quinta-feira, 24 de março de 2022

Cabeças Ocas


“O Senhor te porá por cabeça, não por cauda; só estarás em cima, não debaixo, se obedeceres aos mandamentos do Senhor teu Deus, que hoje Te ordeno, para os guardar e cumprir.” Deut 28;13

Verso favorito dos que, excitados pela ideia de ser líderes, não, caudatários, esquecem de ler as "letras miúdas" do contrato.

No “Caput” do tratado temos: “Será que, se ouvires a Voz do Senhor teu Deus, tendo cuidado de guardar todos os Seus Mandamentos que Eu hoje te ordeno, o Senhor teu Deus te exaltará sobre todas nações da terra.” v 1

O Eterno falava a uma nação embrionária, Israel; prometendo a essa, que, ouvindo fielmente Sua Voz e obedecendo, eles seriam exaltados sobre as demais.

A parte humana era ouvir a Voz Divina e guardar Seus mandamentos, obedecer; exaltação seria consequência; “Deus te exaltará.”

Infelizmente, sabemos, isso não aconteceu. Israel servira por mais de quatro séculos aos faraós; então, estabelecido na “Terra Prometida” a infidelidade mostrou as garras; após muitas idas e vindas, entre bons e maus líderes acabou cativo por mais setenta anos.

Incautos têm o hábito de tomarem para si as promessas feitas a Israel, ignorando as consequências pela desobediência; muitos pregadores “cristãos” lançam sobre seus ouvintes que, também nós, fomos chamados a ser cabeças.

A ideia vulgar é ser proeminente, influente econômica e politicamente, o que Deus teria planejado para cada um de nós, os cristãos, em particular. Temo que não seja bem assim.

Estados e países têm suas “Capitais”, que é uma derivação de “cápita”; cabeça, em latim. Num universo de umas seis mil cidades, são menos de trinta capitais em nosso país. Não há espaço para tantas “cabeças”.

Há uma diferença funcional entre ambos os Testamentos que não podemos ignorar, para uma interpretação sadia da Palavra de Deus. No antigo Ele tratava, sobretudo, com uma nação, que pretendia estabelecer na terra, como “Reino Sacerdotal, povo santo.”

No Novo, em Cristo, depois da rejeição do Messias pelas lideranças do “Povo Eleito” incidiu a sentença que O Próprio Salvador predissera: “Portanto, Eu vos digo que o Reino de Deus vos será tirado; será dado a uma nação que dê os seus frutos.” Mat 21;43

“Nação” agora é figura de linguagem, para todos os seguidores de Cristo, Judeus e Gentios, unidos pelo traço comum de “dar frutos” Nele. Isso facilmente se percebe a partir da comissão global dada aos primeiros salvos: “Ide por todo mundo; pregai o Evangelho a toda criatura...”

Paulo ensinou: “Porque Ele é nossa paz, o qual, de ambos os povos fez um; derrubando a parede de separação que estava no meio.” Ef 2;14

Assim, já não há “cabeças” nacionais; os cristãos foram chamados à renúncia de si mesmos, não à conquista de um Reino terreno; somos desafiados a ser sal e luz, exemplos no falar e no agir, não cobiçosos de grandezas mortas, como os que amontoam metais sobre seus túmulos enquanto desprezam a vida.

As riquezas que contam são “de cima”; valores do alto, o “Tesouro nos Céus”. Então, ser cabeça ou cauda deve ser aquilatado sob essa escala de valores, como ensinou Isaías: “O ancião, o homem de respeito é a cabeça; o profeta que ensina falsidade é a cauda.” Is 9;15

Portanto, você que se jacta de ser “cabeça” entenda que sua função é ser alguém respeitável, diferente do que propaga ou confia em falsidades.

Como no caso de Israel, a relevância herdade derivaria de ouvir a Voz de Deus e obedecer, muito mais nós, a quem O Filho de Deus Falou abertamente, coisa desconhecida no Antigo Pacto. A quem mais se deu, mais será cobrado, ensinou O Salvador; de modo que, nossa dívida é maior que a deles.

Diferente da exaltação prometida naqueles dias, agora temos o concurso da rejeição do mundo e seu príncipe, em cujas mãos estão, o domínio político e econômico, em esmagadora maioria. “No mundo tereis aflições...”

Logo, a pretensão de grandezas terrenas num sistema ímpio às portas da condenação é uma insanidade sem pé nem cabeça.

Somos membros de um Corpo Santo, cuja cabeça, É Excelsa, Cristo. Paulo exortou contra as heresias periféricas dos que estavam, “não ligados à cabeça, da qual todo o corpo, provido e organizado pelas juntas e ligaduras, vai crescendo em aumento de Deus.” Col 2;19

Autonomia alienada de Deus foi a queda. Desde então, a doença permanece. “Hay muchos que prefiren ser cabezas de ratón, a ser caudas de león”, ouvi de um castelhano certa vez.

A coisa é relativamente simples de entender, embora, difícil andar nela; ou, nos rendemos a Cristo, O Digno Cabeça, Rei dos Reis; ou, fingindo ser donos dos próprios narizes, seguiremos serviçais do monstro aquele, de sete cabeças.

Nenhum comentário:

Postar um comentário