sábado, 12 de março de 2022

Cuidado com a febre!


“O simples dá crédito a cada palavra, mas o prudente atenta para seus passos.” Prov 14;15

Esse “simples”, em oposição ao prudente deve ser entendido não como detentor de simplicidade sadia; antes, como néscio, um tolo que facilmente se deixa enganar; o complemento da sentença expõe: “dá crédito a cada palavra”.

Como diz no “Pequeno Príncipe”, “A linguagem é uma fonte de mal entendidos.” Por quê? Porque muitas vezes, invés de comunicar uma ideia, reportar um fato, usamos a linguagem como meio de transporte de mera opinião; marqueteira de pretensão; difusora da maldade alheia, quando reverberamos o que ouvimos sem o cuidado de averiguar primeiro.

A opinião não passa de uma deficiência visual tateando; podemos tocar numa raposa e pensar que é um cão; quer saber quão confiáveis são essas? Veja quantas pessoas apostam na loteria esportiva e quantas acertam.

A pretensão é uma medida de si mesmo, pior; usando a régua errada. “Aquele que fala de si mesmo busca sua própria glória”. Ensinou Jesus Cristo.

Me ocorre uma fábula de Gibran: “Uma raposa saiu pela manhã procurar alimento; subiu numa duna, viu sua imensa sombra e pensou: Nossa! Preciso de um camelo pro almoço. Passou toda a manhã procurando camelos e nada. Ao meio dia, sol a pino, olhou de novo pra sombra e refez: pensando bem, um rato bastará”. 

Assim a pretensão usa se medir às sombras do engano, onde nos vemos muito maiores que somos e tendemos a buscar o que não precisamos.

A difusão da maldade alheia, vulga fofoca, precisa ser peneirada na “peneira de Sócrates”. Precisamos ponderar se aquilo que diremos foi presenciado, ou ouvido; se é bondoso e necessário repartir; senão, pode ser lançado no lixo. 

Mas que, de mal entendidos, a linguagem acaba sendo fonte de mal falados.

No reino das palavras todo mundo é rei. Entretanto, o exército dos fatos costuma destronar mentirosos, que, presto maquiarão sua derrota e sairão construindo novos “palácios” e ostentando ainda mais vistosas “coroas”.

O Salvador ensinou que pelos frutos se conhece a árvore, não pelas folhas. Como a única adoração que O Eterno aceita é em “espírito e verdade”, o que ficar aquém disso, por frondoso que pareça será uma árvore morta. A vida espiritual não desfila em carro alegórico; está na harmonia entre palavras e ações.

Escrevendo a Tito Paulo denunciou muitos, em cujas sinas, havia esse desencontro; “Confessam que conhecem a Deus, mas negam-no com as obras, sendo abomináveis, desobedientes, reprovados para toda boa obra.” Tt 1;16

Inevitável lembrar do proverbial, “O que és fala tão alto, que não consigo ouvir o que dizes.”

Tiago, por sua vez, esposou as ações coerentes como pregoeiras da fé; “... mostra-me tua fé sem tuas obras, e te mostrarei minha fé pelas minhas obras.” Tg 2;18

Esse doentio cristianismo de palco que grassa, precisa ser lembrado que seu palco é o mundo; os devidos atos são muito mais eloquentes que a lábia; “Não se acende a candeia e se coloca debaixo do alqueire, mas no velador; dá luz a todos que estão na casa. Assim resplandeça vossa luz diante dos homens, para que vejam vossas boas obras e glorifiquem ao vosso Pai, que Está nos Céus.” Mat 5;15 e 16 Nossa atuação: Diante dos homens; a repercussão: Diante de Deus.

Mais que bons pregadores, pois, urge que sejamos bons servos. As palavras correm risco de febre, enquanto os atos geralmente gozam de boa saúde; de outro modo: As palavras mostram como eu quero ser visto; minhas atitudes revelam quem sou.

Dada a perda da modéstia dos idiotas, o mundo tem vozes demais e virtudes de menos. Como naqueles eventos internacionais onde chefes de Estado recebem tradutor simultâneo para entender as falas dos pares, homens espirituais recebem também seu “tradutor” e podem entender o idioma que se oculta por detrás das palavras. “O que é espiritual discerne bem tudo, e, de ninguém é discernido.” I Cor 2;15

Deprimente quando alguém se desnuda diante de nós, não obstante, traje a “alta costura” das falas ensaiadas.

Seremos julgados pelas nossas palavras. Se tivéssemos a devida consciência disso seríamos parcimoniosos, invés de paroleiros. “Mas eu vos digo que de toda palavra ociosa que os homens disserem hão de dar conta no dia do juízo. Porque por tuas palavras serás justificado, e por tuas palavras serás condenado.” Mat 12;36 e 37

Então, “Não te precipites com tua boca, nem teu coração se apresse a pronunciar palavra alguma diante de Deus; porque Deus Está nos Céus, tu estás sobre a terra; assim sejam poucas tuas palavras.” Ecl 5;2 “Nenhum homem pode domar a língua. É um mal que não se pode refrear; está cheia de peçonha mortal.” Tg 3;8 Psssiiiiu!

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