quinta-feira, 24 de março de 2022

Umbigos coroados


“Quase todos os homens são capazes de suportar adversidades, mas se quiser pôr à prova o caráter de um homem, dê-lhe poder.” Autor desconhecido

Adversidade de certa forma tem poder sobre mim. Senão, sequer ousaria ser minha “adversária”. Todavia, o poder em minha mão é a pedra de toque que mensura meu caráter. Como atuo em relação ao que está sob minha jurisdição, mostra quem sou.

Um rei estende seu poder sobre todo o reino; entretanto, às vezes o mal está bem perto; Isaías disse ao rei Ezequias. “... Assim diz o Senhor: Põe em ordem tua casa, porque morrerás...” Is 38;1 Mesmo sendo rei, seu poder era limitado; “... quem está altamente colocado tem superior que o vigia; há mais altos do que eles.” Ecl 5;8

Na “Império Virtual”, cada um é “César” com sua coroa de latão, reinando sobre opiniões e gostos; os seus são decretos reais; os alheios, meros vassalos.

Não concordou com algo? Exclui. Desgostou de um reparo, um conselho, opinião; posta uma indireta venenosa, quando não, um direto no queixo do atrevido que ousou discordar do/a rei/rainha. O “Coliseu” continua alimentando seus leões com carne humana.

Certa vez li de uma “amiga” que não aceitava opiniões contrárias; “Isto aqui não é uma democracia; (a página dela) é uma monarquia e a rainha sou eu.” Me afastei por falta de jeito para vassalar num reino assim.

As coroas, embora feitas para as cabeças, algumas parecem ornar umbigos.

A “humildade” dos políticos em campanha, e a arrogância dos mesmos, uma vez eleitos, é didática sobre o mal do poder. Ele já estava feito, potencialmente; mercê das circunstâncias, errava camuflado na masmorra do coração egoísta; mas, a escada do sufrágio fez subir ao trono, onde pode ser visto de longe. Dane-se o Peter Parker! Agora tremam ante o Spiderman!

Amiúde, esse “poder” exacerbado é um substrato das nossas fraquezas; por inépcia para enfrentarmos a nós mesmos, única vitória cujo galardão é certo, gastamos munição enfrentando aos outros, parece mais fácil. “cortamos a grama” dos átrios vizinhos, enquanto no nosso, medra toda sorte de ervas daninhas.

Sócrates, o filósofo, definindo ao ser humano disse ser esse, um invólucro de pele, cobrindo um monstro policéfalo (com várias cabeças) e um homenzinho no alto. Segundo ele, cada cabeça do dito bicho é um desejo insano; o homenzinho impotente, a razão, que deveria pautar as escolhas, mas sempre capitula aos poderes superiores do bicho.

Essa impotência não passou desconhecida Daquele que sonda aos corações e sabe todas as coisas; a primeira providência Dele, nos que recebem ao Salvador é “energizar” ao homenzinho aquele, para que pudesse resistir aos ataques do “monstro”; “A todos quantos O receberam, deu-lhes poder de serem feitos filhos de Deus, aos que creem no Seu Nome;” Jo 1;12

Dada nossa condição de pecadores mortais, a exortação a Ezequias serve para cada um de nós: “Põe me ordem tua casa, porque morrerás.” Ou, alguém supõe que possa lutar com a morte? “Nenhum homem há que tenha domínio sobre o espírito, para o reter; tampouco, tem ele poder sobre o dia da morte; também não há licença nesta peleja; nem, a impiedade livrará aos ímpios.” Ecl 8;8

Atualmente o egoísmo parece um “Mister Olímpia” pelos músculos que expõe. No futebol, por exemplo, basta alguém cometer o “crime” de gostar de um clube rival, para ser alvo das mais veementes agressões. Como alguém ousaria não gostar do mesmo que eu? Tal deixa de ser adversário e se faz inimigo. Não falo de uma torcida específica; em todas as cores existe muitos assim.

Ora, o poder para operar coisas nos domínios do Espírito, (Santo) depende de quanto permitimos que o mesmo poder opere em nós, antes de, terceiros. Pois, Deus “... É Poderoso para fazer tudo, muito mais abundantemente além daquilo que pedimos ou pensamos, segundo o poder que em nós opera” Ef 3;20

Por isso, a instrução de Paulo para que se disciplinasse aos desobedientes, apenas, quando os pretensos disciplinadores já o fossem; “Estando prontos para vingar toda desobediência, quando for cumprida vossa obediência.” II Cor 10;6

Noutras palavras: Exerçam poder sobre outros, à medida que permitirdes que o mesmo poder atue sobre vós. Como Cristo na tentação do deserto, expulsou Satanás de perto de si mesmo, antes de expulsá-lo das vidas de terceiros.

