor, mas, fuga da verdade. “Deus é Espírito, importa que os que o adoram o adorem em espírito e em verdade.” Jo 4;24