Os simples contemplam privilégios do poder; os prudentes consideram responsabilidades; quem padece mais sede de poder sobre outros, é porque inda não bebeu das taças do poder sobre si mesmo. Não conseguindo dominar ao maior adversário, investe contra os menores.

Escolhe a desgraça por fugir da Graça Divina: “... tempo há em que um homem tem domínio sobre outro, para desgraça sua.” Ecl 8;9

Cabeças Ocas


“O Senhor te porá por cabeça, não por cauda; só estarás em cima, não debaixo, se obedeceres aos mandamentos do Senhor teu Deus, que hoje Te ordeno, para os guardar e cumprir.” Deut 28;13

Verso favorito dos que, excitados pela ideia de ser líderes, não, caudatários, esquecem de ler as "letras miúdas" do contrato.

No “Caput” do tratado temos: “Será que, se ouvires a Voz do Senhor teu Deus, tendo cuidado de guardar todos os Seus Mandamentos que Eu hoje te ordeno, o Senhor teu Deus te exaltará sobre todas nações da terra.” v 1

O Eterno falava a uma nação embrionária, Israel; prometendo a essa, que, ouvindo fielmente Sua Voz e obedecendo, eles seriam exaltados sobre as demais.

A parte humana era ouvir a Voz Divina e guardar Seus mandamentos, obedecer; exaltação seria consequência; “Deus te exaltará.”

Infelizmente, sabemos, isso não aconteceu. Israel servira por mais de quatro séculos aos faraós; então, estabelecido na “Terra Prometida” a infidelidade mostrou as garras; após muitas idas e vindas, entre bons e maus líderes acabou cativo por mais setenta anos.

Incautos têm o hábito de tomarem para si as promessas feitas a Israel, ignorando as consequências pela desobediência; muitos pregadores “cristãos” lançam sobre seus ouvintes que, também nós, fomos chamados a ser cabeças.

A ideia vulgar é ser proeminente, influente econômica e politicamente, o que Deus teria planejado para cada um de nós, os cristãos, em particular. Temo que não seja bem assim.

Estados e países têm suas “Capitais”, que é uma derivação de “cápita”; cabeça, em latim. Num universo de umas seis mil cidades, são menos de trinta capitais em nosso país. Não há espaço para tantas “cabeças”.

Há uma diferença funcional entre ambos os Testamentos que não podemos ignorar, para uma interpretação sadia da Palavra de Deus. No antigo Ele tratava, sobretudo, com uma nação, que pretendia estabelecer na terra, como “Reino Sacerdotal, povo santo.”

No Novo, em Cristo, depois da rejeição do Messias pelas lideranças do “Povo Eleito” incidiu a sentença que O Próprio Salvador predissera: “Portanto, Eu vos digo que o Reino de Deus vos será tirado; será dado a uma nação que dê os seus frutos.” Mat 21;43

“Nação” agora é figura de linguagem, para todos os seguidores de Cristo, Judeus e Gentios, unidos pelo traço comum de “dar frutos” Nele. Isso facilmente se percebe a partir da comissão global dada aos primeiros salvos: “Ide por todo mundo; pregai o Evangelho a toda criatura...”

Paulo ensinou: “Porque Ele é nossa paz, o qual, de ambos os povos fez um; derrubando a parede de separação que estava no meio.” Ef 2;14

Assim, já não há “cabeças” nacionais; os cristãos foram chamados à renúncia de si mesmos, não à conquista de um Reino terreno; somos desafiados a ser sal e luz, exemplos no falar e no agir, não cobiçosos de grandezas mortas, como os que amontoam metais sobre seus túmulos enquanto desprezam a vida.

As riquezas que contam são “de cima”; valores do alto, o “Tesouro nos Céus”. Então, ser cabeça ou cauda deve ser aquilatado sob essa escala de valores, como ensinou Isaías: “O ancião, o homem de respeito é a cabeça; o profeta que ensina falsidade é a cauda.” Is 9;15

Portanto, você que se jacta de ser “cabeça” entenda que sua função é ser alguém respeitável, diferente do que propaga ou confia em falsidades.

Como no caso de Israel, a relevância herdade derivaria de ouvir a Voz de Deus e obedecer, muito mais nós, a quem O Filho de Deus Falou abertamente, coisa desconhecida no Antigo Pacto. A quem mais se deu, mais será cobrado, ensinou O Salvador; de modo que, nossa dívida é maior que a deles.

Diferente da exaltação prometida naqueles dias, agora temos o concurso da rejeição do mundo e seu príncipe, em cujas mãos estão, o domínio político e econômico, em esmagadora maioria. “No mundo tereis aflições...”

Logo, a pretensão de grandezas terrenas num sistema ímpio às portas da condenação é uma insanidade sem pé nem cabeça.

Somos membros de um Corpo Santo, cuja cabeça, É Excelsa, Cristo. Paulo exortou contra as heresias periféricas dos que estavam, “não ligados à cabeça, da qual todo o corpo, provido e organizado pelas juntas e ligaduras, vai crescendo em aumento de Deus.” Col 2;19

Autonomia alienada de Deus foi a queda. Desde então, a doença permanece. “Hay muchos que prefiren ser cabezas de ratón, a ser caudas de león”, ouvi de um castelhano certa vez.

A coisa é relativamente simples de entender, embora, difícil andar nela; ou, nos rendemos a Cristo, O Digno Cabeça, Rei dos Reis; ou, fingindo ser donos dos próprios narizes, seguiremos serviçais do monstro aquele, de sete cabeças.

quarta-feira, 23 de março de 2022

Você está enganado!


“Porque tanto o profeta, quanto o sacerdote, estão contaminados; até na Minha Casa achei sua maldade, diz o Senhor.” Jr 23;11

Deus ensina que tudo tem seu tempo determinado. Atrevo-me a dizer que muitas coisas têm também um local apropriado; desfilando fora desse, não farão boa figura.

A dança requer o concurso da música, sem a qual soaria esquisita, no mínimo. O solene é refratário ao bufão; um hospital a algazarras, barulho; a intimidade é um “cenáculo” hermético, sem espaço para terceiros; o testemunho deveria desfilar de mão dadas com a verdade; senão, nem deveria sair de casa; “Não dirás falso testemunho.” Se, alguém frequenta ambientes dedicados ao Santo, pelo menos nesses, deveria manifestar certa reverência, temor; não entraria de botas embarradas, num local sofisticadamente limpo, decorado.

Em Jeremias encontramos dois, que, pelas funções exercidas deveriam, não apenas respeitar esses ambientes, mas, ser instrumentos do Supremo Arquiteto, para cooperarem na “decoração” que Ele deseja. Sacerdote e profeta.

Estando em suas almas, contaminados, poluíam onde frequentavam, também; “Porque tanto o profeta, quanto o sacerdote, estão contaminados; até na minha casa achei sua maldade...”

Não significa que existam lugares apropriados para pecar; mas, alguns, pela Santa Presença envolvida, são espaços que demandam temor, reverência. Isaías denunciou outros assim: “Ainda que se mostre favor ao ímpio, nem por isso aprende justiça; até na terra da retidão ele pratica iniquidade; não atenta para a Majestade do Senhor.” Is 26;10

Nos dias do Salvador ocorreu o mesmo; “... A minha casa será chamada casa de oração; mas vós a tendes convertido em covil de ladrões.” Mat 21;13

Uns pecavam até na Casa do Senhor; outros, na “Terra da retidão”; deve ser a mesma coisa.

A loucura do ímpio é tal, que consegue a proeza de pecar orando!! “O que desvia seus ouvidos de ouvir a Lei, até sua oração será abominável.” Prov 28;9

A Palavra ensina-nos a termos ouvidos, mais que bocas. Que sejamos prontos a ouvir, tardios em falar.

Não significa que os que atuam ministerialmente sejam perfeitos, não pequem; mas, o mínimo que se espera é sejam detentores do conhecimento necessário sobre sua função, e o que ela significa. Um lapso miúdo, no que ocupa lugares santos já incomoda; “... as moscas mortas fazem exalar mau cheiro e inutilizar o unguento do perfumador...” Ecl 10;1

Buscar um desses deveria significar aproximação com Deus; não, com o pecado; “Porque os lábios do sacerdote devem guardar o conhecimento; da sua boca devem os homens buscar a Lei porque ele é mensageiro do Senhor dos Exércitos.” Ml 2;7

Não tomar o Nome do Senhor em vão é um mandamento.

Entretanto, as redes sociais estão eivadas de “profetas” com uma “intimidade” com O Eterno que até dá medo; “Deus me mostra isso, aquilo; manda dizer aquilo outro para alguém...” Cáspita!!!

Deus não fala com alguéns! Se, entregar algo pontual para determinada pessoa, Pode chamá-la pelo Nome. Se o “profeta” fica palpitando para todo lado, mesmo que “adivinhe” eventualmente, o dito não vem do Senhor.

São chutadores sem noção, privados da Graça de Deus; pois, algumas coisas são aprendizados básicos para os que, a recebem; situa-nos como pecadores que somos, e faz entender que, sem santificação ninguém verá O Senhor.

Nos torna cautelosos ao falar em Nome do Eterno; “Não te precipites com tua boca, nem teu coração se apresse a pronunciar palavra alguma diante de Deus; porque Deus está nos céus; tu estás sobre a terra; assim sejam poucas tuas palavras.” Ecl 5;2

Se estivessem a serviço Dele, antes de entregar “vitórias” a torto e a direito para gente que não se atreve a vencer nem mesmo, à cobiça material, manteriam a reverência Devida ao Santo, invés de profaná-lo. “Ao Meu povo ensinarão a distinguir entre o santo e o profano; o farão discernir entre o impuro e o puro.” Ez 44;23

Algumas pistas são básicas para se identificar um profeta probo; “Mas, se estivessem no Meu Conselho, então teriam feito Meu povo ouvir as Minhas Palavras; o teriam feito voltar do seu mau caminho, e da maldade das suas ações.” Jr 23;22 Entregariam correção segundo a Palavra, não essas “vitórias” incondicionais, segundo os desejos carnais.

Perguntado sobre características dos últimos dias, O Salvador advertiu: “Vede que ninguém vos engane...” A maior “vitória” de um salvo nesse contexto seria caminhar à Luz Divina, vendo pelos Olhos do Espírito; “O que é espiritual discerne bem tudo e de ninguém é discernido.” I Cor 2;15

O primeiro engano que precisamos vencer habita em nós mesmos, e nos faz crer que andando à nossa maneira somos chegados do Santo. “Há um caminho que ao homem parece direito, mas no fim, são os caminhos da morte.” Prov 14;12

domingo, 20 de março de 2022

Altos e baixos


“Melhor é a criança pobre e sábia que o rei velho e insensato, que não se deixa mais admoestar.” Ecl 4;13

Como uma criança poderia ser sábia? Costumamos ver a sabedoria como contingente; a Palavra coloca como uma disposição de espírito; “O Temor do Senhor é o princípio da sabedoria” Prov 1;7; “Instrui o sábio, ele se fará mais sábio...” Prov 9;9

Essa disposição de ouvir e aprender possibilita que nosso caminho errante seja refeito, tornado retilíneo; “... Porque os caminhos do Senhor são retos ...” Os 14;9 O dito que Ele escreve certo por linhas tortas deriva de nossa percepção, a qual sofre lapsos de saber.

A sabedoria do alto é um dom; “Ele reserva a verdadeira sabedoria para os retos. Escudo é para os que caminham na sinceridade, para que guardem as veredas do juízo. Ele preservará o caminho dos Seus santos.” Prov 2;7 e 8

Se, o oposto à criança sábia é um rei insensato que não aceita admoestação, necessária a conclusão, pois, que a “sabedoria” da criança consiste em ouvir, se deixar ensinar.

Stephen Hawkin disse que, “A fé é um brinquedo de crianças com medo do escuro;” e, um pregador respondeu: “O ateísmo é uma brincadeira de adultos com medo da luz.” Ambas as sentenças fazem sentido.

Porém, convém lembrar que esse pleito traz uma reverberação de Platão, que dissera: “Trágico não é a criança com medo do escuro; antes, o adulto com medo da luz.”

Pois, “Aquele que não se fizer como uma criança não pode entrar no Reino dos Céus.”

A Palavra nos apresenta como errantes no escuro sendo buscados pela Luz da qual temos medo; “A condenação é esta: Que a luz veio ao mundo, os homens amaram mais as trevas que a luz, porque suas obras eram más. Porque todo aquele que faz o mal odeia a luz; não vem para a luz, para que suas obras não sejam reprovadas.” Jo 3;19 e 20

A rejeição à Luz deriva mais do medo de sermos vistos, que do medo de ver. O que é a velha hipocrisia, senão, uma máscara para sair bem na foto, enquanto nossas almas seguem saindo mal nos fatos?

No império das vontades naturais todos nós somos “reis velhos e insensatos”, chamados a nascer de novo, para que a criança interior regenerada comece a ouvir.

Nesse lastro se estende o ensino que, “diante da honra vai a humildade.”

Se, até nos imperfeitos domínios humanos, arrogância e soberba cheiram mal, o que dizer delas, diante Daquele que, “É tão Puro de Olhos que não Pode ver o mal...?” Hab 1;13

Talvez, alguém estar num lugar alto e carecer admoestação seja indicativo que não está apto para o lugar que ocupa. Os degraus das escadas humanas são “pregados” por conveniências, fisiologismos, cegueira, lisonjas, idolatria e variáveis similares, invés da aptidão e idoneidade, como convém.

Além das arroladas “credenciais” dos que elevam a altos postos, outra é necessária para o que será içado; “A estultícia está posta em grandes alturas...” Ecl 10;6

Grandes homens, Moisés, Jeremias, Isaías, temeram ao serem chamados por Deus; acharam-se ineptos. Convoquemos um estúpido a um lugar alto; ele se dirá pronto, antes mesmo de saber para quê.

Se eu for suficientemente parvo para aceitar uma carga maior que minhas forças, necessariamente serei para desacatar conselhos, ensinos.

Uma tendência vaticinada para esses dias é a exaltação de gente baixa, moralmente; Ruy Barbosa chamou de “triunfar das nulidades”, e Isaías previu com palavras semelhantes; “... o mundo enfraquece e murcha; enfraquecem os mais altos do povo da terra.” Is 24;4

Aos olhos dos Céus as coisas não são como parecem aos nossos; “A estultícia está posta em grandes alturas, mas os ricos estão assentados em lugar baixo. Vi servos a cavalo, e príncipes andando sobre a terra como servos.” Ecl 10;6 e 7

A terra dos homens costuma estratificar a espécie conforme o dinheiro ou bens que cada um possui; as “classes sociais”. O cotejo celeste é diferente; não se dá entre o que tem pouco e o que possui muito dinheiro; antes, coloca o metal num balaio e noutro, a sabedoria.

“Porque a sabedoria serve de sombra, como de sombra serve o dinheiro; mas a excelência do conhecimento é que a sabedoria dá vida ao seu possuidor.” Ecl 7;12

Cotejando a vida com os bens O Salvador perguntou: “Que adianta ao homem ganhar o mundo inteiro se perder sua alma”?

No nosso doentio reino do engano, as presunções rasteiras são coroas; no de Cristo para o qual somos chamados, a coroa se disfarça de cruz.

O lugar para o qual Ele nos chama é alto demais, para que subamos a ele com vestes sujas.

Alma e Espírito


“Com minha alma te desejei de noite, com meu espírito, que está dentro de mim, madrugarei a buscar-te; porque, havendo Teus Juízos na terra, os moradores do mundo aprendem justiça.” Is 26;9

“Com minha alma te desejei...”
Alma; sede da vontade humana. Porque Deus nos fez arbitrários, para nossa salvação carece conquistar nossas vontades, inicialmente.

Acedemos fácil ao apelo para lutar contra uma adversidade qualquer; entretanto, relutamos, quando o desafio é lutarmos contra nossas próprias inclinações interiores; “Negue a si mesmo...”

À vontade autônoma que resultou após a queda, a Palavra de Deus chama de carne; “A inclinação da carne é inimizade contra Deus, pois não é sujeita à lei de Deus, nem pode ser.” Rom 8;7 Se, o “poder” dessa surgiu após uma rebelião, natural que continue assim, na mesma rebeldia.

Por outro lado, o espírito regenerado, tende à comunhão e submissão a Deus. Agir ainda, independente Dele, segundo a própria vontade é estar na carne; em submissão à Sua Palavra, andar em espírito. “Vós, porém, não estais na carne, mas no Espírito, se é que o Espírito de Deus habita em vós. Mas, se alguém não tem o Espírito de Cristo, esse tal não é dele.” Rom 8;9

A morte espiritual é um estado de alienação de Deus, não de inexistência. O espírito do não salvo existe; mas, é um morto-vivo; incapaz de liderar decisões para as quais foi criado, vassalo da alma perversa que assumiu o trono que, pelo projeto original seria dele.

Levar uma “carga” assim sobrecarrega à alma; pois, na formatação original ela seria serviçal, não, comandante.

Assim, no que tange ao espírito, a mensagem evangélica propõe que os “mortos” ouçam; “Em verdade, em verdade vos Digo que vem a hora, agora é, em que os mortos ouvirão a Voz do Filho de Deus; os que a ouvirem viverão.” Jo 5;25

No aspecto das almas, sugere que descansem das suas cargas; “Vinde a mim, todos que estais cansados e oprimidos, Eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o Meu jugo e aprendei de mim, que Sou manso e humilde de coração; e encontrareis descanso para vossas almas.” Mat 11;28 e 29

Portanto, desejar com a alma e buscar com o espírito como fez Isaías, só é possível para que tem vida espiritual. A alma caída segue rebelde; o espírito só pode buscar a Deus, depois de vivificado. Por isso, o primeiro dom aos que recebem O Salvador é esse: “A todos quantos O receberam, deu-lhes poder de serem feitos filhos de Deus, aos que creem no Seu Nome;” Jo 1;12

O verniz não formata um artefato, embora lhe possa dar brilho; digo, as palavras certas não bastam, quando as intenções do coração permanecem erradas.

Nada vale alguém se dizer servo de Deus, se, invés de submissão, como convém, apenas usa O Santo Nome como pretexto para buscar seus próprios desejos desorientados. O Salvador foi categórico: “Buscai primeiro o Reino de Deus, e Sua Justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas.” Mat 6;33

A busca de Isaías era sadia: “Havendo os Teus Juízos na Terra, os moradores do mundo aprendem justiça.” 

Quando a nossa for atinente a coisas materiais egoístas, não importa a grandeza de nossa encenação, nem a assiduidade nos “cultos de vitória” da praça, seguiremos sob o comando de uma madrasta inútil, a carne.

O testemunho mais eloquente de conversão é que todos os nossos alvos serão mudados após ela; “Assim que, se alguém está em Cristo, nova criatura é; as coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez novo.” II Cor 5;17

Óbvio que essa mudança não é estanque; de uma vez por todas. Demanda um processo lento, a santificação. Andarmos em espírito é aprender cada dia um pouco mais, para, aprendendo, pecarmos cada dia um pouco menos.

A alma salva continua sendo sede dos desejos, da vontade; mas, depois do bendito descanso, após ceder o comando ao espírito, submete a ele suas vontades, sabendo que as escolhas desse são sadias, não passíveis de condenação; “Portanto, agora nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus, que não andam segundo a carne, mas segundo o Espírito.” Rom 8;1

Servir a Deus demanda sermos obedientes ao Espírito.

Uns cansam dessa direção; permitem que a velha carne se assente ao volante, novamente; A Palavra adverte: “Porque melhor lhes fora não conhecerem o caminho da justiça, que, conhecendo-o, desviarem-se do Santo Mandamento que lhes foi dado; desse modo sobreveio-lhes o que por um verdadeiro provérbio se diz: O cão voltou ao seu próprio vômito; a porca lavada ao espojadouro de lama.” II Ped 2;21 e 22
“Mas de vós, ó amados, esperamos coisas melhores, coisas que acompanham a salvação...” Heb 6;9

sábado, 19 de março de 2022

Internáufragos


“Não há criatura alguma encoberta diante Dele; antes todas as coisas estão nuas e patentes aos olhos Daquele com quem temos de tratar.” Heb 4;13

Se tivéssemos consciência desse fato tentaríamos melhorar nossos atos, invés de melhorar camuflagens, como fazem os hipócritas.

Em geral, as vidas são como nas redes sociais; o que somos se oculta, o que queremos parecer toma as vitrines; a nuvem aceita tudo. A maioria fala de si mesmo; falta conhecimento e intimidade para falar de Deus; buscar a Glória Dele, não a própria.

Às vezes um vídeo/áudio “vaza”; uma gotícula de realidade põe tudo a perder em Fantasiópolis; como recentemente ocorreu com o deputado paulista Arthur do Val, sob risco de cassação pelo vazamento de algumas coisas pouco elogiosas que ele falou.

Se, uma gota faz esse estrago, como será quando a piscina toda for descoberta, por ocasião do Juízo?

Cristo acusou seus oponentes religiosos chamando-os de “sepulcros caiados”, embelezados externa e apodrecidos internamente. Também aqueles “postavam” apenas virtudes e ocultavam o lixo. Porém, “Esconder-se-ia alguém em esconderijos, de modo que Eu não veja?” Jr 23;24

Cada um traz em si fragmentos da Imagem de Deus perdida, a consciência. Ela aquilata as coisas, valora sem interferir. Acusa o erro e silencia ante a ação reta; mas, a decisão sobre fazer ou não determinada coisa é um derivado da vontade, faculdade da alma, não do espírito, como a consciência. Por isso a sentença: “... nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus, que não andam segundo a carne, mas segundo o Espírito.” Rom 8;1

Não poucas vezes ouvi gente caminhando resoluta em direção aos vícios dizendo: “Faço mesmo! não quero nem saber.” Esse “não quero saber” era um revide à própria consciência que, em seu labor luminoso fazia saber que a escolha era má. O processo de cauterização, estava ativo; a vontade acossada pelo desejo insano abafava a luz que “incomoda” quem vive no reino da mentira.

Esses meandros da fé, que demandam obedecer à luz interior castram os “direitos” da vontade rebelde; daí ser impossível seguir a Cristo sem o “Negue a si mesmo.”

Podemos, como sementes sobre pedras, ao acúmulo de alguma poeira e umidade até germinar, sem a profundidade necessária para resistir ao sol quando aquece. Gostar de Cristo, Sua promessa de salvação, depois recuar, quando percebermos a realidade envolvida no pacote.

Naqueles que nascem de novo da água e do Espírito, a luz da consciência passa por um upgrade; coisas tidas como normais deixam de sê-lo; as erradas potencializam o erro; um convertido a Cristo não para de pecar; apenas, deixa de fazê-lo “sem culpa” como antes. A luz da consciência mostra a coisa como é, não como a vontade deseja.

Assim, carecemos superar um monte de vontades perversas às quais estávamos acostumados, até chegarmos à Divina; “Não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos pela renovação do vosso entendimento, para que experimenteis a boa, agradável, e perfeita Vontade de Deus.” Rom 12;2

Ações justas não carecem esconderijo; aliás, deveriam ser perpetuadas, como desejou Jó e foi atendido acerca das suas falas; “Quem me dera agora, que minhas palavras fossem escritas! Quem me dera, fossem gravadas num livro! E com pena de ferro, com chumbo, para sempre fossem esculpidas na rocha. Porque eu sei que o meu Redentor vive, e por fim se levantará sobre a terra.” Cap 19;23 a 25

Na pós verdade atual, onde narrativas suplantam fatos, afinidade ideológica prescinde de lisura moral, temos toda liberdade para bajular, mentir; ousemos um reparo mínimo, um conselho, um ensino e presto veremos quanto a sinceridade é mal vista no oceano global dos internáufragos.

Foi fugindo das consciências que os ancestrais desses caíram; “Conservando a fé, e a boa consciência, a qual alguns, rejeitando, fizeram naufrágio na fé.” I Tim 1;19

Gritamos “urbe et orbe” nossas inconformidades com a insanidade das guerras; depois, no próximo post mostramos nossos assados e bebidas finas, para ostentar, quanto somos felizes. Assomamos do profundo ao raso com a velocidade de um foguete; ou, vivemos ao rés do chão e fingimos profundidade.

“É bem mais difícil julgar a si mesmo do que julgar os outros. Se consegues fazer um bom julgamento de ti és um verdadeiro sábio.” Há mais do que parece, nessa frase de Saint-Exupérry.

Antes da Ceia do Senhor sempre somos desafiados a isso. “Examine, pois, o homem a si mesmo...” I Cor 11;28

Quem olha inside, honestamente, consegue ver seus tons de cinza, necessariamente será cauteloso para não colocar lábaros multicores nas janelas.

No fundo, nossas ostentações frívolas são autocríticas; o que sabemos que deveríamos ser, e apenas encenamos. “Se sabeis estas coisas, bem-aventurados sois se as fizerdes.” Jo 13;17

sexta-feira, 18 de março de 2022

Guias cegos


“Ainda tenho outras ovelhas que não são deste aprisco; também me convém agregar estas; elas ouvirão Minha Voz, haverá um rebanho e Um Pastor.” Jo 10;16

Deparei com um “estudo” onde um líder adventista ensinava, “baseado” nesse texto, que Jesus tem duas igrejas. Uma visível, o citado “aprisco”, outra invisível, espiritual; composta dos salvos entre todas as denominações.

Segundo sua interpretação a Igreja Adventista é o “Aprisco do Senhor”; “Os que guardam a Lei do Senhor e têm o testemunho de Jesus”; as ovelhas desgarradas que O Sumo Pastor buscaria para formar um só rebanho, são os sinceros de outras denominações, que estariam sendo agregadas ao adventismo.

A concessão de que haja salvos entre outras denominações é um progresso; normalmente, “só tem tantã; certos aqui, apenas eu e você.”

Vero que, nem tudo o que frequenta uma igreja é salvo. Morar numa garagem não transformaria ninguém em carro; frequentar assíduo uma igreja cristã não transforma ninguém em cristão, necessariamente.

Existem duas igrejas sim. A Palavra de Deus chama de joio e trigo, numa figura; noutra, palha e trigo; fazendo diferença entre o vero e o falso cristão.

É válido mencionar as duas igrejas, se, com isso pretendermos que uma seja a totalidade do pacote contendo palha e trigo; outra, apenas os grãos. João Batista ensinou: “Em sua mão (Cristo) tem a pá, e limpará Sua eira; recolherá no celeiro Seu trigo, e queimará a palha com fogo que nunca se apagará.” Mat 3;12

No entanto, o que O Salvador pretendeu dizer, nem de longe se assemelha à interpretação que o proponente do adventismo ensinou.

O “Aprisco” em questão era a nação de Israel; os que dentre eles creram, era o alvo primeiro da Sua Obra, como ordenou: “... Eu não fui enviado senão às ovelhas perdidas da casa de Israel.” Mat 15;24

A inclusão dos gentios no projeto de salvação que era o fato novo. Tanto que, isso deu azo a um concílio apostólico para decidir como agir, quando Deus decidiu derramar O Espírito Santo sobre eles.

Após Pedro ter testemunhado o Agir Divino junto aos gentios, O veredicto final veio mediante Tiago; “Simão relatou como primeiramente Deus visitou os gentios, para tomar deles um povo para Seu Nome. Com isto concordam as palavras dos profetas; como está escrito: Depois disto voltarei, reedificarei o tabernáculo de Davi, que está caído, levantarei das suas ruínas, e tornarei a edificá-lo. Para que o restante dos homens busque ao Senhor, e todos os gentios, sobre os quais Meu Nome é invocado, Diz o Senhor, que faz todas estas coisas”. Atos 15;14 a 17

A própria Palavra de Deus ensina quais eram as ovelhas de fora do aprisco, que O Senhor pretendia congregar também, para fazer um só rebanho; os gentios.

Em Cristo não haveria mais separação, como ensinou Paulo: “Porque ele é a nossa paz, o qual de ambos os povos (judeus e gentios) fez um; derrubando a parede de separação que estava no meio.” Ef 2;14

O Adventismo existe desde meados do século 18; como poderia ser o “Aprisco” destacado pelo Senhor no ano trinta e poucos?

Sua ênfase doentia em ser os únicos a “guardar à Lei do Senhor” porque se diferenciam no que tange ao sábado, não seria assim tão febril, se ousassem ler sem óculos distorcidos o que está escrito: “Um faz diferença entre dia e dia, mas outro julga iguais todos os dias. Cada um esteja inteiramente seguro em sua própria mente.” Rom 14;5 “Portanto, ninguém vos julgue pelo comer, beber, por causa dos dias de festa, da lua nova, ou dos sábados.” Col 2;16 “Porque o Filho do homem até do sábado é Senhor.” Mat 12;8

A “Lei do Senhor foi reduzida a dois mandamentos por Ele mesmo; amar a Deus sobre tudo, e ao próximo como a si mesmo; “Destes dois mandamentos dependem toda a lei e os profetas.” Mat 22;40

Claro que amar a Deus implica obediência à Sua Vontade! Mas, essa demanda separação do mundo, não adequação ritual a algo superado; “Não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos pela renovação do vosso entendimento, para que experimenteis a boa, agradável, e perfeita vontade de Deus.” Rom 12;2

Ufanarem-se que são os únicos que cumprem à Lei, ignorando que a mesma condena falso testemunho e mentira é falta de noção; Tiago ensina: “Porque qualquer que guardar toda Lei, se tropeçar em um só ponto, tornou-se culpado de todos.” Cap 2;10

Com a aludida noção, teriam entendido que em Cristo as coisas mudaram; “Porque, mudando-se o sacerdócio, necessariamente se faz também mudança da lei.” Heb 7;12

As denominações várias O Eterno suporta; mas, de ser adorado em Espírito e Verdade não abre mão.